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Eeefm Doutor Francisco De Albuquerque Montenegro
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<p>Table of Contents</p><p>1. Capa</p><p>2. Página de Créditos</p><p>3. Folha de Rosto</p><p>4. Sumário</p><p>5. Prefácio</p><p>6. Por que decidimos escrever este livro</p><p>7. Introdução – Uma história de amor universal</p><p>8. Prólogo – Remissão Espontânea</p><p>9. PARTE I – E SE TUDO QUE SABEMOS ATÉ HOJE ESTIVER</p><p>ERRADO?</p><p>10. Capítulo 1 – Crer para ver</p><p>11. Capítulo 2 – Cresça individualmente... Evolua globalmente</p><p>12. Capítulo 3 – Uma nova versão da velha história</p><p>13. Capítulo 4 – O redescobrimento da América</p><p>14. PARTE II – OS QUATRO MITOS DO APOCALIPSE</p><p>15. Capítulo 5 – Mito um: só a matéria existe</p><p>16. Capítulo 6 – Mito dois: só os mais fortes sobrevivem</p><p>17. Capítulo 7 – Mito três: somos o produto de nossos genes</p><p>18. Capítulo 8 – Mito quatro: a evolução é aleatória</p><p>19. Capítulo 9 – A disjunção na junção</p><p>20. Capítulo 10 – Da loucura à sanidade</p><p>21. PARTE III – HORA DE RENOVAR O JARDIM</p><p>22. Capítulo 11 – Evolução Fractal</p><p>23. Capítulo 12 – Melhor consultar um bom psiquiatra</p><p>24. Capítulo 13 – Uma sugestão</p><p>25. Capítulo 14 – Uma economia saudável</p><p>26. Capítulo 15 – A política tem cura</p><p>27. Capítulo 16 – Uma história completamente nova</p><p>28. Técnicas e instituições para auxiliar na modificação de crenças</p><p>29. Referências</p><p>30. Índice remissivo</p><p>file:///tmp/calibre_4.99.5_tmp_74suhgbm/e70nx8a0_pdf_out/OEBPS/Text/capa.xhtml</p><p>Título do original norte-americano:</p><p>Spontaneous Evolution: our positive future</p><p>(and a way to get there from here)</p><p>Copyright © 2009 by Mountain of Love Productions and Steve Bhaerman</p><p>Evolução Espontânea</p><p>Copyright © Butterfly Editora Ltda. 2013</p><p>Direitos autorais reservados.</p><p>É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma</p><p>ou por qualquer meio, salvo com autorização da Editora.</p><p>(Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.)</p><p>Coordenação editorial: Ronaldo A. Sperdutti</p><p>Assistente editorial: Renata Curi</p><p>Tradução: Yma Vick</p><p>Capa: Danielle Joanes</p><p>Imagens da capa: Murka34 | Dreamstime.com</p><p>Wikimedia.org e Teachers.saschina.org</p><p>Projeto gráfico e editoração: Ricardo Brito | Estúdio Design do Livro</p><p>Produtor gráfico: Vitor Alcalde L. Machado</p><p>Revisão técnica: Fabio Gabas</p><p>Preparação: Maiara Gouveia</p><p>Revisão: Katycia Nunes</p><p>Conversão para ebook: Cumbuca Studio</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)</p><p>Lipton, Bruce H.</p><p>Evolução espontânea / Bruce H. Lipton, Steve Bhaerman ; tradução Yma Vick. – São Paulo :</p><p>Butterfly Editora, 2013.</p><p>Título original: Spontaneous evolution.</p><p>e-ISBN 978-65-89238-03-4</p><p>1. Comportamento humano 2. Crenças 3. Evolução (Biologia) 4. Evolução social I. Bhaerman,</p><p>Steve. II. Título</p><p>13-02545</p><p>CDD-306</p><p>Índice para catálogo sistemático:</p><p>1. Comportamento humano : Evolução social 306</p><p>Butterfly Editora Ltda.</p><p>Av. Porto Ferreira, 1031 - Parque Iracema</p><p>CEP 15809-020 - Catanduva-SP</p><p>17 3531.4444</p><p>www.editorabutterfly.com.br | atendimento@editorabutterfly.com.br</p><p>2-8-21-2.000-7.000</p><p>Outros livros de Bruce H. Lipton, Ph.D.</p><p>A Biologia da Crença*</p><p>A sabedoria das células (CD)</p><p>Evolução Espontânea (CD)</p><p>* Original da Editora Hay House. Tradução para o Português de Butterfly Editora.</p><p>À Mãe Terra,</p><p>ao Pai Céu</p><p>e a todas as células Imaginais</p><p>AG R AD E C IM E N TO S</p><p>AGRADECIMENTOS GERAIS</p><p>Expressamos nosso amor e gratidão à Mountain of Love Productions Inc.,</p><p>cujo generoso apoio e incentivo transformou nossas ideias em livro.</p><p>Margaret Horton, presidente, e Sally Thomas, gerente-geral, foram</p><p>excelentes parteiras. Seu apoio mental, emocional e espiritual facilitaram o</p><p>nascimento deste trabalho.</p><p>Este livro não seria completo sem o talento editorial de Robert Weir.</p><p>Descobrimos que o trabalho com as palavras é uma arte, e Robert é mestre</p><p>no que faz. Agradecemos por sua “paciência de Jó” e pelo senso de humor</p><p>que manteve, mesmo quando o testamos ao máximo.</p><p>http://www.robertmweir.com/</p><p>Agradecemos muito também a nosso agente, Ned Leavitt, e Reid Tracy,</p><p>presidente-CEO, Patricia Gift, diretora de aquisições, e Laura Koch, editora</p><p>de aquisições da Hay House. É um grande prazer trabalhar com a Hay</p><p>House, um exemplo de corporação cooperativa e consciente necessária para</p><p>revitalizar a civilização.</p><p>A nossos revisores técnicos, colegas e amigos que doaram seu precioso</p><p>tempo revendo nosso original, expressamos nossos mais sinceros</p><p>agradecimentos. Suas perguntas, comentários e críticas foram essenciais para</p><p>refinar a qualidade do material e tornar nossa mensagem mais clara e direta:</p><p>Nicki Scully, Diana Sutter, Robert Mueller, Thea e Vaughan Wiles, Omri</p><p>Sitton, Terry e Christiane Bugno, Patricia Gift, Theodore Hall, Rob</p><p>Williams, Mary Kovacs, Ben Young, Shelly G, Keller, Brian Kelly, Russel</p><p>Walder, Sherill Burton, Georgia Kelly, E. Carroll Straus, Margaret Carswell e</p><p>Aura Glaser.</p><p>AGRADECIMENTOS DE BRUCE</p><p>Evolução Espontânea é uma grande síntese das pessoas que conheci e</p><p>dos lugares onde estive. É a história delas e também a minha. Todos aqueles</p><p>que participam de minha vida contribuíram para a criação deste livro e</p><p>gostaria citar um por um, mas por uma questão de espaço a lista precisa ser</p><p>mais curta.</p><p>Quero agradecer a meus grandes amigos cuja visão e sabedoria</p><p>contribuíram para que eu pudesse escrever este livro: Curt Rexroth, Ted</p><p>Hall, Rob Williams, Ben and Millie Young, Shelly G. Keller, and Terry e</p><p>Christine Bugno.</p><p>Reservo um lugar especial em meu coração e em meus pensamentos</p><p>para um grande amigo e irmão espiritual, Gregg Braden. Já tive a alegria de</p><p>dividir com ele o palco e também de desfrutar de sua sabedoria. Margaret e</p><p>eu temos a honra de receber sua Luz e seu Amor. Quero agradecer também</p><p>ao Conselho da Universidade de Quiropraxia da Nova Zelândia,</p><p>especialmente ao presidente Brian Kelly, por me incluir em seu grupo</p><p>acadêmico. Seu programa é um grande exemplo do poder da comunidade.</p><p>Agradeço também a meus amigos e locadores Stuart e Carol Roscoe por</p><p>cederem sua casa durante minhas longas visitas à maravilhosa Nova</p><p>Zelândia. O lugar, que fica entre o mar e uma gigantesca mata, foi perfeito</p><p>para escrever um livro sobre a grande Mãe Terra.</p><p>A Steve e Trudy Bhaerman. Rimos muito, choramos e rimos mais ainda.</p><p>É uma grande alegria ver como nossa amizade se desenvolveu e nos</p><p>tornamos uma verdadeira família.</p><p>E por falar em família, foi fascinante perceber que a minha cresceu</p><p>comigo nesse processo. Se pude ajudá-los a se tornar mais conscientes sobre</p><p>a vida, é sinal de que há esperança para o mundo! Amo muito minha mãe,</p><p>Gladys, meu irmão, David, sua esposa, Cindy e seu filho, Alex, minha irmã,</p><p>Marsha e meu irmão, Arthur, todos grandes sobreviventes!</p><p>Este livro foi escrito especialmente para minhas adoradas filhas, Tanya e</p><p>Jennifer, e suas famílias. Elas herdarão este mundo e espero que esta minha</p><p>contribuição ajude a fazer dele um lugar melhor.</p><p>E, principalmente, não posso deixar de agradecer à minha querida</p><p>Margaret Horton, amiga, companheira e o grande amor de minha vida. Você</p><p>me inspira e me completa. Eu a amo de todo coração.</p><p>AGRADECIMENTOS DE STEVE</p><p>Em primeiro lugar, quero agradecer ao Universo por nos dar esta tarefa</p><p>e o mérito de conseguirmos cumpri-la.</p><p>Agradeço também a todos aqueles que nos deram apoio e nos</p><p>incentivaram com seu entusiasmo. E também àqueles que nos deram um</p><p>pouco de seu tempo e de seu conhecimento, especialmente Brian Bogart,</p><p>com sua perspectiva histórica, e Richard Kotlarz, com sua extensa sabedoria</p><p>sobre economia. Agradeço a Ruth Harris, que ajudou com as pesquisas, a</p><p>Annette Toivonen, gerente de meu escritório, e a todos os meus amigos que</p><p>ficaram me perguntando quando é que eu terminaria o trabalho para</p><p>podermos sair e comemorar.</p><p>Agradeço também, de todo coração, a meu colega Bruce Lipton e à</p><p>Margaret, sua esposa, pela amizade, perseverança e bom humor que tanto</p><p>nos ajudaram nessa empreitada. Em especial, agradeço à Trudy, minha</p><p>querida esposa, por seu apoio desde o início do projeto, por seu amor, sua</p><p>compreensão e por despertar sempre o que há de melhor em mim.</p><p>S UMÁ R I O</p><p>Prefácio</p><p>Por que decidimos escrever este livro</p><p>Introdução – Uma história de amor universal</p><p>origem em nossa mente. Não é</p><p>algo que vem programado em nossos genes.12 É uma excelente notícia. O</p><p>poder de mudar está dentro de nós! Mas para ativar o maravilhoso poder da</p><p>mente sobre os genes, é preciso mudar algumas de nossas crenças básicas</p><p>(nossa percepção, ou ausência dela) em relação à vida. O primeiro erro é</p><p>olhar no espelho e nos vermos como indivíduos solitários. Na verdade, não</p><p>passamos de uma grande comunidade de 50 trilhões de células, um número</p><p>fácil de dizer, mas incomensurável quando se pensa a respeito. O número</p><p>total de células de um corpo humano é maior do que o total de seres</p><p>humanos sobre 7 mil planetas Terra! E quase todas as células que compõem</p><p>nosso corpo têm praticamente as mesmas funções do corpo humano inteiro,</p><p>ou seja, cada uma delas tem o próprio sistema nervoso, digestivo,</p><p>respiratório, musculoesqueletal, reprodutivo e até imunológico. Da mesma</p><p>maneira que essas células são uma miniatura humana, cada ser humano é</p><p>uma célula colossal! Conforme veremos adiante, nossa mente é como um</p><p>grande governo que controla e integra as funções da grande civilização</p><p>celular do corpo. Da mesma maneira que as decisões dos governos dos</p><p>países afetam os cidadãos, a mente molda o caráter da comunidade celular.</p><p>O estudo da mente, de como ela nos influencia e de onde ela se localiza em</p><p>nosso corpo pode representar uma grande oportunidade de descobrirmos</p><p>nossos verdadeiros poderes. Ter consciência plena disso nos permitiria</p><p>participar ativamente do desenrolar de nossa vida e também contribuir para</p><p>a evolução do mundo como um todo.</p><p>E AGORA... O VERDADEIRO SEGREDO DA VIDA</p><p>Tanto a ciência convencional quanto a nova ciência concordam, de</p><p>certa maneira, que a vida tem origem em movimentos moleculares dentro</p><p>de um mecanismo bioquímico. Contudo, para descobrir o verdadeiro</p><p>segredo da vida, que vai além da simples mecânica, precisamos examinar</p><p>primeiro essa natureza maquinal das células. É uma informação relevante</p><p>para nossa sobrevivência. Hoje, é mais importante do que nunca. Para</p><p>explicar melhor o que é a vida segundo a nova ciência, criamos a ilustração</p><p>de uma célula dividida em partes metafóricas: um conjunto de engrenagens</p><p>movidas por um motor, acionadas por um interruptor e monitoradas por um</p><p>medidor ou indicador, como aqueles do painel de um carro. (Aos não</p><p>aficionados por mecânica pedimos um pouco de paciência. Vale a pena ler a</p><p>explicação até o final). O interruptor liga e desliga o mecanismo. O</p><p>indicador informa como está seu funcionamento. Quando se aciona o</p><p>interruptor, a engrenagem se move e pode ser controlada com o indicador.</p><p>A mecânica das células pode ser representada por um conjunto de engrenagens movidas por um</p><p>motor e controladas por um interruptor e um medidor.</p><p>A engrenagem: a engrenagem é feita de peças que se movimentam. Na</p><p>célula, essas peças são moléculas chamadas proteína. Proteínas são blocos</p><p>físicos de matéria, que se moldam e interagem para gerar o comportamento</p><p>e as funções celulares. Cada proteína tem estrutura e tamanho únicos.</p><p>Existem mais de 150 mil tipos de peças de proteínas. As máquinas criadas</p><p>por seres humanos podem ser bastante complexas, mas a tecnologia que</p><p>temos nem de perto se compara à sofisticação de nossas células. As</p><p>engrenagens de proteína que desempenham funções biológicas específicas</p><p>são chamadas de sistemas ou aparelhos. O sistema respiratório representa</p><p>um conjunto de engrenagens de proteína responsável pela respiração. Da</p><p>mesma forma, o aparelho digestivo é um grupo de moléculas de proteína</p><p>que interagem para digerir os alimentos. O sistema musculoesquelético é</p><p>composto de proteínas que interagem para permitir os movimentos do</p><p>corpo, etc.</p><p>Primeira constatação da nova Biologia</p><p>As proteínas constituem a estrutura e as funções dos organismos</p><p>biológicos.</p><p>O motor: o motor gera a força que aciona o mecanismo das proteínas.</p><p>Sua função é essencial, pois a principal característica da vida é o</p><p>movimento. Isso é muito sério! Se as proteínas de seu corpo deixarem de se</p><p>movimentar, você estará em franco processo de se tornar um cadáver. A</p><p>vida se origina da força que aciona o movimento das células de proteína,</p><p>criando um padrão de comportamento.</p><p>O interruptor: o interruptor é o mecanismo que faz o motor colocar as</p><p>proteínas em movimento. Ele é necessário porque a manutenção da vida</p><p>requer integração e coordenação precisas do comportamento das células. As</p><p>funções das células (respiração, digestão, excreção, etc.) são como os</p><p>instrumentos de uma orquestra. Sem um maestro que os oriente produzem</p><p>apenas um som caótico. Nos organismos vivos os interruptores da</p><p>membrana das células representam o maestro que controla e regula</p><p>harmoniosamente seus sistemas.</p><p>O indicador: o indicador (ou medidor) representa o método utilizado</p><p>pelo corpo para monitorar de maneira precisa as funções fisiológicas do</p><p>sistema. Indicadores biológicos são essenciais à manutenção da vida. Pense</p><p>neles como aqueles presentes no painel de um carro. Apesar de estarem</p><p>localizados todos no mesmo painel, que é o centro de comando do veículo,</p><p>monitoram todas as funções do motor, das luzes, etc. Da mesma maneira</p><p>que os indicadores do carro mostram os níveis de óleo, combustível,</p><p>amperagem da bateria e velocidade, o corpo nos dá informações para</p><p>regularmos seu comportamento, mantendo a vida.</p><p>Porém, diferente dos instrumentos de um painel de automóvel,</p><p>analógicos ou com ponteiros, os indicadores biológicos transmitem dados</p><p>por meio das sensações. As sensações têm origem nos derivados químicos</p><p>que as células geram durante o desempenho de suas funções, componentes</p><p>então liberados em nosso organismo. As células do sistema nervoso têm</p><p>“sensores” em suas membranas que captam tais substâncias e monitoram a</p><p>concentração de cada uma delas. Quando ativadas, essas células traduzem</p><p>os sinais das substâncias e as transformam em sensações, que a nossa</p><p>consciência interpreta como sentimentos, emoções ou sintomas. Para</p><p>combater uma infecção, por exemplo, as células imunológicas ativadas</p><p>liberam na corrente sanguínea mensageiros químicos como a interleucina</p><p>(1). As moléculas de interleucina são reconhecidas pelos receptores</p><p>específicos das membranas dos vasos sanguíneos do cérebro, que enviam</p><p>para este um sinal molecular de prostaglandina (E2). A prostaglandina (E2)</p><p>ativa o sinal de febre e gera sintomas de temperatura elevada e tremores.</p><p>Um dos problemas da medicina de hoje é que a indústria farmacêutica mede</p><p>o sucesso de um medicamento pela sua capacidade de aliviar sintomas.</p><p>Somos medicados para não sentir dor, não ter inchaço e não ter febre. No</p><p>entanto, mascarar sintomas pode ser tão perigoso quanto desabilitar as</p><p>funções do painel de um carro. Não resolve o problema, apenas dá a</p><p>impressão de que está tudo bem, até o dia em que o motor para de</p><p>funcionar. Entorpecer as células com medicamentos é simplesmente ignorar</p><p>os sinais que o corpo emite.</p><p>QUEM APERTA O BOTÃO?</p><p>Já mencionamos que os interruptores das moléculas ativam os</p><p>mecanismos das proteínas, que, por sua vez, se movimentam e estabelecem</p><p>padrões de comportamento. Mas a grande pergunta em relação ao segredo</p><p>da vida ainda é: quem ou o que aciona esses interruptores? Cada vez que</p><p>um deles é acionado, ativa-se um sinal.</p><p>Um sinal do ambiente das células ativa as engrenagens, o motor, o interruptor e o medidor.</p><p>O sinal: os sinais representam as forças do ambiente a ligar o motor</p><p>dentro das células, fazendo o mecanismo de proteínas entrar em ação. Eles</p><p>representam informações físicas e energéticas que compõem o mundo no</p><p>qual vivemos. O ar que respiramos, os alimentos que ingerimos, o ato de</p><p>tocarmos outras pessoas, e até mesmo as notícias que ouvimos representam</p><p>sinais do ambiente a ativar o movimento das proteínas e gerar</p><p>comportamentos. Consequentemente, ao utilizarmos o termo ambiente, nos</p><p>referimos a tudo o que abrange desde a superfície de nossa pele até os</p><p>limites do Universo. Esse é um conceito de ambiente em um sentido mais</p><p>amplo. Cada proteína responde a um tipo específico de sinal desse</p><p>ambiente, e os dois se comunicam com a precisão</p><p>do encaixe da chave em</p><p>uma fechadura. A união de uma molécula de proteína com seu sinal</p><p>específico, vindo do meio externo, modifica sua forma, a qual, por natureza,</p><p>é expressa por meio de movimento. A célula utiliza esses movimentos</p><p>moleculares para promover as atividades das proteínas, como respiração,</p><p>digestão e contrações musculares, responsáveis pela manutenção da vida.</p><p>Os movimentos das proteínas, por sua vez, animam a célula.</p><p>Segunda constatação da nova Biologia</p><p>Os sinais do ambiente fazem as proteínas mudarem de forma; os</p><p>movimentos resultantes geram as funções da vida.</p><p>O CÉREBRO VERSUS AS GÔNADAS</p><p>É preciso enfatizar que, embora a grande variedade de sistemas de</p><p>proteína nas células seja responsável pelas funções da vida, o simples fato</p><p>de tê-los não é suficiente para gerar a vida. É necessário haver um</p><p>mecanismo capaz de coordená-las com absoluta precisão. O cérebro e o</p><p>sistema nervoso são esses mecanismos.</p><p>Bem, mas... onde fica o cérebro das células? Ao contrário do que se</p><p>sabe, ele não está nos genes. Se você se recorda das aulas de Biologia na</p><p>escola, provavelmente se lembrará de que aprendeu que a maior organela</p><p>celular, o núcleo, é descrito como centro de controle ou “cérebro” da célula.</p><p>Como os genes ficam armazenados dentro desse núcleo, os cientistas</p><p>presumiram que eles controlam a vida. No entanto, antes de aceitarmos</p><p>como verdade tal suposição, precisamos questioná-la. Experiências</p><p>realizadas há 80 anos desafiam a hipótese de que os genes sejam o cérebro</p><p>da operação. Quando se remove o cérebro de um indivíduo (pessoa ou</p><p>animal), ele morre. Entretanto, quando o núcleo de uma célula é removido,</p><p>acontece um processo chamado enucleação, e a célula sobrevive durante</p><p>meses sem seus genes!13 Continua com suas funções normais até que</p><p>chegue o momento em que será necessário repor os componentes de</p><p>proteína vitais à sua sobrevivência.</p><p>Genes são meros modelos usados para a construção dos componentes</p><p>das células. Células enucleadas acabam morrendo, não pela retirada dos</p><p>genes, mas por não serem capazes de substituir os componentes de proteína</p><p>desgastados, o que causa uma degeneração em seus sistemas. Embora a</p><p>ciência tradicional tenha nos ensinado a acreditar que o núcleo é o cérebro</p><p>da célula, na verdade ele é o equivalente da gônada celular, isto é, seu</p><p>sistema reprodutivo. É um equívoco compreensível, porque a ciência</p><p>tradicional sempre foi um grande “clube do bolinha”. Como os machos são</p><p>famosos por pensar com suas gônadas, confundir o núcleo das células com</p><p>o cérebro não é algo assim tão absurdo.</p><p>Porém, se os genes não são o cérebro da coisa, onde está este cérebro,</p><p>afinal? O cérebro está na membrana celular, que equivale à pele da célula.</p><p>Dentro dessa membrana estão os interruptores proteicos que respondem aos</p><p>sinais do ambiente, transmitindo a informação às cadeias proteicas internas.</p><p>Existe praticamente um interruptor para cada sinal do ambiente reconhecido</p><p>pela célula. Alguns respondem ao estrogênio, outros à adrenalina, ao cálcio,</p><p>a ondas de luz, e assim por diante. Embora possa haver cem mil desses</p><p>interruptores na membrana de uma célula, não é necessário estudá-los</p><p>individualmente, pois todos dividem a mesma estrutura básica e função. A</p><p>seguir temos uma ilustração conceitual de um interruptor de uma membrana</p><p>genética.</p><p>Figura A: cada célula tem proteínas receptoras e estimuladoras ao longo de sua membrana,</p><p>conectando seu citoplasma ao ambiente. Usando uma metáfora, essas proteínas funcionam como</p><p>verdadeiros interruptores, colocando o motor e as engrenagens das células em movimento. Figura B:</p><p>ao receber um sinal do ambiente, a proteína receptora modifica sua forma e se conecta à proteína</p><p>estimuladora.</p><p>Cada interruptor da membrana é uma unidade de captação composta</p><p>por duas proteínas: uma receptora e uma estimuladora. A proteína</p><p>receptora, como o nome sugere, recebe ou capta os sinais do ambiente. Ao</p><p>receber o primeiro sinal complementar (Sinal Primário, na Figura B), o</p><p>receptor, então ativado, se movimenta e se conecta à proteína estimuladora</p><p>do interruptor. Na ilustração à direita, tem-se a impressão de que a proteína</p><p>receptora e a proteína estimuladora estão apertando as mãos uma da outra</p><p>(Sinal Secundário, na Figura B). É essa conexão que permite que as</p><p>informações do lado externo da célula sejam transmitidas ao interior dela e</p><p>estabeleçam determinado comportamento.</p><p>Ao ser ativada pelo receptor, a proteína estimuladora envia um sinal</p><p>secundário (Sinal Secundário, na Figura B) pelo citoplasma da célula,</p><p>responsável pelo controle de funções e vias específicas. A atividade</p><p>coordenada dos interruptores da membrana permite à célula manter sua vida</p><p>mediante o equilíbrio do metabolismo e da fisiologia – mesmo em um</p><p>ambiente em constante mutação.</p><p>As proteínas receptoras fazem com que células tenham consciência dos</p><p>elementos do ambiente, enquanto as proteínas estimuladoras do interruptor</p><p>geram sinais ou sensações físicas reguladores de funções específicas. Em</p><p>suma, são os interruptores localizados na membrana das células que</p><p>“permitem a elas ter consciência dos elementos do ambiente por meio de</p><p>sensações físicas”.14</p><p>Enfatizamos esse conceito porque ele é a chave para a descoberta do</p><p>segredo da vida. Está pronto?</p><p>Se procurarmos no dicionário palavra “percepção”, encontraremos</p><p>sinônimos como “cognição” ou “compreensão”. Consequentemente, os</p><p>interruptores de proteínas da membrana das células representam unidades</p><p>primordiais de percepção. Como eles são responsáveis por controlar as vias</p><p>moleculares das células, e também algumas funções biológicas específicas,</p><p>podemos concluir que a percepção controla o comportamento!</p><p>Assim, caro leitor, o fato de que a percepção controla o comportamento</p><p>tanto das células quanto dos seres humanos é o verdadeiro segredo da vida!</p><p>Terceira constatação da nova Biologia</p><p>Os interruptores de percepção de proteínas da membrana celular</p><p>respondem aos sinais do ambiente, regulando as funções e o</p><p>comportamento das células.</p><p>A NATUREZA DA DOENÇA</p><p>Às vezes, a harmonia natural do corpo é abalada, gerando mal-estar,</p><p>um indício geral de doenças, ou o reflexo da insuficiência do corpo para</p><p>manter sistemas ou funções vitais em harmonia.* Como o comportamento é</p><p>criado por meio da interação das proteínas com seus sinais complementares,</p><p>pode-se concluir que há apenas duas fontes de doença: um defeito nas</p><p>proteínas ou um problema de distorção de sinais.</p><p>Cerca de 5% da população mundial nasce com defeitos físicos. Essas</p><p>pessoas têm genes modificados, que decodificam proteínas disfuncionais.15</p><p>Proteínas estruturalmente deformadas ou defeituosas podem “obstruir o</p><p>mecanismo”. Em outras palavras, interrompem o fluxo normal das funções</p><p>e diminuem a qualidade da vida. No entanto, 95% da população humana</p><p>chega a este mundo com genes perfeitamente normais. Neste grupo, as</p><p>doenças podem ser atribuídas à natureza dos sinais. Há três situações</p><p>básicas em que os sinais contribuem para disfunções e doenças. A primeira</p><p>é o trauma. Se alguém sofre um acidente em que a coluna vertebral é</p><p>afetada, impedindo a transmissão dos sinais do sistema nervoso, o resultado</p><p>pode ser uma distorção das informações normalmente trocadas entre o</p><p>cérebro e as células, os tecidos e os órgãos do corpo.</p><p>A segunda é a toxicidade. A presença de toxinas e substâncias</p><p>venenosas em nosso organismo pode distorcer as informações dos sinais</p><p>transmitidos do sistema nervoso às células e tecidos aos quais essas</p><p>informações deveriam chegar. Sinais alterados, por quaisquer motivos,</p><p>podem inibir ou modificar o comportamento celular, levando à</p><p>manifestação de doenças.</p><p>A terceira, e mais importante influência dos sinais sobre o processo das</p><p>doenças, é o pensamento, a ação da mente. Ainda que o corpo não esteja em</p><p>desequilíbrio ou apresente quaisquer deficiências, o organismo pode</p><p>apresentar doenças associadas a estados mentais. A saúde depende da</p><p>habilidade do sistema nervoso de captar com precisão informações do</p><p>ambiente, adotando comportamentos apropriados que garantam a</p><p>manutenção da vida. Se a mente</p><p>falha na interpretação dos sinais e gera</p><p>respostas inapropriadas à sobrevivência do organismo, este fica ameaçado,</p><p>pois o corpo adotará comportamentos dissonantes em relação ao ambiente</p><p>que o cerca. É difícil imaginar que um simples padrão de pensamento seja</p><p>capaz de provocar colapso em todo um sistema orgânico, porém, na</p><p>Natureza, a interpretação incorreta de sinais pode ser letal.</p><p>Imagine a situação de uma pessoa com anorexia. Parentes e amigos</p><p>conseguem vê-la como um indivíduo esquelético à beira da morte, porém</p><p>ela se olha no espelho e vê apenas um ser obeso. Dentro dessa visão</p><p>distorcida, que mais parece um daqueles espelhos de parques de diversão, o</p><p>cérebro do anoréxico tenta impedir um equivocado ganho de peso</p><p>simplesmente inibindo as funções metabólicas do organismo (!).</p><p>Como qualquer entidade que lidera, o cérebro busca harmonia entre</p><p>todos os órgãos. A harmonia neural é expressa pela congruência entre as</p><p>percepções do cérebro e a vida que levamos.</p><p>Um modo interessante de ilustrar como a mente estabelece harmonia</p><p>entre suas percepções e o mundo real é comentar os shows de hipnose que</p><p>vemos na televisão. O mágico solicita que alguém da audiência, um</p><p>voluntário, vá até o palco, e o hipnotiza. Em seguida, pede a ele, por</p><p>exemplo, que pegue um copo d’água, informando que o copo pesa 500</p><p>quilos. O voluntário tenta levantar o copo com toda força mas não</p><p>consegue. Começa a suar, suas veias ficam saltadas e sua respiração se</p><p>altera. Como isso acontece? Obviamente o copo não pesa tudo isso. A</p><p>mente do voluntário sob hipnose é que acredita se tratar de um objeto tão</p><p>pesado. Para manifestar a realidade de um copo de 500 quilos, dispara aos</p><p>músculos um sinal para que tente levantá-lo, e outro, contraditório, para</p><p>deixá-lo onde está! O resultado é um exercício isométrico no qual dois</p><p>grupos de músculos trabalham, um se opondo ao outro, causando excesso</p><p>de esforço e muito suor.</p><p>Células, tecidos e órgãos não questionam informações enviadas pelo</p><p>sistema nervoso. Respondem com a mesma presteza a comandos de</p><p>sobrevivência e de autodestruição. Consequentemente, nossa percepção</p><p>comanda nosso destino. Quase todo mundo já ouviu falar em efeito placebo,</p><p>mas poucas pessoas conhecem seu irmão maldoso, o efeito nocebo. Da</p><p>mesma forma que pensamentos positivos podem curar, os negativos (como</p><p>a crença de que somos suscetíveis a doenças ou estamos expostos à</p><p>contaminação) manifestam efeitos indesejáveis.</p><p>Crianças japonesas alérgicas a determinados tipos de plantas</p><p>participaram de uma experiência na qual uma folha da planta alergênica era</p><p>esfregada em um de seus braços.16 A folha de outra planta, de espécie</p><p>diferente e que não causava alergia, porém de aparência idêntica, era</p><p>esfregada no outro braço. Como era de se esperar, quase todas as crianças</p><p>apresentaram reações alérgicas no braço em que houve contato com a planta</p><p>dita alergênica, mas não tiveram qualquer reação no outro braço. O que elas</p><p>não sabiam é que as informações tinham sido propositalmente trocadas. A</p><p>planta “venenosa” havia sido aplicada como não venenosa e vice-versa. O</p><p>pensamento negativo do contato com a planta venenosa causou reações</p><p>alérgicas no braço em que foi esfregada a planta não venenosa! A maioria</p><p>delas sequer teve reação no braço em que realmente houvera contato com</p><p>um elemento alergênico. A conclusão é simples: percepções positivas</p><p>melhoram a saúde enquanto percepções negativas causam o aparecimento</p><p>de doenças. Esse experimento, entre vários outros a respeito do poder da</p><p>crença, fez parte da pesquisa que originou a psiconeuroimunologia.</p><p>Considerando que no mínimo um terço de todas as curas médicas</p><p>podem ser atribuídas ao efeito placebo, qual porcentagem de enfermidades</p><p>pode ser resultante de pensamentos negativos, de efeito nocebo?</p><p>Provavelmente muito mais do que imaginamos, especialmente porque os</p><p>cientistas calculam que 70% de nossos pensamentos são negativos e</p><p>redundantes.17</p><p>Percepções têm grande influência no desenvolvimento do caráter e das</p><p>experiências pelas quais passamos em nossa vida. É por causa delas que as</p><p>pessoas de fé inabalável conseguem engolir veneno ou brincar com cobras</p><p>peçonhentas. São as percepções que moldam os efeitos placebo e nocebo.</p><p>Têm mais influência do que o pensamento positivo, porque são mais</p><p>intensas do que ele. Percepções são crenças a permear cada célula. A</p><p>expressão do corpo é um complemento das percepções da mente, ou, em</p><p>termos mais simples, precisamos crer para ver!</p><p>Quarta constatação da nova Biologia</p><p>Percepções precisas levam ao sucesso. Percepções deturpadas</p><p>ameaçam a sobrevivência.</p><p>Quase todas as pessoas deste mundo têm percepções deturpadas, que as</p><p>limitam, minam sua energia, sua força, e seus desejos, levando-as a</p><p>sabotarem a si mesmas. Conforme mostraremos no próximo capítulo,</p><p>nossos programas de percepção mais importantes são adquiridos de outras</p><p>pessoas, e não necessariamente representam objetivos e aspirações pessoais.</p><p>Na verdade, a maioria de nossos pontos fortes, de nossas fraquezas e de</p><p>nossas características podem ser atribuídos a percepções familiares e</p><p>culturais absorvidas antes dos 6 anos de idade. As percepções adquiridas</p><p>nesses primeiros anos de desenvolvimento são responsáveis pelas condições</p><p>de saúde e comportamento durante a vida adulta. Imagine quantas crianças</p><p>jamais desenvolvem todo o seu potencial ou realizam seus sonhos em</p><p>virtude dessa programação limitadora.18</p><p>Esses programas de autossabotagem também nos cerceiam quando</p><p>tentamos modificar as condições do mundo ao nosso redor, alertando-nos</p><p>que em primeiro lugar devemos nos modificar interiormente. Ao</p><p>modificarmos nossas crenças, modificamos o mundo.</p><p>Mas tanto para modificar o mundo quanto a nós mesmos, muitas vezes</p><p>é preciso ter mais do que boas intenções. É necessário entender a natureza</p><p>da mente e como a dualidade divina do cérebro – o consciente e o</p><p>subconsciente – controlam a expressão de nossa percepção. No capítulo a</p><p>seguir, veremos como aquilo podemos captar individualmente talvez seja o</p><p>caminho para a evolução global.</p><p>* Ou, em outras palavras que bem definem a ideia do autor, segundo o filósofo Dr. Celso Charuri:</p><p>“Economia é saber racionalizar o disponível”.</p><p>* Vale lembrar que nosso corpo é constituído por mais de 50 trilhões de células, e o número de</p><p>bactérias que o habitam, em um mecanismo de simbiose, é dez vezes isso! E mais: se unirmos o</p><p>genoma de todas as nossas células em uma única fita e também o de todas as bactérias presentes em</p><p>nosso organismo, o genoma das bactérias será cem vezes mais extenso do que o genoma das nossas</p><p>células.</p><p>* Doença, por definição, é toda agressão ao estado de harmonia.</p><p>C A P Í T U L O 2</p><p>Cresça individualmente... Evolua</p><p>globalmente</p><p>“Num mundo louco como este; tão louco que nem os psicólogos entendem, não</p><p>precisamos de outra teoria da evolução. Precisamos mesmo é de evolução na prática”.</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>A promessa de evolução espontânea envolve nada menos do que uma</p><p>transformação global. Mas antes de modificarmos o ambiente externo,</p><p>precisamos nos conscientizar de nosso mundo interior.</p><p>Sob nossa pele vive uma frenética metrópole de 50 trilhões de células,</p><p>cada uma delas biológica e funcionalmente equivalentes à miniatura de um</p><p>ser humano. Não, esta não é uma frase hiperbólica criada só para causar</p><p>impacto. Uma vez que tomarmos consciência da incrível semelhança entre</p><p>nossas células e nós mesmos, começaremos a aprender com os processos e</p><p>práticas que as células vêm criando há bilhões de anos. E também</p><p>descobriremos como elas desenvolveram consciência. Além disso, ao</p><p>entender como essa consciência opera, poderemos rever, neste momento</p><p>crucial da evolução humana, nossas crenças limitadoras.</p><p>A visão convencional prega que o destino e o comportamento das</p><p>células cidadãs de nossa metrópole interior são pré-programados em seus</p><p>genes. Desde que os biólogos celulares James Watson e Francis Crick</p><p>descobriram o código genético, em 1953, o público passou a imaginar que o</p><p>ácido desoxirribonucleico, ou DNA, herdado de nossos pais no momento da</p><p>concepção, determina</p><p>nossos traços ou características. A visão</p><p>convencional nos levou a acreditar que a herança genética é fixa e imutável,</p><p>como um programa de computador do tipo “somente leitura”.</p><p>A noção de que nosso destino está gravado de maneira indelével em</p><p>nossos genes deriva do conceito conhecido como determinismo genético,</p><p>que nos leva a crer que somos vítimas de forças biológicas sobre as quais</p><p>não temos controle. Infelizmente, esse conceito de impotência está</p><p>diretamente relacionado ao conceito de irresponsabilidade. Muita gente diz</p><p>hoje: “não posso mudar, então para que me preocupar? Obesidade?</p><p>Problema de família. Passe-me os bombons, por favor”.</p><p>UM LUGAR CHAMADO ALÉM DOS GENES</p><p>Na década de 1980, os geneticistas estavam convencidos de que os</p><p>genes controlam a vida. Começaram a traçar o mapa do genoma humano</p><p>com o objetivo de identificar o conjunto de genes que definem todos os</p><p>traços herdados pelo organismo humano. Sua esperança era poder</p><p>finalmente prevenir e curar doenças, ao descobrir o código responsável pelo</p><p>sistema. Veremos mais detalhes sobre o Projeto Genoma Humano mais à</p><p>frente, mas agora contaremo o que aconteceu no caminho dessa descoberta.</p><p>Os cientistas começaram a ter uma visão completamente nova e</p><p>revolucionária a respeito do funcionamento da vida e acabaram criando um</p><p>novo ramo da ciência, chamado Epigenética.1 A Epigenética abalou a base</p><p>da Medicina e da Biologia ao revelar que não somos vítimas, mas os</p><p>senhores de nossos genes.</p><p>Para aqueles que não falam grego, o prefixo “epi” significa “acima”.</p><p>Alunos das universidades de Biologia ainda estão aprendendo sobre</p><p>“controle genético”, a noção de que os genes controlam os principais</p><p>aspectos da vida. No entanto, a nova ciência já menciona o “controle</p><p>epigenético”, o conceito de que a vida é controlada por algo em um nível</p><p>acima dos genes. Hoje, instigantes teorias sobre o que é esse “algo” acima</p><p>dos genes abrem um caminho à compreensão de nosso papel de cocriadores</p><p>da realidade. Como vimos no capítulo anterior, os sinais do ambiente</p><p>controlam a função das células por meio dos interruptores localizados em</p><p>suas membranas. Utilizando os mesmos mecanismos, também controlam as</p><p>atividades dos genes. No caso estudado pela Epigenética, os sinais</p><p>derivados do ambiente ativam interruptores da membrana, que enviam</p><p>sinais secundários ao núcleo da célula. Dentro do núcleo esses sinais</p><p>selecionam modelos de genes e controlam a fabricação de proteínas</p><p>específicas. É algo totalmente diferente do conceito convencional de que os</p><p>genes se ligam e desligam sozinhos.</p><p>Genes não são “unidades independentes”, ou seja, não controlam as</p><p>próprias atividades. São meros modelos moleculares. E modelos são parte</p><p>de um projeto. Não são como engenheiros, que realmente projetam e</p><p>gerenciam a obra. A Epigenética representa o mecanismo pelo qual o</p><p>empreiteiro seleciona os modelos de genes mais apropriados e controla a</p><p>construção e a manutenção do corpo. Portanto, os genes não controlam a</p><p>Biologia, são apenas usados por ela.</p><p>A crença convencional de que o genoma representa programas do tipo</p><p>“somente leitura”, que não podem ser influenciados pelo ambiente, provou</p><p>ser equivocada. São os mecanismos epigenéticos que modificam a leitura</p><p>do código genético. O poder criativo da epigenética pode ser avaliado a</p><p>partir da seguinte informação: o mecanismo consegue editar a leitura de um</p><p>gene e criar mais de 30 mil variações diferentes de proteínas a partir do</p><p>mesmo modelo!2 Dependendo da natureza dos sinais do ambiente, o</p><p>“empreiteiro” epigenético modifica um gene e produz produtos proteicos</p><p>saudáveis ou defeituosos. Ou seja, uma pessoa pode nascer com genes</p><p>saudáveis, mas, se houver distorção no processo de codificação dos sinais</p><p>epigenéticos, condições mutantes se estabelecem e geram doenças como o</p><p>câncer, por exemplo. Também há um lado positivo: o mesmo mecanismo</p><p>epigenético é capaz de fazer com que indivíduos que tenham nascido com</p><p>mutações potencialmente degenerativas venham a ter proteínas e funções</p><p>normais, apesar da herança de genes defeituosos.3</p><p>Os mecanismos epigenéticos modificam a leitura do código genético</p><p>para que os genes representem programas de leitura e edição, e não apenas</p><p>de leitura. Isso significa que as experiências de vida podem literalmente</p><p>redefinir nossos traços genéticos. Trata-se de uma descoberta radical.</p><p>Tínhamos certeza de que os genes eram responsáveis por nosso destino, e</p><p>agora a nova ciência nos mostra que a Natureza é muito mais inteligente do</p><p>que imaginávamos. À medida que os organismos interagem com o</p><p>ambiente, suas percepções se utilizam de mecanismos que interpretam sutis</p><p>expressões genéticas de modo a ampliar as chances e as oportunidades de</p><p>sobrevivência.</p><p>Essa influência do ambiente é revelada de maneira explícita em estudos</p><p>de gêmeos idênticos. No momento do nascimento, e durante algum tempo,</p><p>irmãos gêmeos apresentam praticamente a mesma atividade genética, em</p><p>razão da semelhança de seus genomas. No entanto, à medida que eles</p><p>crescem, suas percepções e experiências individuais levam ao acionamento</p><p>de genes de características nitidamente diferentes.4 A mídia não se cansa de</p><p>divulgar histórias de gêmeos separados na infância que apresentam</p><p>características e estilos de vida idênticos, casando-se com pessoas com o</p><p>mesmo nome ou exercendo o mesmo tipo de profissão. Esses casos são</p><p>raras exceções, nas quais não se leva em conta o importante período de</p><p>programação pré-natal do comportamento, que pode moldar o estilo de vida</p><p>desses gêmeos para o resto de suas vidas.5</p><p>Pense um instante em tudo que a nova Biologia revela. As percepções</p><p>não controlam apenas nosso comportamento. Controlam a atividade dos</p><p>genes também. Essa versão atualizada da ciência mostra que, na realidade,</p><p>somos nós quem controlamos nossa expressão genética, e fazemos isso a</p><p>cada minuto. Somos organismos em constante aprendizado, incorporando</p><p>experiências de vida aos nossos genomas e transmitindo isso aos nossos</p><p>filhos, que, por sua vez, irão incorporar as próprias experiências de vida</p><p>para dar continuidade à evolução humana.</p><p>Portanto, em vez de nos julgarmos meras vítimas de nossos genes,</p><p>devemos aceitar a verdade de que nossa percepção e nossas reações à vida</p><p>têm o poder de moldar nossa estrutura biológica e nosso comportamento.</p><p>DO MICROCOSMO DA CÉLULA AO MACROCOSMO DA MENTE</p><p>Durante os primeiros 3,8 milhões de anos de vida neste planeta, a</p><p>biosfera se constituía de uma gigantesca população de organismos</p><p>unicelulares: bactérias, levedo, algas e protozoários, como amebas e</p><p>paramécios. Cerca de 700 milhões de anos atrás, as células começaram a se</p><p>unir e a formar colônias multicelulares. A consciência coletiva das células</p><p>era muito maior do que a consciência das células isoladas. E como a</p><p>consciência é um fator primordial à sobrevivência de um organismo, a</p><p>experiência em comunidade aumentou as chances de sobrevivência e de</p><p>reprodução dos cidadãos dessas colônias.</p><p>Como as primeiras comunidades humanas, essas comunidades de</p><p>células consistiam de clãs de caçadores nos quais cada membro oferecia os</p><p>mesmos serviços para garantir a sobrevivência de todos. Porém, à medida</p><p>que a densidade populacional foi aumentando, tanto nas colônias celulares</p><p>quanto nas humanas, o fato de todos realizarem o mesmo tipo de trabalho já</p><p>não era eficaz. A evolução se encarregou de criar funções específicas. Em</p><p>comunidades humanas, alguns membros se concentravam em caçar, outros</p><p>em tarefas domésticas e outros em cuidar das crianças. Em comunidades</p><p>celulares, a especialização significava que algumas células passariam a</p><p>cuidar da digestão, outras do coração e outras da parte muscular.</p><p>A maioria das células do corpo humano e de animais não tem</p><p>percepção do ambiente para além da pele. Células do fígado, por exemplo,</p><p>conseguem ver o que acontece dentro dele, mas não sabem exatamente o</p><p>que se passa no mundo ao redor. Por isso o cérebro e o sistema nervoso</p><p>precisam interpretar os estímulos do ambiente e enviar sinais às células de</p><p>modo que elas integrem e regulem as funções de manutenção dos órgãos</p><p>e,</p><p>consequentemente, consigam garantir a sobrevivência.</p><p>O sucesso das comunidades multicelulares permitiu aos cérebros em</p><p>desenvolvimento dedicar um considerável número de células aos trabalhos</p><p>de catalogar, memorizar e integrar percepções mais complexas. Com a</p><p>continuidade da evolução, as populações de células cerebrais adquiriram a</p><p>habilidade de registrar milhões de categorias e de arquivá-las em uma</p><p>gigantesca base de dados. Programas complexos de comportamento criados</p><p>a partir dessa base de dados permitiram aos organismos desenvolver a</p><p>chamada “consciência”, termo que utilizamos em seu contexto primordial</p><p>para expressar um “estado de vigilância ou alerta”. Muitos cientistas</p><p>preferem se referir à consciência como algo que um organismo tem ou não</p><p>tem. Mas o estudo da evolução mostra que o mecanismo de consciência se</p><p>desenvolveu com o passar do tempo. Consequentemente, o conceito de</p><p>consciência passou a variar de quase inexistente em organismos primitivos</p><p>a algo que podemos chamar de “autoconsciência” ou “mente consciente”,</p><p>manifesta em seres humanos e seres vertebrados. O que chamamos de</p><p>“autoconsciência” não é algo do tipo “espero que meu cabelo esteja</p><p>arrumado”, porém um estado que permite, simultaneamente, tanto a posição</p><p>de participante ativo quanto de observador da vida.</p><p>A expressão da “autoconsciência” está especificamente associada a</p><p>uma pequena adaptação evolucionária do cérebro, o “córtex pré-frontal”.</p><p>Ele é a plataforma neurológica que permite aos humanos a consciência da</p><p>própria identidade e a expressão do pensamento. Macacos e outros animais</p><p>que não possuem autoconsciência olham para um espelho captam apenas a</p><p>imagem de outra criatura. Já chimpanzés, neurologicamente mais</p><p>desenvolvidos, conseguem reconhecer diante de si a imagem de si</p><p>próprios.6</p><p>Uma diferença importante entre a consciência e a autoconsciência,</p><p>relacionada ao córtex pré-frontal, é que a consciência permite ao organismo</p><p>acessar e reagir às condições do ambiente relevantes em um momento</p><p>específico, enquanto a autoconsciência permite ao indivíduo avaliar as</p><p>consequências de seus atos, não apenas no momento presente, mas também</p><p>no futuro. A autoconsciência nos permite ser cocriadores de nossa</p><p>existência, e não meros agentes de reação a estímulos. Graças a ela,</p><p>podemos atuar como seres independentes em processos de tomada de</p><p>decisão.</p><p>Enquanto a consciência convencional permite aos organismos</p><p>participar da dinâmica cênica da vida, a qualidade de autoconsciência nos</p><p>oferece a oportunidade de sermos não apenas atores, mas também membros</p><p>da audiência e até diretores. Ela nos confere a habilidade da reflexão, de</p><p>rever e modificar nosso padrão de desempenho. No entanto, por mais</p><p>significante que possa ser para nossa identidade, a autoconsciência é apenas</p><p>uma pequena parte daquilo que podemos chamar “mente”. Enquanto a</p><p>autoconsciência se ocupa da reflexão, outra mente monitora o mundo e</p><p>controla tudo, desde nossa respiração até nossa atenção ao dirigir um</p><p>veículo. Além dela, atrás da cortina do palco, está também a “mente</p><p>inconsciente”: em outras palavras, o mecanismo do cérebro, associado a</p><p>comportamentos de reação automática a estímulos, cuja função não requer</p><p>observação ou atenção. As funções do subconsciente se desenvolveram</p><p>muito antes do córtex pré-frontal. Consequentemente, organismos incapazes</p><p>de expressar autoconsciência conseguem comandar seus corpos e responder</p><p>aos desafios de um ambiente dinâmico. Assim como os organismos menos</p><p>desenvolvidos, os humanos possuem um piloto automático que regula</p><p>automaticamente seus sistemas, sem a necessidade de comandos ou de</p><p>manobras da autoconsciência.</p><p>O subconsciente é um poderoso processador de informações que pode</p><p>registrar experiências perceptivas e reativá-las a qualquer momento com um</p><p>simples comando. O mais interessante é que, na maioria das vezes, só nos</p><p>tornamos conscientes dos programas desse processador quando “alguém</p><p>aperta um botão” em nós.</p><p>Mas a imagem de apertar botões não é suficiente para descrever a</p><p>incrível capacidade de processamento de dados do subconsciente. Estima-se</p><p>que a enorme massa cerebral reservada ao subconsciente é capaz de</p><p>interpretar e reagir a mais de 40 milhões de impulsos nervosos por segundo.</p><p>Em contrapartida, o diminuto córtex pré-frontal da autoconsciência</p><p>processa apenas 40 impulsos nervosos por segundo. Isso significa que,</p><p>como processador de informações, o subconsciente é um milhão de vezes</p><p>mais poderoso do que a mente consciente.7</p><p>No entanto, em comparação com sua incrível capacidade de</p><p>processamento, o subconsciente possui baixo potencial de criatividade, algo</p><p>semelhante ao de uma criança de cinco anos. Enquanto a mente consciente</p><p>consegue expressar o livre-arbítrio, o subconsciente expressa quase que</p><p>exclusivamente hábitos e respostas a estímulos pré-registrados. Uma vez</p><p>que adquirimos um padrão de comportamento como andar, trocar de roupa</p><p>ou dirigir um veículo, delegamos ao subconsciente essa tarefa, o que</p><p>significa que podemos desempenhá-la sem ter que prestar atenção ao que</p><p>estamos fazendo.</p><p>Enquanto a mente inconsciente consegue coordenar todo o sistema de</p><p>funcionamento do organismo e ainda manter uma goma de mascar em</p><p>movimento dentro da boca, o pequeno córtex pré-frontal, responsável pela</p><p>mente consciente, consegue realizar apenas uma ou duas tarefas ao mesmo</p><p>tempo. E embora sua habilidade multitarefa seja reduzida, ela consegue</p><p>obter alto nível de desempenho quando se trata de manter o foco. É o órgão</p><p>responsável pela concentração.</p><p>Antes se achava que algumas funções do corpo – chamadas</p><p>involuntárias – como batimentos cardíacos, pressão sanguínea e</p><p>temperatura, não eram controladas pela mente consciente. Hoje sabemos</p><p>que pessoas como iogues e praticantes assíduos de meditação podem</p><p>controlá-las. Isso mostra que os componentes consciente e subconsciente da</p><p>mente trabalham como uma equipe bem organizada. O subconsciente</p><p>controla todos os comportamentos que a mente consciente não tem como</p><p>comandar, justamente aqueles que se referem ao momento presente! A</p><p>mente consciente da maioria das pessoas se mantém tão ocupada com</p><p>pensamentos sobre o passado, o futuro ou problemas imaginários que as</p><p>tarefas do dia a dia e do momento presente acabam sendo deixadas para o</p><p>subconsciente. Os neurocientistas concluíram que a mente consciente</p><p>contribui com apenas 5% da atividade cognitiva. Ou seja, 95 % de nossas</p><p>decisões, ações, emoções e comportamento são resultado de processos</p><p>imperceptíveis do subconsciente.8</p><p>QUEM CONTROLA NOSSO CARMA, AFINAL?</p><p>Conhece aquela piada dos dois neurônios, Tico e Teco? É disso que</p><p>vamos tratar. Se você de repente tem uma ideia, isso é fruto de sua mente</p><p>consciente, aquele pequeno processador de 40 bits responsável pelo</p><p>pensamento cognitivo, pela identidade e pelo livre-arbítrio. É a parte da</p><p>mente responsável pelos desejos e intenções (e, consequentemente, a parte</p><p>que faz Deus rir). A grande piada é que justamente a parte da mente que nos</p><p>faz saber ou pensar quem somos é aquela que controla 5% ou menos de</p><p>nossas vidas.</p><p>Os estudos revelam que todos os que tentam manter pensamentos</p><p>positivos mas só conseguem resultados negativos acabam percebendo que a</p><p>vida não é controlada por desejos ou intenções conscientes. Se você duvida,</p><p>pare e pense no que acontece com você.</p><p>Nosso subconsciente é quem controla o show durante 95% do tempo.</p><p>Portanto, nosso destino é controlado por uma espécie de programação, de</p><p>hábitos entranhados, resultantes de instintos e percepções adquiridos em</p><p>nossas experiências de vida.</p><p>Os programas mais influentes e poderosos do subconsciente são</p><p>aqueles que foram gravados primeiro. Durante o crucial período entre a</p><p>gestação e os seis primeiros meses de vida, nossos “programas” principais,</p><p>justamente aqueles que moldam nossa vida, são adquiridos, por meio da</p><p>observação e da convivência com nossos primeiros instrutores (pais,</p><p>parentes e comunidade). Infelizmente, como atestam muitos psiquiatras e</p><p>psicólogos, boa parte do que aprendemos nessa fase baseia-se em</p><p>percepções distorcidas, as</p><p>quais, com o tempo, passam a se expressar na</p><p>forma de crenças limitadoras e autossabotagem.</p><p>A maioria dos pais não sabe que suas palavras e atitudes são</p><p>continuamente registradas pelo subconsciente dos filhos e armazenadas</p><p>como arquivo de suas primeiras experiências no mundo. Uma criança</p><p>repreendida e chamada de mal-comportada não percebe que se trata de uma</p><p>condição temporária relativa a alguma atitude que acabou de ter. Sua mente</p><p>registra a repreensão como algo permanente que define sua personalidade.</p><p>O mesmo acontece com as crenças transmitidas, verbalmente ou não, de</p><p>que não merece receber boas coisas, não é educada ou inteligente, ou tem</p><p>saúde frágil e vai ficar sempre doente.</p><p>Estas sentenças não intencionais proferidas pelos adultos são</p><p>armazenadas no subconsciente da criança. E como o papel da mente é</p><p>estabelecer coerência entre sua programação e a vida real, o cérebro gera</p><p>respostas comportamentais apropriadas (ou inapropriadas) que traduzam a</p><p>verdade de suas percepções. Uma vez adquiridos, esses programas mentais</p><p>se manifestam de modo automático, como falsas realidades, moldando a</p><p>vida do indivíduo.</p><p>Vamos ver como isso funciona na prática. Imagine que você é uma</p><p>criança de cinco anos de idade fazendo um escândalo no shopping porque</p><p>deseja determinado brinquedo. Para fazê-lo parar, haja vista que vocês estão</p><p>em um local público, seu pai, irritado, repete algo que diziam quando ele</p><p>mesmo era criança e fazia escândalo semelhante: “Você não merece as</p><p>coisas que tem!”</p><p>Avance 20 ou 30 anos no tempo e se veja hoje, acabando de conseguir</p><p>um emprego, com ótimo salário. Está cheio de planos e projetos, mas, de</p><p>repente, uma nuvem negra aparece. O castelo dourado começa a</p><p>desmoronar. Você sabe que tem habilidade para fazer muito bem esse</p><p>trabalho, mas as coisas começam a dar errado, você não age exatamente</p><p>como pretendia, e seu chefe começa a perceber.</p><p>“Mas o que está acontecendo?”, você se pergunta. O problema é que a</p><p>programação mental está em conflito com seus desejos conscientes.</p><p>Enquanto estes se mostram positivos e esperançosos em relação ao novo</p><p>emprego, a mensagem de seu pai –“você não merece” – estimula a</p><p>autossabotagem. Como o indivíduo hipnotizado que não consegue levantar</p><p>o copo d’água por achar que o copo tem um peso absurdo, seu</p><p>subconsciente está, de maneira eficaz, fazendo que você adote um</p><p>comportamento contrário aos seus interesses, garantindo que a realidade</p><p>seja compatível com a programação. E você nem percebe.</p><p>Por quê? Porque os programas rodam de modo automático, enquanto</p><p>sua autoconsciência está preocupada com outros pensamentos (como você</p><p>vai gastar o dinheiro, por exemplo). Quando o consciente está em total</p><p>atividade, não percebe os comportamentos gerados pelo subconsciente. E</p><p>como o subconsciente representa 95% de tudo que fazemos, a maior parte</p><p>de nosso comportamento nos passa despercebida!</p><p>Por exemplo: digamos que você tem, desde a infância, um amigo</p><p>chamado Bill. Como o conhece bem, sabe que ele tem maneiras</p><p>semelhantes às maneiras do pai. Um dia você comenta: “Puxa, Bill, você é</p><p>mesmo igualzinho ao seu pai”. Bill olha para você indignado, e diz: “Que</p><p>absurdo!”</p><p>A piada cósmica é que todos menos Bill conseguem ver que o</p><p>comportamento dele lembra o do pai. Por que? Porque ele age de acordo</p><p>com programas de comportamento adquiridos quando era mais jovem, ao</p><p>observar o pai, enquanto sua mente consciente mantinha-se ocupada com os</p><p>próprios pensamentos. Hoje, depois de adulto, esses programas operam de</p><p>forma automática e inconsciente.</p><p>Outro exemplo bem comum acontece no momento em que você dirige</p><p>seu carro e um amigo está ao seu lado, no banco do passageiro. Você se</p><p>envolve tanto com a conversa que nem percebe que está dirigindo</p><p>automaticamente. Como sua mente consciente estava ocupada com o</p><p>assunto, o carro era guiado pelo piloto automático do subconsciente. Se</p><p>alguém lhe perguntar o que aconteceu na rua durante esses minutos, sua</p><p>resposta provavelmente será “não sei. Não estava prestando atenção”.</p><p>Ahá! Aí está o segredo. Quando nossa mente consciente está ocupada</p><p>não percebemos nosso comportamento programado se manifestando.</p><p>Simplesmente não prestamos atenção!</p><p>Por esse motivo, a vida não acontece conforme planejamos. Porém é</p><p>raro notarmos que boa parte das decepções têm nossa direta contribuição.</p><p>Como quase nunca percebemos a influência do subconsciente, é comum nos</p><p>considerarmos vítimas de forças externas. E essa condição acaba se</p><p>tornando realidade. Se nos julgamos vítimas, as funções do cérebro tendem</p><p>a manifestar essa verdade em nosso dia a dia. Como vítimas somos</p><p>impotentes e incapazes de realizar objetivos. Ou seja, nos afastamos cada</p><p>vez mais da realidade.</p><p>Conforme veremos adiante, a base de dados das percepções e crenças é</p><p>um fator decisivo à composição de nosso destino. A boa notícia é que temos</p><p>poder sobre o conteúdo dessa base de dados. Ao nos tornarmos conscientes</p><p>da programação que permanece oculta durante a maior parte do tempo,</p><p>obtemos a chave da evolução espontânea.</p><p>TRANSE E TRANSFORMAÇÃO</p><p>Haja vista que essa programação controla nossas ações, estrutura</p><p>biológica e o rumo de nossas vidas, é importante conhecermos as três fontes</p><p>básicas de nosso jeito de perceber o mundo.</p><p>Nossas primeiras percepções são adquiridas como herança dos pais.</p><p>Nosso genoma contém programas de comportamento traduzidos em atos</p><p>reflexos chamados “instintos”. Afastar a mão do fogo é um gesto que a</p><p>genética concede, é um gesto inato. Instintos mais complexos incluem a</p><p>habilidade dos recém-nascidos de nadar como golfinhos, ou o</p><p>desenvolvimento de mecanismos internos de cura para eliminar doenças</p><p>como o câncer. Instintos geneticamente herdados são percepções adquiridas</p><p>da Natureza.</p><p>A segunda fonte está nas memórias de experiências armazenadas no</p><p>inconsciente. Essas poderosas percepções representam o reforço da</p><p>educação que recebemos. Entre as primeiras percepções de vida estão os</p><p>padrões emocionais de nossa mãe enquanto estávamos no útero. Nutrição</p><p>não é a única coisa que recebemos dela. Uma complexa combinação</p><p>química de emoções maternais, hormônios e estresse também atravessam a</p><p>placenta e influenciam a fisiologia e o desenvolvimento. Se a mãe está feliz,</p><p>o feto também está. Se ela tem pensamentos de rejeição relativos a ele, seu</p><p>sistema nervoso fetal absorve a rejeição.</p><p>O livro de Sue Gerhardt, Por que o amor importa, enfatiza que o</p><p>sistema nervoso do feto registra todas as experiências vividas no útero.9 No</p><p>momento em que a criança nasce, as informações emocionais adquiridas</p><p>por meio das experiências da mãe já moldaram metade de sua</p><p>personalidade! Mas a programação perceptiva mais importante do</p><p>subconsciente ocorre entre o nascimento e os seis anos de vida. Durante</p><p>esse tempo o cérebro da criança grava todas as experiências sensoriais e</p><p>desenvolve os complexos programas motores da fala, do engatinhar, do</p><p>caminhar e, mais tarde, aqueles necessários para correr e pular.</p><p>Simultaneamente, os sistemas sensoriais estão abertos à descoberta,</p><p>absorvendo quantidades maciças de informações sobre o mundo e seu</p><p>funcionamento.</p><p>Ao observar os padrões de comportamento das pessoas ao redor, como</p><p>pais, irmãos e parentes, aprende a distinguir atitudes sociais aceitáveis e não</p><p>aceitáveis. É importante enfatizar que as percepções adquiridas antes dos</p><p>seis anos se tornam os principais programas do subconsciente de um</p><p>indivíduo.</p><p>Durante esse período de aprendizagem acelerada, a Natureza facilita o</p><p>processo de absorção de cultura, ampliando a habilidade do inconsciente de</p><p>absorver grandes quantidades de informação. Sabemos disso graças ao</p><p>estudo de ondas cerebrais em adultos e crianças. O eletroencefalograma</p><p>(EEG) de adultos revela que a atividade elétrica neural está relacionada a</p><p>diferentes estados de consciência, e o cérebro humano opera em pelo menos</p><p>cinco níveis de frequência diferentes, cada um associado a um estado:</p><p>Delta (0.5–4 Hz): Sono profundo/Inconsciência</p><p>Teta (4–8 Hz): Imaginação/Devaneio</p><p>Alfa (8–12 Hz): Consciência e Tranquilidade</p><p>Beta (12–35 Hz): Consciência</p><p>e Foco</p><p>Gama (>35 Hz): Desempenho Máximo</p><p>O gráfico revela o estado de atividade eletroencefalográfica predominante durante os estágios do</p><p>desenvolvimento infantil.</p><p>Durante o processamento normal do cérebro de adultos, as vibrações</p><p>do EEG mudam de estado de forma constante em toda a gama de</p><p>frequências. Contudo, as frequências cerebrais de crianças em</p><p>desenvolvimento apresentam-se de um jeito bem diferente. Com o passar do</p><p>tempo, as taxas de vibração EEG e seus estados correspondentes se</p><p>desenvolvem em fases crescentes de progressão.10</p><p>A atividade cerebral predominante durante os primeiros dois anos de</p><p>vida é Delta, a mais baixa.</p><p>Entre os dois e os seis anos a atividade cerebral se eleva e passa a</p><p>operar basicamente na faixa Teta. Neste estado, a criança passa a maior</p><p>parte do tempo misturando o mundo imaginário com o mundo real.</p><p>O nível de consciência mais calmo, associado à atividade Alfa, se torna</p><p>predominante só após os seis anos.</p><p>Por volta dos doze anos, o cérebro já expressa todas as frequências,</p><p>embora o estado predominante seja Beta, voltado para a consciência e o</p><p>foco. Nesta fase, a criança termina o nível mais básico de aprendizagem na</p><p>escola e passa a trabalhar com informações acadêmicas mais complexas.</p><p>Caso você não tenha percebido, há um aspecto muito importante:</p><p>crianças, antes dos seis anos, não expressam de forma tônica a faixa de</p><p>frequência EEG Alfa. O fato de permanecerem quase o tempo todo entre</p><p>estados Delta e Teta significa que seus cérebros operam em níveis abaixo da</p><p>consciência. É um estado conhecido como transe hipnótico, aquele induzido</p><p>pelos hipnoterapeutas para acessar o subconsciente e modificar o</p><p>comportamento de seus pacientes!</p><p>Durante essa fase, as percepções são levadas direto ao inconsciente,</p><p>sem qualquer filtro ou discriminação por parte da mente analítica, que ainda</p><p>não está formada. Ou seja, o que percebemos da vida e de nosso papel no</p><p>mundo é incutido sem que tenhamos a capacidade de escolher ou recusar.</p><p>Somos simplesmente programados.</p><p>Os jesuítas tinham conhecimento disso e se orgulhavam em dizer:</p><p>“Entregue aos meus cuidados uma criança até os sete anos e lhe entregarei</p><p>um homem”. Sabiam que o estado de transe facilitava a implantação direta</p><p>dos dogmas da igreja na mente inconsciente. Uma vez programada, a</p><p>informação inevitavelmente influencia 95% do comportamento do</p><p>indivíduo pelo resto da vida.</p><p>A ausência de processamento consciente – processamento subordinado</p><p>ao EEG Alfa – e o estado de transe hipnótico desse período têm uma</p><p>necessidade lógica. Em primeiro lugar, os processos associados ao</p><p>consciente não funcionam como uma lousa em branco. A atividade dessa</p><p>parte do cérebro requer a existência de um banco de percepções já ativo.</p><p>Portanto, antes que alguém desenvolva o consciente, o cérebro precisa</p><p>manter contato com o mundo por meio de experiências e observações</p><p>absorvidas e armazenadas com a mente inconsciente. No entanto, há uma</p><p>grande desvantagem deste método. As consequências são tão graves que</p><p>têm impacto não apenas sobre a vida do indivíduo, mas sobre toda a</p><p>civilização. O problema é que absorvemos e registramos percepções e</p><p>crenças antes de desenvolvermos o raciocínio crítico. Se absorvemos</p><p>crenças limitadoras ou de autossabotagem durante a infância, elas se tornam</p><p>verdades para nós. Se crescemos com percepções distorcidas, o</p><p>subconsciente gera um comportamento compatível.</p><p>As percepções adquiridas nessa época podem até mesmo se sobrepor</p><p>aos instintos geneticamente desenvolvidos. Se, no momento em que saímos</p><p>do útero todos temos a habilidade de nadar como peixes, por exemplo, por</p><p>que precisamos aprender a nadar anos depois? Por que tantas pessoas têm</p><p>medo da água?</p><p>Se você tem filhos, pense em sua reação toda vez que um deles se</p><p>aproxima da água. Você se desabala para segurá-los. Na mente da criança</p><p>sua atitude desesperada indica que a água é algo perigoso. Esse medo passa</p><p>a ser mais forte do que a habilidade instintiva de nadar e torna a criança</p><p>mais suscetível ao afogamento.</p><p>Agora você deve estar pensando: “Uau! Que alívio saber que não sou</p><p>mera vítima de minha condição genética. Porém vejo que sou vítima de</p><p>minha programação. Que chance tem meu pequeno processador de de 40</p><p>bits, a consciência, contra o megacomputador subconsciente que controla</p><p>meu destino? Era essa a boa notícia?” Bem, a boa notícia é que tudo que foi</p><p>programado pode ser desprogramado e reprogramado.</p><p>Isso nos leva a mencionar a terceira fonte de percepções que moldam</p><p>nossas vidas e derivam de atos da mente consciente. Ao contrário da</p><p>programação automática do inconsciente, aquela de apertar botões, etc., a</p><p>mente consciente é uma plataforma criativa capaz de combinar e transmutar</p><p>percepções por meio da infusão de imaginação. Ela é capaz de gerar um</p><p>número ilimitado de crenças e comportamentos variados. Essa característica</p><p>confere aos organismos uma das forças mais poderosas do Universo: a</p><p>oportunidade de exercer o livre-arbítrio.</p><p>Fontes de percepção capazes de moldar a vida:</p><p>1. Programação do Genoma (Instintos)</p><p>2. Lembranças do Subconsciente</p><p>3. Ações da Mente Consciente</p><p>DO JOGO DA CULPA À RESPONSABILIDADE</p><p>A maior parte de nossos problemas pessoais e culturais tem origem no</p><p>fato de que nosso comportamento inconsciente é invisível para nós. Como</p><p>acabamos de observar, ele é aprendido como resultado de palavras e ações</p><p>de outras pessoas, que, por sua vez, também foram programadas com</p><p>crenças limitadoras. Enquanto o consciente tenta nos levar em direção a</p><p>nossos sonhos, uma programação invisível talvez esteja nos sabotando e</p><p>impedindo nosso progresso.</p><p>Para a nossa sorte, o subconsciente não é aquele fatídico fosso</p><p>freudiano de maldade e escuridão. É só um mecanismo que grava, reproduz</p><p>e lê determinadas experiências e as transforma em padrões de</p><p>comportamento. Enquanto a mente consciente é criativa, a mente</p><p>inconsciente mobiliza programas previamente gravados. É semelhante a</p><p>uma máquina, não há uma entidade responsável no controle da engrenagem.</p><p>Portanto, da próxima vez que você resolver falar consigo mesmo para tentar</p><p>modificar um padrão de autossabotagem, lembre-se disto: tentar se</p><p>comunicar com seu subconsciente para modificá-lo é o mesmo que tentar</p><p>explicar para um radiogravador que ele deve mudar o conteúdo de uma fita</p><p>cassette. Não há um organismo inteligente ou um componente no</p><p>mecanismo capaz de responder ao diálogo.</p><p>A boa notícia é que os programas não são fixos e imutáveis. Temos o</p><p>poder de modificar nossas crenças limitadoras e assumir o controle de</p><p>nossas vidas. Mas não adianta tentar estabelecer um diálogo com a mente</p><p>inconsciente. Apresentamos, no final deste livro, uma lista de técnicas que</p><p>comprovadamente facilitam a modificação de crenças e padrões de</p><p>autossabotagem.</p><p>Perceber que nosso comportamento até agora foi determinado por</p><p>operações que fogem ao nosso controle nos dá a chance de perdoar a nós</p><p>mesmos. Talvez a ideia de pecado original fosse melhor se a</p><p>substituíssemos pela noção de equívoco original.</p><p>Seja como for, nem os nossos pais nem os pais deles sabiam</p><p>representar um roteiro preestabelecido. É importante lembrar que todos com</p><p>quem interagimos também estão condicionados, desde a infância, a</p><p>determinados comportamentos. Eles também não têm consciência de que</p><p>suas ações têm impacto sobre nós. São conceitos extremamente</p><p>importantes, que podem ajudar a trazer paz a um mundo em que a maioria</p><p>responde inconscientemente a condicionamentos culturais oriundos de seus</p><p>ancestrais. Sob esta perspectiva, cabe a nós reconsiderar nossos conceitos</p><p>no que se refere à culpa, vítimas e algozes. Essas recentes descobertas</p><p>científicas nos levam a concluir que a frase bíblica “Perdoai-os. Eles não</p><p>sabem o que fazem” é muito coerente.</p><p>Ao estudar a vida e os ensinamentos de Jesus, observamos que ele</p><p>empregou os conceitos da nova ciência em sua estrutura biológica e forma</p><p>de se comportar. Afinal, sempre deu ênfase ao fato de o abandono de nossas</p><p>crenças limitadoras nos tornaria capazes realizar os mesmos milagres que</p><p>fazia. E nossas vidas poderiam ser</p><p>renovadas por meio da mudança de</p><p>crença. Ele enxergava o perdão como o verdadeiro caminho para a paz. Se</p><p>cada um de nós puder mudar esse pequeno conceito em nossas mentes,</p><p>daremos um grande passo em termos de evolução global.</p><p>Baseada nas descobertas científicas sobre o funcionamento da mente, a</p><p>nova Biologia nos pede apenas que prestemos atenção ao que sempre nos</p><p>disseram os grandes profetas: perdoar o que nos fazem. Durante todo esse</p><p>tempo grilhões – forjados por comportamentos disfuncionais programados</p><p>em histórias do passado – nos imobilizaram. O perdão pode nos livrar</p><p>desses grilhões e do peso da história. Só então estaremos livres para criar</p><p>um futuro positivo.</p><p>Dr. Fred Luskin, especialista em psicologia e aconselhamento, afirma</p><p>em seu livro O poder do perdão que “o perdão nos ajuda a não ficarmos</p><p>presos ao passado”.11 E Colin Tipping, outro guru do perdão e autor de</p><p>Perdão Radical vai ainda mais longe. Ele afirma que perdoar “transforma</p><p>nosso arquétipo de vítimas” para sempre.12</p><p>Além de nossa programação subconsciente individual, a sociedade</p><p>também estimula determinadas crenças coletivas e invisíveis. Lembra-se de</p><p>Bill, que não percebia agir exatamente como o pai? Nossas percepções</p><p>culturais inconscientes individuais são crenças partilhadas e, portanto,</p><p>invisíveis para pessoas ao nosso redor. Imagine o estrago que elas podem</p><p>fazer.</p><p>Na verdade, a filosofia delimita a estrutura biológica, pois a função de</p><p>nosso cérebro é estabelecer coerência também entre nossas crenças</p><p>subconscientes coletivas e a realidade vivenciada no mundo. O próximo</p><p>passo da viagem é observar como a trama de nossa cultura evoluiu e o que</p><p>pode acontecer no próximo ato da grande peça da vida.</p><p>C A P Í T U L O 3</p><p>Uma nova versão da velha história</p><p>“A história que a história não contou.” Ou</p><p>“Prenda-se à sua história e ficará preso nela.”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>A HISTÓRIA DE UMA HISTÓRIA</p><p>Um amigo nosso, psicólogo de mais de 50 anos de idade, viveu há</p><p>pouco tempo uma crise familiar por causa de seus pais. Mas não foi um</p><p>problema de doença ou de morte. Foi algo bem mais inusitado. Depois de</p><p>um divórcio há 50 anos, de terem se casado com outras pessoas e de já</p><p>serem até viúvos, os dois decidiram se reconciliar. Com mais de 80 anos e</p><p>saúde relativamente boa, resolveram viver juntos o resto de vida que ainda</p><p>teriam pela frente.</p><p>Puxa, que romântico, não? Até aí, nenhum problema. Mas os filhos do</p><p>primeiro casamento e do segundo não gostaram da ideia. Depois de décadas</p><p>de ressentimentos, acusações e sessões de terapia, eles agora precisariam se</p><p>ajustar mais uma vez à realidade dos pais! E aceitar a ideia de que, em uma</p><p>idade em que cada minuto é precioso, os dois decidiram ganhar mais alguns</p><p>anos de felicidade em vez de manter uma briga que não tinha mais</p><p>importância.</p><p>Nós, seres humanos, vivemos e morremos por nossas histórias. Somos</p><p>uma espécie que precisa dar sentido às coisas. É algo tão importante para</p><p>nós quanto a vida em si. Veja o que aconteceu no final dos anos 1930,</p><p>quando Orson Welles levou ao ar seu famoso programa de rádio chamado</p><p>Guerra dos Mundos. Quem ligou o rádio depois que o programa havia</p><p>começado achou que se tratasse de um noticiário real informando sobre</p><p>marcianos invadindo a Terra. O resultado foi uma histeria em massa, e</p><p>muitas pessoas, em pânico, saíram correndo pelas ruas. Algumas até</p><p>pensaram em suicídio, pois a notícia era grave demais para elas.1</p><p>Construímos nossas vidas sobre nossas histórias. E quanto mais</p><p>investimos em uma história mais importante ela se torna, mesmo que depois</p><p>ela perca o sentido. Veja o que acontece com os israelenses e os palestinos</p><p>no Oriente Médio, ou mesmo o que aconteceu mais recentemente, no norte</p><p>da Irlanda, entre os católicos e os protestantes. A animosidade persiste</p><p>porque cada morte ou iniquidade adiciona mais um fato à história.</p><p>Muitas de nossas histórias existem há milênios. E se todas as supostas</p><p>verdades que aprendemos sobre o mundo não forem verdades? E se</p><p>entendemos tudo errado? E se aquilo que aprendemos sobre lutar não for a</p><p>lei natural, e sim algo totalmente absurdo? E se os Darwinistas estiverem</p><p>enganados? E se a cooperação, e não a competição, for a chave para a</p><p>sobrevivência?</p><p>Hoje, enquanto o ponteiro do Doomsday Clock (relógio do Juízo Final)</p><p>caminha de maneira inexorável para a Fatídica Meia-Noite, será que não</p><p>vale a pena pensar que a história coletiva pode ter nos levado a esse</p><p>perigoso precipício? Será que ainda podemos aprender com o casal de</p><p>velhinhos que decidiu que sua história não lhes servia mais nos últimos e</p><p>preciosos anos de suas vidas?</p><p>Hoje, nossa espécie se vê diante de uma escolha: manter a história ou a</p><p>vida.</p><p>Nossa história é repleta de contos de guerra, de disputa de território, de</p><p>exploração e de desconfiança. E à nossa frente está uma nova história:</p><p>aquela que representa a chave de nossa sobrevivência como espécie.</p><p>Devemos continuar com a mesma história de sempre ou aprender a lição e</p><p>criar uma nova?</p><p>“Insanidade” também pode ser definida como “fazer a mesma coisa</p><p>repetidas vezes esperando resultados diferentes”. Propomos aqui uma</p><p>questão: o que aconteceria se nosso mundo insano de repente se tornasse</p><p>lúcido?</p><p>COMO ESCOLHER UMA FONTE “REAL” DE VERDADES</p><p>Para entender a história atual, como mudá-la e por quê a mudança é</p><p>necessária, precisamos primeiro estudar a história das histórias.</p><p>Desde que existe a consciência humana, lutamos para responder a três</p><p>perguntas:</p><p>1. Como chegamos aqui?</p><p>2. Por que estamos aqui?</p><p>3. Agora que estamos aqui, como tirar o melhor proveito disso?</p><p>O que responder a essas perguntas da maneira mais satisfatória se torna</p><p>nossa fonte “oficial” de verdades. Porém, de tempos em tempos, o</p><p>privilégio de ser essa fonte muda de mãos. Em certos momentos</p><p>importantes da história a civilização percebeu que as respostas oficiais não</p><p>eram suficientes para enfrentar os desafios que surgiam. Então, saía-se em</p><p>busca de novas explicações para a vida. Parece que estamos em um desses</p><p>momentos. A sociedade parece prestes a adotar uma nova forma de ver o</p><p>mundo, porém ainda se encontra presa a velhas metáforas e explicações.</p><p>Ao longo da história as pessoas aplicaram duas descrições diferentes à</p><p>natureza da existência humana: estática e dinâmica. Histórias estáticas</p><p>mostram o mundo como algo cíclico e imutável. Baseiam-se, normalmente,</p><p>em padrões repetidos e previsíveis da Natureza e das estrelas, mostrando</p><p>que tudo que aconteceu no ano passado ou nos dez mil últimos anos poderá</p><p>se repetir. Um ícone que descreve bem a condição de civilização estática é</p><p>um círculo – ou melhor, uma cobra engolindo a própria cauda.</p><p>Histórias dinâmicas demonstram progresso e se baseiam em conceitos</p><p>de evolução e aprendizado. A história mostra claramente que os humanos</p><p>modificaram profundamente seu comportamento toda vez que descobriram</p><p>novas informações e viveram novas experiências. Nossos ancestrais</p><p>descobriram o fogo, criaram ferramentas, inventaram a roda, aprenderam a</p><p>caçar e a plantar sementes, criaram armas e construíram casas. Nos últimos</p><p>100 anos as inovações tecnológicas mudaram não apenas nossas vidas, mas</p><p>tiveram impacto sobre cada espécie no planeta. Uma boa imagem para uma</p><p>existência humana dinâmica é uma seta em movimento representando um</p><p>vetor de progresso ou um foguete decolando.</p><p>E agora? Qual história é a verdadeira? Será que seguimos um padrão</p><p>cíclico e repetido? Ou evoluímos e nos desenvolvemos? A resposta é “sim”</p><p>e “sim”. As duas situações ocorrem simultaneamente.</p><p>Os aborígenes e as comunidades que vivem junto à Natureza</p><p>sobrevivem por estar em harmonia com seus ciclos. Viver em equilíbrio</p><p>garante a sobrevivência, mas não estimula, ou melhor, não requer progresso</p><p>tecnológico.</p><p>No entanto, a civilização oriental e um número cada vez maior de</p><p>nações asiáticas têm se preocupado com o vetor do progresso. Infelizmente,</p><p>o glamour da tecnologia abalou a conexão da humanidade com a Natureza,</p><p>e a corrida pelo desenvolvimento nesta área tem trazido muito desequilíbrio</p><p>e crises globais. Nosso vetor de progresso se transformou</p><p>em um foguete</p><p>descontrolado a criar uma catástrofe atrás da outra. Para sobreviver (e</p><p>prosperar) será que é preciso escolher entre estática e dinâmica, entre</p><p>florestas e celulares? Felizmente, não é preciso optar para responder a esta</p><p>questão. Em vez disso, combinamos as duas alternativas. Sabemos que a</p><p>vida como a conhecemos seria inviável sem mecanismos tecnológicos.</p><p>Explicamos: à medida que as comunidades celulares evoluíram da condição</p><p>de indivíduos independentes para organismos multicelulares, a tecnologia</p><p>se tornou condição obrigatória. Para construir e operar esses mecanismos</p><p>gigantescos, as células precisaram desenvolver métodos de suporte</p><p>estrutural de peso reduzido (ossos), cabos de colágeno com força</p><p>equivalente àquela dos cabos de aço (tecido conjuntivo), materiais de</p><p>reforço moldáveis e maleáveis (tecido cartilaginoso) e centenas de</p><p>inovações biológicas. O que torna essas estruturas tão interessantes é o fato</p><p>de não existirem anteriormente nas células. Foram criadas por elas e</p><p>montadas em seu ambiente por meio de interações celulares com esse</p><p>propósito. Portanto, devemos todo respeito à tecnologia! Sem ela não</p><p>estaríamos aqui.</p><p>A Natureza parece apresentar uma característica essencial: a</p><p>capacidade de se modificar e de, ao mesmo tempo, permanecer igual.</p><p>Então, o que acontece quando combinamos padrões estáticos e evolução</p><p>dinâmica?</p><p>O círculo representa a existência cíclica, a harmonia e o equilíbrio. O vetor simboliza o progresso</p><p>direcional e a evolução tecnológica. Combinados, os dois criam uma espiral de evolução benéfica e</p><p>positiva que pode nos tornar uma civilização próspera e autossuficiente.</p><p>No entanto, é preciso fazer uma observação importante: para adotar</p><p>este recurso, será necessário rever alguns conceitos e crenças básicas de</p><p>nossa cultura. Felizmente temos precedentes para nos ajudar: esta não é a</p><p>primeira vez que uma nova maneira de pensar muda o curso da</p><p>humanidade. Nos últimos oito mil anos a civilização ocidental reeditou sua</p><p>missão quatro vezes, e cada vez que isso ocorreu houve uma revolução</p><p>social.</p><p>PARADIGMAS BÁSICOS: UMA BREVE HISTÓRIA DA HISTÓRIA</p><p>Os arqueólogos e historiadores revelam que a civilização já passou por</p><p>quatro “paradigmas básicos”, ou seja, quatro explicações para a existência:</p><p>animismo, politeísmo, monoteísmo e materialismo. À medida que cada</p><p>estágio atingiu seu limite em termos de compreensão e de influência um</p><p>novo patamar de evolução se estabeleceu e um novo estágio se iniciou,</p><p>refutando o paradigma anterior, mas mantendo alguns vestígios dele ou</p><p>simplesmente estabelecendo uma nova postura e uma nova visão.</p><p>O caráter e o destino de cada versão da civilização dependem de como</p><p>as pessoas veem sua existência em relação ao cosmo. Desde o início os</p><p>humanos dividem o Universo em dois reinos distintos: o reino material e o</p><p>reino não material. O reino material representa o universo físico, composto</p><p>de matéria. O reino não material representa as forças invisíveis a que os</p><p>antigos chamavam “espírito” e os cientistas de hoje chamam de “campo de</p><p>energia”. Tanto os cientistas quanto os antigos místicos concordam que as</p><p>forças não materiais influenciam em grande parte nossa experiência</p><p>humana. Neste livro utilizaremos os termos “campo de energia” e</p><p>“espíritos”, alternadamente.</p><p>Os quatro paradigmas básicos que moldam cada fase da civilização</p><p>definem o relacionamento da cultura com os reinos material e não material.</p><p>Algumas culturas reconhecem o reino espiritual como fator que controla a</p><p>vida na Terra, enquanto outras pregam que o reino material é que molda o</p><p>Universo. E há também aquelas que acreditam que ambos são responsáveis</p><p>por nossas experiências de vida.</p><p>Se traçarmos uma linha de evolução da civilização ocidental em um</p><p>gráfico para medir o relacionamento consciente da sociedade com o cosmo</p><p>teremos uma visão interessante de como esta evolução ocorreu e de como</p><p>pode ser o futuro da humanidade.</p><p>Usaremos a seguinte ilustração para mostrar as crenças da civilização e</p><p>seu relacionamento com os reinos espiritual e material. Na Figura A os</p><p>reinos se apresentam como elementos distintos. Já a Figura B é uma</p><p>expressão mais realista. As crenças que enfatizam os reinos material ou</p><p>espiritual se sobrepõem e é possível observar uma variação de 100% de</p><p>crença na primazia da espiritualidade a 100% de crença na da realidade</p><p>material. A linha mediana horizontal representa um equilíbrio de 50% de</p><p>ênfase no reino material e 50% no reino espiritual.</p><p>Figura A: Espírito representa o reino não material. Matéria representa o reino físico.</p><p>Figura B: Na realidade, Espírito e Matéria se sobrepõem, criando uma sequência contínua entre</p><p>100% espírito / 0% matéria e 0% espírito / 100% matéria.</p><p>A linha mediana na Figura B representa o avanço do tempo por meio</p><p>do qual se pode observar o caminho de evolução da civilização. Uma</p><p>sucessão acelerada do paradigma básico para o próximo revela que a</p><p>humanidade evolui em uma taxa exponencial. A passagem de um nível de</p><p>consciência para o outro promove maior consciência, o que facilita e agiliza</p><p>a evolução. Como podemos observar na linha do tempo, o processo ocorre</p><p>cada vez mais rápido.</p><p>Tudo indica que a civilização está prestes a entrar em seu quinto</p><p>paradigma básico. Mas, antes de analisá-lo, vejamos os outros pelos quais</p><p>passamos:</p><p>ANIMISMO: SOU UNO COM O TODO</p><p>O animismo é provavelmente a prática religiosa mais antiga do mundo</p><p>e acredita-se que teve origem entre as culturas primitivas da Era Neolítica,</p><p>também conhecida como Idade da Pedra. Ocorreu por volta de 8000 a.C.</p><p>Baseava-se no princípio de que o espírito é algo universal e existe em todas</p><p>as coisas, animadas ou inanimadas. Como o animismo propõe o equilíbrio</p><p>perfeito entre os reinos material e espiritual, o colocamos na linha mediana.</p><p>Derivado da palavra “anima”, que significa “respiração” ou “alma” em</p><p>latim, o animismo é a experiência espiritual do Jardim do Éden, onde não</p><p>há distinção entre o eu e o ambiente. Tudo que existe no mundo (chuva,</p><p>céu, pedras, árvores, animais e, claro, humanos) possui um espírito</p><p>imaterial. Então, como cada objeto na Natureza possui um espírito, todos</p><p>são partes de um todo.</p><p>Podemos imaginar que o Jardim do Éden tenha sido uma invenção da</p><p>tradição Judeu-Cristã, mas o especialista em mitologia Joseph Campbell</p><p>afirma que se trata de algo comum a todas as culturas humanas, com</p><p>pequenas variações.2 O caráter universalista deste mito indica uma</p><p>lembrança latente de nossa conexão com tudo o que existe.</p><p>Durante o animismo, o paradigma dominante era o equilíbrio inerente entre espírito e matéria.</p><p>O animismo ainda está presente em algumas culturas indígenas. Para os</p><p>aborígenes australianos trata-se de absoluta realidade. A vida no mundo</p><p>físico é vista por eles como um estado de sonho e o véu entre nossa</p><p>dimensão e o mundo espiritual é algo diáfano. Para algumas dessas</p><p>comunidades antigas o tempo também não existe. Cada momento é apenas</p><p>um novo “agora” e vivemos portanto no eterno presente.</p><p>O animismo oferece as seguintes respostas para as questões primordiais</p><p>da existência:</p><p>1.Como chegamos aqui?</p><p>Somos filhos da Mãe Terra (plano material) e do Pai Céu (plano</p><p>espiritual).</p><p>2.Por que estamos aqui?</p><p>Para cuidar do grande Jardim e nos desenvolvermos.</p><p>3.Agora que estamos aqui, como tirar o melhor proveito disso?</p><p>Vivendo em harmonia com a Natureza.</p><p>O animismo é, provavelmente, o mais próximo que a humanidade já</p><p>esteve, desde o Jardim do Éden, de realizar o sonho de unir espírito e</p><p>matéria. Enquanto ele existiu, a harmonia entre o reino espiritual e o reino</p><p>visível prevaleceu. Tudo era o mesmo Uno. Se a vida fosse apenas estática</p><p>e cíclica na Natureza, ainda estaríamos no Grande Jardim, totalmente</p><p>integrados e indistinguíveis do ambiente, usando apenas uma folha como</p><p>roupa, ou mesmo nus. Viveríamos como os outros animais, em um grande e</p><p>global zoológico.</p><p>Mas algum poder ou estímulo, talvez a inata curiosidade humana, levou</p><p>nossos ancestrais em outra direção, longe do idílico Jardim, para que nossa</p><p>espécie pudesse evoluir e conhecer o mundo.</p><p>O que a teologia descreve</p><p>como perda da inocência ou distanciamento de Deus foi, na realidade, um</p><p>“descobrimento” que impulsionou a evolução da humanidade e nos colocou</p><p>no caminho do conhecimento e da consciência.</p><p>Uma pequena mordida na maçã do conhecimento abalou a Terra. A</p><p>unidade do Grande Jardim foi rompida, e a civilização seguiu um caminho</p><p>que separou os reinos da matéria e do espírito. No entanto, houve um</p><p>contratempo inesperado: para atuar como observadores do mundo,</p><p>enxergando a realidade sob um prisma analítico, nossos ancestrais</p><p>precisariam adotar uma postura de distanciamento. Essa perspectiva</p><p>modificou significativamente a relação com a Natureza. De repente, o</p><p>Universo foi dividido entre “eu” e “tudo aquilo que não sou eu”. E todas as</p><p>forças transformadas em “o que não sou eu” tiveram que ser aplacadas para</p><p>que “eu” e “os outros como eu” não se tornassem vítimas das forças que</p><p>antes conviviam em harmonia, de maneira “una”.</p><p>POLITEÍSMO: A PRIMEIRA SUBDIVISÃO ESPIRITUAL</p><p>À medida que começamos a enfatizar a diferença entre eu e não eu a</p><p>unidade do Jardim deu lugar à “subdivisão espiritual”. Então, desligado do</p><p>mundo físico, o mundo espiritual passou a ter uma energia e uma conotação</p><p>próprias.</p><p>Com o advento do politeísmo, o paradigma dominante começou a se voltar para o mundo espiritual.</p><p>O politeísmo se iniciou por volta do ano 2000 a.C., quando a sociedade</p><p>se distanciou do conceito de unidade do período do animismo, por meio da</p><p>da crença em diversas entidades espirituais. Ao separar espírito e matéria,</p><p>os politeístas deram ao reino espiritual uma grande variedade de deuses</p><p>icônicos que representavam os elementos da Natureza. E instituíram que</p><p>cada uma dessas deidades deveria ser reverenciada com rituais e cerimônias</p><p>especiais para garantir a continuidade da saúde e do bem-estar da</p><p>humanidade. Ao buscar as respostas para os mistérios da vida no mundo</p><p>espiritual, os politeístas começaram a se desconectar da Natureza.</p><p>O ápice da era politeísta se deu quando os deuses e deusas gregos, que</p><p>possuíam habilidades super-humanas, decidiram viver em mansões de</p><p>cristal no topo do Monte Olimpo, de onde “desciam” eventualmente,</p><p>escondidos sob vários tipos de disfarce. As pessoas já não sabiam mais se</p><p>as criaturas ao seu redor eram humanos ou deuses, e todos viviam em um</p><p>ambiente opressivo. Provocar a ira de deuses tão instáveis poderia ser</p><p>desastroso e até mesmo fatal. A mensagem era simples: viva em harmonia,</p><p>como se tudo e todos fossem deuses, pois do contrário pode provocar uma</p><p>entidade poderosa que vai querer rir por último e fazer você rolar por uma</p><p>ribanceira todos os dias e por toda a eternidade.</p><p>Os politeístas tinham novas respostas às questões primordiais da</p><p>existência:</p><p>1. Como chegamos aqui?</p><p>Somos oriundos do Caos.</p><p>2. Por que estamos aqui?</p><p>Para agradar aos caprichosos e perversos deuses.</p><p>3. Agora que estamos aqui, como tirar o melhor proveito disso?</p><p>Não provocando a ira dos deuses.</p><p>A procura de explicações para questões que os povos primitivos</p><p>simplesmente acatavam como verdade deu origem aos primeiros filósofos.</p><p>Os gregos, por exemplo, se dividiram em duas facções com pontos de vista</p><p>distintos.</p><p>A primeira, encabeçada por Democritus (460-370 a.C.), pregava a</p><p>primazia da matéria. Democritus cunhou a palavra “átomo”, que significa</p><p>“indivisível”. Sua teoria era de que os átomos, invisíveis e não fracionáveis,</p><p>eram as menores partículas da matéria, a base de toda estrutura física, e o</p><p>Universo consistia de átomos suspensos no vácuo. Para Democritus e seus</p><p>seguidores a única coisa que importava era a matéria. Segundo ele, só</p><p>existia aquilo que se podia ver.</p><p>Em oposição a essa teoria, existia a de Sócrates (470-399 a.C.), que via</p><p>os fatos sob um ponto de vista totalmente diferente. Para ele o Universo era</p><p>uma dualidade. De um lado havia um mundo não material, no qual os</p><p>pensamentos tomavam “forma”. O termo utilizado para descrever esta</p><p>forma era “alma”. Ele também afirmava que as formas do mundo não físico</p><p>eram perfeitas, enquanto as do mundo material e tangível eram apenas uma</p><p>“tosca sombra”. Por exemplo: uma pessoa pode imaginar uma cadeira</p><p>perfeita, porém a mesma cadeira construída no mundo material pode, no</p><p>máximo, se aproximar bastante do projeto original, sem jamais ter a mesma</p><p>forma.</p><p>À medida que o politeísmo evoluiu, os gregos permitiram que tanto a</p><p>visão de Democritus quanto a de Sócrates coexistissem em sua civilização.</p><p>MONOTEÍSMO: DEUS NÃO ESTÁ MAIS ENTRE NÓS</p><p>Após alguns milênios assistindo aos deuses se divertirem e fazerem</p><p>estragos, era hora da humanidade prosseguir em seu caminho de evolução e</p><p>de conhecimento do mundo espiritual.</p><p>Assim como as crianças que, em certa idade, começam a ter</p><p>necessidade de ordem e disciplina, a busca da compreensão das questões do</p><p>espírito levou ao monoteísmo e à crença em um Deus Único, onisciente,</p><p>onipotente e onipresente, que ditasse as regras para todos. Esse Deus não</p><p>apenas vivia fora deste mundo, mas nos prometia um lugar confortável fora</p><p>dele, desde que vivêssemos de acordo com Suas regras (pelo menos era o</p><p>que garantiam Seus sagrados missionários aqui na Terra).</p><p>Enquanto no Oriente Médio a população minoritária de hebreus já</p><p>adorava um Deus único há mais de dois mil anos, o Cristianismo impôs o</p><p>monoteísmo e sua crença como paradigma teológico dominante no mundo</p><p>ocidental.</p><p>O monoteísmo se mostrou um paradigma mais voltado para o mundo espiritual.</p><p>No primeiro milênio depois de Cristo, o crescimento da Igreja de Roma</p><p>se tornou um exemplo de como um novo estágio de uma civilização pode</p><p>reestruturar e até mesmo eliminar os vestígios do estágio anterior. Diversos</p><p>ídolos e festas da era pagã foram moldados e modificados, ressurgindo na</p><p>forma de ícones e festividades cristãs.</p><p>Sob a direção de Alberto Magno e seu discípulo, Tomás de Aquino, a</p><p>Igreja remodelou radicalmente os 1.500 anos de ciência e filosofia herdados</p><p>da Era de Ouro da Grécia. Todos os aspectos de retórica politeísta que lhes</p><p>eram desagradáveis foram adaptados, reescritos e modificados para se</p><p>encaixar no Velho e no Novo Testamento. Com essa síntese das filosofias</p><p>do cristianismo e de Aristóteles, Aquino criou a “Teologia Natural”, um</p><p>sistema de crença que objetivava conhecer e compreender Deus por meio</p><p>do estudo da Natureza. A Igreja Judaico-Cristã era favorável ao conceito de</p><p>Sócrates, ou seja, à ideia de um universo dualista e de uma forma ou alma</p><p>perfeita. A Igreja pregava que a vida imperfeita nesta grosseira sombra que</p><p>é o mundo material, a Terra, representa aquilo que a ativista moderna</p><p>Caroline Casey chamou de “pilar das provações espirituais”.3 O planeta é</p><p>meramente um palco de representações morais e uma parada obrigatória no</p><p>caminho para a perfeição no invisível Reino do Paraíso. Esse conceito de</p><p>“os últimos serão os primeiros” e “sofra agora para desfrutar do gozo eterno</p><p>depois da morte” veio como uma forma de convencer as pessoas de que a</p><p>vida neste mundo, algo que seria intolerável, era uma oportunidade para</p><p>“dar à alma um descanso no Paraíso”.</p><p>O monoteísmo concentrou, de uma maneira geral, a ênfase no mundo</p><p>espiritual, e associou este mundo à condenação. Isso levou a humanidade,</p><p>durante a existência desse paradigma, a se concentrar somente na esfera</p><p>espiritual e a focar toda a sua energia tentando não se desviar do foco</p><p>sagrado. A vida prometida fora deste mundo fez com que as pessoas</p><p>vivessem em desequilíbrio.</p><p>Uma diferença filosófica entre o politeísmo e o novo paradigma</p><p>monoteísta era a localização e o acesso aos Poderes Divinos. Enquanto os</p><p>deuses gregos viviam no Monte Olimpo, o novo Deus Cristão tinha um</p><p>endereço secreto no céu. Como Ser onipotente, este Deus naturalmente</p><p>necessitava de uma rede de comando muito acima da “população comum”.</p><p>Então, totalmente separados do Criador, passamos à condição de meros</p><p>mortais que precisavam de sacerdotes para servir como intermediários. Os</p><p>missionários ajudaram a aumentar cada vez mais o poder da Igreja (e o</p><p>próprio poder) viajando pelo mundo todo na tentativa de converter</p><p>primitivos animistas que</p><p>Prólogo – Remissão Espontânea</p><p>PARTE I – E SE TUDO QUE SABEMOS ATÉ HOJE ESTIVER ERRADO?</p><p>Capítulo 1 – Crer para ver</p><p>Capítulo 2 – Cresça individualmente... Evolua globalmente</p><p>Capítulo 3 – Uma nova versão da velha história</p><p>Capítulo 4 – O redescobrimento da América</p><p>PARTE II – OS QUATRO MITOS DO APOCALIPSE</p><p>Capítulo 5 – Mito um: só a matéria existe</p><p>Capítulo 6 – Mito dois: só os mais fortes sobrevivem</p><p>Capítulo 7 – Mito três: somos o produto de nossos genes</p><p>Capítulo 8 – Mito quatro: a evolução é aleatória</p><p>Capítulo 9 – A disjunção na junção</p><p>Capítulo 10 – Da loucura à sanidade</p><p>PARTE III – HORA DE RENOVAR O JARDIM</p><p>Capítulo 11 – Evolução Fractal</p><p>Capítulo 12 – Melhor consultar um bom psiquiatra</p><p>Capítulo 13 – Uma sugestão</p><p>Capítulo 14 – Uma economia saudável</p><p>Capítulo 15 – A política tem cura</p><p>Capítulo 16 – Uma história completamente nova</p><p>Técnicas e instituições para auxiliar na modificação de crenças</p><p>Referências</p><p>Índice remissivo</p><p>P R E F Á C I O</p><p>Todos nós sentimos, de alguma forma, que estamos um período de</p><p>grandes transformações, tanto internamente quanto no mundo que nos</p><p>cerca. Há grandes avanços tecnológicos, mudanças climáticas e velocidade</p><p>espantosa na transmissão de informações, mas a humanidade se apresenta</p><p>cada vez mais angustiada, ansiosa, com uma incidência de doenças crônicas</p><p>e psicológicas sem precedentes.</p><p>Quais são essas mudanças que devem acontecer? Trágicas?</p><p>Catastróficas? Será o fim do nosso planeta azul? Uma coisa é certa: a</p><p>exploração dos recursos naturais, motivada pela ganância humana,</p><p>extrapolou o limite de adaptação da Terra e parece que nos encaminhamos</p><p>para um grande paredão.</p><p>Com os conhecimentos da Física Quântica, sabemos que o mundo</p><p>material, composto por átomos, nada mais é do que o resultado de nosso</p><p>nível de consciência individual e coletivo. Atraímos para nós, ou</p><p>materializamos em nossas vidas, o “espelho” ressonante do campo</p><p>eletromagnético emitido por nossa mente e coração, o qual, por sua vez,</p><p>resulta de nossas crenças ou programações subconscientes. Para mudarmos o</p><p>mundo, portanto, deve haver uma mudança na humanidade, capaz de</p><p>inventar e reinventar o próprio meio. Como contribuir positivamente com o</p><p>nosso planeta nessa fase tão importante? Por que manter um panorama</p><p>mundial tão competitivo, egoísta e baseado no medo? De onde vieram as</p><p>crenças e programações subconscientes coletivas que trouxeram o mundo a</p><p>esta crise e conflito?</p><p>Neste livro, Evolução Espontânea, os autores nos contam esta história de</p><p>forma brilhante e, baseando-se no princípio dos fractais – que assume a ideia</p><p>de que o Uno é igual ao Todo – mostram-nos que a solução está dentro de</p><p>nós, no exemplo da comunidade de mais de 50 trilhões de células de nosso</p><p>corpo, comunidade a conviver em pleno estado de paz e harmonia,</p><p>trabalhando para o bem-estar coletivo, apesar das diferenças.</p><p>Será que ainda pretendemos permanecer no papel de células doentes,</p><p>concerosas? Está na hora de quebrarmos alguns paradigmas durante séculos</p><p>considerados verdade absoluta, que colocam o ser humano na posição de</p><p>um bicho isolado, com medo, lutando com unhas e dentes para acumular</p><p>bens na tentativa de sobreviver e ser feliz, mas afastando-se mais e mais do</p><p>verdadeiro propósito da vida, ligado ao reconhecimento da Unidade do</p><p>Todo, da integração, da cooperação e do amor.</p><p>O coração é muito mais do que um órgão a bombear sangue para os</p><p>tecidos. Ele revela uma linguagem capaz de expressar seu estado emocional</p><p>e transmitir, tanto para cada uma de nossas células quanto para o meio</p><p>externo, nosso campo eletromagnético, este com a propriedade de</p><p>influenciar pessoas e de atrair experiências materiais e emocionais em</p><p>ressonância harmônica com a sua vibração.</p><p>Quer confiar na ideia de que a vida nos reserva sempre o que há de</p><p>melhor e mais belo? Quer contribuir efetivamente para a construção de um</p><p>mundo de paz e harmonia? Comece sintonizando e desenvolvendo em seu</p><p>coração sentimentos de amor e... boa leitura!</p><p>FABIO GABAS*</p><p>* Graduado em Medicina, pela Faculdade de Medicina de Catanduva (SP). Com, especialização em</p><p>medicina preventiva/integrativa, trabalha na clínica Healthy, em São Paulo. É sócio-diretor da</p><p>Heartmetrix, empresa pioneira em soluções complementares para o gerenciamento do estresse através</p><p>do equilíbrio autonômico, com reflexo positivo na saúde e produtividade no meio coorporativo (vide</p><p>site www.heartmetrix.com.br). É palestrante e revisor técnico do livro A Biologia da Crença, do</p><p>renomado biólogo celular Bruce Lipton PhD, publicado pela Butterfly Editora em 2007.</p><p>Por que decidimos escrever este livro</p><p>Olá, meu nome é Bruce Lipton.</p><p>E o meu é Steve Bhaerman.</p><p>Bruce: Desejamos boas-vindas aos leitores deste novo livro, Evolução</p><p>espontânea. Em meu livro anterior, A biologia da crença, a ênfase era sobre</p><p>atitudes e emoções que controlam nossa fisiologia, nossa Biologia e até a</p><p>expressão dos nossos genes. Também enfocamos de que modo crenças</p><p>pessoais afetam a realidade de cada um. Mas há algo ainda mais profundo a</p><p>ser aprendido: de que maneira as crenças coletivas – de uma cultura ou</p><p>sociedade – podem modificar a estrutura biológica e o comportamento.</p><p>A sociedade como um todo começa a reconhecer o caráter prejudicial</p><p>das crenças coletivas e a situação precária na qual o mundo se encontra.</p><p>Notei que este era o momento de trazer informações sobre possíveis formas</p><p>de aplicar a nova Biologia e as mais recentes descobertas da ciência para</p><p>resolver problemas atuais. Neste livro, meu foco é a Biologia, as crenças e o</p><p>comportamento humano. Meu amigo Steve Bhaerman, por sua vez, oferece</p><p>subsídios à compreensão de como a estrutura social, a política e a economia</p><p>afetam a estrutura biológica, o que torna a mensagem do livro ainda mais</p><p>clara e completa.</p><p>Steve: Atuo como comediante há 22 anos, sob o pseudônimo Swami</p><p>Beyondananda*, o cômico cósmico. O humor é um meio excelente de dizer</p><p>a verdade, porque é capaz de burlar as defesas da mente, levando</p><p>informações e perspectivas que seriam ignoradas ou bloqueadas em outras</p><p>circunstâncias. Antes de assumir o papel de Swami, no entanto, minha</p><p>primeira “encarnação” profissional foi na área de ciências políticas e</p><p>ativismo social, durante os anos 1960. Ajudei a montar uma escola</p><p>alternativa em Washington, para estudantes que haviam crescido sob as</p><p>regras do ensino tradicional. Eram tempos incríveis, em que novas ideias</p><p>surgiam e eram testadas. Porém observei, com bastante pesar, que os testes</p><p>mais importantes (aqueles que nos permitiriam realizar de fato os conceitos</p><p>postulados) não aconteciam. Houve, por exemplo, uma reunião com o</p><p>especialista mais renomado na área de vivência em comunidade. No</p><p>entanto, logo ficou claro que ele era o tipo de pessoa com quem ninguém</p><p>conseguiria conviver.</p><p>Cheguei à conclusão de que realizar meus ideais, sem embasamento,</p><p>seria impossível. Eu não tinha a menor ideia de como fazê-lo. Por esse</p><p>motivo, acabei me jogando de cabeça nos estudos. Embarquei em uma</p><p>viagem de 25 anos pelo mundo da psicologia, do desenvolvimento pessoal,</p><p>da meditação e da espiritualidade. Nos últimos sete anos, surgiu a</p><p>necessidade cada vez maior de escrever o que aprendi e publicar um livro. O</p><p>título seria algo do tipo A política tem cura. Porém, quando conheci Bruce,</p><p>achei que poderíamos fazer isso juntos. E ele aceitou.</p><p>Bruce: No mundo da medicina não é raro encontrarmos pacientes</p><p>terminais, desenganados. Então algo acontece, e esse indivíduo apresenta</p><p>uma mudança fundamental em suas crenças (programações do</p><p>subconsciente), a qual se expressa no corpo físico através do que chamamos</p><p>de remissão espontânea. Num momento, ele é um paciente terminal, no</p><p>outro, totalmente livre da doença. É um fenômeno relativamente comum,</p><p>que surpreende a maioria dos médicos, mas todos têm consciência de que o</p><p>fenômeno existe.</p><p>A Terra e a biosfera (que inclui cada um de nós) é um sistema de vida</p><p>integrado. Enquanto o sistema parece entrar em colapso, o próprio planeta é</p><p>capaz de expressar uma remissão</p><p>já se comunicavam muito bem, obrigado, com seu</p><p>criador.</p><p>Os monoteístas respondiam às questões primordiais da existência da</p><p>seguinte maneira:</p><p>1. Como chegamos aqui?</p><p>Pela intervenção Divina.</p><p>2. Por que estamos aqui?</p><p>Para viver de acordo com os códigos morais.</p><p>3. Agora que estamos aqui, como tirar o melhor proveito disso?</p><p>Obedecer às Escrituras, para evitar a condenação da alma.</p><p>Ao pregar que a vida é curta e bruta, a Igreja oferecia uma troca: faça</p><p>como mandamos e, um dia, você terá direito a cruzar os majestosos portões</p><p>do Céu e desfrutar da vida eterna ao lado do Deus Pai. Seu plano de</p><p>marketing era direto e altamente eficaz. “Compre nosso produto e vá para o</p><p>Céu. Deixe de comprá-lo e vá para o Inferno”.</p><p>Naturalmente, com a hierarquia religiosa vieram as regras, a tortura e a</p><p>repressão em nome de Deus Pai. E também a infalibilidade da Igreja, dona</p><p>de todo o conhecimento. E como conhecimento é sinônimo de poder,</p><p>conhecimento absoluto passou a ser poder absoluto. Questionar a</p><p>infalibilidade da Igreja era considerado heresia, punível com a morte, o que</p><p>dava a seus representantes total liberdade de ação.</p><p>Mas a Igreja estava tão preocupada com seu conhecimento e tão</p><p>corrompida por seu poder que começou a se desorganizar e acabou por cair</p><p>de seu pedestal de “árbitro da verdade”.</p><p>Um evento crítico para esta queda ocorreu em 1517, quando Martinho</p><p>Lutero, monge e professor alemão, iniciou um protesto contra a venda de</p><p>indulgências (espécie de salvo-conduto que livraria os pecadores mais ricos</p><p>das garras do Inferno). O protesto levou à Reforma Protestante, que colocou</p><p>em jogo a infalibilidade da Igreja. Assim, impelida pelas contribuições de</p><p>Descartes, Bacon e Newton, entre outros, a marcha evolucionária da</p><p>humanidade retomou seu ritmo, e, à medida que a ciência começou a</p><p>desvendar os mistérios do Universo físico, o foco deixou de ser o mundo</p><p>espiritual.</p><p>A Reforma Protestante foi responsável por uma mudança de paradigma, e a humanidade resgatou o</p><p>equilíbrio entre o espírito e a matéria.</p><p>DEÍSMO: UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL</p><p>Entre os séculos 17 e 18, o processo evolutivo mais uma vez conduziu</p><p>a um equilíbrio entre espírito e matéria. Nessa época se iniciava o Século</p><p>das Luzes ou Iluminismo, movimento intelectual europeu que priorizava a</p><p>razão e o individualismo, em contraste com a tradição religiosa do</p><p>monoteísmo. A filosofia do Século das Luzes era de que Deus e a Natureza</p><p>são um só e, através do estudo e da compreensão científica da Natureza,</p><p>poderíamos aprender a viver em harmonia com Deus.</p><p>O período deístico foi um breve momento de retorno ao equilíbrio entre espírito e matéria. Pode não</p><p>ter durado muito, mas representou a possibilidade de um dia o reconquistarmos.</p><p>O mais interessante é que o equilíbrio espírito/matéria característico da</p><p>filosofia Iluminista se originou de estudos da cultura animística dos Índios</p><p>Norte-Americanos, realizados pelo filósofo francês Jean-Jacques Rousseau.</p><p>Ele descreveu os nativos norte-americanos como nobres selvagens que</p><p>simbolizavam a bondade inata da humanidade, livres da influência</p><p>corruptora da civilização, o que iniciou uma onda de imigração europeia às</p><p>recém-formadas colônias americanas.</p><p>Muitos dos Pais Fundadores da República dos Estados Unidos eram</p><p>deístas, praticantes da filosofia Iluminista. Aceitavam a ideia de um Ser</p><p>Supremo, mas rejeitavam a crença em uma divindade sobrenatural que</p><p>pudesse interagir com a humanidade. Suas crenças baseavam-se em algo a</p><p>que chamavam “lei natural e racional”. Assim como os animistas, 8.000</p><p>anos antes, os deístas reverenciavam sua relação tanto com o reino material</p><p>quanto com o reino espiritual da Natureza.</p><p>Imbuídos na filosofia deísta com elementos derivados diretamente da</p><p>cultura nativa norte-americana, a Declaração de Independência e a</p><p>Constituição dos Estados Unidos representaram uma profunda união entre a</p><p>verdade espiritual e os princípios físicos de um elegante Universo material.</p><p>A Fundação dos Estados Unidos foi um evento que marcou o retorno do</p><p>equilíbrio espírito/matéria.</p><p>No entanto, a seta do tempo jamais se mantém imóvel, e a jornada da</p><p>evolução continuou em direção ao inexplorado âmbito da matéria,</p><p>distanciando-se de tudo o que diz respeito ao outro mundo. À medida que a</p><p>civilização se concentrou no reino físico, a ciência intensificou as pesquisas</p><p>em relação ao Universo material, o que resultou em uma melhoria de</p><p>qualidade de vida jamais imaginada. Como comparar o milagre de Jesus</p><p>transformando água em vinho a maravilhas como a máquina a vapor, que</p><p>gerou transporte, ou a vacinas, que podem prevenir doenças como a</p><p>catapora? Mas apesar de todos os milagres tecnológicos, a ciência moderna</p><p>do Século das Luzes não conseguiu competir com o grande “provedor</p><p>oficial da verdade”. A ciência não era capaz de oferecer uma resposta</p><p>melhor para as origens da espécie humana do que as da Bíblia, e isso a</p><p>manteve relegada a segundo plano em relação às consagradas verdades</p><p>estabelecidas pela Igreja.</p><p>MATERIALISMO CIENTÍFICO: O PODER DA MATÉRIA</p><p>O monoteísmo baseava-se apenas na fé. Mas filósofos e cientistas</p><p>como Francis Bacon e Isaac Newton ofereceram aos seres humanos a</p><p>oportunidade de questionar dogmas e buscar respostas por si mesmos. Para</p><p>as pessoas daquela era, as verdades científicas eram baseadas em cálculos</p><p>matemáticos e resultados previsíveis, e os milagres da tecnologia se</p><p>tornaram a base da nova revolução industrial.</p><p>Ao mesmo tempo, a Igreja tentava desesperadamente recuperar o</p><p>controle do conhecimento, ameaçando os pensadores criativos com o Santo</p><p>Ofício da Inquisição, mas a iniciativa acabou se transformando em um</p><p>surpreendente incentivo para que as pessoas passassem a “pensar de</p><p>maneira correta”.</p><p>A Igreja também limitava a busca do conhecimento, estabelecendo</p><p>limites para estudos e experiências, desencorajando muitos cientistas que</p><p>desejavam conhecer melhor o mundo. Um bom exemplo foi a alegação de</p><p>que o corpo humano era de domínio restrito, um “Mistério de Deus”,</p><p>exclusivo para Sua contemplação, e estudar seu interior era pecado. Por</p><p>esse motivo os cristãos não podiam ser médicos. A prática se restringia aos</p><p>judeus, muçulmanos e aos considerados descrentes. Porém, apesar dos</p><p>decretos da Igreja em relação à Biologia humana, os cientistas continuaram</p><p>suas pesquisas em outras áreas.</p><p>O filósofo e matemático René Descartes, e mais tarde Isaac Newton,</p><p>postularam que o Universo era uma máquina. Os princípios matemáticos de</p><p>Newton se expandiram para além dos mecanismos da época e permitiram</p><p>idealizar um relógio no sistema solar. A ciência não descartava a ideia de</p><p>que Deus pudesse ser o relojoeiro original, tendo em vista que, segundo os</p><p>princípios da matemática, o “relógio do mundo” funcionava perfeitamente</p><p>bem.</p><p>Em um mundo governado pela ciência Deus estava tão longe do</p><p>planeta que Seu trabalho não necessitava de Sua presença. A Revolução</p><p>Industrial e as invenções tecnológicas seguintes acabaram por deixá-Lo</p><p>totalmente isolado do mundo físico. Quem precisa de Deus quando os</p><p>humanos podem fazer os próprios milagres tecnológicos?</p><p>O darwinismo marcou a mudança de paradigma e o domínio da matéria.</p><p>Quando o naturalista inglês Charles Darwin entrou em cena, na metade</p><p>do século a9, o materialismo se tornou o paradigma dominante da</p><p>civilização. Antes de seu tratado, “A Origem das Espécies”, a ciência não</p><p>tinha como fornecer explicação adequada para as três questões primordiais</p><p>da existência, condição básica para o estabelecimento de um paradigma.</p><p>Segundo a teoria de Darwin, os seres humanos tiveram origem em uma</p><p>forma primitiva de vida que se desenvolveu ao longo de milhões de anos,</p><p>em um processo de hereditariedade oriundo da luta pela sobrevivência. O</p><p>conceito foi prontamente aceito pela sociedade da época, familiarizada com</p><p>os processos de cultivo de plantas e de criação de animais. A consequência</p><p>foi a queda da autoridade suprema da Igreja. O materialismo científico</p><p>passou a ser o provedor “oficial” das grandes verdades da humanidade.</p><p>Os materialistas responderam da seguinte maneira às questões</p><p>primordiais</p><p>da existência:</p><p>1. Como chegamos aqui?</p><p>Por ações aleatórias da hereditariedade.</p><p>2. Por que estamos aqui?</p><p>Para crescermos e nos multiplicarmos.</p><p>3. Agora que estamos aqui, como tirar o melhor proveito disso?</p><p>Vivendo segundo as leis da selva.</p><p>A mudança foi rápida. Das leis das Sagradas Escrituras para as leis da</p><p>selva, a afiada faca de dois gumes do materialismo nos trouxe benefícios</p><p>tecnológicos que nossos ancestrais jamais sonharam. Mas, em termos</p><p>práticos, a civilização simplesmente trocou uma autoridade absoluta por</p><p>outra. Diante de todos os milagres científicos, a dogmática religião do</p><p>monoteísmo deu lugar à dogmática religião do materialismo científico (ou</p><p>cientificismo). Para a ciência, o mundo material é o único que existe, e tudo</p><p>que não se encaixa em seu pacote ideológico é estigmatizado e considerado</p><p>heresia.</p><p>Então, como adolescentes que declaram sua independência,</p><p>começamos a imaginar que poderíamos entender a mecânica de um</p><p>Universo totalmente material e finalmente desvendar os segredos da vida. A</p><p>jornada da civilização se desviou totalmente para o âmbito material em</p><p>1953, quando os biólogos moleculares James Watson e Francis Crick</p><p>declararam ter desvendado o maior segredo da Biologia com sua</p><p>descoberta: a dupla hélice do DNA. Ao definir a natureza dos elementos de</p><p>origem da célula, Watson e Crick identificaram as origens materiais da vida.</p><p>O neodarwinismo levou o paradigma materialista a se consolidar ainda mais.</p><p>A VIRADA DA MARÉ</p><p>Bem, tudo que sobe tem que descer, e estamos sofrendo uma grande</p><p>“descida”. Nos últimos 50 anos, a santificada tecnologia tem gerado</p><p>inúmeros problemas.</p><p>No desenho Fantasia, de Walt Disney, Mickey Mouse faz o papel de</p><p>um aprendiz de feiticeiro que pretende fazer magia como seu mestre, porém</p><p>sem ter conhecimento ou experiência para tal. O resultado é desastroso, pois</p><p>Mickey não é capaz de controlar os poderes que invocou. Da mesma</p><p>maneira, a civilização moderna deu asas ao poder da tecnologia, mas se</p><p>mostrou incapaz de controlar seus efeitos. O resultado é que a mesma</p><p>medicina que nos deu a penicilina, a vacina contra a poliomielite e a</p><p>cirurgia cardíaca é uma entre as principais causas de morte no mundo</p><p>ocidental.</p><p>Em um esforço desesperado para capitalizar a cultura do materialismo</p><p>científico, especuladores convenceram os cientistas e o público a investir no</p><p>Projeto Genoma Humano (PGH), destinado a identificar e patentear cada</p><p>um dos 150 mil genes que, segundo biólogos moleculares neodarwinistas,</p><p>são necessários para gerar um ser humano.</p><p>No entanto, a conclusão do projeto, em 2001, revelou que o genoma</p><p>humano consiste de algo em torno de 23 mil genes. Os mais de 125 mil</p><p>genes que faltam mostram claramente que a crença em uma estrutura</p><p>geneticamente programada é um grande equívoco.4</p><p>O sistema de saúde baseado neste equívoco, somado a outros que</p><p>descreveremos mais tarde, vem impondo restrições cada vez maiores ao</p><p>desenvolvimento da medicina e é diretamente responsável pelo efeito</p><p>limitado e pelos custos cada vez maiores da alopatia. A insatisfação do</p><p>público com esta situação pode ser medida pelo fato de que quase metade</p><p>da população dos Estados Unidos busca alívio nas diversas modalidades de</p><p>medicina complementar.</p><p>O mais interessante é que a maioria das práticas alternativas de cura</p><p>enfatiza o papel dos campos de energia invisíveis na formação do caráter e</p><p>da vida dos seres humanos. A figura a seguir mostra a tendência da</p><p>civilização de se afastar do materialismo e recuperar o equilíbrio,</p><p>incorporando em sua cultura o âmbito das forças invisíveis; o âmbito do</p><p>espírito.</p><p>Uma nova ciência surgiu para substituir a errônea crença de que os</p><p>genes controlam nosso destino. A epigenética reconhece que a estrutura</p><p>biológica e a atividade genética de um organismo são diretamente</p><p>influenciadas por sua interação com o ambiente. A nova ciência mostra que,</p><p>em vez de sermos vítimas de nossos genes, podemos controlar o ambiente</p><p>ao nosso redor, equilibrar nossa estrutura biológica e nos tornarmos mestres</p><p>de nossas vidas.</p><p>O aspecto positivo desta fase é que a jornada evolucionária da</p><p>sociedade se encaminha rapidamente ao ponto de equilíbrio. A cada dia</p><p>temos mais provas de que nossa preocupação excessiva com a matéria está</p><p>ameaçando a vida no planeta. Por sorte, parece que estamos em uma curva</p><p>de aprendizado rápido. Mas se queremos mesmo sair da montanha russa</p><p>inconsciente desta onda senoidal, é melhor nos conscientizarmos de que não</p><p>precisamos de mais polarização espiritual-material neste momento, mas de</p><p>integração e harmonia.</p><p>O Projeto Genoma Humano, um empreendimento voltado exclusivamente para o materialismo, foi o</p><p>ponto-chave para a mudança de paradigma.</p><p>O ressurgimento do fundamentalismo religioso, especialmente a</p><p>obsessão em relação ao paraíso e às recompensas após a morte, indicam</p><p>haver consciência de uma rota sem escalas rumo à destruição. Nem os</p><p>sacerdotes nem os cientistas podem nos ajudar agora (pelo menos não</p><p>dentro dos padrões atuais de crenças). Tanto o monoteísmo quanto o</p><p>cientificismo afastaram o ser humano da Natureza. O fundamentalismo</p><p>religioso coloca a humanidade acima do restante da criação em vez de</p><p>integrá-la a todas as espécies. E o materialismo científico insiste que o</p><p>milagre da vida foi um mero acidente, resultante de um jogo de dados</p><p>genético.</p><p>A HISTÓRIA POR TRÁS DA HISTÓRIA</p><p>Você começa a enxergar por que precisamos de uma nova história? A</p><p>antiga nos faz reféns de um Deus distante ou de eventos genéticos</p><p>aleatórios. Rouba nossa atenção e nossas energias, induzindo a população a</p><p>adotar uma postura de fragilidade em vez de estimular a seguir em frente e</p><p>evoluir. Será que vamos nos desviar do caminho mais uma vez? Ou</p><p>poderemos cultivar a unidade e a coerência para sair da situação em que nos</p><p>encontramos, caminhando para o ponto ideal de equilíbrio entre o material e</p><p>o espiritual?</p><p>Com o holismo, resultado direto da evolução espontânea, o paradigma vigente será mais uma vez o</p><p>equilíbrio entre espírito e matéria, tornando possível usufruir o melhor que cada um deles tem a</p><p>oferecer.</p><p>Em uma era em que padrões arcaicos estimulam a rixa entre</p><p>dualidades, devemos nos lembrar daquilo que os físicos quânticos nos</p><p>dizem a respeito da natureza da existência física: por trás de cada partícula</p><p>há uma onda guiando seus movimentos e atitudes. Assim como os animistas</p><p>e deístas, que compreendiam que espírito e matéria devem coexistir, somos</p><p>agora chamados a reconhecer esta verdade. Espírito e matéria. Onda e</p><p>partícula. Você e eu e todas as pessoas.</p><p>Tomemos como exemplo a própria história da vida. Ela se iniciou em</p><p>um ponto central ou ponto-zero em que tanto as ondas de energia quanto as</p><p>partículas de matéria estavam presentes. Durante bilhões de anos a energia</p><p>do sol se irradiou sobre as partículas de matéria que compõem Mater, nossa</p><p>Mãe Terra. A energia dessas ondas fundiu-se à química inorgânica através</p><p>de um processo chamado fotossíntese. A combinação de ondas de luz e de</p><p>partículas químicas gerou a “química orgânica”, ou seja, a química dos</p><p>organismos vivos. Através da fotossíntese, a energia do sol deu vida à</p><p>matéria inerte. Portanto, a vida se iniciou com a fusão da luz do céu com a</p><p>matéria física da Terra! Percebe de onde os índios norte-americanos</p><p>animistas extraíram o conceito de Pai Céu e Mãe Terra?</p><p>A célula esperma, programada para distribuir genes e que contém</p><p>apenas informações, é outro exemplo. Sua função é equivalente à da onda,</p><p>fundindo-se à matéria física no ovo da mãe. Assim é criada a vida na</p><p>fantástica rede de padrões semelhantes do Universo. Informação e matéria</p><p>são a base da criação. Mas não se pode identificar o processo estudando o</p><p>ovo e o esperma separadamente. Será que, integrando elementos opostos de</p><p>espírito e matéria, energia e partícula, masculino e feminino, poderemos</p><p>criar uma nova sociedade, cuja expressão é completamente imprevisível,</p><p>estudando o que temos e quem somos hoje?</p><p>O conceito de uma nova humanidade, completamente diferente daquela</p><p>conhecida, pode parecer inviável, mas consideremos esta hipótese.</p><p>Estamos</p><p>em uma situação limite: evoluir ou morrer. O que vamos escolher?</p><p>Conforme veremos na Parte II deste livro, nossas preferências pessoais</p><p>exercem muito mais poder sobre a realidade do que jamais imaginamos.</p><p>Consequentemente, aquilo que escolhermos pode fazer toda diferença ao</p><p>destino da humanidade.</p><p>Diferente de nossos ancestrais dêiticos, a guerra enfrentada nos tempos</p><p>atuais não é contra o rei de outro país, é contra a nossa consciência, nossas</p><p>limitações e nossa percepção distorcida da natureza e do potencial humano.</p><p>Estamos em guerra contra nossos mecanismos de defesa e nosso medo de</p><p>coisas que podem nem existir mais. A piada sem graça é que a maioria de</p><p>nós é “controlada” por crenças e limitações de pessoas que viveram no</p><p>passado e sequer tem consciência disso!</p><p>Os treinadores de animais amarram os filhotes de elefante, desde cedo,</p><p>a pilares, com cordas grossas. Por mais que tentem, os elefantinhos não</p><p>conseguem escapar. Acabam associando as cordas a uma força muito maior</p><p>do que a sua, contra a qual não adianta lutar. Depois de adulto, basta</p><p>amarrar uma corda a uma de suas pernas, e ele se mantém no lugar, pois</p><p>aprendeu a se resignar a essa limitação. Apesar de ter força para arrebentar</p><p>qualquer corda e arrancar até mesmo um poste do chão, a crença adquirida</p><p>quando filhote o torna dócil e passivo. Sendo assim, podemos perguntar:</p><p>“Quais histórias e crenças nos mantêm inconscientemente limitados e nos</p><p>impedem de expressar nossas verdadeiras habilidades? Somos refreados por</p><p>ideias não questionadas sobre o pecado original ou sobre um Universo sem</p><p>sentido? Apesar de toda a nossa educação moral, temos medo de não agir</p><p>corretamente? Será que nos resignamos à crença geral de que sempre</p><p>haverá guerras e pobreza no mundo e que tudo deve ser assim mesmo?”</p><p>Bem, pergunte isso a Mahatma Gandhi, a Martin Luther King Jr., a</p><p>Washington, Jefferson ou a Franklin. Conforme veremos no capítulo a</p><p>seguir, a tarefa inacabada dos pais e fundadores dos Estados Unidos da</p><p>América pode ser a chave de algo a que eles chamaram “lei natural”. Talvez</p><p>tudo o que precisemos agora seja uma lei natural atualizada que norteie</p><p>nossas vidas e esteja de acordo com nossa verdadeira natureza: a de células</p><p>do corpo da Mãe Terra e de energia espiritual do Universo eterno.</p><p>Esse novo caminho talvez seja a entrada para o Grande Jardim, mas</p><p>desta vez retornaremos a ele como jardineiros conscientes, cocriadores de</p><p>uma expressão de vida mais bela, mais funcional e repleta de verdadeiro</p><p>amor.</p><p>C A P Í T U L O 4</p><p>O redescobrimento da América</p><p>“Não precisamos de uma revolução norte-americana.</p><p>Já temos uma, obrigado. O que precisamos agora</p><p>é de uma evolução Norte-Americana, de preferência</p><p>algo que possa transformar nossos cidadãos</p><p>nos homens e mulheres com os quais os</p><p>Fundadores deste país sonharam.”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>A EVOLUÇÃO NA PLACA DE PETRI</p><p>Quando começamos a escrever este livro, o intitulamos A Evolução</p><p>americana. Como nós dois, Bruce e Steve, somos de áreas diferentes (ciência</p><p>biológica e ciência política), reconhecemos o potencial evolucionário do</p><p>grande experimento chamado Estados Unidos da América. O lema da</p><p>fundação de nossa nação, “e plurubus unum” (de muitos, um), reflete a</p><p>descoberta da ciência evolucionária: cada um de nós é uma célula</p><p>consciente e participativa do corpo da humanidade. E esse conceito</p><p>científico faz ainda mais sentido quando olhamos para a América do Norte</p><p>como uma caixa de cultura humana, um projeto macrossômico com o qual</p><p>todos no planeta podem aprender. Se observarmos sob a perspectiva</p><p>biológica, a Terra representa uma grande placa de Petri que mantém o</p><p>desenvolvimento e a sobrevivência de todos os organismos da biosfera.</p><p>Oceanos, rios, montanhas e desertos estabelecem limites geológicos naturais</p><p>e esculpem o terreno à sua volta, criando habitats para as mais diversas</p><p>comunidades de flora e fauna. As características que definem cada ambiente</p><p>definem os traços evolucionários das espécies que neles habitam.</p><p>O mesmo vale para os habitantes humanos da Terra. Com o surgimento</p><p>da civilização, o ambiente foi subdividido em regionais geopolíticas que</p><p>deram origem aos Estados e nações. Os cidadãos inscritos dentro dos limites</p><p>dos países ou Estados viveram durante muito tempo isolados da influência</p><p>das tribos ao redor. Cada território político, com seu tipo específico de</p><p>ambiente, moldou os traços e as características de seus habitantes. Essas</p><p>nações independentes, separadas por barreiras políticas, representam o</p><p>equivalente biológico de uma estrutura cultural que favorece o crescimento</p><p>e o desenvolvimento de seus cidadãos. Com o passar do tempo, o ambiente</p><p>dessas placas de Petri soberanas estabeleceu a identidade de cada país.</p><p>Na pecuária, a procriação consanguínea pode manter e aprimorar</p><p>determinadas características nos organismos dos animais. Isso é comprovado</p><p>observando-se o grande número e a variedade de raças de cães e gatos</p><p>criados até hoje. Porém, as mesmas práticas de procriação consanguínea que</p><p>dão origem a campeões em concursos podem gerar defeitos hereditários.</p><p>Distúrbios genéticos por cruzamento consanguíneo geram, por exemplo,</p><p>doenças degenerativas, como má formação de ossos e juntas, hemofilia,</p><p>retardo mental e uma longa lista de problemas. No século 18, os praticantes</p><p>da cultura de procriação consanguínea já haviam identificado as</p><p>características positivas e negativas características de cada uma das nações</p><p>da placa de Petri que compõem a civilização ocidental. Assim como collies e</p><p>pit bulls são raças diferentes, humanos nascidos e criados em culturas</p><p>relativamente isoladas desenvolvem personalidades culturais diferentes.</p><p>Essas tendências podem ser resumidas em uma piada sobre o Paraíso e o</p><p>Inferno e os países da Europa. No Paraíso, a polícia é inglesa, os mecânicos</p><p>são alemães, os cozinheiros são franceses, os amantes são italianos e quem</p><p>comanda tudo são os suíços. No Inferno, a polícia é alemã, os cozinheiros</p><p>são ingleses, os mecânicos são franceses, os amantes são suíços e quem está</p><p>no controle são os italianos. É muito engraçado observar as diferenças entre</p><p>as “raças humanas”.</p><p>Outra coisa era verdade sobre as origens das raças humanas da Europa</p><p>do século 18: os cidadãos de cada país eram moldados de acordo com a</p><p>hierarquia de castas de poder e posição social de suas famílias. A natureza de</p><p>uma classe social estratificada definia o futuro das crianças antes mesmo de</p><p>elas virem ao mundo.</p><p>Consequentemente, quando a filosofia deísta se espalhou pela</p><p>civilização ocidental, por volta de 1700, o conceito de nobreza e liberdade</p><p>de Jean-Jacques Rousseau em relação aos nativos do Novo Mundo trouxe</p><p>novas possibilidades. Inspiradas pelo sonho desse Novo Mundo sem castas e</p><p>sem regras, pessoas do mundo todo partiram em busca de uma vida melhor,</p><p>imigrando para o solo fértil das colônias americanas.</p><p>A Fundação dos Estados Unidos da América foi um grande</p><p>experimento na evolução da civilização humana. As colônias receberam</p><p>levas de pessoas das mais diversas raças, credos e nacionalidades. Encerrados</p><p>em suas divisas geopolíticas e isolados da Europa e da Ásia por grandes</p><p>oceanos, os Estados Unidos se transformaram em uma grande placa de Petri</p><p>para testar a dinâmica e o potencial de uma civilização global.</p><p>Fazendeiros, geneticistas e todos os criadores de animais sabem que</p><p>indivíduos resultantes de cruzamento de raças apresentam qualidades</p><p>superiores àquelas de seus progenitores de raça pura. Os cientistas</p><p>classificam esse fenômeno como “vigor híbrido”. Em termos de mistura de</p><p>raças, o sucesso meteórico dos EUA em termos de supremacia global foi uma</p><p>demonstração de vigor total.</p><p>Além da mistura cultural, a fundação dos EUA contribuiu para que a</p><p>humanidade pudesse reconhecer a necessidade do equilíbrio entre os</p><p>âmbitos material e espiritual. O sucesso dos Estados Unidos da América se</p><p>deu, ao menos em parte, à incorporação de princípios evolutivos mais</p><p>avançados em termos de civilização igualitária, aliados à filosofia Iluminista</p><p>e incorporados em sua Declaração de Independência e em sua Constituição.</p><p>Ao fazer isso, os Fundadores do país se colocaram em posição delicada, pois</p><p>exigiram reconhecimento do valor da vida humana. E não apenas dentro de</p><p>seu território, pois sua Constituição se tornou uma declaração de igualdade</p><p>dedicada à toda a humanidade.</p><p>Infelizmente, como se observa na linha de evolução mencionada no</p><p>capítulo anterior, a harmonia da fase deística da civilização representou</p><p>apenas um breve período na marcha da humanidade em direção ao domínio</p><p>do âmbito material. Na década de 1860, a teoria darwinista influenciou o</p><p>mundo a adotar uma existência sem deus, baseada apenas na materialidade.</p><p>Ao mesmo tempo, a Guerra Civil Norte-Americana e o avanço industrial</p><p>deram origem a uma filosofia materialista radical. O país substituiu os</p><p>valores espirituais pelos do ouro. Com a adoração ao dinheiro veio o</p><p>domínio da máquina. O grande sucesso financeiro durante esse período foi</p><p>regido por uma entidade não física: o conceito de lucro a qualquer preço.</p><p>No início da década de 1880, essa entidade, batizada de corporação, passou</p><p>a reger os direitos das massas, porém carecia da consciência moral de um</p><p>líder humano. E como sempre ocorre na Natureza, uma espécie invasora</p><p>surge no organismo toda vez que ele se encontra em desequilíbrio, abalando</p><p>todo o sistema e gerando doenças.</p><p>Com o domínio do conceito imperativo de crescimento a qualquer</p><p>custo, os micro-organismos que poderiam ser benéficos à saúde agora</p><p>haviam se tornado parasitas no corpo da política, minando os recursos do</p><p>país e denegrindo os ideais morais e espirituais introduzidos por seus</p><p>Fundadores.</p><p>Como veremos neste capítulo, a filosofia de fundação dos EUA</p><p>representou um passo importante na evolução da humanidade e se tornou</p><p>referência para o resto do mundo (embora os próprios EUA tenham se</p><p>distanciado dela).</p><p>Apesar de todos os contratempos, esse experimento ainda não</p><p>terminou. Dizem que o despertar da nação, após o período Bush, reacendeu</p><p>o espírito de igualdade da fundação do país. Bem, pode ser que, depois de</p><p>uma longa era de ceticismo, nossos olhos se voltem para a filosofia original,</p><p>que deu origem a um grande sonho há tanto tempo abandonado... e talvez</p><p>possamos finalmente redescobrir a América.</p><p>AMÉRICA: DA REVOLUÇÃO À INVOLUÇÃO</p><p>Ao estudar a ascensão e a queda dos paradigmas durante o longo</p><p>processo de evolução humana, é importante lembrar que a história pertence</p><p>àqueles que a escrevem e interpretam, e as interpretações dependem de sua</p><p>visão. Portanto, é preciso levar em consideração que, além dos muitos fatos</p><p>incorretamente registrados, eventos importantes podem ter sido</p><p>convenientemente omitidos porque não se encaixavam nos padrões dos</p><p>provedores “oficiais” da verdade na época.</p><p>Quem nasceu ou cresceu nos Estados Unidos provavelmente se lembra</p><p>das histórias da Declaração da Independência, da Declaração de Direitos e</p><p>dos princípios idealistas sobre os quais o país foi criado. Desde o jardim da</p><p>infância, sempre ouvimos histórias que conferiam aos pais ou fundadores do</p><p>país uma aura quase sobrenatural. Um bom exemplo é a pintura de Emanuel</p><p>Leutze, Washington Cruzando o Delaware, que mostra o general George</p><p>Washington próximo da proa de um barco enquanto seus homens remavam</p><p>nas águas geladas do Rio Delaware, no período da Revolução.</p><p>Como convinha na época, os fundadores foram inicialmente colocados</p><p>em um pedestal. Mas durante os 100 anos de mudanças que se seguiram,</p><p>seus halos foram, aos poucos, manchados pelas grandes disputas políticas,</p><p>pelo crescimento da indústria e da mentalidade da máquina e pelos</p><p>mordazes ataques dos jornalistas investigativos, dos escritores e dos céticos</p><p>literários. Os altos ideais e os heróis Fundadores foram expostos, analisados</p><p>e depreciados um a um.</p><p>E, claro, a Guerra Civil também destruiu a inocência norte-americana.</p><p>A economia do país migrou da agricultura para a produção industrial, mais</p><p>especificamente para a indústria do carvão, do aço e das estradas de ferro;</p><p>tudo o que pudesse alimentar as máquinas. Até mesmo as organizações</p><p>políticas urbanas que distribuíam perus no dia de Ação de Graças – em troca</p><p>de votos nas eleições de novembro – eram chamadas de “grandes</p><p>máquinas”.</p><p>Ao final de 1800, a população se deleitava com as histórias de pobres</p><p>que se transformavam em ricos, escritas pelo autor norte-americano</p><p>Horation Alger, que exaltavam os indivíduos que se sobressaíam e obtinham</p><p>sucesso em um mundo competitivo. No início de 1900, o otimismo deu</p><p>lugar à literatura mais realista, como “The Jungle” (A Selva), de Upton</p><p>Sinclair, que denunciava as péssimas condições da indústria da carne.</p><p>Jornalistas da imprensa marrom como Ida Tarbell, Lincoln Steffens e outros</p><p>expunham o lado negro da era da máquina, revelando os abusos das grandes</p><p>corporações, como a Standard Oil Company.</p><p>Talvez o historiador mais influente da primeira parte do século 20 tenha</p><p>sido Charles Beard, que, literal e figuradamente, atingiu a maioridade</p><p>durante a era da máquina. Em uma época de disputas de interesse em todas</p><p>as áreas, seu trabalho destruía os halos de heróis dos Fundadores do país e</p><p>dava a eles o título de egoístas e interesseiros, pois era exatamente o que ele</p><p>via ao seu redor, observando os comerciantes e políticos da era industrial.1</p><p>Sob a influência do ceticismo que permeava o paradigma pós-moderno,</p><p>a visão de Beard a respeito dos grandes fundadores do país foi plenamente</p><p>aceita. O resultado é que, 50 anos depois, sua figura ainda é associada à dos</p><p>conservadores patriotas jeffersonianos, que ansiavam por um governo menos</p><p>invasivo.</p><p>Ao mesmo tempo, os acadêmicos de esquerda, que seguiam um</p><p>paradigma próprio de política correta, viam os fundadores como homens</p><p>brancos privilegiados, alguns deles senhores de escravos, que sancionaram o</p><p>confisco das propriedades dos habitantes nativos do país. Suas críticas</p><p>tinham o seguinte tom: se os autores da Declaração de Direitos eram tão</p><p>iluminados, por que acreditavam que todos os homens foram criados iguais,</p><p>mas não as mulheres? E por que a única citada por eles foi Betsy Ross,</p><p>relegada à função de fazer e costurar a bandeira?</p><p>Hoje imaginamos Washington, Jefferson, Adams, Franklin, Hancock e o</p><p>resto dos 56 representantes que assinaram a Declaração de Independência</p><p>(muitos dos quais foram marginalizados e passaram por dificuldades</p><p>financeiras mesmo depois de assumir sua postura heróica) pasmos ao ver as</p><p>ideias pelas quais arriscaram suas vidas e suas propriedades serem</p><p>derrubadas uma a uma; e sua contribuição para a fundação do país,</p><p>considerada mero ato de egoísmo.</p><p>A REVOLUÇÃO NORTE-AMERICANA NÃO FOI UMA REUNIÃO DE</p><p>CHAZINHO COM BISCOITOS</p><p>Thom Hartmann, um “comentado comentador” de rádio</p><p>contemporâneo norte-americano e autor do livro What Would Jefferson Do?</p><p>(O que Jefferson faria?) mostra uma visão mais completa dos desafios que os</p><p>conservadores e liberais “brancos e elitistas” impuseram aos fundadores.</p><p>Hartman, que denomina sua postura política como sendo “radical de</p><p>centro”, descobriu através de pesquisas que o mais rico dos revolucionários</p><p>norte-americanos, John Hancock, chegou a ter, no máximo, algo em torno</p><p>de 750 mil dólares em seu poder. Outro muito rico, Thomas Nelson, do</p><p>Estado de Virgínia, teve suas terras e casa desapropriadas pelos ingleses e</p><p>morreu sem um centavo no bolso aos 50 anos de idade.2</p><p>Embora as escolas de hoje ensinem aos jovens norte-americanos que</p><p>expulsar os ingleses das colônias foi a melhor solução, os revolucionários</p><p>foram apenas uma minoria de colonos. Hartmann afirma: “Estes homens</p><p>[que assinaram a Declaração] eram os colonos mais idealistas e</p><p>determinados. Enquanto os conservadores da época insistiam que a América</p><p>do Norte deveria permanecer definitivamente uma colônia inglesa, os</p><p>radicais liberais acreditavam em liberdade individual e obrigações sociais”.3</p><p>Ao assinar a Declaração de Independência os fundadores estavam</p><p>cientes de que assinavam a própria sentença</p><p>de morte. Com a frase</p><p>“empenhamos mutuamente nossas Vidas, nossas Fortunas e nossa Sagrada</p><p>Honra”, eles se colocavam como traidores, e a pena para a traição naquela</p><p>época era a morte. A frase “liberdade ou morte”, de Patrick Henry, não foi</p><p>mera hipérbole de oratória. E a de Ben Franklin para seus colegas</p><p>revolucionários, “Devemos permanecer juntos ou, com toda certeza,</p><p>pereceremos separados”, também foi literal.</p><p>John Hancock, o primeiro a assinar a Declaração de Independência,</p><p>cujo tamanho da assinatura se destacava no documento (segundo ele, “para</p><p>que o Rei George a visse muito bem, mesmo sem os óculos”) já tinha a</p><p>cabeça a prêmio, por incitar revolta. Quando ele e sua esposa tiveram que</p><p>fugir do exército inglês, seu bebê morreu no parto.4</p><p>Segundo Hartman, nove dos 56 que assinaram o documento perderam</p><p>a vida em batalha, e 17 perderam seus bens e seus lares. Ele conclui,</p><p>dizendo: “Enquanto muitos dos fidalgos rurais Tory ainda hoje têm poder e</p><p>riquezas (no Canadá e na Inglaterra), nenhum membro das famílias dos</p><p>Fundadores é rico ou pertence a qualquer entidade politicamente</p><p>dominante”.5</p><p>Como o ceticismo ainda é dominante quando se trata de política, é fácil</p><p>aceitar a velha crença de que nada muda de verdade. Porém considere isto:</p><p>um grupo de homens relativamente jovens (Franklin era o único mais velho,</p><p>com 72 anos, e Jefferson, com 33, era o mais jovem) se uniram e lutaram</p><p>contra o maior poder mundial na época, o Império Britânico. Além do poder</p><p>militar, o Rei George III tinha um grande poder econômico sobre os</p><p>revolucionários, por ser proprietário da maior corporação multinacional da</p><p>época, a East India Company (Companhia da Índia Oriental), objeto de</p><p>ataque da célebre Boston Tea Party (Festa do Chá de Boston).</p><p>SOBERANOS SEM REI SE IGUALAM</p><p>Ainda mais surpreendente do que a rebelião eram os ideais</p><p>revolucionários nos quais se ela se baseava: “Consideramos estas verdades</p><p>como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais,</p><p>foram dotados pelo Criador de certos Direitos inalienáveis, que entre estes</p><p>estão a Vida, a Liberdade e a Busca da Felicidade”. Essa frase soou como um</p><p>insulto às leis europeias, mesmo entre seus defensores mais esclarecidos.</p><p>Segundo as leis da Inglaterra, Deus dava aos reis a posição de líderes, e</p><p>eles, por sua vez, estabeleciam direitos a seus povos seguindo a Magna</p><p>Carta. Essa doutrina de seleção clássica relegava os seres humanos mais</p><p>simples, que não possuíam “sangue nobre”, à categoria de “baixa</p><p>hierarquia”. A noção de que cidadãos comuns são tão humanos e capazes</p><p>quanto os da nobreza (que dominavam a população com mão de ferro)</p><p>simplesmente não existia. De onde poderiam vir ideias assim?</p><p>Bem, como os cidadãos norte-americanos podem vagamente se lembrar</p><p>de terem aprendido na escola, essas ideias vieram da Era Iluminista da</p><p>Europa, de filósofos como John Locke e Jean-Jacques Russeau, e da</p><p>chamada lei natural. Segundo a lei natural, todas as leis aplicadas a seres</p><p>humanos devem ser primeiramente compatíveis com as leis de Deus e da</p><p>Natureza. Claro, a interpretação dessas leis depende do ponto de vista de</p><p>quem as analisa. Inicialmente a ideia era: Deus e Seu agente, o Estado, têm</p><p>como objetivo primordial a felicidade humana. A lei natural, portanto, deve</p><p>garantir a felicidade de todos. Em seu tratado clássico, O Leviatã, o filósofo</p><p>inglês Thomas Hobbes organizou a estrutura da lei natural em nove</p><p>preceitos, resumidos a seguir:6</p><p>1. A paz deve vir em primeiro lugar; guerra somente em último caso.</p><p>2. Dê aos outros a mesma liberdade que deseja para si mesmo.</p><p>3. Mantenha sua palavra.</p><p>4. Exercite a gratidão.</p><p>5. Adapte suas necessidades às leis da comunidade.</p><p>6. Perdoe, sempre que possível, aos que se arrependem.</p><p>7. Em caso de vingança, concentre-se não no mal que se sucedeu, mas sim no</p><p>bem que pode se suceder.</p><p>8. Jamais declare ódio a alguém.</p><p>9. Reconheça as qualidades das pessoas.</p><p>John Locke, por sua vez, tentou fazer com que o governo fosse exercido</p><p>dentro desses princípios. Em Dois Tratados de Governo, que publicou</p><p>anonimamente em 1689, ele sugeria que, se um governante fosse contra as</p><p>leis naturais e deixasse de proteger “a vida, a liberdade e a propriedade”, a</p><p>população teria todo direito de destituí-lo.7 Lembra alguma coisa? Sim, esse</p><p>foi o principal argumento de Thomas Jefferson ao redigir a Declaração de</p><p>Independência dos Estados Unidos.</p><p>AS RAÍZES DA DEMOCRACIA EM SOLO SAGRADO</p><p>Se interrompêssemos esta história aqui, na Era do Iluminismo,</p><p>deixaríamos de mencionar aquela que é provavelmente a mais importante</p><p>contribuição aos Fundadores dos Estados Unidos e ao governo que eles</p><p>criaram. De onde os filósofos europeus como Locke e Rousseau tiraram suas</p><p>ideias? Do quintal de Jefferson, de Washington e de Franklin: o Novo</p><p>Mundo.</p><p>Embora diversas linhas filosóficas idealistas de perfeição tenham</p><p>existido na Europa desde a Era de Ouro da Grécia, a ideia de uma vida</p><p>plena, de liberdade e de busca da felicidade só existiu mesmo no mundo</p><p>perfeito criado por Sócrates, jamais se tornando realidade. Bem, isso até os</p><p>europeus começarem a ler os relatórios enviados das Américas, descrevendo</p><p>os hábitos e a cultura dos nativos.</p><p>As descrições de Rousseau sobre os “nobres selvagens” da América do</p><p>Norte podiam ser exageradas, mas tinham um fundo de verdade. Conceitos</p><p>como democracia e equilíbrio de poder já existiam pelo menos 300 ou 400</p><p>anos antes de os autores da Declaração de Independência começarem a</p><p>escrevê-la! Algumas pesquisas indicam que, por volta de 1100 a.C, ou</p><p>mesmo antes, em 1400 a.C. ou 1500 a.C., seis tribos que habitavam o que</p><p>hoje chamamos de nordeste dos Estados Unidos, sul de Ontário e Quebec,</p><p>no Canadá, se uniram e formaram a Confederação Iroquesa.8</p><p>A história desta confederação tem origem na visão de um profeta e</p><p>grande mestre de origem misteriosa, um nativo norte-americano chamado</p><p>The Confluence of Two-Rivers (Confluência de Dois Rios). Two-Rivers propôs</p><p>uma Aliança de Paz e Poder entre tribos que guerreavam na área conhecida</p><p>atualmente como norte de Nova Iorque. E escolheu um negociador,</p><p>Hiawatha, para fazer a conciliação. O resultado se chamou Aliança de</p><p>Haudenosaunee, que na língua Onondaga significa “Pessoas da Casa Longa”.</p><p>A confederação era composta pelas tribos Mohawk, Oneida, Onondaga,</p><p>Cayuga e Seneca e, mais tarde, também pelos Tuscaroras, que migraram das</p><p>Carolinas. Com o estabelecimento dessa confederação, seis nações puderam</p><p>viver em relativa paz e harmonia através de um sistema político que muito</p><p>influenciou a Constituição dos Estados Unidos.9</p><p>Existem ainda outras similaridades entre a Confederação Iroquesa e o</p><p>governo dos Estados Unidos. Assim como no sistema federal norte-</p><p>americano, as tribos tinham autonomia no que dizia respeito a assuntos</p><p>locais. A confederação era um pacto de mútua defesa que transformava</p><p>aquelas tribos em uma única nação e as protegia de inimigos externos.</p><p>Preservava vidas, recursos e toda a energia que elas gastariam se debatendo</p><p>entre si. A confederação dispunha ainda de um sofisticado sistema de</p><p>verificação e controle entre os três principais departamentos</p><p>governamentais.</p><p>Na Nação Iroquesa da América colonial, os filósofos da Era do</p><p>Iluminismo da Europa encontraram uma lição real de liberdade. Segundo</p><p>Donald A. Grinde, historiador da Nação Iroquesa, professor de Estudos</p><p>Norte-Americanos e índio Yamasee, os Iroquois acreditavam na liberdade</p><p>de expressão, desde que ela não causasse qualquer mal. Diferentemente da</p><p>sociedade europeia, que Grinde dizia ser “baseada em culpa” e cheia de</p><p>proibições, a cultura tribal era “baseada em vergonha”. Uma forte</p><p>identificação com a comunidade motivava os indivíduos a evitar</p><p>transgressões que pudessem trazer vergonha ao clã e a si mesmos.10</p><p>A “AMERICANIZAÇÃO” DOS BRANCOS</p><p>As semelhanças entre o governo dos índios e a estrutura dos Estados</p><p>Unidos tiveram origem, sem dúvida, na profunda influência dos índios</p><p>nativos no dia a dia dos colonizadores. E essa influência</p><p>foi ainda maior</p><p>naqueles que se criaram no Mundo Novo e não na Inglaterra. Diferente da</p><p>Europa, a natureza selvagem permeava a América. A informalidade e a</p><p>noção de igualdade também invadiram rapidamente as colônias. Como</p><p>afirmou o índio e professor acadêmico Felix Cohen, “a verdadeira epopeia</p><p>da América do Norte é a história ainda inacabada da americanização dos</p><p>brancos”.11</p><p>Por exemplo: aqueles que chegavam do Velho Mundo se assustavam ao</p><p>ver os colonos usando roupas de camurça e mais ainda ao saber que haviam</p><p>adotado costumes indígenas, como o de se banhar! Na sociedade europeia</p><p>da época, o banho era considerado prejudicial à saúde, então imagine a</p><p>reação deles ao ver indivíduos de aparência europeia despidos e nadando</p><p>junto com os índios.</p><p>Em sua infância, Thomas Jefferson foi profundamente influenciado pela</p><p>cultura dos índios locais. Seu pai, Peter Jefferson, era cartógrafo e o levava</p><p>frequentemente em suas excursões de trabalho. Além disso, a casa deles em</p><p>Shadwell, Estado de Virgínia, era sempre visitada pelo chefe dos Cherokees,</p><p>Ontasseté. O menino Thomas acompanhava as longas conversas entre seu</p><p>pai e o chefe, que chegavam a seguir noite adentro.12</p><p>E foi um nativo americano que propôs a criação dos Estados Unidos da</p><p>América! Em 4 de julho de 1744, durante uma reunião convocada para que</p><p>fosse estabelecida uma aliança entre os Iroquois e os colonos ingleses, um</p><p>chefe muito respeitado, chamado Canassatego, pediu a palavra e disse:</p><p>“Nossos sábios antepassados estabeleceram a união entre as Cinco Nações.</p><p>Isso nos tornou muito fortes e nos ajudou a ganhar o respeito das nações</p><p>vizinhas. Somos uma confederação poderosa e posso afirmar que, se</p><p>utilizarem os mesmos métodos que utilizamos, vocês também irão adquirir</p><p>muita força e poder. O segredo está em jamais se voltarem uns contra os</p><p>outros, aconteça o que acontecer”.13</p><p>Segundo Benjamin Franklin, que esteve presente nesta reunião,</p><p>Canassatego deu uma demonstração desse poder aos colonos. Tomou uma</p><p>flecha e a partiu ao meio. Depois pegou doze flechas, representando as</p><p>colônias, e pediu que alguém as quebrasse. Ninguém na sala conseguiu</p><p>quebrar o feixe unido.14 Curiosamente, o Grande Selo dos Estados Unidos,</p><p>criado em 1782 por Charles Thompson, secretário do Congresso e pelo</p><p>promotor William Barton, mostra uma águia segurando treze flechas.</p><p>Pouco tempo depois da reunião com Canassatego, Franklin iniciou sua</p><p>campanha por uma união federal. Em 1751, ele escreveu: “É muito estranho</p><p>que seis nações de selvagens ignorantes tenham conseguido formar uma</p><p>nação e governá-la tão bem a ponto de manter o poder durante décadas, e</p><p>agora uma dúzia de colônias inglesas não consiga estabelecer uma união”.15</p><p>Apesar do termo “selvagens ignorantes”, Franklin tinha profundo</p><p>respeito pela sabedoria política dos Iroquois. O Plano de União de Albany,</p><p>que ele apresentou no Congresso de Albany, Nova Iorque, em 1754, era, em</p><p>muitos aspectos, semelhante ao da Confederação Iroquois, incluindo o cargo</p><p>de Presidente-General, que seria designado pela Coroa Inglesa e pelos</p><p>emissários das colônias.16</p><p>O Plano de Albany não foi aceito, mas serviu de modelo aos Artigos da</p><p>Confederação Norte-Americana, os quais, em 1781, se tornaram o primeiro</p><p>documento governamental do país. Como resultado, a Nação Iroquois foi</p><p>representada por seus emissários na Convenção Constitucional, algo mais do</p><p>que merecido.</p><p>Enquanto a Convenção Constitucional se reunia na Filadélfia, outra</p><p>revolução contra a monarquia explodia na Europa. Usando a Declaração de</p><p>Independência dos Estados Unidos como modelo a Assembleia Nacional da</p><p>França, redigiu a própria Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.</p><p>E, assim como a da América do Norte, a Declaração francesa destacava os</p><p>direitos humanos básicos.</p><p>Mas, infelizmente, a versão francesa não teve sucesso. Talvez o campo</p><p>de energia das monarquias fosse tão presente e dominante na época que a</p><p>ira dos cidadãos não foi suficiente para rompê-lo. No entanto, do outro lado</p><p>do Atlântico, no Novo Mundo, onde a voz da monarquia britânica era mais</p><p>fraca, os revolucionários e evolucionários colonos estabeleceram uma nova</p><p>república.</p><p>A TRADIÇÃO EVOLUCIONÁRIA DA AMÉRICA</p><p>Além do impacto das ideias dos nativos norte-americanos na formação</p><p>do governo dos EUA, há outra parte da história da fundação do país que</p><p>não foi contada, mas se relaciona à situação limite em que nos encontramos</p><p>atualmente.</p><p>Os Fundadores dos EUA já foram descritos como cientistas, como</p><p>religiosos e como deístas, mas, na verdade, eles são as três coisas. Em seu</p><p>livro, America’s Secret Destiny (O destino secreto da América), o autor</p><p>Robert Hieronimus examina detalhadamente a vida espiritual de Benjamin</p><p>Franklin, George Washington e Thomas Jefferson. Esses três fundadores</p><p>foram influenciados tanto pelos nativos norte-americanos – que invocavam</p><p>espíritos sem, no entanto, estabelecer uma religião – quanto pela moral e</p><p>pelos ideais metafísicos da Maçonaria.17</p><p>Muitos dos Fundadores da nação norte-americana eram maçons,</p><p>também conhecidos como “pedreiros livres”. Quanto à origem do termo, a</p><p>palavra “pedreiro” se refere aos artesãos da época, que construíam templos e</p><p>casas moldando e esculpindo pedras, e a palavra “livre” é uma referência</p><p>direta aos fundadores da antiga organização maçônica, que eram pedreiros e</p><p>também tinham livre acesso às fronteiras dos países para fazer construções e</p><p>catedrais, em virtude de sua requisitada destreza artística e manual. Os</p><p>maçons, cujas origens estão ligadas às sociedades secretas dos Cavaleiros</p><p>Templários, têm como lema os ideais de “renovação moral e perfeição da</p><p>humanidade”.18 Sua proposta é dedicar a vida ao serviço em favor da</p><p>humanidade, por meio do desenvolvimento da mente e do coração. Os</p><p>Fundadores foram, sem dúvida, influenciados pelos rituais maçônicos, que o</p><p>historiador Charles Leadbeater descreveu como métodos para influenciar as</p><p>energias do corpo de maneira a “acelerar a evolução” do indivíduo.19</p><p>Benjamin Franklin era tão afeito à Maçonaria que, em vez de esperar a idade</p><p>de 21 anos, exigida para ser iniciado na sociedade, fundou a própria loja</p><p>maçônica aos 20 anos e a batizou como Clube do Avental de Couro,</p><p>referência aos aventais de couro usados pelos pedreiros livres. Mais tarde</p><p>mudou o nome para Clube Junto e, finalmente, para Sociedade Filosófica</p><p>Americana. Seu credo? Algo muito simples: “Construir um Universo de paz,</p><p>livre do medo e baseado no amor”20</p><p>Franklin fundou também outra organização secreta na França, chamada</p><p>Sociedade Apoloniana, que viria a completar seu sonho de unir ciência e</p><p>religião. Como maçon, complementou a doutrina da época, tornando-a</p><p>indistinta do deísmo, que é a crença em Deus baseada na evidência da razão</p><p>e da Natureza. Ele se referia a Deus como “o Supremo Arquiteto”21</p><p>Já a crença de George Washington é objeto de histórias conflitantes,</p><p>pois ele era afeito tanto a práticas deísticas de sociedades secretas quanto a</p><p>práticas de religiões conhecidas. Isso, segundo ele, permitia comunicar-se</p><p>com todas as pessoas indistintamente. Por esse motivo, algumas fontes</p><p>religiosas citam suas frases, e os livres pensadores afirmam que ele jamais foi</p><p>batizado. Deixou para sua esposa, Martha, a função de frequentar a igreja.</p><p>No entanto, Washington somente aceitava sob seu comando generais</p><p>maçons. Adotou os princípios da “irmandade dos homens e Paternidade de</p><p>Deus”. Todos os dias, dedicava um tempo a orações e meditação e fazia com</p><p>que seus soldados orassem todas as manhãs. Quando não havia um</p><p>sacerdote presente, lia ele mesmo a Bíblia em voz alta para todos.22</p><p>Thomas Jefferson, embora não fosse tão religioso, escreveu a Bíblia de</p><p>Jefferson e declarou: “Sou um verdadeiro cristão, discípulo da doutrina de</p><p>Jesus”. Acreditava que os ensinamentos bíblicos pregavam a igualdade e</p><p>antecipavam os conhecimentos científicos e afirmava que os princípios</p><p>evolucionários deveriam ser estendidos a toda humanidade, e todas as</p><p>pessoas deveriam ser criadas</p><p>e tratadas como iguais.23 Em seu discurso</p><p>inaugural, em 1801, declarou que a América do Norte era “abençoada por</p><p>uma religião forte, bem professada e prática sob vários aspectos, incluindo a</p><p>honestidade, a verdade, a temperança e o estímulo para o praticante</p><p>conhecer e adorar a verdadeira Providência...”24</p><p>Outro aspecto interessante e pertinente à nossa época, segundo</p><p>Heironimus, é o das tradições teosóficas e o tema “sois todos irmãos”,</p><p>professados por Franklin, Washington e Jefferson, em que se afirmava: “...</p><p>que toda nação tenha um destino espiritual, usando todas as maneiras éticas</p><p>de manifestação do plano divino por meio das ações de seus líderes”.25</p><p>Talvez o destino dos Estados Unidos, em relação ao equilíbrio deístico</p><p>entre espírito e matéria, seja desafiar todas as nações a encontrar sua missão</p><p>sagrada por meio do exemplo. É uma tarefa que envolve não só avançar</p><p>bravamente e tomar atitudes destemidas, mas também observar e</p><p>reconhecer todos os atos do passado.</p><p>E a respeito de nossas raízes nativas, há dois fatos ainda não totalmente</p><p>explicados. O primeiro é a triste constatação do que aconteceu a esses</p><p>nossos benfeitores espirituais. O segundo é um aspecto essencial da cultura</p><p>nativa norte-americana, que nenhum de nossos Fundadores sequer cogitou</p><p>adotar.</p><p>A RETRIBUIÇÃO AOS NOSSOS BENFEITORES</p><p>Temos diante de nós uma estatística alarmante. Segundo Donald</p><p>Grinde, quando Cristóvão Colombo pensou ter sido o primeiro a descobrir o</p><p>Novo Mundo, em 1492, já havia quase seis milhões de índios vivendo no</p><p>território conhecido hoje como Estados Unidos. E essa é uma estimativa</p><p>conservadora. Alguns estudiosos calculam que o número desses nativos era</p><p>de 15 a 20 milhões. Por volta de 1900, essa população já era de apenas 250</p><p>mil.26</p><p>A razão dessa drástica diminuição pode ser atribuída ao fato de os</p><p>europeus terem trazido consigo diversas doenças, como varíola, sarampo e</p><p>sífilis, para as quais os nativos não tinham imunidade. Mas a guerra, a</p><p>migração forçada, os massacres e a apropriação indevida de terras fizeram</p><p>estragos ainda maiores.</p><p>Grinde mostra uma relação óbvia entre a dizimação da população</p><p>nativa e a repressão de informações relacionadas à sua contribuição para a</p><p>fundação dos Estados Unidos. Segundo ele, “não se pode justificar a</p><p>conquista, a dominação e a destruição da população de índios, quando há</p><p>valores importantes sendo destruídos junto com eles”.27</p><p>Até 1970 a única coisa que a população norte-americana conhecia</p><p>sobre os índios eram as fábulas de Squanto, o índio Patuxet que ajudou os</p><p>peregrinos a sobreviver durante os primeiros anos, e a imagem veiculada em</p><p>programas de rádio e televisão, como “The Lone Ranger”. Ou seja, o</p><p>conhecimento da população norte-americana sobre o assunto ia apenas de</p><p>Squanto para Tonto.</p><p>Mas, em 1970, o novelista e historiador Dee Brown publicou Bury my</p><p>Heart at Wounded Knee (Enterrem meu coração na curva do rio), uma</p><p>história reveladora sobre os índios norte-americanos no oeste. Graças a este</p><p>livro e, mais tarde, um filme da televisão adaptado por Daniel Giat, a</p><p>sociedade não pode mais negar o genocídio e o etnocídio impostos aos</p><p>indígenas pelos invasores (digo, pelos colonizadores) europeus. Além disso,</p><p>ficaram claras as contribuições dos índios para a fundação do país. E, como</p><p>veremos adiante, ainda há muito mais a ser esclarecido.</p><p>O TRIBUTO A NOSSAS MÃES FUNDADORAS</p><p>É importante lembrar que a principal lição deixada pela sociedade tribal</p><p>Iroquois é a noção de que a autoridade vem de baixo e não de cima. As leis</p><p>europeias, mesmo em sua época de glória, jamais deixaram de se basear no</p><p>conceito de que Deus delegava poderes ao rei, que, por sua vez os delegava a</p><p>seu bel-prazer à nobreza e ponto final. A noção evolucionária mais radical</p><p>dos Fundadores, que veio diretamente da cultura nativa, foi a de que a</p><p>necessidade de gerar um sistema de governo vêm de cidadãos soberanos, que</p><p>estabelecem um acordo para criar uma comunidade mutuamente próspera e</p><p>benéfica. Grinde também deixa claro, sobre a sociedade nativa norte-</p><p>americana: “O poder é inspirado nos líderes pelo povo e é dele que eles</p><p>recebem apoio. Quando o apoio deixa de existir, seu poder se extingue”28</p><p>Embora tenham reconhecido as contribuições da Nação Iroquois,</p><p>Franklin e os outros Fundadores se esqueceram de mencionar algo</p><p>importante no sistema constitucional norte-americano: o papel das</p><p>mulheres na tribo. Havia um motivo para a sociedade dos nativos não ter</p><p>reis ou nobres, a cultura ser igualitária e os recursos serem distribuídos de</p><p>acordo com a necessidade e não com a divisão de classes sociais. A razão</p><p>para tudo isso se chamava O Conselho das Avós.</p><p>Ao cultura nativa norte-americana considerava a terra, as plantas e os</p><p>territórios como entidades essencialmente femininas. E como as mulheres</p><p>mais velhas estavam mais próximas da base da vida, ou seja, da plantação e</p><p>do preparo dos alimentos, dos partos e dos cuidados com as crianças e do</p><p>trabalho doméstico da comunidade, era óbvio para os homens reconhecer o</p><p>poder primordial delas.</p><p>A unidade básica de governo para os nativos norte-americanos era o</p><p>clã, normalmente regido por uma mulher mais velha.29 Os clãs tinham</p><p>propriedades coletivas e as utilizavam para produzir e distribuir alimentos</p><p>igualmente para todos os seus membros. Do ponto de vista político, os</p><p>Iroquois entendiam a necessidade de homens e mulheres trabalharem em</p><p>conjunto e conviverem em equilíbrio e harmonia. As mulheres mais velhas,</p><p>ou seja, o Conselho de Avós, era quem detinha o verdadeiro poder político e</p><p>a autoridade de eleger ou desbancar um chefe por incompetência ou atos</p><p>incorretos. E as mulheres é que tomavam as decisões mais sérias, como ir ou</p><p>não à guerra.</p><p>Mas antes que você tenha a impressão de que estamos glorificando</p><p>demais a influência da mulher na comunidade Iroquois, os homens às vezes</p><p>tinham problemas com o fato de elas decidirem quando eles deveriam ir</p><p>para a guerra. Eles reclamavam que elas os enviavam para as batalhas com</p><p>uma frequência muito grande! Devemos lembrar que, embora a</p><p>Confederação Iroquois impedisse a guerra entre seus confederados, havia</p><p>conflitos com tribos fora da nação, normalmente gerados por sequestro ou</p><p>sumiço de crianças. Portanto, era natural que as mulheres desejassem</p><p>vingança. E o mesmo ocorria quando perdiam maridos ou filhos em</p><p>combate.30</p><p>Quando uma mulher atingia a idade em que não gerava mais filhos,</p><p>tornava-se membro do clã. Algumas também se tornavam guerreiras. Era</p><p>comum que elas acompanhassem grupos que iam para a guerra para se</p><p>certificar de que os homens estavam eliminando os inimigos e cumprindo</p><p>suas tarefas. Segundo os historiadores, alguns guerreiros entregavam seus</p><p>prisioneiros às mulheres para que elas os torturassem. Quando perguntaram,</p><p>certa vez, a um chefe, por que agiam assim, ele respondeu: “Fazemos isso</p><p>com a esperança de que elas acabem se cansando da guerra”.31</p><p>Outro fato interessante, embora não surpreendente, é que o contato</p><p>com a cultura nativa pode ter estimulado o movimento feminino na</p><p>América do Norte. A pesquisadora Sally Roesch Wagner, uma das primeiras</p><p>mulheres a receber doutorado em estudos sobre mulheres, afirma que as</p><p>fundadoras do movimento pelos direitos das mulheres no final do século 19,</p><p>Susan B. Anthony e Elizabeth Cady Stanton, entre outras, tinham muito</p><p>contato com mulheres Iroquois.32</p><p>Stanton visitava a reserva indígena desde os 12 ou 13 anos de idade. E</p><p>ficou surpresa, um dia, ao ver a mãe de sua amiga índia vender um cavalo a</p><p>um homem e receber o dinheiro. Perguntou a ela: “O que seu marido dirá ao</p><p>chegar em casa e saber disto?” A mulher respondeu que o cavalo era dela, e</p><p>por isso podia fazer com ele o que desejasse.33</p><p>Em uma época em que as mulheres da chamada “civilização” não</p><p>tinham direito a qualquer tipo de propriedade, essa experiência foi muito</p><p>importante. Na cultura nativa norte-americana, o fato de mulheres e</p><p>homens de todas as classes terem direitos iguais à propriedade funcionava</p><p>como estímulo à liberdade e à democracia, pois posses não eram</p><p>instrumento de poder econômico.</p><p>Essas histórias sobre ignorância, crueldade, bondade e sabedoria devem</p><p>ser vistas de maneira objetiva e geral. Em vez de julgar as características</p><p>doentias ou malévolas dos indivíduos, ou seja, de julgar os outros, é muito</p><p>mais útil e funcional reconhecer esses traços como tendências humanas</p><p>universais mantidas durante séculos por crenças invisíveis.</p><p>Conforme veremos, estimulamos o mal em nossa sociedade projetando-</p><p>o sobre os outros. Quando reconhecemos o mal que existe dentro de nós e</p><p>em nossa cultura (não com ódio por quem quer que seja, porém com amor),</p><p>deixamos de projetá-lo e, consequentemente, anulamos seu poder. Esse</p><p>reconhecimento é o primeiro passo para despertar a consciência em nós</p><p>mesmos e nas pessoas.</p><p>A UNIÃO DOS DOIS HEMISFÉRIOS: O CONDOR E A ÁGUIA</p><p>Os nativos norte-americanos nos deram ainda outro presente na forma</p><p>de uma profecia positiva vinda dos Andes. Segundo sua tradição, séculos</p><p>atrás, os humanos seguiram dois caminhos divergentes: o caminho do</p><p>condor e o caminho da águia.</p><p>O caminho do condor, que representa os povos do Hemisfério Sul, está</p><p>associado ao coração, à intuição e ao espírito. O caminho da águia, que</p><p>representa os povos do Hemisfério Norte, está associado ao cérebro, ao</p><p>racional e ao material.</p><p>Nos últimos 500 anos, o poder da águia, mental e materialista, têm</p><p>dominado a espiritualidade e a consciência emocional do condor. Mas,</p><p>segundo a profecia, isso está para mudar.</p><p>A tradição indígena entre os povos do Sul divide o tempo em épocas</p><p>chamadas “pachacutis”, com duração aproximada de 500 anos. Segundo o</p><p>Calendário Asteca, também conhecido como “Calendário da Pedra Sagrada</p><p>dos Povos Mexicanos”, o Quarto Pachacuti, que se iniciou em 1492, tinha</p><p>como características os tumultos, as lutas e os conflitos. Desde 12 de</p><p>outubro de 1992, entramos no Quinto Pachacuti, uma era de parcerias e de</p><p>união, em que a águia e o condor “voam juntos no céu lado a lado”.34</p><p>Em nossa jornada evolucionária pelos paradigmas básicos, que nos</p><p>levou a oscilar entre os âmbitos da espiritualidade e do materialismo durante</p><p>tantos séculos, uma característica sempre se destacou: nosso distanciamento</p><p>do aspecto sagrado feminino e, consequentemente, da Terra. Como</p><p>explicaremos mais adiante, o desapego e a negação do feminino na</p><p>sociedade ocidental nos afastaram do mundo natural. Durante séculos o</p><p>poder da dominação e da desigualdade, sustentado por um Deus masculino</p><p>e por uma ciência masculina, nos alienaram a tal ponto que estamos</p><p>destruindo o próprio chão em que pisamos.</p><p>E agora, com seu infinito senso de humor, o Universo finalmente nos</p><p>pede que reconciliemos os hemisférios da direita e da esquerda, do norte e</p><p>do sul. Esse momento de reunião espiritual, quando restabelecemos a</p><p>relação entre o sagrado masculino e o sagrado feminino, não é meramente o</p><p>desígnio da espiritualidade indígena ou do renascimento do poder espiritual</p><p>feminino.</p><p>O Dalai Lama já mencionou esse assunto. Ele afirma que será o último</p><p>Dalai Lama do Himalaia e que o próximo virá de outras montanhas altas, os</p><p>Andes. Na verdade, muitas organizações internacionais vêm se unindo sob a</p><p>bandeira da Aliança Pachamama para promover essa cultura humana</p><p>emergente e ajudar os povos do condor e os da águia a compartilhar seus</p><p>dons e talentos.</p><p>Enquanto os povos do condor vivem de maneira simples, com recursos</p><p>relativamente escassos, suas vidas são ricas em termos de relacionamentos e</p><p>da sabedoria que vem da relação com a Natureza. Confrontados pelas forças</p><p>do desenvolvimento e da civilização, os povos do condor devem aprender a</p><p>escolher quais desses dons e talentos devem aceitar ou recusar.</p><p>Os povos da águia são quase sempre ricos materialmente, mas pobres</p><p>espiritualmente. Os bens materiais parecem ter distorcido os conceitos de</p><p>vida e o valor da comunidade. Esse desequilíbrio pode ser observado com</p><p>mais intensidade nos Estados Unidos, onde os cidadãos parecem não notar a</p><p>absurda ganância que os comanda. Tendo apenas 5% da população do</p><p>planeta, o país consome a quantia absurda de 30% dos recursos mundiais e</p><p>gasta 35 bilhões de dólares por ano tentando perder peso.35</p><p>Para avaliar o estado de insanidade em que nos encontramos, devemos</p><p>examinar e repensar as crenças invisíveis com as quais fomos programados.</p><p>O psicólogo James Hillman sugere aos “pensadores do hemisfério norte”,</p><p>que se apoiam somente em valores lineares e intelectuais, que “se espelhem</p><p>na cultura do hemisfério sul” e se libertem do confinamento do familiar</p><p>“território psicológico”.36</p><p>Na Parte II, “Os quatro mitos do apocalipse”, veremos como a</p><p>civilização ocidental paradoxalmente seguiu para o sul, aderindo aos valores</p><p>de materialismo científico do norte. Examinaremos as consequências de</p><p>quatro erros de percepção que hoje ameaçam a sobrevivência da</p><p>humanidade e a forçam a evoluir por meio da reconciliação dos hemisférios.</p><p>Parafraseando o ativista e autor John Perkins, “se o condor e a águia</p><p>aproveitarem essa oportunidade, o resultado será algo extraordinário; muito</p><p>além do que se possa imaginar”.37</p><p>P A R T E I I</p><p>Os quatro mitos do apocalipse</p><p>“Quando você perceber que está em um círculo vicioso, por Deus do céu, pare de pedalar!”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>Já vimos que a percepção tem efeito sobre nossa estrutura biológica e</p><p>ajuda a criar nossa realidade. Também já vimos que nossa história (as lentes</p><p>filosóficas da percepção através das quais vemos e entendemos o mundo)</p><p>determinam os parâmetros de nossa realidade coletiva. E a revisão da</p><p>história revela que as civilizações evoluem continuamente: um paradigma</p><p>basal dá lugar à outro, em uma espiral dinâmica.</p><p>A civilização nada mais é do que uma dança em espiral, mas parece que</p><p>giramos tanto que perdemos o controle. A crise global e o caos ao nosso</p><p>redor indicam que estamos em um momento decisivo de mudança de</p><p>paradigma. Agora que experimentamos a polaridade extrema do</p><p>materialismo científico, nossa jornada parece se encaminhar rapidamente</p><p>para um ponto central (na verdade, o ponto mais poderoso de todos).</p><p>Já estivemos duas vezes neste ponto mediano de encontro dos mundos</p><p>espiritual e material. A primeira vez foi no Grande Jardim, quando o ponto</p><p>de vista animista não distinguia espírito e matéria. Depois disso partimos</p><p>para nossa grande aventura.</p><p>Na primeira parte de nossa jornada evolucionária, a civilização</p><p>adentrou o domínio não material de um Deus que existia fora do planeta.</p><p>Quando terminamos de explorar o mundo espiritual, nossa jornada</p><p>retornou ao ponto mediano de equilíbrio, passou por ele e se dirigiu ao reino</p><p>do materialismo. Foi quando os povos da Era do Iluminismo e da filosofia</p><p>deística acolheram tanto a filosofia material quanto a espiritual. A</p><p>Declaração de Independência dos Estados Unidos é um perfeito exemplo da</p><p>união do idealismo espiritual e do realismo prático. No entanto, a</p><p>permanência no ponto de equilíbrio foi curta, pois a humanidade já se</p><p>encaminhava para o polo do materialismo científico.</p><p>As investidas da civilização nos polos extremos do espiritualismo e do</p><p>materialismo nos trouxeram muito conhecimento sobre a natureza da</p><p>realidade. E agora, à medida que nossa jornada começa a retornar ao ponto</p><p>de equilíbrio, a humanidade se encontra em uma encruzilhada, tendo à sua</p><p>frente dois caminhos para escolher. Podemos nos unir e estabelecer uma</p><p>comunidade global, assimilando e integrando todo o conhecimento</p><p>adquirido – o que representaria um salto quantitativo em termos de</p><p>evolução – ou continuar na atual insanidade bipolar, deixando que os</p><p>fundamentalistas religiosos e científicos continuem nos conduzindo até o</p><p>final desse último paradigma, em um planeta em fase terminal.</p><p>Dar ou não esse salto quantitativo depende de quanto aprendemos com</p><p>as lições do paradigma vigente e dos paradigmas anteriores. Se entendermos</p><p>que evolução é uma progressão de consciência acumulada, talvez possamos</p><p>nos concentrar</p><p>na consciência coletiva e adiantar nosso processo.</p><p>DESVENDANDO O VELHO, REVELANDO O NOVO</p><p>Na Parte II analisaremos as consequências do materialismo científico,</p><p>nosso paradigma atual, e porque ele representa uma ameaça à vida do</p><p>planeta. O foco desta análise está nas quatro crenças culturais que</p><p>representam os pilares de nossa realidade, muito embora a ciência</p><p>contemporânea as considere falsas. Apresentamos essas crenças como “Os</p><p>quatro mitos do apocalipse” para mostrar onde elas podem nos levar se</p><p>persistirmos neste caminho.</p><p>A adoração à matéria da sociedade moderna nos leva a um precipício</p><p>de proporções incalculáveis. O crescimento econômico baseia-se na</p><p>acelerada extração de riquezas naturais e não é sustentável. Tratar a terra</p><p>como um aterro e o ar, a água e o solo como depósitos de poluentes é um</p><p>suicídio. E usar a guerra como forma de resolver problemas vai nos levar a</p><p>encontrar a solução para o maior deles: sem humanos, sem problemas.</p><p>Não é preciso muita análise para perceber que nosso paradigma atual</p><p>não é capaz de nos elevar ao nível evolucionário necessário no momento. E</p><p>retroceder ao monoteísmo religioso também não vai ajudar. Estamos em um</p><p>impasse de vida ou morte, diante das fatídicas profecias apocalípticas. A</p><p>chave para evitar o grande colapso talvez esteja justamente em decifrarmos</p><p>a palavra “apocalipse” (antes que ela signifique de fato “o fim do mundo”).</p><p>Em sua origem, apocalipse quer dizer revelação profética, um “erguer de</p><p>véus”. Representa a exposição de algo oculto e se associa, desde a época dos</p><p>gregos, a revelações que ocorreriam nos fim dos tempos. Uma nova (ou</p><p>muito antiga) interpretação da palavra pode ser: erguendo o véu de nossa</p><p>programação invisível, evitaremos a grande catástrofe que nos aguarda se</p><p>continuarmos na trilha de sempre.</p><p>O materialismo científico estabeleceu, dentro do paradigma atual,</p><p>quatro princípios, aceitos como verdades científicas absolutas:</p><p>1. Só a matéria existe. O mundo físico, tal como o enxergamos, é o único</p><p>que existe.</p><p>2. Só os mais fortes sobrevivem. A natureza favorece os indivíduos mais</p><p>fortes e resistentes, e a Lei da Selva é a única lei natural.</p><p>3. Somos aquilo que nossos genes determinam. Somos meras vítimas de</p><p>nossa herança biológica e o máximo que podemos fazer é esperar</p><p>que a ciência encontre maneiras de compensar nossas falhas e nossa</p><p>fragilidade inerente.</p><p>4. A evolução é aleatória. A vida ocorre por acaso, sem um propósito</p><p>específico, e chegamos aqui com a mesma probabilidade de que um</p><p>número infinito de macacos brincando de apertar as teclas de um</p><p>número infinito de máquinas de escrever chegasse a produzir algo do</p><p>mesmo nível das obras de Shakespeare.</p><p>Nos próximos quatro capítulos, analisaremos o desenvolvimento desses</p><p>quatro princípios a partir de suas origens, considerando seus erros de</p><p>percepção e utilizando os conhecimentos oferecidos pela ciência de hoje.</p><p>No Capítulo 9 iremos examinar as consequências e a conclusão lógica e</p><p>altamente ilógica de cada uma dessas crenças.</p><p>Todos os setores que examinamos (econômico, político, de saúde e de</p><p>comunicações) sofrem do mesmo problema: a busca do materialismo</p><p>científico atingiu um ponto crítico de distorção. O dinheiro, o materialismo</p><p>e o poder da máquina se tornaram mais valiosos do que a vida humana.</p><p>No Capítulo 10 indicamos algumas escolhas equilibradas que podem</p><p>nos ajudar a deixar o papel de crianças de Deus para nos transformarmos em</p><p>filhos adultos de Deus. Mostramos também que é possível aprender</p><p>sinergisticamente no ponto de evolução em que nos encontramos e</p><p>participar ativamente do processo de reconexão uns com os outros, com a</p><p>Natureza e com o divino que existe em tudo. Podemos aprender a utilizar</p><p>nosso poder inexplorado (e a fazer isso com bondade e humildade).</p><p>Esta análise da situação em que nos encontramos e das possibilidades</p><p>futuras é muito importante, pois se passarmos a observar o mundo com mais</p><p>clareza, carinho, abnegação e até humor, poderemos nos libertar desse</p><p>transe e deixar que a evolução espontânea aconteça. Talvez a maneira mais</p><p>apropriada de enxergarmos a situação atual de nossa civilização seja através</p><p>de um gênero de entretenimento que não existiria não fosse nossa</p><p>veneração por tudo que se refere à ficção científica. Um bom exemplo é o</p><p>filme Matrix.</p><p>Em um cenário futurista, um hacker chamado Neo se vê em dois</p><p>mundos paralelos. Um deles, chamado Matrix, parece ser o mundo real e</p><p>conhecido da Era da Informática. O outro é um mundo “por trás do</p><p>mundo”, onde máquinas humanoides mantêm os humanos vivos e distraídos</p><p>em sua vida normal, enquanto sugam sua energia para manter a própria</p><p>vida. A grande maioria dos humanos no mundo de Neo já tomaram,</p><p>consciente ou inconscientemente, a pílula azul da ignorância passiva. Neo e</p><p>seus compatriotas, Morpheus e Trinity, tomaram a pílula vermelha, uma</p><p>forma perigosa de ativar a consciência que lhes permite sair do mundo de</p><p>Matrix.</p><p>Despertar para o quê? Morpheus diz a Neo: “Matrix é um mundo de</p><p>sonho gerado por computadores para nos manter sob controle e transformar</p><p>os humanos nisto que nós somos”. E mostra a ele uma bateria utilizada para</p><p>captar a energia dos humanos. Se pensarmos que a ficção científica costuma</p><p>anteceder fatos científicos reais (como no caso da obra de Júlio Verne, Vinte</p><p>mil léguas submarinas), podemos muito bem sair por um instante dessa</p><p>“matrix” e observar o mundo que criaram à nossa volta.</p><p>Ao tratar de “armas de distração em massa”, adiante, veremos como a</p><p>maioria das pessoas escolheu a pílula azul e se desligou da realidade do</p><p>mundo, preferindo viver em função da “realidade da televisão”. No entanto,</p><p>a cada dia que passa mais pessoas optam pela pílula vermelha e despertam,</p><p>olham ao redor e descobrem um mundo de maravilhas, mas também de</p><p>grande confusão.</p><p>A confusão é esclarecida no momento em que percebemos que boa</p><p>parte do que se considera comportamento humano natural é fruto de uma</p><p>programação de desenvolvimento. Na Parte II explicamos por que ainda</p><p>aceitamos crenças que fizeram sentido no passado, mas hoje apenas</p><p>contribuem para a destruição de nosso mundo. E como ninguém nos diz o</p><p>que fazer diante da crise, nossa programação nos faz sentir impotentes e em</p><p>uma circunstância aparentemente sem solução.</p><p>O que realmente precisamos enfrentar é o fato de que, durante</p><p>milênios, fomos programados para nos sentirmos impotentes e,</p><p>consequentemente, dependentes dos outros para sobreviver, especialmente</p><p>nas áreas da saúde e da espiritualidade. Claro, recebemos gratificações</p><p>quando nos rendemos a essa programação, e esse tipo de troca contribuiu de</p><p>maneira significativa para a crise global em que nos encontramos. Mas há</p><p>uma saída desta “matrix” que nos foi imposta: podemos simplesmente</p><p>reprogramar nossas vidas. A partir do momento que nos tornamos</p><p>conscientes, temos a oportunidade de reescrever os programas de nossas</p><p>limitações culturais.</p><p>O primeiro passo é a desprogramação. Isso pode ser feito observando o</p><p>programa de fora da matrix. Como? Em seu livro, O poder do agora, Eckhart</p><p>Tolle descreve uma época de sua vida em que passou por tanto desespero</p><p>que pensou em se suicidar. Então uma pergunta veio à sua mente: “Mas</p><p>quem é esse ‘alguém’ que deseja dar fim a vida de alguém?” E por esta</p><p>epifania Tolle percebeu que “ele” era o observador do lado de fora da matrix,</p><p>além do mundo da circunstância. Isso o libertou da ligação com o “alguém”</p><p>que ele imaginava ser.1</p><p>A Física Quântica nos mostra que nossa observação muda a realidade.</p><p>Se este é o caso, as explicações fornecidas em relação aos quatro mitos do</p><p>apocalipse e as distorções sociais que eles causaram devem ajudar você e</p><p>todos nós a mudar nossa forma de ver o mundo.</p><p>Esperamos que isso permita despertar tanto nossa consciência coletiva</p><p>quanto nossa realidade coletiva.</p><p>C A P Í T U L O 5</p><p>Mito um: só a matéria existe</p><p>“Dizem que nosso mundo é controlado</p><p>por forças invisíveis, mas eu, particularmente</p><p>não consigo ver dessa forma.”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>A CIÊNCIA É UMA RELIGIÃO?</p><p>O monoteísmo se tornou o paradigma da civilização ocidental durante a</p><p>Baixa Idade Média, porque oferecia as respostas mais plausíveis às questões</p><p>primordiais da existência, na época.</p><p>1. Como chegamos aqui?</p><p>2. Por que estamos aqui?</p><p>3. Agora que estamos aqui, como tirar o melhor proveito disso?</p><p>Ao substituir o paradigma anterior, do politeísmo, a Igreja se posicionou</p><p>como única fonte do conhecimento da civilização. E usou esse poder de</p><p>educação de massa para acumular riquezas e usufruir de sua influência.</p><p>Proclamando-se intercessora entre Deus e o rei, tinha a seu favor a</p><p>influência das leis para garantir à força o seu domínio.</p><p>Com o passar do tempo e com o acúmulo de poder, a missão primordial</p><p>da Igreja, ajudar a humanidade, foi substituída pela missão de ajudar e</p><p>promover a si própria. Mas seu poder se apoiava sobre a frágil afirmação de</p><p>que seu conhecimento representava a verdade absoluta. E nenhuma</p><p>autoridade, especialmente aquela que se apoia sobre conhecimentos</p><p>arcaicos e estáticos, consegue sobreviver. Com o tempo os teólogos da Igreja</p><p>tiveram que enfrentar a possibilidade de que outros surgiriam com verdades</p><p>diferentes.</p><p>Com a chegada da Inquisição, a máfia da Igreja impôs a todos que</p><p>desafiavam sua fé uma escolha difícil: desistir de suas convicções ou desistir</p><p>de viver. Aqueles cuja visão era diferente dos conceitos da Igreja foram</p><p>presos e torturados pelas “autoridades civis”.</p><p>A liderança opressiva da Igreja só foi desafiada pelos cientistas da</p><p>Renascença, que trouxeram novas ideias. Com uma visão mais humana e</p><p>lúcida, os cientistas prometiam manter a mente aberta e uma visão</p><p>aparentemente imparcial das verdades.</p><p>No entanto, com o tempo, depois que a ciência solidificou sua posição</p><p>como provedora “oficial” da verdade, os cientistas, agora senhores do novo</p><p>paradigma, também começaram a professar e defender de maneira opressiva</p><p>suas convicções, impondo-as como infalíveis e absolutas.</p><p>Consequentemente, no mundo moderno, o termo “científico” se tornou</p><p>sinônimo de “verdadeiro”. E tudo que não tem base científica comprovada</p><p>passou a ser questionável e, pior ainda, muitas vezes ilegal e punível pelas</p><p>leis civis. Disfarçando o abuso de poder sob a afirmação de que “sabemos o</p><p>que é melhor para você”, as autoridades científicas também executam uma</p><p>caça às bruxas e condenam todos os acusados de heresia científica.</p><p>Quiropráticos, pessoas que curam através de energia, parteiras e todos</p><p>aqueles que praticam modalidades que não se encaixam ou desafiam o</p><p>pensamento científico convencional são perseguidos, acusados de</p><p>charlatanismo e até presos por suas crenças e práticas “sem comprovação</p><p>científica”.</p><p>Até mesmo civis que optam por não seguir as normas científicas sofrem</p><p>perseguição. Por exemplo: pais de crianças com câncer e outras doenças já</p><p>perderam a custódia dos filhos por se recusar a submetê-los a terapias</p><p>tradicionais, mesmo após essas terapias não terem oferecido resultado</p><p>melhor do que os métodos de tratamento alternativo.</p><p>Em 2004, médicos determinaram que o filho de Amber Marlowe, uma</p><p>paciente grávida, era muito grande para ser concebido pelo parto normal, e</p><p>ela teria que se submeter a uma cesariana. Ela se recusou, e a diretoria do</p><p>hospital Wilkes-Barre conseguiu uma ordem judicial para forçá-la a se</p><p>submeter à cirurgia, sob ameaça de prisão por “colocar em risco a vida de</p><p>uma criança”. Por sorte esta história teve um final feliz. Segundo um artigo</p><p>de jornal, “Marlowe conseguiu fugir daquele hospital e teve o filho em</p><p>outro, com parto natural”.1</p><p>Será que a ciência moderna é mesmo a fonte infalível e absoluta de</p><p>conhecimento que alega ser? É claro que não!</p><p>Mas temos boas notícias. O espírito da ciência está vivo e passa bem.</p><p>Pioneiros estão modificando os padrões científicos tradicionais e trazendo ao</p><p>mundo novas ideias, uma forma totalmente diferente de ver a vida. Diante</p><p>dessa revolução, a velha guarda, disposta a defender os velhos dogmas,</p><p>resolveu resguardar seu território. Todos os que se beneficiam e obtém lucros</p><p>com a ciência tradicional, como a indústria farmacêutica, por exemplo,</p><p>adotaram a mesma postura da Igreja: “É verdade, porque estamos afirmando</p><p>que é!”</p><p>Se aplicarmos a lógica newtoniana linear a essas conclusões ilógicas e</p><p>continuarmos afirmando que só a matéria existe, teremos que excluir a</p><p>possibilidade da existência de uma dimensão que não vemos. No entanto,</p><p>começamos a perceber justamente a importância desta dimensão quando se</p><p>trata de entender a natureza e a mecânica do Universo. As teses dos líderes</p><p>da nova ciência parecem se afastar cada vez mais da Igreja do Materialismo</p><p>Científico. Pois que venha a reformulação das ideias!</p><p>UMA VIRADA NO CONCEITO DA CERTEZA ABSOLUTA</p><p>O filme A guerra do fogo oferece uma visão interessante sobre as</p><p>civilizações humanas pré-históricas. A descoberta do fogo como ferramenta</p><p>de sobrevivência permitiu aos humanos se proteger dos predadores e, ao</p><p>mesmo tempo, dominar seu ambiente. No início, as tribos conseguiam</p><p>utilizar do fogo, mas não sabiam como acendê-lo. Faziam esforços tremendos</p><p>para manter uma pequena chama acesa, mesmo durante as viagens. Se a</p><p>chama se apagava, a tribo regredia imediatamente ao estado de presa, tendo</p><p>que montar postos de vigia noturnos contra animais carnívoros. Na cena</p><p>final do filme, o herói pré-histórico finalmente aprende a produzir fogo. O</p><p>filme descreve, de maneira brilhante e emotiva, um dos momentos mais</p><p>importantes de nossa evolução. Até aquele instante a única preocupação</p><p>humana era a sobrevivência em um mundo dominado por vorazes</p><p>predadores. Ao dominar o fogo, porém, deixamos de ser mais uma raça de</p><p>animais para assumir o posto de líderes da biosfera. O filme termina com a</p><p>tribo sentada, em segurança, ao redor de um forno escavado no chão,</p><p>enquanto o protagonista olha para o céu, contemplando a lua cheia. A</p><p>partir do momento em que a sobrevivência básica estava garantida, a</p><p>humanidade ficou livre para observar e estudar a natureza.</p><p>Deste humilde começo, a ciência evoluiu e passou a explorar, classificar</p><p>e compreender formalmente o funcionamento do mundo. Na civilização</p><p>ocidental, ela se desenvolveu mais plenamente durante a Era Dourada da</p><p>Grécia, quando filósofos como Aristóteles fizeram descobertas e as</p><p>complementaram com suas conclusões lógicas baseadas em simples</p><p>experiências.</p><p>O monoteísmo cristão, que se tornou o paradigma da civilização</p><p>ocidental, agregou os conceitos dos filósofos ao seu hall de conhecimentos.</p><p>Tomás de Aquino e Alberto Magno modificaram e adaptaram a filosofia aos</p><p>dogmas das escrituras cristãs. Esse novo campo de estudo, conhecido como</p><p>Teologia Natural, formalizou a maneira como a ciência passaria a interpretar</p><p>e estudar a criação de Deus. Assim, esta, obedientemente, tomaria seu lugar</p><p>nos serviços à Igreja.</p><p>Conforme mencionamos, quando a ciência foi utilizada para resolver a</p><p>questão do calendário da Igreja, surgiram as sementes da revolução, do</p><p>próximo paradigma.</p><p>O fato de Copérnico ter descoberto que o sistema solar é heliocêntrico</p><p>representou o nascimento da ciência moderna como instituição, separada e</p><p>distante da Igreja. O anúncio dessa descoberta foi apenas o início de uma</p><p>série de desafios à infalibilidade clerical, induzindo ao colapso do paradigma</p><p>monoteísta.</p><p>1543 é considerado o ano do advento da revolução da ciência moderna.</p><p>Foi quando Copérnico, já no fim de sua vida, publicou seu livro De</p><p>Revolutionibus Orbium Coelestium (Da revolução de esferas celestes), que</p><p>conseguiu finalmente desbancar a posição de poder da Igreja.</p><p>Uma das primeiras questões que essa ciência teve que enfrentar foi “o</p><p>que é uma verdade?” Lembramos que aquela do século 16 era uma</p><p>coletânea de especulações antigas modificadas pelos teólogos cristãos. Os</p><p>cientistas da época tiveram que encarar o fato de que não havia como</p><p>distinguir ou validar uma verdade real de uma forte crença.</p><p>Logo, a primeira tarefa da ciência moderna foi criar um método</p><p>científico</p><p>espontânea. Para facilitar esse processo, é</p><p>necessária uma mudança fundamental de consciência a respeito de quem</p><p>realmente somos. Abordamos o conceito de remissão espontânea neste livro</p><p>por acreditarmos que as novas descobertas da ciência devem alterar</p><p>radicalmente as crenças coletivas em relação à Vida. Para ajudar na cura e</p><p>na recuperação do planeta, reunimos todas as informações técnicas e</p><p>criamos uma história promissora sobre o provável futuro da humanidade.</p><p>Evolução espontânea é a união de conceitos das inovações científicas e do</p><p>conhecimento milenar da humanidade com o objetivo de mostrar que temos</p><p>força e capacidade de potencializar nossa evolução.</p><p>Segundo a teoria de Darwin, a evolução é um processo lento e gradual</p><p>no qual milhões de anos são necessários para que as transformações das</p><p>espécies se manifestem ou sejam observadas. As novas descobertas da</p><p>ciência, por outro lado, mostram que evolução consiste em longos períodos</p><p>de imobilidade interrompidos por repentinos e dramáticos cataclismos.*</p><p>Esses cataclismos são responsáveis por modificações no curso da evolução e</p><p>surgimento de novas formas de vida.</p><p>Nossa civilização passa por um momento de desorganização e</p><p>desintegração. Necessitamos urgentemente de desenvolvimento e não temos</p><p>tempo para um processo lento e gradual. Curiosamente, em meio à crise que</p><p>vivemos, a humanidade parece estar perto de um cataclismo transformador.</p><p>Steve: Talvez a questão mais insistente seja: será que se trata mesmo de</p><p>um cataclismo? De uma transformação? Ou será só mais uma fase depois de</p><p>uma crise? Todos estão conscientes de que algo está acontecendo. A</p><p>diminuição dos recursos naturais, as mudanças climáticas e a explosão</p><p>demográfica são temas frequentemente expostos. As religiões anunciam o</p><p>fim dos tempos, o fatídico dia do Juízo Final e a ameaça da destruição</p><p>derradeira.</p><p>Ao mesmo tempo, a humanidade está cada vez mais conectada. A</p><p>demonstração óbvia é o advento da Internet, que nos permite enviar e</p><p>receber mensagens de qualquer parte do mundo com a velocidade da luz.</p><p>Essa forma de comunicação transformou o planeta em uma aldeia. Tudo está</p><p>relacionado e emaranhado. Parece que a ciência escalou a montanha inteira</p><p>do conhecimento só para encontrar Buda sentado no topo.</p><p>Aliando o conhecimento científico de Bruce ao meu conhecimento de</p><p>ciências políticas, notamos que as descobertas da ciência moderna e os</p><p>antigos ensinamentos dos grandes líderes espirituais convergem para o</p><p>mesmo ponto: este é um mundo de relacionamentos. Ninguém consegue</p><p>ficar de fora. Estamos todos implicados nisso. E, claro, compreendemos que</p><p>os velhos padrões de pensamento e de visão de mundo não podem mais nos</p><p>ajudar a caminhar. Nossa sobrevivência está em jogo. Precisamos</p><p>urgentemente de um novo paradigma. Precisamos de evolução espontânea.</p><p>Foi por isso que escrevemos este livro.</p><p>* Brincadeira com palavras em inglês e indiano, que remete ao sentido de “o Swami que vai além”.</p><p>(Nota da Tradutora)</p><p>* Teoria da evolução por patamares, a qual diz que a evolução não é uma reta ascendente, mas platôs</p><p>interrompidos por saltos verticais, levando a um novo platô por mais um período.</p><p>I N T RODUÇ ÃO</p><p>Uma história de amor universal</p><p>Esta é uma história de amor. Uma história de amor do Universo inteiro:</p><p>você, eu e cada organismo vivo que existe aqui. O Primeiro Ato aconteceu</p><p>há bilhões de anos, quando uma onda de luz do sol colidiu com uma</p><p>partícula de matéria. Essa faísca de amor entre Pai Sol e Mãe Terra deu</p><p>origem a um novo ser sobre a superfície da esfera azul-esverdeada. A</p><p>pequena criança chamada vida adotou a Terra como playground e, desde</p><p>então, multiplicou-se em uma variedade infinita de formas magníficas.</p><p>Algumas estão conosco hoje, porém muitas foram extintas e não</p><p>chegaremos a conhecê-las.</p><p>A cortina se ergueu no Segundo Ato desta história de amor, há 700</p><p>milhões de anos, quando certos organismos unicelulares decidiram</p><p>transformar aquela vida solitária. Voltaram-se aos outros e disseram (em</p><p>uma daquelas línguas primitivas que as células falam):</p><p>– Ei, preciso do seu amor.</p><p>E assim surgiu o primeiro organismo multicelular.</p><p>O Terceiro Ato teve início há mais de um milhão de anos, quando os</p><p>organismos multicelulares evoluíram para o primeiro ser humano</p><p>consciente. Com o advento da consciência, a vida se tornou capaz de</p><p>observar a si mesma, de refletir e criar o próprio futuro. Poderia</p><p>experimentar o amor e a alegria, rir de si mesma, e, eventualmente, escrever</p><p>livros, como este que você tem em mãos.</p><p>O Quarto Ato apresenta a evolução dos clãs humanos, estes que</p><p>juntaram forças, organizando nações ao redor do planeta. Neste momento,</p><p>nos aproximamos do final desse ato, imaginando se a história acaba aqui,</p><p>como acontece nas tragédias gregas, em que sempre há um final trágico.</p><p>Observando este mundo caótico: falhas humanas de toda a sorte e a</p><p>situação crítica do meio ambiente, parece que nos dirigimos a um desastre</p><p>inevitável. Felizmente, os gregos também tinham obras de cinco atos,</p><p>comédias cheias de alegria e amor.</p><p>Evolução espontânea é uma história que mostra como transitar com</p><p>segurança do quarto ao Quinto Ato. A boa notícia é que a Biologia e a</p><p>evolução estão ao nosso lado.</p><p>Há um instinto inato de sobrevivência em todos os organismos. Esse</p><p>instinto é chamado pela ciência de imperativo biológico. Ao contrário do que</p><p>afirmam a religião e a ciência convencional, a evolução não é aleatória ou</p><p>predeterminada, mas uma interação inteligente (semelhante a uma dança)</p><p>do organismo com o meio onde vive. Quando as condições são ideais, seja</p><p>em um momento de crise ou de uma oportunidade, algo imprevisível ocorre</p><p>para reequilibrar a biosfera e estabelecer um nível mais alto de coerência.</p><p>Podemos considerar curas milagrosas os casos de remissão espontânea, porém,</p><p>se analisarmos em detalhe o fenômeno, veremos que existe algo mais. Em</p><p>geral, os pacientes “sortudos” colaboram ativamente com a própria cura,</p><p>consciente ou inconscientemente, por meio de uma chave: mudanças</p><p>significativas em suas crenças e comportamentos.</p><p>Bem, temos uma boa e uma má notícia. A história da vida humana na</p><p>Terra ainda não está concluída. A existência ou não de um Quinto Ato</p><p>depende de quanto os seres humanos estão dispostos a transformar</p><p>pensamentos e ações, individuais e coletivos, e tudo isso em tempo hábil. Há</p><p>milênios nossos mestres espirituais apontam na direção do amor. Agora a</p><p>ciência confirma a sabedoria antiga. Somos todos células de um</p><p>superorganismo em desenvolvimento: a humanidade. Porque nós temos o</p><p>livre-arbítrio, podemos escolher antingir o nível mais alto da evolução ou –</p><p>como os dinossauros – cair na extinção.</p><p>Todas as religiões que surgiram em torno do berço da civilização, o</p><p>Crescente Fértil (região do Oriente Médio que atualmente engloba os países</p><p>de Israel, Cisjordânia e partes da Síria, Líbano, Egito, Turquia, Irã e o Iraque</p><p>– país, ironicamente, à beira de se tornar a cova da humanidade), têm a</p><p>crença na redenção por meio de um salvador. Bem, podemos imaginar algo</p><p>desse tipo, a vinda do Messias no Quinto Ato, e transformar a história da</p><p>vida em uma comédia humana.</p><p>Toda comédia tem boas piadas, então aqui vai uma: nós mesmos somos</p><p>a resposta às nossas preces.</p><p>O RENASCER DA FÊNIX</p><p>Em nossa época, muita gente aponta indícios de uma involução da</p><p>humanidade. No entanto, trata-se de um foco míope, e essa forma distorcida</p><p>de ver as coisas só nos afasta da Luz sempre presente na escuridão. Essa Luz</p><p>pode ser chamada de amor ou de conhecimento. Seja como for, sua chama</p><p>se expande a cada dia, e revela que a civilização está em pleno processo de</p><p>renascimento, à medida que os antigos conceitos de vida têm ruído, dando</p><p>lugar a uma nova mentalidade.</p><p>Esse padrão de evolução lembra a história da Fênix, pássaro sagrado da</p><p>mitologia egípcia. Ao final da vida, Fênix constrói um ninho de galhos,</p><p>entra nele, ateia fogo e se incendeia. De suas cinzas, surge uma nova Fênix,</p><p>fadada a seguir o mesmo ciclo de vida.</p><p>para avaliar informações. Basicamente, o método científico</p><p>consiste em observar, medir e avaliar, criar hipóteses explanatórias e</p><p>conduzir experimentos para testar as hipóteses. Os resultados das</p><p>experiências são utilizados para refinar as hipóteses, para que se tornem mais</p><p>previsíveis em termos de resultado. Ou seja, a previsibilidade é a principal</p><p>característica de uma verdade científica.</p><p>René Descartes deu prosseguimento ao novo paradigma, propondo uma</p><p>reforma científica completa. Suas ideias ousadas sugeriam que as antigas</p><p>crenças gregas fossem descartadas e substituídas por verdades passíveis de</p><p>verificação, por meio da metodologia científica de Francis Bacon. “Duvide</p><p>de tudo”, afirmava Descartes. A única coisa de que ele tinha certeza era da</p><p>própria existência. “Penso, logo existo”* é sua afirmação mais conhecida.</p><p>Bem, como veremos adiante, o Universo pode utilizar a mesma afirmação.</p><p>O método científico requer testes e cuidadosa observação do objeto de</p><p>estudo. Como não dispunham da tecnologia contemporânea, os cientistas se</p><p>restringiam a estudar aquilo que podiam ver, tocar e mensurar. O conceito</p><p>de matriz de energia invisível (que a moderna Física Quântica chamou de</p><p>“campo”, e que Einstein, mais tarde, descreveu como “área de ação</p><p>exclusiva da matéria”) não era acessível, na época de Newton e de</p><p>Descartes, à observação científica. Consequentemente, os parâmetros do</p><p>método científico limitavam a ciência ao estudo do mundo físico e material.</p><p>Em virtude desse foco restrito, que deixava os conceitos de mente e espírito</p><p>fora do escopo de análise, a ciência adquiriu o status oficial de materialismo</p><p>científico. Como resultado, os elementos do âmbito invisível passaram a ser</p><p>considerados conceitos metafísicos, deixados para Igreja, que não era regida</p><p>pelas regras rígidas da ciência mecânica.</p><p>Assim, ao se distanciar das crenças religiosas e restringir suas</p><p>observações ao Universo físico e tangível, os cientistas iniciaram uma nova</p><p>filosofia. Em vez de ver o Universo como algo controlado por forças</p><p>espirituais, instituíram a noção de que tudo era uma grande máquina. Para</p><p>eles, os planetas, as estrelas, as plantas e os animais eram apenas peças de</p><p>um gigantesco mecanismo.</p><p>Embora defendessem a tese de que Deus havia criado essa gigantesca</p><p>máquina, acreditavam que ela funcionava por si mesma, sem a necessidade</p><p>de Sua participação ou intervenção diretas. Não o viam controlando cada</p><p>peça como se brincasse com marionetes, por meio de uma ligação espiritual,</p><p>porém um Universo funcionando como uma máquina perfeita, refletindo o</p><p>comportamento de sua engrenagem.</p><p>Isaac Newton utilizava matemática para analisar e corroborar a</p><p>premissa de Descartes, segundo a qual o Universo é uma máquina.</p><p>Observando e mensurando os corpos planetários, Newton gerou uma nova</p><p>filosofia para explicar o funcionamento do Universo e da vida. E oficializou a</p><p>ciência da mecânica, também conhecida como Física, definindo-a como a</p><p>disciplina que estuda os mecanismos de operação do Universo. A ciência de</p><p>Newton baseava-se em dois conceitos de “absoluto”: o espaço absoluto e o</p><p>tempo absoluto. Assim, em um Universo quantificável, conforme</p><p>classificava, os objetos se movem em função da existência da gravidade. E</p><p>embora a gravidade seja uma força invisível, ele a qualificava por seus</p><p>resultados (mais especificamente, por meio do exemplo da queda da maçã).</p><p>Os seguidores de Newton, todos materialistas como ele, não se abalavam</p><p>diante do fator invisibilidade. Simplesmente a classificavam como uma</p><p>combinação de matéria e de uma substância gasosa chamada “éter”. E</p><p>também a qualificavam como um atributo da massa do objeto.</p><p>Desde 1700, três testes principais da filosofia newtoniana se tornaram a</p><p>base de estudos científicos do Universo:</p><p>1. Materialismo. A matéria física é a única realidade. O Universo pode</p><p>ser entendido por meio do conhecimento de suas partes físicas. Em</p><p>vez de utilizar forças vitais dos espíritos, a vida se origina de reações</p><p>químicas que compõem o corpo físico. Ou seja: só a matéria</p><p>importa.</p><p>2. Reducionismo. Não importa a complexidade de um elemento. Ele</p><p>pode sempre ser dissecado e compreendido por seus componentes.</p><p>Em resumo: para entender algo, desmonte-o e estude suas peças.</p><p>3. Determinismo. As ações na Natureza ocorrem de maneira</p><p>determinada, como consequência do conceito de que toda ação</p><p>produz uma reação. Um resultado pode ser previsto observando-se a</p><p>progressão linear de pequenos eventos. Em suma: é possível prever e</p><p>controlar o resultado de processos naturais.</p><p>O materialismo newtoniano, o reducionismo e o determinismo</p><p>ofereceram aos cientistas não apenas uma ferramenta de análise do</p><p>Universo, mas também a promessa de um controle utópico da matéria. O</p><p>preço disso tudo? O mundo racional deixaria de lado sua preocupação com</p><p>Deus, espíritos e forças invisíveis.</p><p>Assim, por volta de 1700, entre o advento do conceito newtoniano e o</p><p>do Iluminismo, ainda no mesmo século, diminuíram-se as tensões entre o</p><p>nascimento do paradigma da nova ciência e o controle da Igreja, cujo</p><p>domínio ainda indicava a presença do paradigma monoteísta.</p><p>Com essa conveniente divisão do Universo em âmbitos material e</p><p>espiritual, a ciência passou a dominar o mundo físico; a religião, o mundo</p><p>metafísico.</p><p>Os cientistas agora estavam livres para pesquisar e provar suas teorias</p><p>sobre a natureza material do Universo, e a religião, para continuar guiando</p><p>almas transcendentes. Embora tenha se estabelecido uma trégua política</p><p>entre duas potências intelectuais, a separação dos conceitos de espírito e</p><p>matéria levou a um desequilíbrio que hoje ameaça cada vez mais nosso</p><p>planeta.</p><p>No fim do século 19, o conceito newtoniano de um Universo material</p><p>reinava absoluto. A ciência já havia aparentemente provado que o mundo é</p><p>uma máquina composta de partículas chamadas átomos, e a dinâmica</p><p>universal podia ser compreendida e determinada pelo estudo do jogo de</p><p>bilhar das ações e reações atômicas. Os cientistas estavam tão satisfeitos</p><p>com suas descobertas que anunciaram publicamente que a ciência da física</p><p>estava completa e não havia mais o que estudar.</p><p>William Thomson (ou Lorde Kelvin, conforme o título recebido),</p><p>engenheiro e físico-matemático irlandês, foi aquele que se dirigiu a uma</p><p>bancada de físicos, na Associação Britânica para o Avanço da Ciência, em</p><p>1900, e declarou: “Não há mais o que se descobrir em termos de Física.</p><p>Tudo que existe já está sendo precisamente classificado e mensurado”.2 E</p><p>uma declaração semelhante foi feita por Albert Michelson, o primeiro físico</p><p>americano a receber o Prêmio Nobel.</p><p>A ciência newtoniana parecia tão completa que Michelson, então</p><p>presidente do conselho de Física da Universidade de Chicago, declarou</p><p>sarcasticamente que não havia mais necessidade de graduar alunos em</p><p>Física, pois “os princípios gerais já estavam todos estabelecidos... As</p><p>verdades futuras das ciências físicas deveriam agora ser procuradas na sexta</p><p>casa decimal”.3</p><p>Porém uma coisa engraçada aconteceu no caminho da certeza absoluta.</p><p>Confirmando a velha tese de que quanto mais alto se está maior é a queda,</p><p>fenômenos inesperados viraram o mundo da Física newtoniana de cabeça</p><p>para baixo. A primeira falha na imperturbável visão mecânica do mundo</p><p>surgiu em 1895, com as investigações do físico alemão Wilhelm Conrad</p><p>Roentgen, sobre os raios-x, que demonstravam haver uma força misteriosa</p><p>emanando de uma porção de matéria e penetrando outra porção. Logo</p><p>depois, o físico francês Antone Becqueral e, em seguida, Marie e Pierre</p><p>Curie descobriram o fenômeno da radioatividade, revelando que os</p><p>elementos atômicos não eram imutáveis como se presumia. Elementos</p><p>básicos poderiam se transformar em outros elementos.</p><p>Dois anos depois, o físico inglês Joseph John Thomson descobriu os</p><p>elétrons, o que demonstrava que o átomo não era a menor partícula do</p><p>Universo, como a Física newtoniana afirmava, e sim um elemento composto</p><p>de subpartículas ainda menores.</p><p>Enquanto estudava o espectro</p><p>de luz emitido por elementos aquecidos,</p><p>o físico alemão Max Planck descobriu que os elétrons poderiam se mover de</p><p>um átomo a outro, mudando instantaneamente seu nível de energia, sem</p><p>expressar valores intermediários. Reconheceu, portanto, que os elétrons são</p><p>compostos por unidades distintas de energia radiante, às quais denominou</p><p>quanta. Seu trabalho revelou que, à medida que os elétrons saltam entre os</p><p>campos de energia, ganham ou perdem um quantum, eis as origens da Física</p><p>Quântica.</p><p>Em 1905, os estudos sobre o efeito fotoelétrico, do físico alemão Albert</p><p>Einstein, mostraram que as ondas de luz não material possuem</p><p>características físicas anteriormente atribuídas apenas à matéria. Baseado</p><p>em suas observações, Einstein postulou a existência dos fótons, quanta de</p><p>energia de luz radiante com características específicas. Diante da percepção</p><p>de que a matéria pode se comportar como a luz e a luz como a matéria, as</p><p>bases da Física newtoniana começaram a ser abaladas.</p><p>Em 1926, o físico francês Louis-Victor de Broglie afirmou que todas as</p><p>partículas de matéria também poderiam se comportar como ondas não</p><p>materiais. A teoria foi confirmada três anos mais tarde, através do estudo</p><p>dos elétrons. As experiências mostraram que os elétrons possuem tanto</p><p>propriedades de onda quanto de partículas, ou seja, são ao mesmo tempo</p><p>materiais e não materiais. Com essas descobertas, ainda no mesmo século,</p><p>depois das declarações de Mechelson sobre o fim definitivo da Física, as</p><p>sólidas bases da Física newtoniana acabaram por se dissolver.</p><p>A confusão sobre partículas e ondas acabou sendo resolvida com o</p><p>advento da Mecânica Quântica. E também se tornou a marca registrada da</p><p>Física Quântica, estabelecendo uma estrutura de união teórica para que os</p><p>cientistas pudessem compreender que a matéria tem características</p><p>associadas tanto a partículas quanto a ondas. Bem-vindo ao mundo da</p><p>esquisitice quântica!</p><p>A equação de Einstein sobre massa e energia (simbolizada pela equação</p><p>E=mc2 resume a unificação de energia e matéria, onde energia (E) é igual a</p><p>massa (m) multiplicada pela velocidade da luz (c) ao quadrado. Com isso</p><p>Einstein mostrou que os átomos não são, na realidade, compostos de</p><p>matéria, porém de energia não material! Hoje se sabe que os átomos físicos</p><p>são compostos da união de unidades subatômicas, como quarks, bósons e</p><p>férmions.</p><p>O mais interessante é que os físicos de partículas descobriram que essas</p><p>partes do átomo são vórtices de energia semelhantes a nanotornados. Em</p><p>outras palavras, a antiga concepção newtoniana de um Universo composto</p><p>exclusivamente de objetos físicos se mostrou uma grande ilusão! Já a teoria</p><p>de Einstein, que tenta explicar a natureza e o comportamento da matéria e</p><p>da energia, compreende o Universo como um único corpo, dinâmico e</p><p>indivisível, cujas partes físicas e campos de energia são entrelaçados e</p><p>interdependentes.</p><p>A mecânica quântica mudou o foco da ciência em relação ao</p><p>materialismo, e o trabalho de Planck questionou também o reducionismo,</p><p>que se concentra em cada uma das partes de um objeto e não em</p><p>compreender o todo. Enquanto o reducionismo explica processos mecânicos</p><p>simples, Planck demonstrou que alguns eventos não podem ser previstos por</p><p>reações lineares de causa e efeito. Parecem ocorrer simultaneamente, como</p><p>parte de uma matriz interativa de energia a que ele chama o campo. As</p><p>descobertas de Planck mostram que, para entender a natureza do Universo,</p><p>devemos abandonar o reducionismo e nos voltarmos para o holismo, em que</p><p>tudo interage com tudo.</p><p>É interessante observar que a analogia clássica usada para descrever o</p><p>reducionismo envolvia desmontar um relógio mecânico para ver como ele</p><p>funcionava. Ao estudar a interação entre peças e molas, uma pessoa</p><p>poderia, em tese, consertar ou alterar o mecanismo de qualquer outro</p><p>relógio. Da mesma maneira, os cientistas presumiam que, para determinar o</p><p>funcionamento de um organismo, bastava dividi-lo em partes e estudar cada</p><p>uma delas.</p><p>Para nossa sorte, tanto o reducionismo quanto a analogia do relógio já</p><p>são considerados ultrapassados. Imagine fazer isso com um relógio digital:</p><p>abri-lo, desmontar cada peça, examinar seus componentes e depois...?</p><p>Relógios digitais utilizam a tecnologia derivada da mecânica quântica e</p><p>funcionam através da energia do movimento e não através da interação de</p><p>mecanismos físicos. Desmontá-lo para observar a organização de suas peças</p><p>jamais revelará a natureza de seu funcionamento. O foco do reducionismo,</p><p>as peças materiais de um objeto ou organismo, não funciona quando se trata</p><p>dos mecanismos integrados de um Universo quântico, em que vários</p><p>elementos se interligam.</p><p>Além de desafiar a fixação em relação ao materialismo e ao</p><p>reducionismo, a ciência da Física Quântica também descarta a noção de</p><p>determinismo, segundo a qual todos os eventos, incluindo as escolhas e</p><p>decisões humanas, baseiam-se em uma sequencia específica de reações</p><p>causais que seguem uma lei natural. O determinismo propõe que, em posse</p><p>de dados suficientes, uma pessoa pode prever o futuro.</p><p>No entanto, Werner Heisenberg, físico alemão e um dos fundadores da</p><p>mecânica quântica, descobriu que não era possível mapear simultaneamente</p><p>a posição e a velocidade do elétron de um átomo. Quanto mais</p><p>precisamente se mede sua posição, mais incertos se tornam os valores de sua</p><p>velocidade, tempo, energia, ângulo de rotação e dinâmica angular. A teoria</p><p>sugere que medir uma variável individualmente resulta em distúrbio das</p><p>outras, ou seja, obtém-se dados imprecisos tentando observar mais de uma</p><p>ao mesmo tempo. A teoria de Heisenberg não apenas afronta o</p><p>determinismo como sugere que a existência da matéria, por si só, é uma</p><p>grande incerteza.</p><p>É importante lembrar que o advento da mecânica quântica não nega a</p><p>Física newtoniana, apenas a inclui em uma subcategoria. Na verdade, a</p><p>Física Quântica é uma realidade mais ampla, que inclui e adiciona</p><p>informações às descobertas da física newtoniana. Ela complementa as</p><p>informações da ciência, introduzindo o conceito de forças outrora não</p><p>reconhecidas, as quais controlam as possibilidades de desdobramento de</p><p>fatos do nosso Universo.</p><p>A mecânica quântica enfatiza que o Universo material (com todos os</p><p>seus átomos, partículas e matéria) é um componente da matriz universal de</p><p>energia, controlado pelas forças que compõem o campo.* Talvez você se</p><p>lembre de uma experiência de seu tempo de escola feita com um imã, uma</p><p>folha de papel e limalha de ferro. Espalhando-se a limalha sobre o papel, ela</p><p>se distribui de maneira aleatória. Quando se coloca o imã embaixo dele, no</p><p>entanto, elas se organizam e revelam a forma do campo magnético invisível.</p><p>E o padrão se refaz cada vez que se repete o processo.</p><p>Agora imagine-se tentando explicar o fenômeno sem conhecer o</p><p>princípio do funcionamento de um imã ou a existência dos campos invisíveis</p><p>de energia. A que conclusão você chegaria apenas observando a limalha se</p><p>mover? Poderia acabar achando que ela tem vida própria!</p><p>Isso é o que acontece quando se tenta explicar o mundo exclusivamente</p><p>sob o ponto de vista material. É um erro crasso depois que sabemos que</p><p>campos de energia comandam a matéria. Ou, como Einstein afirmou com</p><p>sua peculiar simplicidade: “O campo é o organismo que controla as</p><p>partículas”. O que ele quis dizer é que o campo é a matriz de energia do</p><p>Universo que governa toda a matéria, incluindo a “misteriosa limalha de</p><p>ferro”.4</p><p>Einstein também enfatizou o papel do campo na formação do Universo,</p><p>ao afirmar: “Não há lugar nesta nova Física para o campo e a matéria, pois o</p><p>campo é a única realidade”.5</p><p>Um século depois de Einstein apresentar sua equação de massa e</p><p>energia E=mc</p><p>2</p><p>e o conceito de que matéria e energia estão inerentemente</p><p>relacionadas, muitas pessoas ainda se apegam à ilusão de uma realidade</p><p>composta apenas de matéria. A insanidade que nos cerca, e na qual muitas</p><p>vezes mergulhamos sem perceber, é o resultado da tentativa de manter uma</p><p>existência vinculada às ideias de</p><p>Newton em um mundo onde vigoram as</p><p>consequências do estudo de Einstein.</p><p>Curiosamente, o campo de energia que forma a matéria, dentro do</p><p>conceito da Física Quântica, tem as mesmas características dos campos</p><p>invisíveis que os metafísicos definem como “espírito”.</p><p>E SE AMBOS ESTIVEREM CERTOS: JESUS E EINSTEIN?</p><p>Se é difícil entender como a ciência foi capaz de ignorar Einstein por</p><p>cem anos, é ainda mais difícil entender como a sociedade ignorou Jesus por</p><p>dois milênios.</p><p>Analisando as mensagens de Jesus e Einstein, é possível estabelecer</p><p>uma provável base científica para a Regra de Ouro. Enquanto Jesus pregava</p><p>“amai a teu próximo como a ti mesmo”, a teoria de Einstein prega que “teu</p><p>próximo é tu mesmo”. A base da teoria da relatividade é... estamos todos</p><p>relacionados uns aos outros.</p><p>As nações cientificamente avançadas não têm problemas em utilizar a</p><p>Física Quântica para desenvolver o poder atômico e promover a destruição</p><p>nuclear, mas, quando se trata de entender o mundo, acabam negando a</p><p>existência do âmbito invisível que nos cerca. Por exemplo: nos aspectos de</p><p>política e diplomacia, os governos ainda operam em um mundo newtoniano,</p><p>composto de peças individuais que interagem, chamadas nações, governos e</p><p>departamentos ou territórios.</p><p>Em vez de se concentrar na natureza cooperativa do campo de energia e</p><p>reservas naturais de que dispomos, a ênfase ainda é o sistema político</p><p>baseado em guerras e disputa, o qual apenas separa e estabelece barreiras</p><p>entre todos. E a mesma mecânica newtoniana de ação e reação mantém um</p><p>sistema de justiça baseado em punições. “Olho por olho” é nitidamente o</p><p>princípio newtoniano que torna o mundo cego.</p><p>Nada temos contra Isaac Newton, gênio que merece ser reconhecido</p><p>pelo resto da vida e da história da humanidade. Suas teorias trouxeram ao</p><p>mundo uma base técnica que permitiu à civilização ter domínio e controle</p><p>sobre o ambiente ao redor. Boa parte da evolução, no que tange às</p><p>condições físicas da humanidade, pode ser, sem a menor sombra de dúvida,</p><p>atribuída à ciência de Newton e à sua posição contrária aos dogmas</p><p>religiosos. No entanto, a sociedade de hoje é obrigada a conviver com os</p><p>horrores e as insanidades oriundos de uma ciência que insiste em negar o</p><p>mundo invisível. Para saber o que acontece quando só se dá importância à</p><p>matéria, basta observar a sociedade ocidental e o monstro que ela criou: a</p><p>globalização. Em um sentido frankensteineano, a humanidade gerou e</p><p>trouxe ao mundo uma entidade puramente materialista, mecânica e sem</p><p>vida chamada corporação. Além de dar vida ao monstro, lhe conferimos</p><p>primazia sobre a raça humana. No mundo industrializado, os desejos e</p><p>necessidades das corporações são maiores e mais importantes do que os</p><p>desejos das pessoas.</p><p>A corporação moderna é uma entidade com um único propósito:</p><p>ganhar dinheiro. Claro, corporações são regidas por executivos; pessoas</p><p>dotadas de consciência. São as sementes do mundo futuro no qual as</p><p>corporações servirão às pessoas, mas isso ainda está muito longe de</p><p>acontecer. No Capítulo 9 nos aprofundaremos nesse aspecto de como a</p><p>Regra do Ouro acabou se sobrepondo à Regra de Ouro.</p><p>Uma implicação da preocupação newtoniana com a matéria que</p><p>ameaça o mundo de hoje é o desejo de acúmulo de bens. A humanidade</p><p>jamais foi tão possuída pela possessão material ou tão consumida pelo</p><p>consumismo.</p><p>Aqueles que nasceram na sociedade do Ocidente depois da Segunda</p><p>Guerra Mundial, especialmente nos EUA, são influenciados e programados</p><p>de tal maneira pela televisão que não percebem o poder exercido pela mídia</p><p>sobre suas vidas. Desde os primeiros comerciais de televisão, que mostravam</p><p>alimentos industrializados, os humanos foram reduzidos à categoria de</p><p>consumidores e clientes.</p><p>Conscientes das consequencias e da ameaça que representa a</p><p>exploração irrefreada dos recursos globais pelas corporações, cada vez mais</p><p>indivíduos e organizações buscam introduzir valores humanos na economia.</p><p>As forças que promovem a evolução humana e a sanidade são geralmente</p><p>percebidas como grupos de defesa que lutam uma batalha perdida, muito</p><p>embora a maioria das pessoas ainda deem mais valor à vida do que ao</p><p>dinheiro. Os precursores da nova humanidade têm à frente um poderoso</p><p>adversário, talvez a maior força invisível do mundo, tendo em vista que</p><p>desafiam um paradigma: a crença que orienta nosso estilo de vida.</p><p>O paradigma convencional do materialismo newtoniano, do</p><p>reducionismo e do determinismo estabeleceu a estrutura de nossas</p><p>instituições acadêmicas. Os alunos, produto das escolas, são avaliados de</p><p>acordo com a medida de seu desempenho. Bem, não é uma maneira eficaz de</p><p>avaliar quem é o melhor? E há maneira melhor de distribuir as recompensas</p><p>financeiras do materialismo do que remunerar aqueles que provam que</p><p>podem produzir mais? E, claro, as questões “produzir o quê” e “com que</p><p>propósito” continuam sem resposta. Aliás, elas nem são feitas.</p><p>A área da Medicina, voz da ciência materialista, já salvou muitas vidas.</p><p>No entanto, os tratamentos newtonianos continuam caros, nem sempre</p><p>eficazes e muitas vezes letais. Seguindo a linha filosófica do materialismo, a</p><p>medicina convencional se concentra apenas no caráter físico do corpo, e</p><p>todos os esforços são destinados a manipular sua composição química, muito</p><p>embora trabalhar com o campo de energia dos doentes já tenha se mostrado</p><p>muito mais eficaz.</p><p>Temos que reconhecer que a ciência moderna realizou verdadeiros</p><p>milagres, especialmente na área de traumatologia, embora ainda se</p><p>considere o corpo como máquina. As maravilhas médicas incluem a</p><p>habilidade de abrir e suturar o corpo, transplantar órgãos e até criá-los ou</p><p>reproduzi-los. Mas, apesar de todo o conhecimento técnico, ainda vivemos</p><p>com medo dos vírus e bactérias que ameaçam nossa existência.</p><p>Aqueles que se curam por meio de métodos não reconhecidos pela</p><p>Medicina são normalmente ignorados por ela. Isso ocorre principalmente</p><p>quando os médicos não conseguem encontrar uma explicação física e</p><p>material para a cura. Nesses casos, costumam afirmar que o paciente não</p><p>estava realmente doente (mesmo que os resultados dos exames mostrem o</p><p>contrário) e que tudo não passou de um erro de diagnóstico. Além de</p><p>descartar a possibilidade de uma cura milagrosa, os médicos tradicionais se</p><p>recusam a tentar entender o processo. “Não sei o que você fez e nem me</p><p>interessa saber”.</p><p>Mas parece que, aos poucos, a aceitação da Medicina Holística tem</p><p>ajudado a dissipar o dogma do materialismo na área médica. As pessoas que</p><p>se curam por meios holísticos indicam o tratamento a seus amigos e</p><p>parentes. Ainda temos muito a trilhar no sentido de superar as limitações</p><p>impostas pelo pensamento newtoniano, porém, como analisaremos em</p><p>breve, o estudo mais importante diz respeito ao campo.</p><p>A RESPOSTA ESTÁ EM CAMPO</p><p>Então, pode-se concluir que o primeiro mito do apocalipse (só a matéria</p><p>existe) está errado.</p><p>A ciência, em sua corajosa busca pela verdade, acabou por desbancar o</p><p>próprio dogma. Mas se a matéria não é a única coisa que importa, como se</p><p>pensava, o que é, então? Parafraseando Einstein, “o campo é a única</p><p>realidade”.</p><p>E se a matéria é não material, por que parece tão real? Se a parede à</p><p>minha frente é só uma ilusão, por que não posso simplesmente enfiar minha</p><p>mão através dela? Como os físicos já descobriram, não é a densidade da</p><p>matéria que nos impede de atravessá-la, e sim a densidade da energia.</p><p>Em nível subatômico, vórtices de energia estão constantemente girando e</p><p>vibrando. Se a noção de vórtice de energia parece muito abstrata, tente</p><p>imaginar um minitornado, vórtice de energia do vento em movimento.</p><p>Quando observamos um tornado, o que vemos são as partículas e os detritos</p><p>(poeira, telhas, galhos de árvore, o gato do vizinho) rodopiando no ar,</p><p>levados por um campo forte o suficiente para implodir casas e arremessar</p><p>veículos. Não se pode enfiar a mão e atravessar uma parede pelo mesmo</p><p>motivo que não se pode atravessar um tornado. São energias invisíveis, mas</p><p>palpáveis.</p><p>Outro conceito questionado é o de que espaços vazios são realmente</p><p>vazios. Espaços abertos têm mais energia do que imaginamos. O que</p><p>Aristóteles chamava de “plenum”, e os físicos chamam de “campo do ponto-</p><p>zero”, é um “mar de luz quântica”. Segundo o físico norte-americano</p><p>Richard Feynman, a energia contida em um pequeno espaço vazio de 0,02</p><p>m³ por exemplo, tem energia suficiente para fazer todos os oceanos do</p><p>planeta entrarem em ebulição.6 Portanto, aquilo que chamamos de “nada”</p><p>ou “coisa alguma” é muito mais poderoso do que imaginamos! A energia do</p><p>ponto-zero muito provavelmente será a energia do futuro, o que já é um</p><p>grande incentivo para termos um futuro!</p><p>Outro maravilhoso paradoxo sobre a realidade física é que ela</p><p>tecnicamente não existe. Segundo a jornalista Lynne McTaggart, autora do</p><p>livro O campo: em busca da força secreta do Universo, esse campo do ponto-</p><p>zero é um “oceano de vibrações microscópicas no espaço entre os objetos;</p><p>um estado de puro potencial e de possibilidades infinitas”. Ela também</p><p>declara que “as partículas existem em todos os estados possíveis, até que</p><p>sejam observadas ou avaliadas por nós, quando se estabilizam e se</p><p>transformam em algo real”. Ou seja, a realidade existe apenas quando é</p><p>necessária.7</p><p>Embora os físicos ainda não tenham chegado a um consenso quanto a</p><p>este conceito tão amplo e surpreendente, parece que tudo está em todo</p><p>lugar o tempo todo. Nossa mente é que escolhe algo no cosmo e o traz para</p><p>o tempo e espaço, criando aquilo que imaginamos ser realidade. Brincando</p><p>com esta “sopa cósmica”, os cientistas já conseguiram enviar sinais a grandes</p><p>distâncias instantaneamente e descobriram maneiras de modificar eventos</p><p>que já ocorreram! Vamos tratar disso mais adiante.</p><p>Por enquanto, vamos trabalhar com uma experiência bem conhecida,</p><p>descrita por Rupert Sheldrake no livro e vídeo Cães sabem quando seus donos</p><p>estão chegando.</p><p>Um artigo no Journal for the Society of Physical Research (Revista da</p><p>Sociedade de Pesquisas de Física) mostra que 45% dos donos de cães</p><p>entrevistados afirmam que seus cães sabem com antecedência quando</p><p>alguém da família está chegando em casa.8</p><p>Segundo o experimento de Sheldrake, gravado em vídeo para a TV</p><p>austríaca, foram colocadas simultaneamente câmeras na voluntária Pam</p><p>Smart, que estava fora de casa, e em seu cão, Jaytee, que estava em casa.</p><p>Depois de algumas horas, Pam recebeu uma ligação em seu celular com</p><p>instruções para voltar para casa. No mesmo instante Jaytee correu para a</p><p>porta, para esperar sua dona. E o mesmo resultado foi obtido com mais de</p><p>cem voluntários. Todas as experiências foram gravadas em vídeo.9</p><p>Mas qual é a importância disso? Todos sabem que existe uma conexão</p><p>muito especial, e até paranormal, entre os animais e seus donos, da mesma</p><p>maneira que muitas pessoas sentem quando alguém da família está em</p><p>perigo. Shedrake não tentava provar algo que já se sabe, mas sim fazer uma</p><p>experiência e mostrar que ela não provocaria a curiosidade da comunidade</p><p>científica. Imagine só: cães recebendo mensagens instantâneas em uma</p><p>velocidade maior do que a da luz, e os cientistas nem se importam em saber</p><p>como isso acontece?</p><p>O problema é que a ciência materialista não tem interesse e não se</p><p>preocupa em obter uma explicação para este fenômeno. Da mesma maneira</p><p>que a Igreja se recusou a reconhecer as implicações dos descobrimentos de</p><p>Copérnico sobre a posição da Terra em nosso sistema solar heliocêntrico, a</p><p>ciência ortodoxa ignora o fato comprovado de os cães pressentirem a</p><p>chegada de seus donos, porque ele vai diretamente contra sua crença de que</p><p>só a matéria existe. Há um campo invisível que permite nos comunicarmos</p><p>telepaticamente, porém, como a ciência não acredita no invisível, não</p><p>consegue ver essa realidade.</p><p>Sheldrake sugere a existência de um campo morfogenético, uma</p><p>“memória inerente à natureza”, que permite a comunicação paranormal à</p><p>velocidade do pensamento.10 E foi o primeiro a admitir que seu conceito de</p><p>campo morfogenético é apenas uma explicação especulativa e ainda não tem</p><p>como provar como essa energia funciona. A boa notícia é que a falta de</p><p>prova científica o levou a estudar mais profundamente o campo.</p><p>A importância do experimento de Sheldrake é demonstrar que o</p><p>fenômeno é real. Existe mesmo um campo invisível exercendo influência</p><p>sobre a matéria. As implicações vão muito além de podermos chamar nossos</p><p>cães assobiando mentalmente. Como veremos, algumas experiências do tipo</p><p>double-blind*, cuidadosamente realizadas, revelam que a oração e a intenção</p><p>de cura têm efeitos positivos e mensuráveis sobre pacientes de aids ou sobre</p><p>aqueles que se recuperam de uma cirurgia. E outros estudos indicam que,</p><p>quando um número de pessoas que praticam a meditação transcendental</p><p>atinge a raiz quadrada de 1% da população de uma cidade, a taxa de</p><p>criminalidade cai vertiginosamente na região.11</p><p>Portanto, é uma tolice ignorar o poder do campo simplesmente porque</p><p>ele não pode ser explicado. Felizmente, mais cientistas têm se interessado</p><p>pelo assunto. Alguns físicos já utilizam o termo “força de movimento</p><p>invisível” para descrever esses campos. Curiosamente, esta é a mesma</p><p>definição do tradicional Artífice dos Campos (Deus, Criador, Espírito) ou</p><p>qualquer que seja o termo que aponte a força unificada do Universo. A</p><p>grande piada cósmica é que a ciência e a religião se referem à mesma coisa.</p><p>Mas por que é importante compreender o campo? Como isso pode</p><p>ajudar a humanidade? Há três respostas a estas perguntas. Primeiro,</p><p>podemos dar fim, de vez, à inútil guerra entre ciência e religião. Em vez de</p><p>insistir na existência de um Deus que vive fora deste planeta, podemos</p><p>trabalhar todos juntos pelo bem da Terra. Segundo, ao reconhecer o poder</p><p>dos campos invisíveis (mesmo que não saibamos como eles funcionam),</p><p>abrimos uma nova porta ao descobrimento e incentivamos a ciência a</p><p>estudar algo que até agora foi ignorado. Finalmente, iremos nos</p><p>conscientizar de que a humanidade inteira atua em um campo unificado de</p><p>sonhos (e que não é um campo de batalha).</p><p>* Segundo a filosofia atual, pensar é tarefa do cérebro e, se consideramos a existência de um “eu”</p><p>imaterial habitante de um corpo físico com cérebro material, não será necessário pensar para existir,</p><p>mas se penso, logo estou.</p><p>* Também chamado de Éter, Matriz ou Matriz divina.</p><p>* Experimento clínico realizado nas áreas de Medicina e Psicologia, em que nem os organizadores da</p><p>pesquisa nem os voluntários sabem quais indivíduos pertencem ao grupo de teste ou ao grupo</p><p>controlado. (N.T.)</p><p>C A P Í T U L O 6</p><p>Mito dois: só os mais fortes sobrevivem</p><p>“Quando estamos em busca de ouro, todo o resto vira prata.”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>“É um mundo cão”, “a lei da selva”, “cada um por si e Deus por todos”.</p><p>Ouvimos tanto essas frases em nossa vida que acabamos por incorporá-las à</p><p>nossa realidade.</p><p>Mas e se a filosofia darwiniana sobre a natureza competitiva da vida</p><p>estiver errada? E se o verdadeiro objetivo de nossa existência for cooperar e</p><p>ajudar uns aos outros? E se a sobrevivência depender de como nos</p><p>comunicamos e da velocidade com que compartilhamos e processamos</p><p>informações? E se houver outra condição muito melhor para nossa vida</p><p>além da mera sobrevivência? E se houver outro tipo de vida para a</p><p>humanidade?</p><p>QUEM VEIO PRIMEIRO: DARWIN OU O DARWINISMO?</p><p>Charles Darwin, que se destacou em sua época, teve um papel muito</p><p>importante no estabelecimento do paradigma do materialismo científico,</p><p>especialmente no que diz respeito à saúde e evolução da humanidade.</p><p>O conceito de evolução vinha se desenvolvendo há quase um século. O</p><p>próprio avô de Charles, Erasmus Darwin, já havia estudado e escrito sobre o</p><p>assunto.</p><p>Na verdade, o primeiro trabalho científico sobre evolução, “Philosophie</p><p>Zoologique”, foi publicado pelo biólogo francês John Baptiste de Lamarck, em</p><p>1809, ano em que Charles Darwin nasceu.1 E mesmo as frases que</p><p>atribuímos ao darwinismo (a lei da selva e a sobrevivência dos mais fortes) já</p><p>eram conhecidas</p><p>antes de ele nascer.</p><p>A base do trabalho de Darwin veio de Thomas Robert Malthus, filósofo</p><p>e economista. Seus conceitos e teses forneceram a estrutura teórica que</p><p>estabeleceu. Malthus também era filho de uma importante figura do</p><p>Iluminismo, cujos amigos eram Jean-Jacques Rousseau e o filósofo e</p><p>economista David Hume. Mas o jovem tinha uma visão mais profunda e</p><p>sombria do mundo do que seus mentores. Talvez sua revolta contra o pai o</p><p>tenha tornado mais pessimista. Ele se propunha a provar que as coisas</p><p>podiam sempre piorar em uma escala crescente.</p><p>Usando lógica e projeções lineares bastante utilizadas na época,</p><p>Malthus concluiu e registrou que a vegetação se reproduzia em uma</p><p>progressão aritmética:</p><p>1 2 3 4 5 etc.</p><p>E, em contraposição, sugeriu que a vida animal se reproduzia em uma</p><p>progressão geométrica:</p><p>2 4 8 16 32 etc.</p><p>A lógica de Malthus era a seguinte: um fazendeiro poderia, com sorte e</p><p>bastante trabalho, ter mais lucro a cada ano com seu rebanho. No entanto,</p><p>a população desses animais poderia dobrar a cada geração e ficaria cada vez</p><p>mais difícil produzir alimentos para eles. Assim, a vida animal (que inclui os</p><p>humanos), pode se reproduzir a tal ponto que a população seja muito maior</p><p>do que a quantidade de alimentos ou sua capacidade de produção. Nesta</p><p>realidade, a vida se tornaria uma luta pela existência, e somente os mais</p><p>fortes e implacáveis sobreviveriam.</p><p>Malthus descreveu as consequencias de sua visão da realidade em um</p><p>trabalho de 1798 intitulado Um ensaio sobre o princípio da população: “O</p><p>poder da população é tão maior do que o poder da terra de produzir</p><p>subsistência para o homem, que a morte prematura pode ser nosso futuro.</p><p>Os vícios da raça humana são os próprios ministros do despovoamento e os</p><p>precursores da grande arma de destruição. Caso eles não sejam suficientes</p><p>para o extermínio, ainda temos as doenças e pragas, que se alastram e</p><p>matam centenas de milhares em seu caminho. E se elas não fizerem o</p><p>trabalho, a fome pode dominar o planeta e eliminar os humanos”.2</p><p>Bem, o lado positivo do pessimismo é que ele jamais desaponta as</p><p>pessoas.</p><p>Mas a essência do trabalho de Malthus não se relacionava a tudo piorar,</p><p>e sim a melhorar. E se as nações deixassem de guerrear? E se a pobreza fosse</p><p>eliminada e as doenças fossem erradicadas? Bem, segundo Malthus, teríamos</p><p>um grande problema nas mãos! Quanto mais vidas salvarmos, mais cedo</p><p>ficaremos sem alimentos. Os malthusiastas do século 19 iniciaram todo tipo</p><p>de programa social para evitar o que julgavam inevitável, inclusive lançando</p><p>campanhas para desencorajar os pobres a terem filhos e estimulando o</p><p>surgimento de favelas junto aos pântanos, para que as doenças se</p><p>proliferassem nesses locais.</p><p>No entanto, havia um pequeno problema com as previsões de Malthus:</p><p>elas estavam erradas! Ao ver o mundo sobre o foco estreito do materialismo,</p><p>ele não se deu conta das complexidades dinâmicas da trama da vida e a</p><p>tendência constante da Natureza ao equilíbrio e à harmonia. Além disso, a</p><p>população animal não dobra a cada ano. Sua taxa de crescimento é uma</p><p>variável baseada em condições de ambiente. A conclusão de matemática</p><p>linear de Malthus, hoje conhecida como “projeção estática”, só funcionaria</p><p>de verdade em um Universo newtoniano, linear e mecanicista.</p><p>Felizmente, o Universo em que vivemos é uma realidade quântica</p><p>baseada em probabilidades e bastante afetado pelo caos, o qual é definindo</p><p>no mundo da Matemática e da Física como um sistema que surge</p><p>aleatoriamente do exterior, mas, na verdade, é ordenado e determinista. Em</p><p>um Universo caótico projeções estáticas não têm função, pois não incluem</p><p>como fatores a dinâmica e os processos imprevisíveis dos sistemas vivos. A</p><p>noção malthusiana de que a evolução é regida por uma batalha sangrenta e</p><p>brutal pela sobrevivência não tem mérito científico.</p><p>A EVOLUÇÃO SEGUNDO DARWIN</p><p>Darwin viveu no século 19, época em que o mundo enfrentava a</p><p>coexistência de diversos pontos de vista conflitantes. O brilhante</p><p>Iluminismo, filosofia que estimulou as revoluções americana e francesa,</p><p>ainda ocupava posição de destaque, embora enfraquecido pela sombra do</p><p>malthusianismo. O retorno da monarquia na França renovou os poderes da</p><p>Igreja e a busca pragmática da Coroa. Nos bastidores, porém, o processo da</p><p>ciência materialista continuava a se desenvolver, especialmente quando o</p><p>químico inglês John Dalton publicou, em 1805, a teoria atômica. Essa teoria</p><p>trouxe a física newtoniana de volta à cena, pois seus princípios foram</p><p>aplicados para definir a mecânica da recém criada ciência da química.</p><p>Embora Charles Darwin tenha nascido em uma família de classe alta de</p><p>unitaristas e livres pensadores, seu pai achou que seria socialmente</p><p>conveniente batizá-lo na Igreja Anglicana. Quando criança, Charles</p><p>frequentou a Igreja Unitária com a mãe. Depois de crescido se matriculou</p><p>na Universidade de Edimburgo, onde se dedicou avidamente ao estudo das</p><p>ciências e assistiu a palestras de Jean Baptiste de Lamarck, vindo a conhecer</p><p>suas radicais teorias sobre a evolução.</p><p>Aparentemente, a área médica não era seu forte, pois o fraco</p><p>desempenho acadêmico o fez abandonar a universidade sem se graduar. Seu</p><p>pai, com medo de que ele não tivesse um futuro profissional (ou mesmo</p><p>nenhum futuro) o incentivou a se matricular na Universidade de</p><p>Cambridge, para se tornar um sacerdote anglicano. Era a última opção para</p><p>um rapaz de classe média alta que não queria estudar.</p><p>Darwin completou seus estudos teológicos e, logo em seguida, apesar</p><p>dos protestos do pai, embarcou em uma viagem de dois anos no HMS</p><p>Beagle, um navio de viagens de pesquisas, em companhia do Capitão Robert</p><p>Fitz-Roy. Na marinha daquela época, aristocratas como o capitão não</p><p>interagiam com os membros mais simples da tripulação. Para tornar a</p><p>viagem menos entediante, convidou Darwin àquela viagem de descoberta</p><p>das maravilhas da Natureza.</p><p>Quando já estavam em alto-mar, o médico do navio, naturalista e</p><p>responsável pelas pesquisas, teve um sério desentendimento com Darwin e,</p><p>para evitar maiores conflitos, desembarcou na América do Sul. Charles</p><p>Darwin, convenientemente, assumiu seu posto enquanto o navio se dirigia</p><p>às Ilhas Galápagos, uma viagem que tomaria grandes proporções</p><p>paradigmáticas. A viagem de dois anos acabou levando cinco, e, nesse</p><p>tempo, Darwin se dedicou ao estudo da Natureza.</p><p>Antes de embarcar, ele havia recebido uma cópia dos Princípios da</p><p>Geologia, material publicado em 1830 e que se tornou provavelmente a</p><p>referência científica mais importante desde a publicação de Newton</p><p>(Philosophiae Naturalis Principia Mathematica). Seu autor, Charles Lyell, era o</p><p>cientista mais influente do mundo na época, e por bons motivos. Seu</p><p>trabalho, publicado em três volumes, entre 1830 e 1833, estabeleceu a base</p><p>da Geologia, o que confrontou e abalou a interpretação bíblica da Criação.</p><p>Naquela época, as pessoas tinham a crença sacrossanta de que o</p><p>Paraíso, a Terra e a vida resultavamdos seis dias de trabalho de Deus</p><p>descritos na Gênese. A Igreja estava tão segura de seus conceitos que</p><p>anunciou a data exata em que a Terra foi concebida. Caso você esteja</p><p>pensando em comprar um cartão de aniversário para nossa querida Gaia, a</p><p>data instituída foi um domingo, 23 de outubro de 4004 a.C. James Ussher,</p><p>um bispo anglicano, determinou esta data calculando a linhagem de</p><p>gerações a partir do surgimento de Adão.3</p><p>Enquanto a maioria das pessoas da época aceitou cegamente a data da</p><p>Criação, os geólogos, seguindo o raciocínio de Lyell, calcularam que o</p><p>planeta Terra teria levado eras para se desenvolver, passando por diversos</p><p>cataclismos, que, em termos geológicos, resultaram em movimentos e ajustes</p><p>da crosta. Lyell concluiu que a disposição física dos continentes, oceanos e</p><p>montanhas vinha de modificações lentas e constantes efetuadas por forças</p><p>naturais como ventos, chuva, inundações, terremotos e vulcões.</p><p>O livro de Lyell continha quatro capítulos dedicados às teorias de</p><p>Lamarck, e também sugeriam</p><p>que a vida surgira através de uma longa e</p><p>lenta progressão, durante milhões de anos, e, neste período, muitos</p><p>organismos teriam entrado em extinção, o que explicaria os fósseis. Para</p><p>Lyell, a evolução da biosfera foi um complemento perfeito à evolução do</p><p>planeta físico.</p><p>Seu trabalho ajudou a abrir os olhos do público para uma nova forma de</p><p>ver as origens (ou a Criação do mundo).</p><p>Durante seus cinco anos de viagem, Darwin leu e releu o livro de Lyell</p><p>e passou a se corresponder com ele, considerando-o uma autoridade</p><p>científica de grande valor. Os conceitos de Lyell e Lamarck ajudaram</p><p>Darwin a concluir que a história da vida na Terra deveria ser atribuída,</p><p>assim como os fenômenos geológicos, a causas naturais.4</p><p>Ao publicar a segunda edição de sua Revista de Pesquisas, em 1845,</p><p>Darwin reconheceu formalmente a contribuição do trabalho de Lyell à</p><p>formulação de sua teoria da evolução. Dedicou a obra a Lyell, com a</p><p>seguinte explicação: “O mérito científico que este trabalho ou qualquer</p><p>outra publicação do autor venha a ter é derivado do estudo da admirável</p><p>obra ‘Princípios da Geologia’”.5</p><p>Em 2 de outubro de 1834, Darwin retornou à sua casa, em Londres.</p><p>Procurou Lyell, e os dois se tornaram grandes amigos. Lyell o incentivou a</p><p>prosseguir com seus estudos sobre a teoria da evolução. A partir das</p><p>conversas entre os dois, Darwin começou a escrever sua obra A</p><p>transmutação das espécies, cujo título vinha do termo cunhado por Lamarck</p><p>para se referir à evolução, em sua obra Philosophie Zoologique, de 1809.6</p><p>Então, enquanto Lamarck desenvolvia a base científica para o</p><p>entendimento da evolução biológica e Lyell estabelecia uma relação entre</p><p>esta e a evolução do planeta, Darwin se concentrava em descobrir o</p><p>funcionamento das forças ou mecanismos que iniciaram ou estimularam o</p><p>processo evolucionário. Seu foco era saber o motivo pelo qual novas espécies</p><p>surgiram. Sem respostas a esta questão, seu trabalho ficou estagnado</p><p>durante anos até que, ironicamente, encontrou inspiração na obra de</p><p>Malthus.7</p><p>Darwin escreveu em sua autobiografia: “Em outubro de 1838, após</p><p>quinze meses de busca, me deparei com a obra de Malthus sobre população.</p><p>Tendo estudado e observado a luta das espécies animais e vegetais pela</p><p>sobrevivência, logo concluí, ao ler aquele trabalho, que sob determinadas</p><p>circunstâncias algumas variações favoráveis tendem a ser preservadas e</p><p>outras destruídas”.8</p><p>Darwin, ao contrário de Malthus, que apontava o processo de seleção</p><p>como um meio de eliminar os elementos mais fracos de uma sociedade,</p><p>afirmou que o processo de seleção privilegiava sobrevivência dos indivíduos</p><p>mais fortes. Foi uma afirmação astuta e politicamente correta para a época,</p><p>tendo em vista que Darwin era um fidalgo da Inglaterra Vitoriana e dividia a</p><p>humanidade em classe superior e classe inferior. Em vez de atribuir o</p><p>processo de seleção à influência de uma classe inferior, enfatizou as</p><p>excelentes condições de reprodução e hereditariedade da classe alta (a qual</p><p>possuía “variações favoráveis”, sendo, portanto, mais resistente e adaptada</p><p>ao meio ambiente), considerando essas facilidades como impulsos à</p><p>evolução. No entanto, reiterou em seu trabalho o que Malthus chamou de</p><p>“processo de seleção da Natureza”, a eliminação dos elementos</p><p>desfavoráveis da sociedade, e cunhou o termo seleção natural.</p><p>A SOLUÇÃO INDELICADA DE DARWIN</p><p>Por volta de 1840, Darwin começou a desenvolver sua teoria, mas não</p><p>comentou suas conclusões com outros cientistas, nem mesmo com Charles</p><p>Lyell. Em 1844, escreveu ao famoso botânico Joseph Dalton Hooker, “parece</p><p>que a luz se fez. Estou quase convencido (em oposição às ideias nutridas</p><p>antes) de que as espécies não são (e isso é quase como confessar um</p><p>assassinato) imutáveis”.9 O assassinato a que ele se referia era o assassinato</p><p>de Deus. Caso se confirmasse a teoria de que as espécies se desenvolviam</p><p>por meio de um longo processo de transformação evolucionária, a</p><p>legitimidade da primeira parte da Bíblia, aquela na qual se define o</p><p>relacionamento entre Deus e a raça humana, seria invalidada. Também é</p><p>interessante observar que Darwin escreveu “estou quase convencido” de que</p><p>as espécies passam por mutação. Ao que tudo indica, nem ele acreditava</p><p>totalmente em evolução.</p><p>No mesmo ano, o jornalista escocês Robert Chambers publicou</p><p>anonimamente o livro Vestígios da História Natural da Criação, uma defesa da</p><p>evolução em detrimento do criacionismo. Apesar de controverso e rejeitado</p><p>pela sociedade vitoriana, o livro popularizou a noção de processo evolutivo,</p><p>abrindo caminho para Darwin publicar seu trabalho sem ter sua imagem</p><p>profissional abalada.</p><p>Ainda assim, demorou mais de uma década para publicá-lo, e só o fez</p><p>porque se sentiu motivado pelo trabalho de um colega. Em junho de 1858</p><p>Darwin recebeu uma encomenda que o levou a tomar uma atitude. A</p><p>encomenda fora enviada por Alfred Russel Wallace, naturalista inglês que</p><p>trabalhava em Bornéu. Wallace era um acadêmico tão brilhante quanto</p><p>Darwin, ou até mais, porém um autodidata proveniente da classe</p><p>trabalhadora. Para ganhar a vida, capturava espécimes e os vendia a museus,</p><p>zoológicos e colecionadores ricos. Com isso se tornou um grande naturalista.</p><p>Wallace enviou a Darwin uma cópia do manuscrito intitulado</p><p>“Tendência das variedades de vida de se afastar de suas espécies de origem”. Pedia</p><p>ao colega que revisasse o material e, caso o considerasse útil, enviasse a</p><p>Charles Lyell.10 O manuscrito descrevia a teoria da evolução segundo o</p><p>conceito de Wallace. Era um texto direto, elegante, acadêmico,</p><p>extremamente bem escrito e que poderia lhe conferir o título de “fundador</p><p>da teoria da evolução”, hoje atribuído a Darwin.</p><p>Indignado com a possibilidade de que um plebeu viesse a receber os</p><p>louros de uma descoberta tão importante, Darwin implorou a Lyell que o</p><p>ajudasse a manter a descoberta em seu nome. Em uma carta datada de 26 de</p><p>junho de 1858, escreveu: “É muito difícil para mim abrir mão desse título</p><p>após tantos anos de estudos...”</p><p>Lyell decidiu ajudar o amigo em desespero e, com a ajuda de Joseph</p><p>Hooker, outro amigo em comum, estabeleceu o que seria conhecido como</p><p>“solução delicada” para “uma das maiores conspirações dos anais da</p><p>ciência”.12</p><p>Lyell e Hooker escreveram uma carta na qual declaravam que Darwin e</p><p>Wallace se conheciam. E que “ambos os cavalheiros, sem que um tivesse</p><p>conhecimento do que o outro fazia, conceberam a mesma teoria... e</p><p>mereciam ser igualmente reconhecidos pela ideia original nessa importante</p><p>área de pesquisa”.13 A verdade é que Wallace havia desenvolvido e colocado</p><p>no papel a teoria, enquanto Darwin a tinha apenas em sua mente! Mas Lyell</p><p>usou de sua influência para fabricar, alterar e plagiar documentos e fazer</p><p>com que Darwin, o aristocrata, recebesse os méritos e as honras, e Wallace,</p><p>o plebeu, ficaria com um dúbio segundo lugar, meramente como alguém que</p><p>contribuiu com as pesquisas. A teoria da evolução, oficialmente divulgada</p><p>como teoria Darwin-Wallace, foi oficialmente apresentada pela instituição</p><p>Linnean Society of London em 1o de julho de 1858, um mês após Darwin</p><p>receber a correspondência com o manuscrito de Wallace.</p><p>Essa pequena trapaça pode parecer algo trivial quando se trata da</p><p>história da humanidade, mas podemos garantir que o incidente teve um</p><p>impacto profundo e nos atinge até hoje. O fato de Wallace ou Darwin</p><p>receberem crédito pela teoria é uma epítome evolucionária comparável</p><p>àquela relação entre um copo metade cheio ou metade vazio.</p><p>Sob a perspectiva de um plebeu, Wallace reconheceu que a evolução se</p><p>dava pela eliminação dos mais fracos, porém, no mundo darwiniano, as</p><p>pessoas lutam para adquirir o status de serem melhores do que as outras. Ou</p><p>seja, caso Wallace tivesse recebido o título de criador da teoria, o mundo de</p><p>hoje seria menos voltado à competição e mais para a cooperação.</p><p>Um ano depois do acordo, o nome de Alfred Russel Wallace já havia</p><p>sido esquecido e Darwin ganhou proeminência ao publicar sua obra prima,</p><p>A origem das espécies</p><p>através da seleção natural. O best seller popularizou os</p><p>conceitos de evolução e seleção natural a tal ponto que o mundo passou a</p><p>acreditar que somente os mais fortes sobrevivem.</p><p>O que mais chamava a atenção no livro era o subtítulo, que descrevia</p><p>muito bem o conceito do darwinismo como o conhecemos hoje. O título</p><p>completo é “A origem das espécies através da seleção natural, ou A preservação</p><p>das raças favorecidas na luta pela vida”. Devemos lembrar que Darwin era um</p><p>produto de sua época. Era radical o suficiente para se basear nas implicações</p><p>geológicas apresentadas por Lyell, e também aceitou, sem questionar, as</p><p>conclusões de Malthus, que hoje sabemos estarem erradas. O segredo</p><p>biológico do sucesso está, realmente, em se adaptar ao meio ambiente, mas,</p><p>segundo o conceito malthusiano, esta adaptação ocorreria através da luta</p><p>pelos recursos escassos.</p><p>O conceito de darwinismo social, termo cunhado pelo filósofo Herbert</p><p>Spencer (também conhecido pela frase “só os mais fortes sobrevivem”)</p><p>mostra bem as implicações da teoria darwinista, a qual incentiva o</p><p>melhoramento da humanidade por meio da purificação, referindo-se,</p><p>obviamente, à eliminação dos seres geneticamente inferiores e desfavoráveis.</p><p>Levada às últimas consequencias, a teoria darwinista se transformou na</p><p>sanção de Estado e missão científica do nazismo.</p><p>Em seus últimos anos de vida, Darwin se afastou do evolucionismo</p><p>acadêmico e, em vez de enfatizar a necessidade da sobrevivência e da luta,</p><p>mudou de foco e passou a concentrar sua atenção na evolução pela via do</p><p>amor, do altruísmo e das generosas raízes da bondade humana. Reconheceu</p><p>também o conceito lamarckiano, segundo o qual o ambiente como um todo</p><p>é a força geradora da evolução. No entanto, seus discípulos acreditavam que</p><p>suas novas ideias poderiam levar a revoltas e motins, colocando em risco</p><p>todos os esforços e o trabalho desenvolvido até então. Mantiveram a teoria</p><p>antiga, alegando que as novas ideias eram fruto de uma mente senil.</p><p>Dez anos após sua publicação, a teoria de Darwin já era aceita como</p><p>verdade pela maioria dos cientistas no mundo todo. Teve, porém, um</p><p>impacto muito maior na evolução da civilização humana do que se imagina,</p><p>porque preencheu uma lacuna que viria a mudar o paradigma basal de sua</p><p>época. Antes de A origem das espécies, o monoteísmo moldava as crenças da</p><p>civilização oriental, pois era a única fonte de verdade a oferecer respostas</p><p>satisfatórias às três questões primordiais da existência:</p><p>1. Como chegamos aqui?</p><p>2. Por que estamos aqui?</p><p>3. Agora que estamos aqui, como tirar o melhor proveito disso?</p><p>A ciência avançava a passos largos e fazia diminuir a cada dia o poder</p><p>da Igreja, mas não tinha como desbancar o monoteísmo como fonte “oficial”</p><p>da verdade até o momento em que oferecesse a resposta para a pergunta</p><p>número 2. Após anos de pesquisas, finalmente ela surgiu: “Estamos aqui</p><p>para evoluir”.</p><p>Na época em que A origem das espécies foi publicada, o população em</p><p>geral estava envolvida com o cultivo de plantas e criação de animais e sabia</p><p>das alterações hereditárias que influenciavam as características estruturais e</p><p>comportamentais das proles. Portanto, não demorou até aceitarem a ideia de</p><p>que a vida no planeta era originária de um ancestral primitivo, o qual</p><p>evoluíra em uma longa linhagem de variações de reprodução durante</p><p>milhares de anos. A teoria da evolução fazia todo o sentido, tanto para os</p><p>cientistas quanto para a população. Esta aceitação deu à ciência a</p><p>oportunidade de oferecer uma resposta satisfatória à questão primordial da</p><p>existência, a que trata das origens da vida; resposta bem mais aceitável do</p><p>que aquela oferecida pelo monoteísmo.</p><p>Como era de se esperar, a Igreja iniciou uma campanha agressiva para</p><p>combater a heresia dos ateus evolucionistas. O confronto antecipado entre</p><p>religião e ciência veio à tona em menos de sete meses após a publicação de</p><p>A origem das espécies. O confronto se deu durante uma reunião realizada pela</p><p>Associação Britânica para o Avanço da Ciência na Universidade de Oxford,</p><p>em junho de 1860. A reunião foi realizada para que dois trabalhos</p><p>acadêmicos baseados na nova teoria fossem apresentados para apreciação</p><p>pública.</p><p>Seguiu-se um debate agendado entre o bispo Samuel Wilberforce,</p><p>representando os criacionistas, e Thomas Huxley, amigo de Darwin e</p><p>defensor de sua tese.</p><p>Em uma época em que ainda não existiam filmes, rádio ou televisão, os</p><p>debates eram mais do que fonte de informação; eram uma atração para o</p><p>público. Os oponentes duelavam verbalmente até a morte metafórica,</p><p>atacando um ao outro com línguas afiadas, cheias de sátira, astúcia, cinismo</p><p>e muito drama. O Bispo Wilberforce, conhecido por sua destreza em</p><p>debates, era chamado de “Sam Sabão” em virtude de sua habilidade de</p><p>evasão dos ataques e capacidade de se colocar em vantagem no jogo</p><p>discursivo. Ele era realmente “escorregadio”.</p><p>Wilberforce não tinha comparecido àquele debate para falar sobre</p><p>evolução, mas para exorcizar o espírito maligno que a ideia suscitava da</p><p>mente das pessoas. Sua intenção era humilhar os evolucionistas e</p><p>restabelecer no público a crença no conceito de Criação imposto pela Igreja.</p><p>Não há registros de como o debate ocorreu, mas, aparentemente,</p><p>Wilberforce apresentou seu argumento com uma pergunta ardilosa,</p><p>tentando fazer Huxler parecer patético, qualquer que fosse sua resposta.</p><p>Uma versão desta pergunta envolvia a reverência vitoriana à linhagem</p><p>de família e ascendência materna: “Sr. Huxley, permita-me perguntar: é por</p><p>parte de mãe ou de pai a ascendência que se afirma partir dos macacos?”</p><p>Huxley, conhecido como “O buldogue de Darwin”, não desejava</p><p>participar do debate por medo de ter que enfrentar a retórica de “Sam</p><p>Sabão”. Mas acertou Wilberforce em cheio, com sua famosa resposta: “Vou</p><p>responder à sua pergunta, Senhor Bispo. Um macaco pode parecer uma</p><p>criatura rude, de pouca inteligência, que se abaixa no chão para catar as</p><p>migalhas que sobram de nossos alimentos ou da natureza. Mas para mim</p><p>seria mil vezes melhor descender de um macaco do que de um homem que</p><p>se prostitui, colocando sua inteligência e seus atributos a serviço do</p><p>preconceito e da falsidade”.14</p><p>A flecha de Huxley não apenas feriu os brios de Wilberforce, mas</p><p>também a primazia da Igreja. Em questão de minutos o debate se encerrou,</p><p>e, com ele, o paradigma do monoteísmo. Após quase dois mil anos</p><p>dominando e decidindo o futuro da humanidade, a Igreja foi finalmente</p><p>obrigada a passar o bastão do conhecimento e, portanto, o controle do</p><p>paradigma da civilização ocidental.</p><p>O futuro agora estava nas mãos do materialismo científico.</p><p>TRATA-SE DE UM MUNDO CÃO? NÃO!</p><p>Antes do século 18 a ciência enxergava a vida como um processo</p><p>harmônico, em um dos últimos vestígios da crença no animismo: o deísmo.</p><p>Mas no século de Darwin e nos anos que se seguiram após sua morte, a</p><p>figura da Natureza passou de mãe protetora a uma selva violenta.</p><p>Em boa parte, esta mudança de imagem se baseou em conclusões</p><p>errôneas, oriundas de observações tendenciosas e de distorções da ciência.</p><p>O que se observa como violência na Natureza é o resultado do</p><p>relacionamento entre predador e vítima, ou em disputas por território, ou</p><p>em disputas por alimento ou parcerias sexuais. Porém, com exceção da caça,</p><p>a violência raramente é fatal. Uma vez que se estabelece qual dos animais</p><p>em uma disputa por território é o dominante, o outro se afasta, ainda vivo.</p><p>Portanto, nosso mundo não é um mundo cão. Pode ser um mundo em que</p><p>cães matam gatos ou latem para outros cães, mas é certo que cães não</p><p>comem cães.</p><p>Nós somos parte da rede da vida, mas temos a sorte de estar no topo da</p><p>cadeia alimentar. Não temos mais predadores naturais. Porém, como os mais</p><p>diversos filósofos já afirmaram, nos tornamos predadores uns dos outros. Há</p><p>uma grande diferença entre a violência de caçar um cervo, processo natural</p><p>na rede da vida, e caçar o caçador de cervos, comportamento que se</p><p>encontra fora das leis e da moral inerentes à Natureza. Nossa</p><p>tendência e</p><p>preocupação constantes com a violência provêm de um erro de</p><p>interpretação das leis naturais.</p><p>Seja por acidente ou de modo proposital, o uso da brutalidade antecede</p><p>muito a teoria de Darwin, e sempre foi um sistema de baixo denominador</p><p>comum, no qual a força equivale à razão.</p><p>O darwinismo trouxe à humanidade uma justificativa científica para</p><p>atos desumanos, de abuso individual da força coletiva, especialmente</p><p>quando se trata de oprimir ou eliminar as massas de classes consideradas</p><p>inferiores.</p><p>Ao questionar o conceito religioso de moralidade e impor o conceito de</p><p>que os fins justificam os meios, o darwinismo atingiu os valores da Igreja. Em</p><p>uma mentalidade segundo a qual só os mais fortes sobrevivem, a maior</p><p>aptidão é manter ou aumentar a quantidade de descendentes ao longo das</p><p>gerações. Portanto, o objetivo darwinista é aumentar a saúde e a capacidade</p><p>de sobrevivência da prole. Mas o meio pelo qual esse objetivo deve ser</p><p>atingido, pela compaixão ou por meio de uma Uzi, é totalmente irrelevante.</p><p>A teoria de Darwin estimulou as “raças favorecidas” a se favorecer</p><p>ainda mais. E, pior ainda, deu permissão tácita a cada nação para</p><p>desenvolver sua “raça favorecida” às custa do restante da população. Assim,</p><p>a civilização ocidental passou das leis das Escrituras monoteístas às leis do</p><p>materialismo científico, ou seja, adotou a lei da selva. Com isso</p><p>desapareceram as regras morais. O mundo passou a ser visto como uma</p><p>grande batalha entre vencedores e perdedores.</p><p>Embora poucos tenham lido o trabalho de Darwin, a frase “só os mais</p><p>fortes sobrevivem” é bem conhecida. E também mal compreendida. Não se</p><p>trata de um conceito científico, mas de tautologia, que é o ato de definir</p><p>algo pomposamente. Por exemplo: segundo o dicionário, a palavra forte, em</p><p>termos biológicos, pode ter o sentido de “aquele mais apto a sobreviver”.</p><p>Quando os darwinistas invocam o mantra “sobrevivência dos mais fortes”,</p><p>queriam, na verdade, dizer “sobrevivência dos mais aptos para isso”.</p><p>Pode parecer um tanto estranho, mas quando se trata da psique</p><p>humana, repleta de imagens de leões perseguindo gazelas, a questão da</p><p>sobrevivência dos mais fortes adquire uma conotação de medo, adrenalina e</p><p>ameaça à existência.</p><p>No entanto, se observarmos a vida em uma selva, veremos que “a lei da</p><p>selva” não acontece da forma que imaginamos! Quando um leão persegue</p><p>uma gazela, ele não está preocupado em capturar aquela com a galhada</p><p>maior ou a mais bela do grupo, exibindo a caça em sua cova, como troféu.</p><p>Ele captura a menos forte, porque tem fome e deseja garantir sua refeição. A</p><p>lei da selva, na verdade, é a da não sobrevivência dos menos fortes.</p><p>Portanto, por definição, você não precisa ser o mais forte para continuar</p><p>vivo. Basta ter saúde relativamente boa. Outra forma de ver a questão é</p><p>considerar a porcentagem diária de gazelas que não são devoradas pelos</p><p>leões.</p><p>Uma lição evolucionária relativa à necessidade de não ser o mais fraco é</p><p>apresentada com bom humor nesta história de dois campistas em uma</p><p>floresta que acordam com um urso em seu acampamento. Um deles começa</p><p>a calçar os sapatos, e o outro pergunta: “Para que calçar os sapatos? Você</p><p>não vai conseguir correr mais do que o urso”. E o outro responde: “Não</p><p>preciso correr mais do que o urso. Só preciso correr mais do que você”.</p><p>A SOBREVIVÊNCIA DOS MAIS FORTES (OU MELHOR, DOS MAIS</p><p>ADAPTADOS)</p><p>À medida que a humanidade caminha e desenvolve uma visão cada vez</p><p>mais holística e equilibrada da vida, notamos como as regras da ciência</p><p>quântica se aplicam à teoria da evolução também.</p><p>Os estudos atuais mostram que a evolução ocorre dentro do contexto</p><p>do ambiente, e não de maneira isolada. O progresso da evolução pode ser</p><p>entendido como a constante busca de equilíbrio do ambiente. Por exemplo:</p><p>digamos que organismo #1 ingira um alimento X e defeque Y. À medida que</p><p>a população de organismos #1 aumenta, a fonte X diminui, mas o produto Y</p><p>cresce em volume. Embora a perda de X e o aumento de produção de Y</p><p>comecem a causar desequilíbrio no ambiente, a situação gera condições</p><p>propícias ao desenvolvimento de um novo organismo: o #2, que se alimenta</p><p>de Y e excreta Z. À medida que a população de #2 aumenta, os níveis de Y</p><p>retornam ao ponto de equilíbrio, porém há um aumento de Z. Isso gera</p><p>condições ao desenvolvimento de um organismo #3, que se alimenta de Z, e</p><p>assim por diante. Claro, é um exemplo simplificado, mas representa aquilo</p><p>que os teóricos nos mostram.</p><p>Em um artigo publicado em 1998, no jornal Nature, o cientista inglês</p><p>Timothy Lenton levantou importantes argumentos para a hipóteses de Gaia,</p><p>formulada pelo cientista, ambientalista e futurista James Lovelock.</p><p>Lovelock propõe que a Terra é uma entidade viva que utiliza a evolução</p><p>para regular seu complexo metabolismo. Lenton afirma que a temperatura</p><p>do Sol já se elevou em 25% desde que a vida na Terra se iniciou, há cerca de</p><p>3,8 bilhões de anos, mas nosso planeta conseguiu adaptar o clima e se</p><p>proteger do aumento de temperatura. Lenton sugere que as características</p><p>evolucionárias que beneficiam o sistema como um todo tendem a ser</p><p>reforçadas enquanto aquelas que o desestabilizam ou prejudicam são</p><p>refreadas.</p><p>Lenton conclui: “Se um organismo requer mutação que o faz se</p><p>comportar de maneira ‘anti-Gaia’, sua ação será restrita, porque ele será</p><p>considerado elemento de desvantagem evolucionária”.15 Aplicando esse</p><p>conceito à nossa situação, ele sugere que, caso não encontremos maneiras</p><p>de desenvolvimento em acordo e harmonia com o planeta, acabaremos</p><p>ficando sem casa.</p><p>O ainda não entendemos, aparentemente, é o conceito de</p><p>“sobrevivência do mais forte”. Os organismos que se adaptam melhor ao</p><p>ambiente, contribuindo para a harmonia global, sobrevivem, enquanto os</p><p>outros... bem...</p><p>A RESPOSTA ESTÁ DENTRO DE NÓS</p><p>Talvez o exemplo mais convincente da verdadeira natureza da vida,</p><p>aquele que nos mostra como superar o dilema malthusiano da escassez e</p><p>seguir rumo à nossa próxima evolução, esteja nas origens e no</p><p>desenvolvimento das formas de vida multicelular.</p><p>Por que e como trilhões de organismos unicelulares foram capazes de</p><p>unir forças para se tornar o que somos hoje?</p><p>Para responder a esta questão, precisamos nos lembrar que, durante os</p><p>primeiros 3,8 bilhões de anos neste planeta, as únicas formas de vida</p><p>existentes eram organismos unicelulares, como bactérias, algas, fungos e</p><p>protozoários.</p><p>Cerca de 700 milhões de anos atrás, as células começaram a se</p><p>transformar em primitivas colônias de organismos multicelulares. Ao trocar</p><p>informações, essas associações comunitárias passaram a ter mais consciência</p><p>do ambiente que as cercava e puderam melhorar a qualidade de vida de suas</p><p>células. Ou seja, a consciência do ambiente, medida da evolução, permite a</p><p>um organismo maior oportunidade de sobreviver de modo eficiente em um</p><p>mundo dinâmico. Dois podem viver bem usando os recursos que um só</p><p>usaria, pois unir forças é melhor do que lutar sozinho.</p><p>Nos primeiros estágios da evolução, todas as células dos organismos</p><p>coloniais tinham as mesmas funções. Mas chegou o momento em que o</p><p>número de células em um organismo era tão grande que não havia mais</p><p>vantagem nisso. Imagine, por exemplo, que ainda somos uma sociedade que</p><p>vive da caça, e, toda manhã, os milhões de pessoas de cada cidade saem para</p><p>caçar. É muito mais eficaz dividir as responsabilidades entre os membros da</p><p>tribo. Neste caso, os caçadores sairiam para caçar, enquanto outros ficariam</p><p>em casa cuidando de tarefas como cozinhar, cuidar das crianças, fazer a</p><p>manutenção das ferramentas e armas, assistir TV, etc.</p><p>Foi exatamente isso que aconteceu na evolução dos organismos</p><p>multicelulares. À medida que o número de células aumentou para centenas,</p><p>milhões e trilhões, elas começaram a executar tarefas específicas para</p><p>garantir a sobrevivência de todo o organismo. Os biólogos se referem a esta</p><p>divisão de trabalho como um processo de diferenciação. Com a evolução das</p><p>comunidades de células diferenciadas, começaram</p><p>a emergir as espécies, um</p><p>passo inimaginável para os organismos unicelulares que habitavam o planeta</p><p>nos primeiros 3,8 bilhões de anos de vida. A formação de comunidades</p><p>multicelulares foi, de certa maneira, um avanço no curso da evolução da</p><p>vida no planeta. Neste ponto ficamos tentados a imaginar se o organismo</p><p>humano de hoje é realmente o produto final e completo de sua evolução.</p><p>Mas a realidade é que somos o início do próximo e mais alto nível de</p><p>evolução, o super organismo chamado humanidade.</p><p>A noção de sobrevivência do mais forte tem sido aplicada à nossa</p><p>cultura individualista para indicar a sobrevivência dos indivíduos que</p><p>melhor se adaptam. Mas a triste verdade é que Gaia não está preocupada</p><p>em saber se nos adaptamos ou somos mais fortes. Sua preocupação é com o</p><p>impacto de toda a população sobre seu metabolismo global, o meio</p><p>ambiente. Independentemente de quantos Gandhis, Madres Teresas ou</p><p>Leonardos da Vinci venhamos a produzir, nossa espécie como um todo é que</p><p>é mensurada, não por sua capacidade de adaptação, mas por sua capacidade</p><p>de “colaborar com o ambiente”. Talvez nós, assim como nossos ancestrais,</p><p>tenhamos que deixar para trás nossa existência como células individuais e</p><p>evoluir como grande comunidade celular na qual os interesses pessoais e os</p><p>comunitários sejam um só.</p><p>EVOLUÇÃO: DO GENE EGOÍSTA AO GÊNIO ABNEGADO</p><p>A sociedade humana encara a competição como meio de sobrevivência,</p><p>vivendo em um mundo distorcido. A noção de competir distancia-se</p><p>daquela inscrita na etimologia grega, quando significava “lutar em</p><p>conjunto”. Para os gregos, significava que deveríamos utilizar a energia uns</p><p>dos outros para beneficiar a cada um de nós, e não para destruir nossos</p><p>oponentes ou tentar vencer a qualquer preço.</p><p>Embora exceder nossos próprios limites seja uma ambição digna, em</p><p>todos os concursos e jogos de nossa sociedade somos mais perdedores do que</p><p>vencedores. O filme Vamos todos dançar – documentário excelente sobre</p><p>formas de ensinar alunos indisciplinados e problemáticos a desenvolver</p><p>autoestima por meio da dança de salão – mostra os distúrbios causados pelo</p><p>conceito errôneo de competição. Apesar de todo o aprendizado, do prazer e</p><p>do crescimento obtidos na luta em conjunto para ganhar um concurso,</p><p>todos aqueles que não venceram acabaram em lágrimas por isso. Não faz</p><p>sentido.</p><p>A Enron, considerada pela revista Forbes e pelo Wall Street Journal como</p><p>“a empresa do futuro”, revelou-se uma das mais corruptas do mercado. O</p><p>darwinismo era o seu credo. O CEO Jeffrey Skilling referia-se sempre a seu</p><p>livro predileto, O gene egoísta, do cientista britânico Richard Dawkins,</p><p>chamando-o de sua Bíblia. E, bem ao estilo darwiniano, tinha orgulho em</p><p>renovar os funcionários da Enron com frequência, para melhorar a</p><p>qualidade da empresa. Era comum entrar em um departamento e anunciar</p><p>que demitiria nos três meses seguintes 10% dos que produziam menos. E</p><p>realmente demitia. A pressão do processo de seleção e de manutenção dos</p><p>cargos criava um clima de disputa tão acirrado dentro da empresa que</p><p>ninguém podia confiar em ninguém.</p><p>A noção deturpada de competição como forma de adaptação e</p><p>evolução foi adotada por completo dentro da empresa. Se tiver</p><p>oportunidade, assista ao filme Enron: os mais espertos da sala, que mostra os</p><p>investidores discutindo alegremente sobre como “deixar os velhinhos sem</p><p>pensão” ou contentes por ver que alguns incêndios em empresas ou imóveis</p><p>aumentavam o valor de suas ações, ou, ainda, celebrando o colapso da</p><p>economia de um Estado inteiro para tirar proveito das vítimas.16</p><p>Mas a alegria deles durou pouco. Com o mesmo estilo venenoso que</p><p>sempre foi prática na empresa, os maiores acionistas engoliram os menores,</p><p>quebrando a empresa e deixando os empregados sem salários, pensões ou</p><p>aposentadoria. A queda da Enron e a onda de destruição causada naquela</p><p>comunidade comercial darwiniana foi uma importante lição ao mercado,</p><p>ensinando que negócios que visam grandes lucros individuais e rápidos não</p><p>funcionam. Mas o pensamento equivocado do gene egoísta ainda persiste,</p><p>nos impedindo de enxergar em nós mesmos o nosso lado mais genial e</p><p>produtivo.</p><p>ESTAMOS JUNTOS NESSA</p><p>Talvez a mensagem mais importante da Física Quântica e das pesquisas</p><p>na área seja que tudo está relacionado. Nosso Universo não é hierárquico e</p><p>linear, mas interligado e fractal.</p><p>Mas o que significa fractal? Geometria fractal, conforme veremos, é o</p><p>ramo da matemática que descreve os padrões da Natureza. Quando se olha</p><p>para uma folha, um broto, um galho, uma árvore ou uma floresta, ou mesmo</p><p>para uma praia, é possível observar um padrão repetitivo, com diferentes</p><p>níveis de complexidade.</p><p>No mundo natural, esses padrões fractais similares se repetem em todos</p><p>os níveis de organização. Por esse motivo, nossas células, nosso eu e nossa</p><p>civilização precisam de oxigênio, de água e de alimentos para sobreviver. Por</p><p>que isso é importante? Porque tudo o que é bom para um é bom para todos,</p><p>e tudo que é prejudicial para um também é ruim para os outros. Parece</p><p>óbvio, mas, infelizmente, diante de toda interpretação equivocada acerca</p><p>das leis naturais, o que parece óbvio nem sempre é. A boa notícia é que as</p><p>consequências de nosso afastamento da Natureza começam a nos fazer</p><p>despertar para a realidade.</p><p>Notícias alarmantes sobre mudanças climáticas e extinção de espécies</p><p>nos mostram que nenhum indivíduo, independentemente de sua força,</p><p>saúde, capacidade de adaptação ou de quantas muralhas de segurança tenha</p><p>ao redor, consegue sobreviver se sua espécie sucumbir. O estudioso Arthur</p><p>Koestler cunhou o termo hólon para descrever a condição de se “ter parte”</p><p>ou “fazer parte” de algo.17 Humanos são hólons. Somos todos compostos de</p><p>partes (células, tecidos e órgãos). E também somos parte de algo maior.</p><p>Pertencemos a comunidades, nações e à humanidade. Podemos até mesmo</p><p>nos considerar células da Mãe Terra. A chave da sobrevivência está no</p><p>desenvolvimento do sistema como um todo: células saudáveis, humanos</p><p>saudáveis, planeta saudável. Ou seja: sem a Terra não existimos. No</p><p>entanto, o chamado imperativo biológico tem dois aspectos importantes: a</p><p>sobrevivência do organismo individual e a sobrevivência da espécie. A</p><p>sobrevivência da espécie é normalmente associada à reprodução. Mas</p><p>quando essa espécie é ameaçada, a reprodução deixa de fazer sentido. A</p><p>situação é tão alarmante que, se continuarmos a agir da maneira que</p><p>agimos, não haverá como manter a vida humana.</p><p>Isso significa que o novo imperativo biológico para a espécie humana</p><p>envolve necessariamente a compreensão de que estamos nessa situação</p><p>juntos, e o conceito deturpado de sobrevivência do mais forte deve dar lugar</p><p>ao “desenvolvimento de espécie que se adapta”. Precisamos ajustar as</p><p>atividades humanas a um sistema que permita a sobrevivência de todos.</p><p>Atingimos um nível de complexidade no planeta em que não é mais</p><p>sustentável haver 7 bilhões de células humanas operando</p><p>inconscientemente, usando sua energia para propósitos destrutivos.</p><p>Assim como aqueles organismos unicelulares que utilizaram a</p><p>consciência ambiental para se transformar em organismos mais complexos e</p><p>eficientes, a sociedade humana deve adotar um novo paradigma em termos</p><p>de relacionamento social e econômico. Paradoxalmente, esse novo nível de</p><p>consciência cooperativa significa liberdade total de expressão aos indivíduos</p><p>e benefício pleno para todos. Só a (aparentemente impossível) reconciliação</p><p>dos chamados “opostos” pode favorecer a criação da humanidade</p><p>emergente, a mesma humanidade que os mestres espirituais afirmam ser o</p><p>nosso destino.</p><p>C A P Í T U L O 7</p><p>Mito três: somos o produto de nossos</p><p>genes</p><p>“A má notícia é que não existe uma</p><p>chave para o Universo. A boa notícia é</p><p>que ninguém o deixou trancado.”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>DESCOBRIMOS A CHAVE DA VIDA – E ELA NÃO ABRIU A PORTA</p><p>DOS GRANDES SEGREDOS UNIVERSAIS</p><p>A missão da ciência moderna, como bem disse Francis Bacon, há mais</p><p>de 400 anos, é dominar e controlar a Natureza. Os</p><p>estudiosos tinham</p><p>certeza de que, se viéssemos a conhecer totalmente o mundo material, a</p><p>humanidade controlaria o ambiente. É natural que um sistema de crenças</p><p>materialista procure a chave para a vida humana apenas no mundo físico.</p><p>Mais especificamente, nos genes.</p><p>Em busca da grande chave, a ciência da genética assumiu a missão</p><p>impossível de identificar a estrutura e o comportamento das moléculas</p><p>físicas que controlam os corpos que habitamos. Uma vez ciente dos</p><p>mecanismos da hereditariedade biológica, a ciência estaria a um passo de</p><p>dominar a Natureza. A engenharia genética se desenvolveria cada vez mais</p><p>e seria possível controlar todas as formas existentes no planeta, inclusive</p><p>seres humanos.</p><p>No entanto, algo engraçado aconteceu nesse caminho de</p><p>descobrimento da chave da vida, trilhado mediante a certeza de que</p><p>somente a matéria física existe: o cosmos nos preparou uma piada de</p><p>proporções globais. Quando achamos que tínhamos a chave em nossas</p><p>mãos, tentamos abrir a grande porta do Universo... e a chave não</p><p>funcionou.</p><p>OS GENES SÃO A CHAVE?</p><p>Quando Darwin apresentou a teoria da evolução, baseada no conceito</p><p>de hereditariedade, a premissa de que as características eram passadas dos</p><p>indivíduos para sua prole fazia todo sentido para quem criava animais: tal</p><p>pai, tal filho. Como a visão newtoniana da época pregava a primazia da</p><p>matéria, nada mais natural que o segredo da vida estar nas próprias</p><p>moléculas do corpo.</p><p>Baseando-se nas informações disponíveis, Darwin propôs a hipótese de</p><p>que as partículas gêmulas, responsáveis por programar diversas</p><p>características físicas e comportamentais, estariam espalhadas por todo o</p><p>corpo. Durante o desenvolvimento, elas se aglutinariam nas células</p><p>germinativas (óvulos e esperma), o que lhes permitiria serem transmitidas à</p><p>geração seguinte.</p><p>Segundo a lógica materialista newtoniana, as células germinativas</p><p>possuem em suas moléculas certos fatores determinantes que controlam as</p><p>características dos organismos gerados por elas. Combinando esse conceito</p><p>com a noção básica darwinista de seleção natural (as características mais</p><p>resistentes tendem a ser mantenedoras da sobrevivência da espécie), os</p><p>geneticistas pós-darwinismo perceberam que havia um desafio em suas</p><p>mãos: descobrir quais elementos físicos continham traços hereditários,</p><p>descrever como eles atuariam em nível celular e utilizar essa informação</p><p>para projetar “humanos-modelo”.</p><p>Os geneticistas levaram quase cem anos de dedicação, esforços e</p><p>pesquisas para comprovar as especulações de Darwin em relação à</p><p>hereditariedade. O citologista alemão Walther Flemming deu o primeiro</p><p>passo, identificando, em 1882, os elementos materiais da hereditariedade.</p><p>Flemming era microscopista e foi o primeiro a descrever a mitose, processo</p><p>de divisão celular. Em seu estudo, enfatizou a importância reprodutiva dos</p><p>filamentos encontrados no núcleo das células. Seis anos mais tarde, em</p><p>1888, o anatomista Heinrich Waldeyer cunhou o termo cromossomo para</p><p>descrever esses filamentos.</p><p>Logo após a virada do século 19, o geneticista e embriologista Thomas</p><p>Hunt Morgan foi o primeiro cientista a descrever o raro evento conhecido</p><p>como mutação genética. Ele descobriu uma mosca de olhos brancos em suas</p><p>culturas de moscas drosófilas de olhos vermelhos. E ela era capaz de produzir</p><p>descendentes com a mesma característica. A partir da observação desta e de</p><p>outras moscas mutantes, Morgan deduziu que os fatores genéticos que</p><p>controlam os traços de hereditariedade são organizados nos cromossomos</p><p>em uma ordem precisa e linear.</p><p>Mais análises químicas revelaram que os cromossomos são compostos</p><p>por proteínas e ácido desoxirribonucleico (DNA). No entanto, a dúvida de</p><p>que a chave genética estivesse ou não na proteína de DNA permaneceu até</p><p>1944, quando os pesquisadores do Instituto Rockefeller, Oswald Avery,</p><p>Colin McLeod e Maclyn McCarty determinaram empiricamente que o</p><p>DNA era a molécula responsável pelas características hereditárias.1</p><p>A experiência foi, ao mesmo tempo, simples e refinada. Os</p><p>pesquisadores removeram os cromossomos da espécie #1 de bactéria e</p><p>separaram o DNA da proteína. Depois adicionaram a proteína</p><p>cromossômica isolada, ou o DNA cromossômico, nas culturas de bactéria da</p><p>espécie #2. Os resultados mostraram que, quando o DNA da espécie #1 foi</p><p>adicionado à cultura das espécies #2, elas começaram a apresentar</p><p>características da espécie #1. Já a adição de proteínas cromossômicas da</p><p>espécie #1 não alterou as características da espécie #2. Embora tenha sido</p><p>o primeiro estudo a identificar o DNA como molécula controladora da</p><p>hereditariedade, não foi capaz de elucidar a maneira como o processo</p><p>acontecia.</p><p>Curiosamente, os biólogos não estavam à frente das pesquisas para</p><p>descobrir o maior segredo da vida. Os primeiros passos nesse sentido vieram</p><p>dos grandes mecânicos da ciência: os físicos. O físico Erwin Shrodinger,</p><p>ganhador do Prêmio Nobel, apresentou em seu livro O que é a vida? a ideia</p><p>de que as informações genéticas poderiam, em tese, estar codificadas na</p><p>configuração das ligações intermoleculares no interior das moléculas</p><p>cristalinas.2</p><p>Tratava-se de um caminho bastante plausível para os biólogos seguirem</p><p>em sua busca dos elementos da gênese. Inspirados por essa proposição</p><p>mecanicista, o biólogo James D. Watson e o físico Francis Crick iniciaram</p><p>uma parceria que levaria a uma das descobertas mais importantes da história</p><p>da Biologia.</p><p>DETERMINISMO GENÉTICO: O DOGMA QUE NÃO QUER SER</p><p>ABATIDO</p><p>Em 1953, Watson e Crick mudaram o curso da história humana com a</p><p>publicação de seu artigo “Estrutura molecular dos ácidos nuclêicos”, no</p><p>respeitado jornal Nature. Trabalhando com cristalografia de raios-X, eles</p><p>descobriram que a molécula de DNA era um longo filamento linear</p><p>composto de quatro tipos diferentes de blocos estruturais moleculares,</p><p>chamados bases nucleotídicas: adenina, timina, guanina e citosina,</p><p>abreviadas como A, T, G e C. Descobriram também que os pares de</p><p>filamentos se organizam em espirais de duplas hélices. E o mais importante:</p><p>a sequência de bases de A, T, G e C ao longo da molécula de DNA</p><p>representa o código utilizado para sintetizar as moléculas de proteína do</p><p>corpo. Portanto, um gene representa uma extensão do código de DNA,</p><p>contendo as sequências nucleotídicas básicas necessárias à criação de uma</p><p>proteína específica. As moléculas de proteína são o material estrutural da</p><p>célula e, portanto, são responsáveis pelas características físicas e</p><p>comportamentais do organismo.</p><p>Baseado na natureza do mecanismo de codificação do DNA, Francis</p><p>Crick postulou o conceito conhecido como dogma da Biologia molecular.3</p><p>Esse dogma central, também chamado supremacia do DNA, definiu o fluxo</p><p>de informações nos sistemas biológicos. As sequências de base ATGC</p><p>representam dados (expressos na forma de genes) sobre a estrutura de uma</p><p>proteína. A célula efetua algo equivalente a uma cópia de um gene na forma</p><p>de outro tipo de ácido nucleico, denominado ácido ribonucleico (RNA). O</p><p>RNA é a molécula empregada para sintetizar a proteína por meio de seu</p><p>código. Consequentemente, a informação no DNA é transcrita para o RNA,</p><p>e a informação do RNA é traduzida para o formato de moléculas de</p><p>proteína. O dogma central de Crick levou ao mapeamento do fluxo de</p><p>informações da maior parte dos sistemas biológicos e à conclusão de que eles</p><p>são unidirecionais: do DNA para o RNA e para a proteína.</p><p>Como os padrões originais da estrutura proteica responsáveis pelas</p><p>características e comportamento se encontram no DNA, essa molécula foi</p><p>considerada o determinante de nosso caráter biológico. Daí se concluiu que,</p><p>de acordo com o dogma central, o DNA seria a causa primordial de nossa</p><p>condição de vida.</p><p>Segundo Watson e Crick, o segredo da vida se resumia a uma sucessão</p><p>molecular originada no núcleo da célula, a partir da ativação de</p><p>determinados genes específicos do DNA. Essa conclusão representou a</p><p>epítome do reducionismo biológico: a vida emana dos genes materiais.</p><p>Esse</p><p>Uma versão moderna desse mito é o filme O voo da Fênix, exemplo</p><p>épico de conflito, solução, desafios e mudança. A história se inicia quando</p><p>um grupo de exploração de petróleo sai de seu posto de trabalho no Deserto</p><p>do Saara. Encontram um homem que lhes pede carona, e todos partem em</p><p>um avião bimotor de carga. Mas o avião entra em pane e cai no meio do</p><p>deserto, enquanto um grupo de nômades assassinos segue a trilha dos</p><p>destroços e vai em direção a eles. Como acontece na vida real, inicia-se uma</p><p>luta de poder dentro do grupo. Quem vencerá: os mais fortes ou aqueles que</p><p>detêm o poder? No final, ninguém vence. As disputas se tornam tão intensas</p><p>que começam a colocar em risco a situação, já trágica, do grupo, e eles se</p><p>veem forçados a traçar um plano. Nesse instante, o estranho que pedira</p><p>carona diz que é engenheiro de aeronaves e apresenta uma ideia</p><p>aparentemente absurda: construir um pequeno avião com as peças do avião</p><p>destruído. Sem outra opção em vista, o grupo aceita a ideia maluca, e todos</p><p>se unem para realizar o que parece impossível. Ao final, em típico estilo</p><p>Hollywoodiano, o avião improvisado levanta voo em meio a rajadas de tiros</p><p>dos nômades, que já se aproximavam, e o grupo consegue escapar com</p><p>segurança.</p><p>A narrativa sobre uma estrutura em destruição de repente salva por</p><p>algo ou alguém é bastante conhecida e se repete o tempo todo em nossa</p><p>biosfera. A vida é um estado perpétuo de recriação.</p><p>DESTINO HUMANIFESTO</p><p>Se parece difícil imaginar que podemos sair da crise e ter um mundo</p><p>melhor e mais pacífico, vejamos a história de outro mundo em fase de</p><p>mudanças. Imagine que você é uma célula entre milhões de outras que</p><p>compõem o corpo de uma lagarta em desenvolvimento. A estrutura ao seu</p><p>redor funciona perfeitamente, como um relógio suíço, e, em seu mundo de</p><p>lagarta, tudo transcorre como o previsto. Mas, um dia, este mundo começa a</p><p>sacudir como se estivesse em um grande terremoto. O sistema todo parece</p><p>entrar em colapso. Células começam a se suicidar. A sensação é de morte e</p><p>de destruição. Porém, no meio da população que está morrendo, um novo</p><p>tipo de célula começa a surgir: as células imaginais (células ávidas por</p><p>mudanças, cujas mentes ativam a imaginação para materializar uma nova</p><p>realidade). Elas se reúnem e desenvolvem um plano de criação de uma</p><p>estrutura nova a partir do que restou da estrutura anterior. Então, das ruínas</p><p>surge uma grande máquina voadora, uma borboleta, que permite às células</p><p>sobreviventes escapar das cinzas e conhecer um mundo maravilhoso, muito</p><p>além da imaginação. E o mais interessante da história: a lagarta e a</p><p>borboleta têm exatamente o mesmo DNA. São o mesmo organismo, porém</p><p>recebem e respondem a sinais diferentes de organização.* Este é o ponto em</p><p>que nos encontramos hoje. O jornal e a televisão mostram as notícias e o dia</p><p>a dia do mundo da lagarta, mas em toda parte já se notam células humanas</p><p>imaginais despertando para uma nova realidade. Elas reúnem, se</p><p>comunicam e trocam um novo tipo de sinal de amor.</p><p>Quando dizemos amor, não estamos nos referindo àquele sentimento</p><p>pegajoso e piegas, mas a um grande aglutinador vibracional que ajudará a</p><p>construir a nova e maravilhosa máquina voadora da humanidade, ajudará a</p><p>manifestar nosso destino, ou melhor, a transformar em realidade nosso</p><p>“destino humanifesto”. Nós mesmos podemos ser algumas dessas células</p><p>imaginais que vieram para contribuir para o nascimento dessa nova versão</p><p>do mundo. Toda essa realidade pode não ser tão evidente ainda, mas o</p><p>futuro está em nossas mãos. E, para garantir que ele seja bom, o primeiro</p><p>passo é descobrir quem nós realmente somos. Se pudermos compreender a</p><p>maneira como nossa programação interna controla nossas vidas e</p><p>conseguirmos modificá-la, seremos capazes de reescrever nosso destino.</p><p>Evolução espontânea foi escrito para dar à humanidade a notícia de que</p><p>um maravilhoso milagre está prestes a ocorrer neste planeta, se estivermos</p><p>dispostos a aceitar a responsabilidade de cuidar de nosso grande Jardim, em</p><p>vez de simplesmente lutarmos contra as pragas que surgem nele. Quando</p><p>uma massa crítica, ou seja, um número maior de pessoas, começar a</p><p>acreditar na nova realidade, passará a viver nela, e o mundo será capaz de</p><p>emergir da escuridão e iniciar sua evolução espontânea.</p><p>Ao terminar a leitura deste livro, esperamos que você tenha uma ideia</p><p>mais clara sobre a questão da programação da mente, tenha aprendido a</p><p>conhecer melhor a si mesmo e esteja aberto a novas possibilidades. E o mais</p><p>importante: que esteja mais consciente de que todos podemos modificar</p><p>nossa programação e a de nossa civilização para criar o mundo com o qual</p><p>sempre sonhamos.</p><p>BRUCE H. LIPTON, PH.D., E STEVE BHAERMAN</p><p>* Nosso corpo também pode, por meio dos mesmos genes, se expressar de milhares de formas</p><p>diferentes dependendo das informações do meio que atingem nossas células. Com o final do Projeto</p><p>Genoma, descobriu-se que expressamos menos de 2% das informações de nosso DNA. Imagine o</p><p>potencial latente para diferentes manifestações... Isso será mais detalhado adiante, onde veremos</p><p>como surgiu a ideia do determinismo genético e a importância de não se prender a esse falso conceito.</p><p>P RÓ LOGO</p><p>Remissão Espontânea</p><p>“Tenho boas notícias. Haverá, finalmente, paz na Terra…</p><p>Só espero que os seres humanos estejam aqui para usufruir dela.”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>Parafraseando um revolucionário norte-americano chamado Tom Paine,</p><p>estamos em tempos de provações da alma. Problemas e disfunções mentais</p><p>se tornam algo cada vez mais comum. Antes, o conceito de viver em</p><p>sanidade significava se afastar da agitação dos grandes centros e ir para um</p><p>retiro nas montanhas ou para uma ilha deserta. Hoje não existe lugar</p><p>totalmente isolado ou seguro. Lixo tóxico se espalha pela água e polui</p><p>mesmo as praias mais distantes. O ar que respiramos e a água que bebemos</p><p>fazem parte de um frágil e interligado ecossistema. Mas o “egossistema”</p><p>humano não está preparado para lidar com as inconveniências da realidade.</p><p>Albert Einstein dizia que um problema não pode ser resolvido com o mesmo</p><p>padrão de raciocínio do momento em que ele foi criado. É uma verdade</p><p>incontestável, principalmente nos dia de hoje, quando a nossa noção de</p><p>realidade parece abalada. Jamais resolveremos nossos problemas se</p><p>continuarmos agindo conforme sempre agimos. Armas não trazem paz.</p><p>Presídios não diminuem índices de criminalidade. Medicina mais cara não</p><p>deixa as pessoas mais saudáveis. E doses maciças de informação não nos</p><p>tornam mais sábios. Para não manter o foco na crise em que vivemos, somos</p><p>convenientemente encorajados a viver distraídos entre informações e vícios</p><p>diversos, que nos tornam passivos e preocupados com detalhes</p><p>insignificantes. Mas a realidade não deixa de existir. Todos os</p><p>acontecimentos no mundo aparentemente se encaminham a uma inexorável</p><p>crise de proporções incalculáveis. Quem tem filhos e netos começa a se</p><p>preocupar com o tipo de mundo que deixará para eles.</p><p>O chamado Doomsday Clock (relógio do Juízo Final), mecanismo fictício</p><p>usado para medir o perigo de um holocausto nuclear, criado pelo Bulletin of</p><p>Atomic Scientists – grupo de cientistas norte-americanos – desde que a</p><p>primeira bomba atômica foi lançada, em 1945, foi ajustado, em 2007, para</p><p>23h55, bem próximo da meia-noite, que simboliza o fim do mundo. Foi a</p><p>medição mais pessimista desde 1953, quando a União Soviética explodiu a</p><p>primeira bomba de hidrogênio. Esse avanço nos ponteiros do fatídico relógio</p><p>reflete não apenas o perigo de uma guerra nuclear, mas também a ameaça à</p><p>nossa espécie por meio da deterioração da biosfera, dos oceanos e da</p><p>mudança do clima do planeta, algo que Martin Rees, presidente da Royal</p><p>Society, nos Estados Unidos, chama de “ameaça sem inimigos”. Mas o pior</p><p>inimigo de hoje é a mentalidade falsa, egoísta e obsoleta de instituições que</p><p>objetivam meramente o benefício próprio. As notícias de que o impacto do</p><p>aquecimento global se iniciou antes do que se esperava, aliadas à</p><p>intransigência</p><p>dogma se tornou um dos pilares da ciência moderna e influenciou</p><p>as pesquisas genéticas durante mais de 50 anos. A crença em um mundo</p><p>físico newtoniano convenceu os biólogos de que a vida e seus mecanismos</p><p>eram meramente resultado de interações materiais, à semelhança das peças</p><p>de um relógio em funcionamento. Assim, antes mesmo de Watson e Crick</p><p>nascerem, a ciência já havia concluído que um conjunto de moléculas físicas</p><p>controla a vida. A única questão a ser respondida era “quais moléculas</p><p>seriam essas?”. Quando Watson e Crick apresentaram os resultados de suas</p><p>pesquisas sobre o DNA, todos foram unânimes em afirmar: são as moléculas</p><p>de DNA que controlam a vida. O dogma central foi imediatamente aceito,</p><p>porque os cientistas já esperavam uma teoria desse tipo. O mais estranho,</p><p>porém, é que a hipótese foi aceita como verdade sem que sua validade fosse</p><p>questionada ou mesmo avaliada. É interessante e importante notar que</p><p>Crick se referiu à sua hipótese a respeito do percurso das informações</p><p>moleculares da proteína (DNA- RNA) como um dogma. Por definição, a</p><p>palavra dogma significa “crença baseada em persuasão religiosa e não em</p><p>fatos científicos”.</p><p>Ao adotar um dogma, transformando-o em base da biomedicina, o</p><p>materialismo científico acabou, ironicamente, utilizando parâmetros</p><p>religiosos em sua conduta! Agora, o de que o DNA podia ser o responsável</p><p>pelo controle da vida, deixava a ciência próxima do status da religião.</p><p>Porém, antes de percorrermos todos os hotéis do planeta substituindo a</p><p>Bíblia de cada quarto por um compêndio de Genética, vamos analisar a</p><p>questão da primazia do DNA. Ela é mesmo verdadeira?</p><p>Uma implicação primordial do dogma de Crick é que a informação</p><p>hereditária flui em uma direção única, do DNA para as proteínas (DNA-</p><p>RNA -Proteína), jamais se invertendo, o que significa, segundo Crick, que a</p><p>proteína não influenciaria a estrutura e a atividade do código DNA. Mas eis</p><p>a questão: o corpo que experimenta a vida é feito de proteína. Se as</p><p>proteínas não são capazes de enviar informações sobre as experiências da</p><p>vida de volta para o DNA, então o meio ambiente não poderia mudar o</p><p>destino genético. Isso quer dizer, de acordo com a teoria de Crick, que a</p><p>informação genética seria desconectada do meio ambiente.</p><p>O fluxo de informações proposto pelo dogma central consolidou a</p><p>noção do determinismo genético, conceito que influenciou a vida de todos</p><p>no planeta.</p><p>O determinismo genético é a crença de que os genes controlam todas as</p><p>nossas características (físicas, comportamentais e emocionais). Essa é a razão</p><p>pela qual pesquisamos características de família, e a ciência continua a</p><p>procurar os genes que as controlam. Em suma: é a crença de que nossos</p><p>destinos estão vinculados aos nossos genes e, haja vista que não podemos</p><p>modificá-los, somos meras vítimas da hereditariedade.</p><p>Com o passar do tempo, novas descobertas colocaram em jogo esses</p><p>conceitos.</p><p>Ao final dos anos 1960, o geneticista Howard Temin, da Universidade</p><p>de Winsconsin, estudava a maneira como os vírus de um tumor poderiam</p><p>controlar o código genético de uma célula infectada. O vírus com o qual ele</p><p>trabalhava continha apenas moléculas genéticas RNA. Por esse motivo,</p><p>quando Temin publicou seu trabalho, sugerindo que os dados do RNA</p><p>poderiam seguir um fluxo inverso e alterar o código DNA da célula, a</p><p>reação da comunidade científica foi de crítica e descrédito. Chegaram a</p><p>afirmar que sua tese era uma heresia. A conotação religiosa de heresia era a</p><p>prova de que o consideravam culpado por desafiar o dogma.4</p><p>Na época, ninguém parecia preparado para as profundas implicações da</p><p>descoberta de Temin, mas os cientistas acabaram percebendo que o vírus</p><p>HIV, que presumivelmente causava aids, utilizava o mesmo mecanismo</p><p>herético descoberto pela análise de Temin do RNA. Ele acabou ganhando o</p><p>Prêmio Nobel de Fisiologia, em 1975, por descobrir a transcriptase reversa,</p><p>enzima que copia a informação de RNA para o código DNA.</p><p>O trabalho desse estudioso desestabilizou o dogma central de Crick ao</p><p>provar que as informações hereditárias fluem em ambas as direções: o DNA</p><p>envia informações para o RNA, e o RNA pode enviar informações de volta</p><p>para o DNA. A implicação dessa evidência é que, pelo processo reverso, as</p><p>modificações hereditárias poderiam ser feitas pela influência ou pela</p><p>projeção do ambiente, e não somente por mutação acidental, como se</p><p>presumia.</p><p>Em 1990, mais um princípio do dogma central e do determinismo</p><p>genético foi derrubado. Como afirmou o biólogo H. Frederik Nijhout, da</p><p>Universidade de Duke, os genes não são “autoemergentes” e não “ligam e</p><p>desligam” sozinhos.5 O artigo de Nijhout enfatizava que os genes são simples</p><p>“plantas ou projetos de construção”, e o conceito de que uma planta é capaz</p><p>de ligar e desligar por si mesma é um absurdo. Imagine você num escritório</p><p>de arquitetura, olhando uma planta e se perguntando: “Esta planta está</p><p>ligada ou desligada?”. A pergunta correta seria: “Aquela planta está sendo</p><p>lida ou não?”*. Os genes não são capazes de ler a si mesmos, não são capazes</p><p>de ativar a própria expressão e não se atualizam sem nenhuma influência</p><p>externa. Bem, a próxima pergunta seria: “Quem ou o que faz a leitura de um</p><p>gene?”. Segundo Nijhout, “quando o produto de um gene é necessário, um</p><p>sinal do ambiente o ativa, e não uma propriedade do gene em si”. Em outras</p><p>palavras, os sinais do ambiente controlam a atividade dos genes.</p><p>Como foi mencionado, as ciências biomédicas tem sido filosoficamente</p><p>transformadas pela nova ciência do controle epigenético. O prefixo epi</p><p>significa “acima”, portanto a epigenética envolve o estudo de forças que</p><p>controlam os genes, descrevendo como a atividade destes e a expressão</p><p>celular são reguladas por informações provenientes do campo externo de</p><p>influência, não pelo material interno do DNA.</p><p>A inconveniente verdade de que os genes não controlam a própria</p><p>atividade e de que o fluxo das informações de hereditariedade não ocorre</p><p>em uma única direção, como propunha o dogma central, foi estabelecida há</p><p>mais de vinte anos. Apesar disso, os livros de ciência, a mídia e,</p><p>principalmente, a indústria farmacêutica continuam resistindo à mudança.</p><p>Continuam tentando convencer as pessoas de que os genes controlam suas</p><p>vidas. Ao que parece, se alimentamos um dogma ele se mantém vivo,</p><p>mesmo depois de se tornar obsoleto.</p><p>Embora a ciência tenha provado que o determinismo genético estava</p><p>incorreto, a mídia ainda o preserva. Todos os dias novos artigos anunciam a</p><p>descoberta de um novo gene que controla esta ou aquela característica dos</p><p>seres vivos. Muitas pessoas, ansiosas, correm para comprar os jornais e</p><p>revistas para conhecer as mais novas tecnologias de chips genéticos e de tudo</p><p>que possa revelar seus genomas individuais. O conceito de determinismo</p><p>genético ainda está tão ligado ao paradigma basal dominante que mesmo as</p><p>mais irrefutáveis provas científicas não conseguem romper esse vínculo.</p><p>O GENE EGOÍSTA</p><p>O sucesso do livro de Richard Dawkins, O gene egoísta, que não tem</p><p>nenhum fundamento científico, é um bom exemplo da popularidade do</p><p>dogma ultrapassado.6 A teoria de Dawkins de que os genes nos criaram para</p><p>alcançar abrigo, transporte e meio favorável à reprodução é, além de uma</p><p>paródia absurda de ficção científica – que utiliza a lógica para criar uma</p><p>conclusão ilógica, ao relegar organismos à condição de meros veículos</p><p>bioquímicos dos genes (uma apropriação distorcida do reducionismo).</p><p>Segundo ele, os genes poderiam viver por várias gerações, enquanto os</p><p>humanos têm apenas o tempo de uma vida. Os genes seriam motoristas, e</p><p>nós seríamos somente uma espécie de carro, trocado a cada 50 mil</p><p>quilômetros ou 120 anos, o que houver primeiro. A ideia de Dawkins lembra</p><p>aquela velha história de que a galinha foi uma maneira encontrada pelo ovo</p><p>para fabricar mais ovos. Mas por que o nome “gene egoísta”? Porque,</p><p>segundo Dawkins, os genes teriam a mesma ânsia de sobrevivência que nós</p><p>e fariam de tudo para garantir a própria</p><p>existência, sem se importarem com</p><p>o organismo ou mesmo com toda a raça de indivíduos que serviria a eles</p><p>como abrigo. As adaptações evolucionárias que acontecem a cada nova</p><p>geração, dentro dessa teoria, não tem o objetivo de garantir a sobrevivência</p><p>do organismo, mas sim a necessidade de renovação do poder gerador dos</p><p>próprios genes. Ainda que venham a prejudicar o organismo, isso pouco</p><p>importa para os genes egoístas que o habitam.</p><p>Como o dogma central estipula que tudo emana dos genes, as palavras</p><p>de Dawkins fazem todo sentido (por mais maluca que a ideia seja): “Já</p><p>nascemos egoístas”.7 Ele também afirma que a seleção natural favorece</p><p>aqueles que trapaceiam, mentem, enganam e exploram.</p><p>Portanto, os genes que fazem com que crianças se comportem de</p><p>maneira imoral ou amoral têm uma vantagem sobre os demais. Segundo ele,</p><p>o altruísmo não é positivo, pois interfere na seleção natural. O mesmo vale</p><p>para ações como a adoção de crianças, algo que ele considera ir “contra os</p><p>instintos e os interesses de nossos genes egoístas”.</p><p>Felizmente, poucas pessoas aderiram a pontos de vista extremistas e</p><p>materialistas como os de Dawkins. O caso da Enron, por exemplo,</p><p>representou para ele uma justificativa científica e racional para a aplicação</p><p>do excesso de darwinismo governamental, social, comercial e industrial.</p><p>Dawkins se declara ateu. Afirma não existir Deus ou qualquer ser humano</p><p>caridoso. Diferente de outros, que não acreditam em um Deus, porém são</p><p>humanistas, ele descarta a relevância de qualquer entidade que não se</p><p>revele puramente determinista, materialista e absolutamente egocêntrica.</p><p>Se, de acordo com suas ideias, sobreviver equivale a ser bem sucedido, é</p><p>válido afirmar que um câncer metastático é um bom exemplo de sucesso.</p><p>Até, é claro, ele matar seu hospedeiro. Porém, se acreditarmos em um</p><p>destino controlado pelo DNA, concordaremos que os genes egoístas</p><p>causadores do câncer já garantiram a própria sobrevivência, se instalando na</p><p>linhagem genética. O fatal e canceroso destino será transmitido aos</p><p>descendentes da vítima, confirmando mais uma vez a versão trágica do</p><p>determinismo genético.</p><p>Do ponto de vista ambiental, até podemos dizer que a existência</p><p>humana se assemelha bastante à do câncer, pois nos reproduzimos e nos</p><p>aproveitamos de todos os recursos disponíveis, sem nos preocuparmos com o</p><p>meio ambiente. E agora que descobrimos as viagens espaciais, nos</p><p>preparamos para sobreviver infectando outros sistemas planetários,</p><p>deixando nossa querida e moribunda Terra para trás.</p><p>O GENOMA HUMANO</p><p>Os efeitos da consideração materialista de que os genes seriam a</p><p>explicação da nossa origem nos levaram a um dos projetos científicos mais</p><p>ambiciosos da história da Biologia (e um dos seus maiores fracassos): o</p><p>Projeto Genoma Humano.</p><p>O Projeto Genoma Humano (PGH) foi lançado em 1990, inicialmente</p><p>sob a orientação de James Watson, que dirigia o projeto, representando o</p><p>Instituto Nacional de Saúde Norte-Americano (NIH), agência do</p><p>Departamento Norte-Americano de Saúde e Serviços Humanos. A imagem,</p><p>ao menos na mente do público, era de que se tratava de um projeto altruísta</p><p>com três objetivos principais: identificar a base genética de todas as</p><p>características humanas (positivas e negativas); criar uma base de dados e</p><p>ferramentas para uma análise de dados a compartilhar com a indústria</p><p>bioquímica e o setor privado; promover o desenvolvimento de novas</p><p>aplicações médicas no mundo todo.8</p><p>O raciocínio era o seguinte: se havia, provavelmente, mais de 100 mil</p><p>proteínas no corpo humano e um código genético como construtor de cada</p><p>uma, seria necessário haver, no mínimo, a mesma quantidade de genes</p><p>humanos, correto? Os organizadores do projeto acreditavam que, a partir da</p><p>criação de um compêndio de todos esses genes, utilizariam as informações</p><p>para tornar realidade uma utopia.</p><p>A verdade, para a alegria de Richard Dawkins, é que, por trás dos</p><p>aparentes objetivos humanitários, existia um motivo maior para o projeto.</p><p>Os cientistas genéticos haviam convencido alguns capitalistas de que</p><p>identificar os 100 mil genes geraria uma imensa fortuna. Patentear a</p><p>sequência da base nucleotídica de cada um deles e vender a informação às</p><p>grandes empresas farmacêuticas, incentivando o descobrimento de novos</p><p>medicamentos, seria um investimento de proporções fenomenais.</p><p>Porém, mais uma vez a Natureza, com toda a sua sabedoria, pregou uma</p><p>peça naqueles que acreditavam poder utilizar seus segredos para enriquecer.</p><p>Baseados na hipótese (não correta) de que os genes seriam responsáveis</p><p>por todas as características de um organismo, os líderes do projeto</p><p>esperavam que organismos mais complexos apresentassem um número maior</p><p>de genes. E iniciaram as pesquisas, no princípio identificando os genes de</p><p>organismos mais simples, já utilizados em pesquisas genéticas.</p><p>Descobriram, então, que as bactérias, os organismos mais primitivos da</p><p>Natureza, têm entre 3 mil e 5 mil genes. Partiram para o estudo de um</p><p>verme quase invisível, mas de nome comprido, o Caenorhabditis elegans, com</p><p>apenas 1.271 células e cerca de 23 mil genes.</p><p>Tudo bem até aí.</p><p>Continuaram em escala crescente, estudando a mosca das frutas. Para</p><p>sua surpresa, descobriram que ela contava com apenas 18 mil genes. Não fez</p><p>sentido. Como um organismo consideravelmente mais complexo, como o de</p><p>uma mosca, poderia ter menos genes do que um simples verme?</p><p>Porém, sem se deixar abater, eles iniciaram o Projeto Genoma Humano.</p><p>Quando a avaliação ficou pronta, os resultados foram tão impressionantes</p><p>que ninguém conseguia acreditar. Nós, seres biologicamente tão complexos,</p><p>com nossos 50 trilhões de células, temos pouco mais de 23 mil genes,</p><p>praticamente a mesma quantidade de um simples verme.9</p><p>Os resultados do projeto foram revelados em 2003, e o evento foi</p><p>considerado, apesar de tudo, um dos maiores feitos da humanidade. Mas o</p><p>fato de não existirem os esperados 100 mil genes levou a uma grande onda</p><p>de cortes nas empresas de bioengenharia envolvidas na pesquisa, a Celera e</p><p>a Human Genome Sciences, incluindo a de seus CEOs.</p><p>O Dr. Paul Silverman, pioneiro nas investigações do genoma e de</p><p>células-tronco e um dos principais defensores e arquitetos do estudo,</p><p>respondeu aos resultados concluindo que a ciência precisava repensar a</p><p>noção de determinismo genético. Até que enfim! Segundo ele, “o processo</p><p>de codificação das células dependeria, em grande parte, de estímulos</p><p>extracelulares que estimulariam os processos de tradução do DNA</p><p>nuclear”.10 Traduzindo: “O ambiente faz tudo, sua besta”.11</p><p>Apesar do fracasso do Projeto Genoma Humano em encontrar 100 mil</p><p>genes e da descoberta de que os genes não eram autoemergentes, o público</p><p>continua a acreditar em determinismo genético. A metáfora do código</p><p>genético continua a ser aceita sem questionamento, e ninguém parece se</p><p>preocupar nem mesmo com as questões mais pertinentes: “Quem é o</p><p>verdadeiro empreiteiro?” ou “De onde veio o primeiro gene egoísta?” e</p><p>“Quem ou o que o programou para ser assim?”</p><p>BABUÍNOS E BONOBOS</p><p>Quando se trata de percepções equivocadas, a sabedoria convencional</p><p>disseminou não apenas a ideia de que as pessoas são controladas pelo DNA,</p><p>mas também que o egoísmo, a violência e a agressão resultam da</p><p>programação imutável a que fomos submetidos. Esse tipo de pensamento</p><p>convenceu a humanidade de que a brutalidade que destrói nossa civilização</p><p>não pode ser evitada, porque está no código de nosso genoma. Afinal, somos</p><p>apenas macacos pelados, certo?</p><p>Não.</p><p>Dois estudos instigantes abalaram a noção convencional sobre a</p><p>natureza humana. Em 1983, Robert Sapolsky, primatologista norte-</p><p>americano, estudava há cinco anos os babuínos na Reserva Masai Mara, no</p><p>Quênia, quando um desastre ocorreu. Uma onda de tuberculose matou a</p><p>metade dos machos do grupo. Um depósito de lixo contaminado foi a fonte</p><p>do contágio. E morreram justamente os machos mais agressivos e</p><p>dominantes, que poderiam competir com mais facilidade pelos alimentos.12</p><p>Sapolsky decidiu abandonar</p><p>aquele grupo e estudar outro que tivesse</p><p>um número mais equilibrado de machos e fêmeas. Dez anos depois, retornou</p><p>ao local e ficou surpreso ao ver que todos os machos restantes daquela época</p><p>tinham desaparecido, e a nova cultura era radicalmente diferente. Os mais</p><p>velhos não maltratavam os menores e mexiam somente com aqueles do seu</p><p>tamanho. E também não atacavam as fêmeas, como seus predecessores.</p><p>Em seus primeiros estudos, dez anos antes, Sapolsky descobrira no</p><p>grupo altos níveis de hormônios chamados glucocorticoides, responsáveis</p><p>pelo instinto de luta ou fuga liberados em resposta à competitividade e</p><p>agressão.</p><p>No entanto, os estudos dos machos dessa nova geração revelaram que</p><p>eles expressavam bem menos sinais de estresse fisiológico e apresentavam</p><p>níveis significativamente menores de glucocorticoides.13</p><p>Como surgiu essa nova cultura, mais pacífica? Sapolsky suspeitou que,</p><p>com a morte dos machos-líderes, mais velhos, o grupo passou a ser liderado</p><p>pelas fêmeas mais velhas, que disseminaram entre os machos mais jovens</p><p>uma cultura diferente, provavelmente selecionando os de menor</p><p>agressividade e estresse. O primatologista observa atentamente o grupo para</p><p>ver se a invasão ou a migração de babuínos machos irá desfazer esse delicado</p><p>equilíbrio cultural, mas até o momento ele se mantém intacto.</p><p>Independentemente do tipo de genes egoístas que esses primatas</p><p>tenham herdado, a mudança no ambiente iniciou uma modificação na</p><p>cultura, mudança que acabou persistindo, talvez por apresentar um nível</p><p>maior de funcionalidade.</p><p>Um caso ainda mais interessante envolve os bonobos, também</p><p>conhecidos como chimpanzés-anões, considerados nossos parentes primatas</p><p>mais próximos. Enquanto outras espécies de chimpanzés vivem em</p><p>sociedades nas quais os machos dominantes maltratam os mais novos e</p><p>batem nas fêmeas, os bonobos dão um belo exemplo de “faça amor, não faça</p><p>guerra”. Ao se deparar com um possível conflito, os bonobos iniciam uma</p><p>atividade sexual, pois ela libera tensões e reforça a segurança e a amizade.</p><p>Embora a sexualidade entre machos e fêmeas seja a mais comum, a</p><p>atividade polimorfa e poliamorosa também ocorre. Enquanto os chimpanzés</p><p>machos literalmente se beijam e fazem as pazes após a luta, os bonobos se</p><p>beijam antes e evitam que ela ocorra. Um aspecto curioso, no entanto, é que</p><p>apesar de os bonobos terem uma atividade sexual muito mais intensa que</p><p>seus primos chimpanzés, sua taxa de natalidade se mantém estável.</p><p>A conexão entre os machos chimpanzés e as fêmeas bonobo também é</p><p>um fator interessante. Em ambas as espécies, as fêmeas adolescentes migram</p><p>para um novo grupo. As fêmeas bonobo são imediatamente recebidas por</p><p>uma ou mais fêmeas mais velhas com quem passam a esfregar a genitália, um</p><p>comportamento que estabelece vínculos duradouros entre elas e as encoraja</p><p>a se unir para evitar maus tratos por parte dos machos. Já nos grupos de</p><p>chimpanzés, o vínculo se estabelece com mais frequência entre os machos,</p><p>que se unem para conspirar contra as fêmeas, normalmente menores em</p><p>tamanho do que eles. Nos grupos de bonobos, machos e fêmeas têm</p><p>aproximadamente o mesmo tamanho, um fator que pode ter influência em</p><p>sua equidade entre os sexos.</p><p>No entanto, os cientistas que estudam os bonobos acreditam que</p><p>fatores ambientais tenham mantido intacto este Jardim do Éden</p><p>comportamental. Segundo o fisiologista e primatologista holandês Frans de</p><p>Waal, autor de Bonobo: o macaco esquecido, eles jamais saíram da proteção da</p><p>floresta.14</p><p>Assim como outros chimpanzés, são onívoros que caçam e matam</p><p>pequenos animais. Mas, diferente deles, são abençoados com o que outro</p><p>pesquisador, Gottfried Hohmann, chamou de “barrinhas nutricionais</p><p>bonobo”. Em seu habitat natural, esses animais encontram em abundância</p><p>uma erva chamada haumania liebrechtsiana, planta rica em proteína que</p><p>desafiou todos os conceitos de Malthus, resistindo centenas de anos a</p><p>gerações inteiras de bonobos famintos.15</p><p>A maioria dos chimpanzés precisa lutar muito para garantir sua</p><p>alimentação, pois a vegetação da maioria das florestas possui tanino e outras</p><p>substâncias tóxicas presentes na Natureza para evitar que as plantas sejam</p><p>devoradas até a extinção. Os bonobos, por sua vez, vivendo em um</p><p>ambiente pleno de barras nutricionais, não precisam perder tempo</p><p>procurando alimentos ou lutando pela sobrevivência.</p><p>O que os humanos podem aprender com eles? Bem, a ideia de fazer</p><p>amor diante de ameaças de conflito é instigante. Certamente, mudaria</p><p>nossas salas de tribunal e até nossos estádios! Mas a verdadeira lição a ser</p><p>aprendida é: quando há abundância de recursos, há menos necessidade de</p><p>luta. E quando há menos luta, os recursos se tornam mais abundantes.</p><p>Isso é muito importante em um mundo que gasta mais de um trilhão de</p><p>dólares por ano em armamentos em vez de arados. Conforme analisaremos,</p><p>quando os recursos são utilizados para o crescimento em vez de defesa, o</p><p>resultado é um aumento exponencial em termos de saúde e prosperidade,</p><p>tanto na sociedade quanto dentro de nosso corpo.</p><p>Outras perguntas que devemos nos fazer são: se os pacíficos bonobos</p><p>podem viver com abundância e equilíbrio, e até um grupo de babuínos</p><p>percebe que a paz pode ser mais interessante do que o conflito, o que nós,</p><p>humanos, dotados de tanta consciência e com tantos recursos à disposição,</p><p>não podemos fazer? Vamos passar o resto da eternidade acreditando que não</p><p>temos poder, negando nossa responsabilidade e jogando a culpa de nossos</p><p>erros no mundo ou nos genes egoístas? Ou vamos usar nossa capacidade de</p><p>maneira inteligente?</p><p>Seria muito triste tanto para os criacionistas quanto para os</p><p>evolucionistas ver nossos parentes primatas nos ultrapassarem em termos de</p><p>evolução!</p><p>NÃO É O CARMA, É O MOTORISTA</p><p>Parece que a cada semana surge um artigo de jornal ou revista a</p><p>respeito de alguma nova pesquisa acerca de doenças supostamente</p><p>associadas a falhas genéticas. O conceito de que existe o gene do câncer, o</p><p>gene do Alzheimer e o gene do Parkinson sustenta a obstinada crença de</p><p>que o código genético determina nosso futuro. Porém, ao estudar melhor o</p><p>assunto, percebemos que apenas uma pequena porcentagem das doenças</p><p>pode ser atribuída a anomalias genéticas. Apesar de toda a luta dos</p><p>pesquisadores do câncer para encontrar uma fórmula mágica no âmbito</p><p>genético, o Instituto Nacional Norte-Americano confirma a informação de</p><p>que pelo menos 60% de todas as formas de câncer têm origem no</p><p>ambiente.16</p><p>Estudando o assunto ainda mais profundamente, notamos que, mesmo</p><p>quando há correlação entre fatores ambientais e doenças, poucos indivíduos</p><p>expostos a esses fatores chegam a contraí-las. Uma pesquisa realizada há</p><p>alguns anos mostra que, apenas uma em cada mil pessoas expostas a</p><p>amianto contrai mesotelioma, forma fatal de câncer. Embora seja uma taxa</p><p>alarmantemente alta se consideramos a população em geral, convém</p><p>perguntar: e quanto às pessoas restantes, aquelas que não desenvolvem a</p><p>doença? O que elas fazem (ou não fazem) para se manter saudáveis? Que</p><p>outros fatores estão envolvidos na manifestação de uma doença?</p><p>A medicina moderna, por incrível que pareça, não demonstra qualquer</p><p>interesse pelas características invisíveis das doenças e da cura. Graças a 300</p><p>anos de programação e dos efeitos do dogma central sobre a medicina</p><p>moderna, hoje nos vemos como veículos robóticos bioquímicos. Quando</p><p>sentimos algo estranho e começamos a ter sintomas, corremos para o</p><p>mecânico médico, que nos pede para pôr a língua para fora e dizer “aaa”,</p><p>depois olha sob o capô para identificar o problema no motor.</p><p>Como afirma Fritjof Capra em seu livro O ponto de mutação, a prática da</p><p>mecânica médica geralmente se restringe a três “R”s (reparo, reposição ou</p><p>remoção).17 Na verdade, a história da biomedicina e da medicina modernas</p><p>se resume a uma metáfora de mecânica. Desde que Descartes proclamou</p><p>que o corpo é uma máquina, a ponto de afirmar que os animais não sofrem</p><p>durante experimentos de vivisseção, comparando seus gritos a um</p><p>“ranger</p><p>de rodas”, temos vivido sob o jugo daqueles que acreditam que a medicina</p><p>tem mais a ver com as peças do que com o mecanismo como um todo.</p><p>Enquanto a medicina chinesa milenar considera o coração como</p><p>morada da alma e a tradição Ayurveda o define como o mediador do Céu e</p><p>da Terra, a medicina moderna se satisfaz com a arcaica acepção do</p><p>proeminente médico da Renascença, William Harvey, segundo a qual o</p><p>coração é uma bomba mecânica de pressão. Filósofos do século 20, como o</p><p>bioquímico inglês Joseph Needham, que afirmou que “o homem é</p><p>meramente uma máquina”, e o médico e biólogo alemão Jacques Loeb,</p><p>segundo o qual “organismos vivos são máquinas químicas”, reforçaram a</p><p>percepção do corpo como um simples mecanismo.18</p><p>A ciência da epigenética, por sua vez, reconhece que o ambiente, e não</p><p>o DNA, é que determina as ações da célula. As informações do ambiente</p><p>são traduzidas em respostas biológicas por meio da ação da membrana, que</p><p>faz ao mesmo tempo o papel de pele e de cérebro.19 O mais interessante é</p><p>que a membrana da célula é como um “semicondutor de cristal com portas e</p><p>canais”. E essa é precisamente a definição de um chip de computador, o que</p><p>nos faz pensar que as células podem ser programadas, da mesma forma que</p><p>os computadores. E que rufem os tambores... os programadores são seres que</p><p>estão fora do mecanismo! Quem seria, então, esse programador biológico?</p><p>Quem ou o que seria o gênio por trás dos genes? Talvez não se trate de uma</p><p>questão de carma, talvez seja uma questão de motorista.</p><p>Digamos que você vende um carro com câmbio manual, e o comprador</p><p>é alguém que sempre esteve acostumado com câmbios automáticos. Ele leva</p><p>o carro e você percebe que ele sai aos trancos pela rua. Uma semana depois</p><p>o sujeito telefona reclamando de problemas na embreagem do automóvel.</p><p>Você sugere ao homem levar o veículo a um “médico”, ou seja, a um</p><p>mecânico, para avaliação. O mecânico confirma o problema na embreagem</p><p>e diz ser necessária uma cirurgia (a troca da embreagem). A operação</p><p>transcorre sem problemas, e o comprador do carro o leva para casa,</p><p>dirigindo mais uma vez aos trancos e barrancos. Resultado: alguns dias</p><p>depois retorna à oficina com a reclamação de que a nova embreagem</p><p>também não funciona direito!</p><p>O mecânico examina tudo e diz: “Hmm, parece que temos aqui uma</p><p>DCE, uma Disfunção Crônica de Embreagem”. E se oferece para fazer uma</p><p>regulagem a cada dois meses. O mecânico ignorava a falta de habilidade do</p><p>motorista e atribuiu o problema a um defeito no carro!</p><p>É assim que a medicina alopática vê as doenças: a expressão de um</p><p>defeito físico inerente ao corpo, provavelmente causado por uma mutação</p><p>genética. O diagnóstico ignora o papel do motorista do corpo, a nossa</p><p>mente.</p><p>Cada departamento de trânsito no mundo tem centenas de registros de</p><p>acidentes de automóvel. No formulário do boletim de ocorrência é preciso</p><p>indicar se o problema foi falha mecânica ou imperícia do motorista. Qual</p><p>você imagina que seja a porcentagem? Sim, em 95 % dos casos o problema é</p><p>do condutor.</p><p>Utilizando ainda a metáfora automobilística, não seria uma boa ideia</p><p>oferecer aulas de direção a todos aqueles que “dirigem o próprio carma”?</p><p>Talvez um sistema mais organizado de controle do trânsito, cujo foco fosse a</p><p>educação do motorista e não as estatísticas, pudesse evitar inúmeros</p><p>acidentes.</p><p>Quais seriam, nesse contexto, as implicações de uma remissão</p><p>planetária espontânea? Seria algo simples assim: nós perceberíamos que</p><p>temos muito mais responsabilidade (e habilidade de responder por nossos</p><p>atos) do que imaginamos. O programador do campo, o gênio por trás dos</p><p>genes, é a nossa mente. Em outras palavras, nossos pensamentos e nossas</p><p>crenças.</p><p>Para ilustrar a extensão desse poder invisível à disposição, veja a</p><p>seguinte história. Em 1952, o Dr. Albert Mason, um jovem anestesista da</p><p>Grã-Bretanha, trabalhava com um cirurgião, Dr. Moore, no caso de um</p><p>garoto de 15 anos com a pele praticamente coberta de verrugas, o que a</p><p>deixava com aparência da pele de um elefante. A ideia de Moore era retirar</p><p>partes da pele do peito do garoto, que eram lisas e normais, e colocá-las em</p><p>outras partes de seu corpo. Porém, como Mason e outros médicos haviam</p><p>obtido sucesso em vários pacientes com verrugas por meio da hipnoterapia,</p><p>sugeriu ao colega tentar a hipnose. O cirurgião respondeu, com sarcasmo:</p><p>“Tente você”. E foi o que ele fez.20</p><p>Na primeira sessão Mason se concentrou em um braço do rapaz.</p><p>Hipnotizou-o e, em seguida, disse a ele que seu braço ficaria curado e que a</p><p>pele se tornaria lisa e normal. Uma semana depois o paciente retornou, e</p><p>Mason ficou contente ao ver que a pele daquele braço estava curada.</p><p>Chamou Moore para ver, e o cirurgião ficou muito surpreso. Disse a Mason</p><p>que o problema do adolescente não eram as verrugas, porém uma doença</p><p>genética letal e incurável chamada ictiose eritrodérmica. Ao reverter os</p><p>sintomas usando apenas o poder da mente, Mason e o garoto haviam</p><p>conseguido algo até então considerado impossível. As sessões de hipnose</p><p>continuaram, e o menino, que era provocado e maltratado na escola em</p><p>virtude da sua aparência, ficou curado e passou a ter uma vida normal.</p><p>Mason publicou esse estudo de caso na British Medical Journey, uma das</p><p>revistas médicas mais lidas no mundo.21 A notícia se espalhou, e ele passou</p><p>a ser procurado por muitas vítimas da doença rara e até então incurável.</p><p>Mas a hipnose não funcionava em todos os casos. Mason a utilizou com</p><p>muitos outros pacientes, mas jamais obteve o mesmo sucesso de cura total.</p><p>Atribuiu o fracasso à própria falta de confiança no tratamento. Depois do</p><p>primeiro paciente, já não ignorava lidar com uma doença classificada pela</p><p>medicina como congênita e incurável. Tentou evitar que esta ideia o</p><p>afetasse, mas jamais conseguiu recuperar a postura de um jovem médico que</p><p>acreditava estar diante de um simples caso de verrugas. Algum tempo</p><p>depois, declarou ao canal Discovery Health, em uma entrevista sobre seus</p><p>pacientes: “Eu estava representando”.22</p><p>Quando pensamos no incrível poder da crença (e da descrença) e sua</p><p>influência na saúde e em nossas condições físicas, é útil perguntar: “Não</p><p>seriam as crenças latentes um potencial ainda inexplorado”? Em outras</p><p>palavras: “Será que poder da crença não poderia obter excelentes resultados</p><p>sem a necessidade de experiências caras com drogas, despesas de hospital ou</p><p>convênios médicos”?</p><p>Conforme veremos, há quem diga que o potencial para influenciar o</p><p>campo invisível é inato e pode até mesmo (está pronto para acreditar?) fazer</p><p>parte de nossos genes!</p><p>O fator que nos impede o acesso a este poder é o mesmo que nos</p><p>impediu até hoje de acessar outras fontes de transformação: a falsa crença</p><p>de que o poder de cura está fora de nós. Todos aqueles que se beneficiam de</p><p>nossa fraqueza fazem questão de reforçar esse tipo de pensamento. Quem</p><p>são eles? Bem, aí vai uma dica: a indústria farmacêutica fatura</p><p>aproximadamente 600 bilhões de dólares por ano.</p><p>Agora que sabemos da existência de um campo invisível com impacto</p><p>sobre o mundo material e que a remissão espontânea do planeta Terra</p><p>envolve uma mudança em nosso propósito – da intenção sobrevivência ao</p><p>objetivo de crescimento e evolução – percebemos que está conosco o poder</p><p>e a responsabilidade de realizar mudanças.</p><p>Já encontramos o Salvador. Ele ou Ela está em nós!</p><p>* Na linguagem genética, também entendendemos “ler” como “traduzir”, ou “construir à partir de”.</p><p>C A P Í T U L O 8</p><p>Mito quatro: a evolução é aleatória</p><p>“Acredito que tenhamos sido criados</p><p>para evoluir. Caso contrário, Jesus teria</p><p>dito ‘não façam nada até eu voltar!’”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>A ASCENSÃO E A QUEDA DE JEAN BAPTISTE DE LAMARCK</p><p>Talvez você se lembre do nome Jean Baptiste de Lamarck das aulas de</p><p>Biologia na escola, sempre associado à noção de que as girafas</p><p>desenvolveram os longos pescoços por conta da necessidade de alcançar as</p><p>folhas e as frutas das árvores mais altas. O princípio de que os organismos</p><p>têm uma consciência que influencia</p><p>a própria evolução é ridículo e faz</p><p>Lamarck parecer um idiota. Fazê-lo parecer bobo e desacreditar suas</p><p>afirmações heréticas, que iam contra a Bíblia, era precisamente a intenção</p><p>do naturalista e zoólogo Baron Georges Cuvier, o cientista mais proeminente</p><p>da França e da Igreja. Em 1829, ele criou essa versão maldosa e cruel da</p><p>teoria de Lamarck, após a morte deste, com o objetivo específico de destruir</p><p>seu trabalho.</p><p>Jean Baptiste de Lamarck nasceu na França, em 1744. Estudou em um</p><p>seminário jesuíta e serviu o exército francês durante sete anos. Deixou o</p><p>serviço militar em virtude de uma infecção, tentou estudar medicina e,</p><p>algum tempo depois, foi trabalhar como caixa em um banco em Paris. Lá</p><p>conheceu o eminente filósofo Jean-Jacques Rousseau, que reascendeu nele</p><p>uma antiga paixão por botânica e o contaminou com os ideais da Era do</p><p>Iluminismo.</p><p>Depois de trabalhar dez anos em suas horas vagas escrevendo um livro</p><p>de três volumes sobre a flora da França, Lamarck venceu a eleição da</p><p>proeminente L’Academie Francaise, a Academia Francesa. Embora fosse</p><p>quase um plebeu (cidadão sem bens ou riquezas, considerado de baixo valor</p><p>social) foi nomeado Botânico da Realeza durante o reinado de Luiz 16.</p><p>Seguindo o fluxo da Revolução Francesa, que terminou em 1799, quando</p><p>Napoleão Bonaparte assumiu o poder, Lamarck foi indicado para</p><p>transformar o jardim oficial do deposto rei em um parque botânico público,</p><p>que passou a se chamar O Jardim das Plantas.</p><p>A Revolução Francesa ofereceu à Europa um breve período em que a</p><p>Natureza se transformou em rainha e a França se tornou uma República. Em</p><p>um ambiente livre do dogma da Igreja, as ideias de Lamarck sobre o impulso</p><p>natural para a perfeição tiveram destaque. Segundo ele, “a Natureza, ao</p><p>produzir cada espécie animal em sucessão, começando com o mais simples e</p><p>menos perfeito até desenvolver o mais perfeito, por meio de um árduo</p><p>trabalho, tornou sua estrutura muito complexa”.1</p><p>Infelizmente para Lamarck, suas ideias sobre um progresso</p><p>evolucionário inerente à Natureza tinham perigosas implicações sociais. Se a</p><p>Natureza progride, nada mais natural que as classes sociais mais baixas da</p><p>humanidade também venham a progredir. Por esse tipo de raciocínio,</p><p>quando a Revolução Francesa terminou e o rei Luiz 16 restaurou a</p><p>monarquia, Lamarck se viu em uma situação delicada diante da Igreja e das</p><p>classes mais favorecidas, que não viam com bons olhos o fato de um plebeu</p><p>ter se tornado alguém tão proeminente. Esse desentendimento ideológico e</p><p>teológico foi uma das causas pelas quais seu rival acadêmico Baron Cuvier</p><p>distorceu sua teoria sobre a evolução.</p><p>Outras razões foram conflitos de personalidade e de ego. Quando</p><p>Napoleão Bonaparte repudiou a classe social mais alta, Cuvier, um</p><p>aristocrata, foi colocado em uma posição inferior à do plebeu Lamarck.</p><p>Ainda assim, Lamarck usou sua influência para ajudar Cuvier a se</p><p>estabelecer em Paris, um favor que ele aceitou mas jamais conseguiu engolir.</p><p>Após a derrota de Napoleão, o insatisfeito Cuvier retomou o poder</p><p>assumindo a posição de chefe da Academia Francesa, onde se destacara</p><p>anteriormente ao tecer frequentes elogios aos demais acadêmicos. Embora</p><p>seus elogios fossem justos e gentis, retribuindo os favores e o</p><p>reconhecimento de seus colegas, ele se aproveitou da morte de Lamarck não</p><p>apenas para difamá-lo, mas para destruir seu trabalho e seus estudos sobre o</p><p>processo evolutivo. Porém, a animosidade e os modos de Cuvier ficaram tão</p><p>óbvios quando este passou a fazer discursos contra as classes mais pobres que</p><p>a Academia se recusou a deixá-lo publicar a esse respeito. No entanto, uma</p><p>versão editada das críticas do aristocrata foi divulgada em 1832, três anos</p><p>após a morte de Lamarck e seis meses após a do próprio Cuvier.2 E apesar de</p><p>todas essas circunstâncias não científicas, as censuras à pesquisa de Lamarck</p><p>e o documento publicado realmente o fizeram passar por ridículo. Se</p><p>Lamarck tivesse vivido para se defender, teria mostrado que a evolução se</p><p>baseia em uma instrutiva interação e cooperação entre os organismos que</p><p>permite às formas de vida a sobrevivência por meio da adaptação às</p><p>mudanças em um ambiente dinâmico. Isso se torna óbvio quando</p><p>observamos o perfeito relacionamento entre os organismos e seu habitat:</p><p>ursos polares não vivem nos trópicos e orquídeas não crescem no Ártico.</p><p>Lamarck sugere que a evolução resultou de adaptações induzidas pelo</p><p>ambiente, adaptações necessárias à sobrevivência dos organismos em um</p><p>mundo de constantes mudanças.</p><p>Para difamar Lamarck, Cuvier escolheu propositalmente uma palavra</p><p>do estudo que poderia ser mal interpretada: besoin, que em Francês significa</p><p>tanto “necessidade” quanto “desejo”. Lamarck afirmava que as variações</p><p>evolucionárias surgem na Natureza por meio de besoin, necessidade ou</p><p>imperativo biológico de um organismo para sobreviver. Mas Cuvier escreveu</p><p>que Lamarck utilizara besoin com o significado de “desejo”, que “os animais</p><p>evoluem porque desejam fazê-lo”.3 Afirmou que o outro acreditava que os</p><p>pássaros desenvolveram asas e penas em função do seu desejo de voar, que</p><p>as aves aquáticas tinham pés com membranas porque desejavam nadar e</p><p>aquelas que caminham nos rios e lagos têm pernas longas em virtude do</p><p>desejo de manter os corpos secos. Essa mudança proposital no sentido da</p><p>palavra besoin levou à criação da famosa charge em que se vê o desenho de</p><p>um peixe a nadar perto da margem de um rio tendo um balão sobre a cabeça</p><p>com as palavras “bem que eu gostaria de ter pernas”.</p><p>Por tal sabotagem, as ideias de Jean Baptiste em relação à evolução</p><p>foram ridicularizadas. Nenhum cientista sério aceitaria o conceito de que os</p><p>peixes têm desejo de evoluir. Cuvier não apenas destruiu a reputação do</p><p>desafeto como fundador das ciências da Biologia e da evolução; seu discurso</p><p>difamador é usado até hoje por muitos biólogos para combater a teoria da</p><p>evolução desse estudioso e de seus seguidores.</p><p>Ironicamente, mais de 175 anos depois da morte de Lamarck, a ciência</p><p>descobre que a noção de intenção de evolução pode estar mais próxima da</p><p>realidade do que ele próprio imaginou.</p><p>Seja como for, outros cientistas da época ajudaram a ridicularizar as</p><p>ideias de Lamarck. Três décadas após as declarações e críticas de Cuvier,</p><p>Charles Darwin publicou A origem das espécies e introduziu sua versão da</p><p>teoria, segundo a qual as alterações hereditárias ocorrem por acaso. E desta</p><p>vez o conceito não vinha de um criacionista, mas de um evolucionista.</p><p>Em defesa da tese de evolução aleatória proposta por Darwin, o biólogo</p><p>alemão August Weismann ajudou a relegar o nome de Lamarck a uma</p><p>obscuridade ainda maior, com afirmações e declaração de experimentos que</p><p>contradiziam a teoria de que os organismos evoluem a partir da adaptação.</p><p>Cortou os rabos de ratos machos e fêmeas e os cruzou para provar que, se a</p><p>teoria de Lamarck estivesse correta, a prole nasceria sem rabo.4</p><p>A primeira geração de ratos nasceu com rabo, e Weisemann usou a</p><p>mesma prole para repetir o experimento durante 21 gerações. Nos cinco</p><p>anos que a experiência durou nenhum rato nasceu sem rabo. Bem, qualquer</p><p>um que tenha cães Dobermann sabe que rabos ou orelhas cortados não</p><p>afetam a descendência, e isso independe do número de gerações em que se</p><p>cortem os rabos e as orelhas, o que significa que a Natureza jamais diz: “Está</p><p>bem, vocês venceram. De hoje em diante, sem rabos”.</p><p>Para a sorte de Lamarck e de todos nós, as conclusões de Weisemann</p><p>foram consideradas cientificamente injustificadas por diversas razões.</p><p>Primeiro, Lamarck sugeriu que as modificações evolucionárias levam</p><p>“imensos períodos de tempo” para ocorrer, talvez centenas de anos. A</p><p>experiência de cinco anos de Weisemann obviamente era curta demais para</p><p>provar ou desbancar a teoria de Lamarck. Segundo, este jamais afirmou que</p><p>as modificações seriam permanentes, muito pelo contrário. Segundo ele, os</p><p>organismos continuariam a apresentar apenas características que fossem</p><p>úteis à sobrevivência.</p><p>Embora Weismann</p><p>não achasse que os ratos de sua experiência</p><p>precisassem dos rabos, nunca perguntou se aquele item era relevante à</p><p>sobrevivência dessa espécie. Mesmo assim, sua experiência ajudou a teoria</p><p>darwiniana a se consolidar e a desbancar Lamarck, relegando-o a uma piada</p><p>histórica antes de ser esquecido pelo público.</p><p>Como resultado dos estudos de Weisemann, os biólogos começaram a</p><p>descartar o conceito de que o ambiente poderia ser um fator importante</p><p>tanto em mutações genéticas quanto na evolução. Agora, diante dos</p><p>recentes avanços da epigenética e das mutações adaptativas, a visão</p><p>teleológica da evolução baseada em objetivos proposta por Lamarck está se</p><p>provando mais correta do que se imaginava. As pesquisas ainda revelam que</p><p>a evolução utiliza um processo aleatório para reescrever os genes, como</p><p>afirmaram Darwin e os neodarwinistas. Porém, como veremos adiante, essa</p><p>condição aleatória ocorre dentro de um contexto. Cada organismo no</p><p>planeta é parte de um processo complexo e, pode-se dizer, intencional cujo</p><p>objetivo é manter o equilíbrio no ambiente.</p><p>MUTAÇÃO ALEATÓRIA? NÃO VAMOS JOGAR DADOS!</p><p>Enquanto vivos, nem Lamarck nem Darwin conseguiram validar sua</p><p>teoria da evolução e da hereditariedade, porque não dispunham da</p><p>tecnologia científica necessária. No entanto, conforme as gerações seguintes</p><p>de cientistas descobriram e analisaremos em breve, a evolução envolve os</p><p>processos descritos por ambos.</p><p>A ciência experimental da genética foi oficialmente inaugurada em</p><p>1910, um século depois da teoria de Jean Baptiste. Foi quando Thomas</p><p>Hunt Morgan descobriu, no meio de uma população de moscas drosófilas de</p><p>olhos vermelhos, uma mosca mutante, de olhos brancos, capaz de produzir</p><p>descendentes com essa mesma característica – conforme mencionamos em</p><p>capítulo anterior.</p><p>Por meio da investigação, Morgan estabeleceu que os genes</p><p>controladores de características eram discretos elementos físicos dentro do</p><p>cromossomo.</p><p>Ele concluiu que, enquanto influências ambientais, como radiação ou</p><p>toxinas, poderiam induzir mutações genéticas, a interferência do ambiente</p><p>aparentemente não controlaria ou influenciaria o resultado de tais eventos.</p><p>Protocolos de pesquisa mais sofisticados, aplicados posteriormente,</p><p>geraram a crença de que modificações genéticas eram imprevisíveis,</p><p>exatamente como Darwin havia proposto.</p><p>Em 1943, estudos sobre a genética das bactérias conduzidos pelos</p><p>pesquisadores Salvador Luria e Max Delbruck pareciam comprovar, de uma</p><p>vez por todas, que mutações não passariam de eventos aleatórios.5 Os dois</p><p>iniciaram a experiência com uma pequena população de bactérias</p><p>geneticamente idêntica, e, a partir dessa cultura inicial, criaram um grande</p><p>número de colônias, por várias gerações, dentro um ambiente rico em</p><p>nutrientes. Após esse período, inocularam número igual de bactérias em</p><p>outros recipientes de cultura, adicionando uma solução de vírus</p><p>bacteriófagos a esses tubos. Embora o processo quase sempre cause a morte</p><p>das bactérias, algumas acabaram sobrevivendo e estabelecendo novas</p><p>colônias.</p><p>Para determinar se a mutação que provocara a resistência havia surgido</p><p>de maneira totalmente aleatória ou como resposta às condições de ameaça,</p><p>Luria e Delbruck observaram o número de colônias. Concluíram que</p><p>haveria um número similar em cada um deles, se as mutações fossem</p><p>produzidas pela necessidade de adaptação. Por outro lado, se resultassem de</p><p>processos aleatórios, o número de colônias deveria variar em cada cultura.</p><p>As taxas revelaram que a quantidade de colônias mudara drasticamente de</p><p>um tubo para outro, sugerindo que a aleatoriedade das mutações,</p><p>supostamente independentes do estímulo exterior. Logo, as bactérias</p><p>sobreviventes estariam ali por pura sorte. Durante os 45 anos seguintes,</p><p>muitas experiências semelhantes confirmaram as descobertas de Luria e</p><p>Delbruck, induzindo a ciência à conclusão de que todas as mutações de</p><p>adaptação seriam eventos aleatórios.</p><p>Essas pesquisas reforçaram a crença na imprevisibilidade desse tipo de</p><p>fenômeno, em tese sem qualquer relação com as necessidades do organismo.</p><p>Como o processo evolutivo sempre pareceu dependente das mutações,</p><p>concluiu-se que as variações randômicas não teriam um propósito específico.</p><p>A ideia se encaixava bem na concepção de um Universo totalmente</p><p>materialista, proposta por certo grupo científico dominante, e ajudou a</p><p>eliminar o conceito de criação intencional, atribuindo tudo a um mero “jogo</p><p>de dados”. O ser humano seria só mais um “turista acidental”, materializado</p><p>na biosfera por meio de ações aleatórias de hereditariedade.</p><p>Porém, em 1988, o proeminente geneticista John Cairns desafiou a fé da</p><p>ciência na aleatoriedade da evolução. Sua pesquisa sobre bactérias, com o</p><p>pitoresco título “A origem dos mutantes”, foi publicada na revista britânica</p><p>Nature.6</p><p>Ele escolheu bactérias com genes deficientes, que produziam uma</p><p>versão imperfeita da enzima lactase, necessária à digestão da lactose, açúcar</p><p>presente no leite. Inoculou-as em culturas cujo único nutriente era esse</p><p>açúcar. Sem conseguir metabolizá-lo, não podiam crescer ou se reproduzir.</p><p>Consequentemente, não formariam colônias. Mas, para sua surpresa, o</p><p>inesperado ocorreu. Diversas colônias surgiram durante o experimento.</p><p>Cairns isolou e estudou as bactérias com as quais tinha iniciado a</p><p>experiência e descobriu não haver formas mutantes entre os indivíduos</p><p>inoculados na primeira fase. Concluiu que a mutação ocorria após a</p><p>exposição ao novo ambiente, e não antes. Diferente das experiências de</p><p>Luria e Delbruck, que contavam com o fato de os vírus matarem as bactérias</p><p>quase instantaneamente, no caso das experiências de Cairns, as culturas</p><p>passavam longos períodos sem alimento. Ou seja, Cairns dava tempo</p><p>suficiente de estresse para que as bactérias pudessem reagir e acionar um</p><p>mecanismo inato de mutação para sobreviver.</p><p>Segundo o estudo, as mutações parecem surgir como resposta direta a</p><p>crises traumáticas. Curiosamente, análises posteriores revelaram que apenas</p><p>os genes associados ao metabolismo da lactose eram afetados. Além disso,</p><p>apesar de existirem cinco mecanismos possíveis de mutação, todas as</p><p>bactérias sobreviventes apresentaram exatamente o mesmo tipo. Tudo isso</p><p>vai contra o conceito de aleatoriedade das mutações e evolução sem</p><p>objetivos! Cairns deu ao mecanismo o nome de mutação direta.</p><p>Contudo, a simples ideia de que o estímulo do ambiente possa afetar</p><p>um organismo e reprogramar informações genéticas foi considerada um</p><p>absurdo pelos defensores do dogma central, e a resposta da ciência foi rápida</p><p>e hostil. Tanto a revista britânica Nature quanto a americana Science</p><p>publicaram notas de protesto contra as descobertas de Cairns. O editorial da</p><p>Science colocou em destaque na página: “Uma heresia na Biologia</p><p>Evolucionária”. Era uma indicação bem clara de que os sacerdotes de branco</p><p>da ciência estavam prontos para queimar Cairns na fogueira. Ai de quem</p><p>ousa ir contra o dogma!7</p><p>Na década seguinte outros pesquisadores repetiram as experiências de</p><p>Cairns, o que deveria ter contribuído para aumentar sua credibilidade. No</p><p>entanto, a comunidade científica ainda considerava tal proposição</p><p>inaceitável.</p><p>Mas, aos poucos, os principais pesquisadores genéticos foram se</p><p>tornando mais flexíveis. Por fim, substituíram o conceito de mutação</p><p>dirigida pelo de mutação adaptativa e, mais tarde, pelo de mutação benéfica.</p><p>Ainda assim, desafiaram Cairns a explicar o mecanismo das mutações,</p><p>fossem elas dirigidas, adaptativas ou benéficas.</p><p>Segundo a ciência convencional, mutações ocorrem somente como</p><p>resultado de acidentes, durante o processo reprodutivo. As bilhões de bases</p><p>de ácidos nucléicos que compõem o código genético precisam ser copiadas</p><p>com absoluta precisão para que cada uma das duas células-filhas resultantes</p><p>venha a herdar um genoma completo. No entanto, o processo de duplicação</p><p>apresenta diversas oportunidades para falhas.</p><p>De certa maneira, copiar o DNA é mais ou menos como o processo dos</p><p>monges copistas, que</p><p>reproduziam os escritos da Bíblia à mão, antes da</p><p>invenção da prensa editorial. Imagine como era fácil, ao se escrever aqueles</p><p>milhões de palavras, que uma ou outra fosse grafada com erros. E imagine a</p><p>mudança de interpretação no texto que a falta de uma delas podia fazer.</p><p>Erros simples de transcrição podem mudar completamente o sentido de</p><p>um texto inteiro. Você já deve ter ouvido a história do monge que olha</p><p>assustado para o rolo de pergaminho e diz: “Opa, era celebratório e não</p><p>celibatário”. Por sorte, a Natureza levou em consideração essa possibilidade e</p><p>inteligentemente dotou os genes de um mecanismo de revisão de DNA que</p><p>corrige erros de sequência. Se, por acaso, um erro de cópia conseguisse</p><p>passar sem ser corrigido por esse mecanismo, o resultado seria um código</p><p>alterado que poderia ser reconhecido como mutação aleatória. A teoria de</p><p>Darwin enfatiza que a evolução deriva dessas alterações acidentais no</p><p>código de DNA.</p><p>Na experiência de Cairns, entretanto, as bactérias originais não</p><p>conseguiam metabolizar o nutriente lactose. Não tinham, assim, os</p><p>mecanismos de construção e a energia metabólica necessários para concluir</p><p>seu processo reprodutivo. Consequentemente, não poderiam salvar suas</p><p>vidas através da mutação aleatória, associada a erros de cópia de DNA. Ao</p><p>que tudo indica as bactérias famintas de Cairns mudaram seus genes por</p><p>meio de um processo totalmente diferente e desconhecido da ciência.</p><p>Embora a intenção não seja creditar ao organismo das bactérias alguma</p><p>forma de consciência, parece haver alguma forma inata e proativa de</p><p>inteligência que lhes permita se adaptar rapidamente a mudanças no</p><p>ambiente (de acordo com Lamarck).</p><p>Agora sabemos que bactérias submetidas a estresse podem acionar uma</p><p>enzima com tendência a erros de cópia de DNA, gerando cópias mutantes</p><p>de genes associados a uma disfunção específica. Por meio desse processo de</p><p>produzir variantes genéticas, o organismo tenta criar um gene mais</p><p>funcional, que lhe permita superar os fatores do ambiente causadores de</p><p>desequilíbrio. Pense no mecanismo de mutação como em uma máquina de</p><p>fotocópia que comete erros de propósito.</p><p>Usar essa enzima sintetizadora de DNA para produzir um grande</p><p>número de cópias aleatoriamente modificadas dos genes permite às células</p><p>acelerar sua taxa de mutação para garantir a própria sobrevivência. Esse</p><p>processo é chamado de hipermutação somática (acúmulo de alterações</p><p>rápidas ou excessivas dos genes nas células que compõem o corpo físico).</p><p>Esse sistema que gera intencionalmente mutação aleatória representa a</p><p>parte darwiniana do processo.</p><p>As bactérias estressadas acabam tendo um grande número de genes</p><p>duplicados, cada um expressando uma variação diferente do código</p><p>genético. Quando uma dessas variantes consegue produzir uma proteína que</p><p>reduz de maneira eficaz o estresse do organismo, a bactéria elimina o gene</p><p>defeituoso de seu cromossomo e o substitui pela versão nova. Essa é a parte</p><p>lamarckiana do mecanismo, o ponto em que uma interação instrutiva entre</p><p>o ambiente e a célula leva à seleção da melhor versão do novo gene.</p><p>O trabalho de Cairns e aqueles que se sucederam ao dele introduziram</p><p>a realidade de que organismos não apenas se adaptam ao ambiente, mas</p><p>deliberadamente modificam sua genética para garantir a adaptação das</p><p>gerações futuras. Em outras palavras, a ciência começa a perceber que a</p><p>evolução não é mero acidente ou jogo de dados, como propôs por Darwin,</p><p>porém uma dança coordenada entre um organismo e seu ambiente, um</p><p>processo dinâmico no qual os organismos podem, como propôs Lamarck,</p><p>continuamente se adaptar a circunstâncias e fatores pouco favoráveis.</p><p>Os tecnólogos já utilizaram o mecanismo descrito para induzir bactérias</p><p>a digerir derramamentos de óleo ou a extrair determinados minerais de sua</p><p>matéria-prima. Mas ainda não conseguem dominar o processo quando se</p><p>trata de impedir que os micróbios se tornem resistentes aos mais poderosos</p><p>antibióticos.</p><p>Portanto, em relação à pergunta “a evolução ocorre intencionalmente</p><p>ou por acaso?”, repetimos que a resposta é um grande “sim!” às duas opções.</p><p>Até onde sabemos, intenção e acaso acontecem simultaneamente. Sem</p><p>utilizar antropomorfia (elas odeiam quando fazemos isso), parece que as</p><p>bactérias realmente têm intenção de sobreviver.</p><p>Na verdade, todas as formas de vida possuem essa tendência que os</p><p>biólogos classificam como desejo de sobrevivência. Em nível celular,</p><p>justamente isso é capaz de iniciar uma sucessão de mutações aleatórias até</p><p>que o objetivo seja alcançado. Apesar de repetir incansavelmente as</p><p>experiências de Cairns, os pesquisadores até agora não conseguiram</p><p>identificar um padrão consistente nas sequências de DNA das mutações</p><p>bem-sucedidas. Considerando-se tal aspecto, o processo parece ser aleatório.</p><p>Ou não. Para explicar melhor, devemos estabelecer um paralelo entre o</p><p>processo de hipermutação e a capacidade humana de ter ideias. Imagine um</p><p>grupo de pessoas tentando inventar um nome para um produto novo.</p><p>Seguindo o padrão mental humano, as ideias vão surgindo aleatoriamente, e</p><p>o grupo as anota sem julgar ou modificar seu conteúdo. Nesse processo,</p><p>surgem muitos nomes errados ou inadequados, até que alguém sugere algo</p><p>que agrada a todos. Mas ninguém sabe de antemão se irão surgir cinco, dez</p><p>ou mesmo uma centena de ideias antes daquela que será eleita a mais</p><p>adequada. Trata-se de puro acaso. Se observarmos diversos grupos</p><p>desempenhando a mesma tarefa perceberemos que todos utilizam processos</p><p>aleatórios para chegar a uma solução possível.</p><p>Portanto, sim, a evolução é um processo aleatório, mas o acaso parece</p><p>ter um propósito específico. Como sabemos disso? Porque, no caso das</p><p>bactérias, quando a mutação correta para a adaptação é encontrada, o</p><p>processo é interrompido. É como diz aquele famoso ditado: por que só</p><p>encontramos um objeto que perdemos no último lugar que procuramos?</p><p>Porque, ao encontrá-lo, interrompemos a busca.</p><p>O ELOGIO AOS MACACOS DATILÓGRAFOS</p><p>Aplicar o conceito de acaso à origem da vida faz sentido em um mundo</p><p>puramente material em que a noção de campos causais é considerada</p><p>irrelevante. Nesse aspecto devemos mencionar a diferença de aparência</p><p>entre a limalha de ferro espalhada aleatoriamente sobre uma folha de papel</p><p>e aquela organizada na forma de um campo magnético, obtida com a ajuda</p><p>de um imã. Seria possível que um campo fosse envolvivo por organismos</p><p>unicelulares e tomasse a elegante e coerente forma de uma árvore, de um</p><p>cão ou de uma pessoa? E quem ou o que indicou às células o que fazer para</p><p>obter este ou aquele resultado?</p><p>Como já mencionamos, a Física reconhece que o campo não material</p><p>controla a matéria, o que, é claro, inclui as células e as pessoas. Mas quem</p><p>ou o que controla esse campo? Talvez, como as maiores mentes da Física</p><p>Quântica vêm afirmando ao longo dos tempos, em breve descobriremos que</p><p>o Universo, em acordo com o postulado de Descartes, pensa, portanto</p><p>existe. Talvez perceberemos que os pensamentos (mais do que as</p><p>características herdadas) são responsáveis pela manifestação de nossa</p><p>realidade.</p><p>No entanto, para as pessoas que não se consideram criacionistas, as</p><p>questões relacionadas à origem da biosfera devem ser atribuídas à dinâmica</p><p>de um Universo aleatório em que os humanos adquiriram forma por pura</p><p>obra do acaso. Infelizmente, a adoração ao deus da ausência de sentido é tão</p><p>dominadora e dogmática quanto a crença absoluta em um Deus despótico e</p><p>controlador. Em ambos os casos relegamos nosso poder a algo fora de nós.</p><p>Em um Universo proveniente de fatores aleatórios e sem sentido, o</p><p>gene egoísta teria tudo para sobreviver. Por quê? Bem, em primeiro lugar</p><p>porque a autoridade moral inerente a uma presença amorosa e harmônica</p><p>não existiria. Em segundo lugar porque, se não houvesse um propósito para</p><p>as coisas, não haveria problema em nos considerarmos os seres mais</p><p>importantes do mundo relegando todos os outros a um plano secundário.</p><p>Acreditando que o Universo seja uma máquina impessoal e que</p><p>fomos</p><p>criados por acidente, não é surpreendente que os humanos pareçam tão</p><p>dóceis quando o sistema lhes ordena consumir indiscriminadamente, se</p><p>tornarem competitivos e serem obedientes às regras impostas. Dizendo para</p><p>nós mesmos, direta ou subliminarmente, que a vida não tem sentido,</p><p>permitimos ao sistema transformar nosso propósito de crescimento pessoal</p><p>em um tipo de idealismo ingênuo. Nas duas últimas gerações a apatia e o</p><p>cinismo se tornaram lugar-comum. Essas atitudes prejudicam nossa busca</p><p>pelo desenvolvimento pessoal e nos impedem de despertar para nosso papel</p><p>positivo na coevolução do planeta, além de cercear nosso discernimento</p><p>quando se trata de descobrir os padrões e as ferramentas que aceleram nossa</p><p>evolução.</p><p>QUANDO A ALEATORIEDADE ESBARRA NO DETERMINISMO</p><p>Começamos a perceber que muitas de nossas crenças mais básicas e</p><p>valorizadas são, na verdade, baseadas em ideias falsas e terrivelmente</p><p>destrutivas. Entre elas está o pressuposto neodarwinista de que a nossa</p><p>estrutura biológica e o processo evolutivo se fundamentam em mera</p><p>mutação aleatória ou no acaso, um conceito impreciso e desencorajador. O</p><p>fato de que os organismos, como as bactérias de Cairns, têm a capacidade de</p><p>desencadear mecanismos de mutação e adaptação para sobreviver em</p><p>ambientes estressantes implica um conceito de evolução proposital, ou seja,</p><p>em que os organismos fazem de tudo para se adaptar, chegando até mesmo a</p><p>alterar o próprio código genético para isso. Consequentemente, como</p><p>Lamarck concluiu, o processo evolucionário relaciona-se intimamente à</p><p>habilidade dos organismos responderem de modo ativo ao ambiente e se</p><p>adaptarem às mudanças dinâmicas que acontecem.</p><p>Surge, então, a pergunta: “Podemos ter uma ideia do futuro da</p><p>evolução?” Num momento em que o destino de todos parece obscurecido</p><p>pela possibilidade de uma extinção iminente, a análise histórica de nossa</p><p>jornada evolucionária parece nos prevenir de que já nos preparamos para</p><p>sobreviver. O fato de querermos ou não utilizar as ferramentas evolutivas</p><p>disponíveis depende de nossa crença em uma ordem maior que molda o</p><p>Universo por meio da razão, ou em uma dinâmica aparentemente aleatória</p><p>que gera eventos como a colisão das estrelas, furacões de categoria 5 e vírus</p><p>transmitidos pelo ar.</p><p>Acreditamos que a melhor resposta seja um equilíbrio entre as duas</p><p>suposições.</p><p>Por definição, Universo aleatório é aquele que se desenvolve por acaso</p><p>ou acidente e cujo destino é completamente imprevisível. O conceito de que</p><p>o acaso molda nossa existência é a essência da teoria da evolução</p><p>neodarwiniana. No entanto, nem tudo o que parece aleatório é aleatório.</p><p>Pode ser simplesmente caótico. Sistemas aleatórios e caóticos são</p><p>semelhantes em muitos aspectos, tanto que muitas vezes os termos são</p><p>usados como sinônimos. Mas, na realidade, eles são antônimos. Sistemas</p><p>aleatórios funcionam por casualidade, enquanto sistemas caóticos, embora</p><p>pareçam aleatórios, possuem uma organização subjacente.</p><p>A diferença entre aleatoriedade e caos pode ser explicada por meio do</p><p>seguinte exemplo: imagine uma estação de metrô ou de ônibus de uma</p><p>cidade grande no horário de pico. Centenas de pessoas andam</p><p>apressadamente e de maneira aparentemente aleatória. Porém, com poucas</p><p>exceções, todas têm um destino certo. Embora o movimento pareça</p><p>aleatório, o fluxo é caótico, pois cada indivíduo se movimenta com base em</p><p>um plano ou itinerário próprio.</p><p>Agora, imagine o que acontece se, no meio da multidão, alguém gritar</p><p>“fogo!” No mesmo instante o caos se transforma em um verdadeiro</p><p>pandemônio, com pessoas correndo em todas as direções e sem saber direito</p><p>para onde ir.</p><p>Os termos aleatoriedade e caos, assim como ordem, podem ser usados</p><p>para descrever a complexidade organizacional de um sistema. Conforme a</p><p>ilustração a seguir demonstra, a aleatoriedade e a ordem representam</p><p>extremos polares, enquanto o caos é o eixo da estrutura organizacional.</p><p>Em uma escala de previsibilidade, a incerteza absoluta se relaciona à aleatoriedade e o</p><p>determinismo se relaciona à ordem. São as pontas de um sistema em que o caos é o ponto central.</p><p>Em sistemas aleatórios prevalece a insegurança, e, portanto, eles não</p><p>podem manter a vida, porque não possuem organização necessária à</p><p>formação de uma fisiologia regulada e integrada.</p><p>No outro extremo, em um sistema rígido e cristalino, não existe o</p><p>dinamismo necessário à existência de organismos vivos. Aparentemente,</p><p>organismos vivos requerem um sistema específico e somente se desenvolvem</p><p>diante da fértil previsibilidade de um caos dinâmico e controlável.</p><p>A habilidade de prever o futuro de um sistema depende da natureza de</p><p>sua organização. Quando se tem consciência dos padrões que moldam</p><p>formas de arranjo altamente complexas, é possível indicar com precisão</p><p>tanto as condições do passado quanto as do futuro em cada circunstância.</p><p>Em sistemas aleatórios, por outro lado, o comportamento irregular torna</p><p>difícil ou mesmo impossível a previsão.</p><p>O tipo de funcionamento de um sistema e, consequentemente, a</p><p>habilidade de prever seu destino baseiam-se na mecânica (Física) que</p><p>controla sua operação.</p><p>Sistemas que utilizam a Física newtoniana caracterizam-se pelo</p><p>determinismo e pela ordem, enquanto aqueles cuja base é a Mecânica</p><p>Quântica induzem à incerteza.</p><p>Os sistemas caóticos, por sua vez, apresentam tanto a ordem quanto a</p><p>desordem em sua estrutura. Logo, são regidos ao mesmo tempo pela física</p><p>newtoniana e pela Mecânica Quântica. Conforme já foi mencionado, a</p><p>inserção desta última no conjunto de ferramentas da Ciência não eliminou a</p><p>física newtoniana, apenas a transformou em mais um elemento na</p><p>interpretação dos fenômenos. A questão não é mais saber se é a mecânica</p><p>newtoniana ou a Mecânica Quântica que influencia os sistemas caóticos,</p><p>mas o fato de ambas exercerem essa influência.</p><p>Talvez você já tenha observado que citamos várias vezes “a nova</p><p>consciência oferecida pela Ciência”. A perspectiva de polos abrange</p><p>intenção e acaso, as teorias de Darwin e de Lamarck, matéria e espírito, e</p><p>agora a física newtoniana e a Mecânica Quântica também se unem para</p><p>oferecer uma avaliação mais holística do mundo. O destino dos sistemas</p><p>biológicos é simultaneamente afetado pelas características do determinismo</p><p>e da incerteza.</p><p>O JOGO É PREVISÍVEL: PIERRE-SIMON LAPLACE</p><p>No Universo influenciado pelas leis da mecânica newtoniana, as peças</p><p>físicas se ajustam a uma dinâmica semelhante àquela do choque entre bolas</p><p>de bilhar. Qualquer matemático ou alguém com um conhecimento razoável</p><p>de cálculo poderia prever de modo relativamente preciso a atividade de cada</p><p>uma das bolas do jogo após a colisão.</p><p>Com esse conceito de que as partículas básicas do Universo se</p><p>comportam como “nanobolas de bilhar”, o matemático francês Pierre-Simon</p><p>Laplace desenvolveu o conceito de determinismo científico8, resumido da</p><p>seguinte maneira: se em algum momento soubéssemos a posição e a</p><p>velocidade de todas as partículas (bolas de bilhar) do Universo, poderíamos</p><p>calcular seu comportamento em qualquer instante, tanto no passado quanto</p><p>no futuro. Tendo dados suficientes sobre eventos passados e fazendo os</p><p>cálculos apropriados, poderíamos desenvolver de modo razoável sistemas</p><p>dinâmicos e prever com precisão resultados futuros. Adotar o princípio do</p><p>determinismo científico implicaria em crer que toda situação, incluindo</p><p>cada ato ou decisão humana, é consequência linear e inevitável de eventos</p><p>precedentes.</p><p>No entanto, há um pequeno problema a considerar. Segundo o</p><p>darwinismo, a evolução teria acontecido por meio de mutações aleatórias,</p><p>independentes do ambiente. Isso parece contradizer o modelo de Universo</p><p>previsível de Laplace. A teoria de Darwin enfatiza especificamente que o</p><p>ambiente não afeta o resultado de uma mutação. Supor evolução baseada</p><p>em acaso é considerar fatores imprevisíveis (por exemplo: uma mariposa</p><p>decide pousar na mesa de bilhar no meio do jogo e é atropelada pela bola</p><p>branca, alterando o que seria um jogo certo).</p><p>Por</p><p>outro lado, as ideias de Cairns sobre mutação adaptativa, por meio</p><p>da qual os organismos se desenvolveriam ativamente para se adaptar ou se</p><p>harmonizar com o ambiente, desafiam a crença do materialismo científico</p><p>no que diz respeito à evolução aleatória.</p><p>Pesquisas recentes sobre mutação adaptativa revelam que bactérias</p><p>geneticamente idênticas, quando inoculadas em ambientes similarmente</p><p>estressantes, seguem cursos paralelos de evolução e se desenvolvem sempre</p><p>da mesma maneira, regidas pelos nichos ambientais disponíveis.9 Essas</p><p>descobertas notáveis reforçam as ideias de Laplace quanto à previsibilidade</p><p>do futuro. Se pudermos obter dados suficientes sobre as condições iniciais do</p><p>ambiente, poderemos, com boa margem de precisão, prever o curso da</p><p>evolução da bactéria em cada cultura.</p><p>De certa maneira, a Medicina já vem redirecionando a compreensão do</p><p>processo evolutivo há mais de cem anos. Toda vez que os médicos inoculam</p><p>uma vacina nos pacientes, controlam a evolução de genes específicos no</p><p>sistema imunológico. Ao combinar antígenos virais ou bacterianos, eles</p><p>conseguem induzir o sistema imunológico humano a criar proteínas e</p><p>anticorpos com uma estrutura específica para restringir e marcar esses</p><p>antígenos, destruindo os mesmos.</p><p>É importante ressaltar que os genes codificadores da estrutura das</p><p>proteínas de anticorpos induzidos não tinham, antes da vacina, essa atuação</p><p>específica. Eles foram moldados durante os mesmo processo adaptativo de</p><p>hipermutação somática descrito no caso referente às bactérias. Os cientistas</p><p>controlam a mutação do gene do anticorpo e, assim, a evolução do sistema</p><p>imunológico. Da mesma maneira, os microbiologistas industriais moldam a</p><p>evolução ao introduzir bactérias em ambientes específicos, criando formas</p><p>mutantes que podem ingerir derramamentos de óleo e outras substâncias</p><p>tóxicas.</p><p>Trabalhando com a hipótese de Universo determinista, o professor</p><p>Edward Lorenz, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados</p><p>Unidos, um pioneiro da teoria do caos, criou, em 1960, uma máquina</p><p>meteorológica, usando algumas equações básicas de física newtoniana. Com</p><p>o objetivo de tornar a previsão do tempo mais precisa do ponto de vista</p><p>científico, ele pretendia construir matematicamente sistemas</p><p>meteorológicos. Ao programar o computador para resolver equações com a</p><p>precisão de sete casas decimais, os formulários revelaram um modelo</p><p>previsível consistente.</p><p>No entanto, a maior descoberta de Lorenz aconteceu em um dia em</p><p>que ele estava com pressa e reduziu os resultados para quatro casas decimais,</p><p>para acelerar o processamento. O computador imprimiu um resultado</p><p>completamente diferente do que ele esperava. Ao reduzir os dados para</p><p>menos de um centésimo de unidade, Lorenz obteve uma conclusão inédita:</p><p>o que inicialmente parecia ser uma diferença infinitesimal poderia fazer toda</p><p>diferença no resultado final.</p><p>Ao usar valores arredondados, Lorenz acidentalmente esbarrou no</p><p>conceito de sensibilidade, uma das descobertas mais importantes em relação a</p><p>padrões internos de comportamento em sistemas dinâmicos complexos. A</p><p>sensibilidade explica o fato de pequenas diferenças em condições iniciais</p><p>causarem grandes consequências, geralmente observadas como mudanças</p><p>aleatórias. Assim, muito do que atribuímos a eventos aleatórios pode ser</p><p>previsível (caso haja sensibilidade suficiente de dados iniciais).10</p><p>O conceito de Lorenz ficou conhecido como Efeito Borboleta, segundo o</p><p>qual “uma borboleta voando hoje pelo céu de Pequim pode desencadear</p><p>tempestades em Nova Iorque no mês que vem”. Embora seja difícil de</p><p>imaginar, a descoberta nos mostra que sistemas dinâmicos como condições</p><p>climáticas, correntes oceânicas e evolução da biosfera, parecem aleatórios</p><p>mas são deterministas, previsíveis.11</p><p>DEUS JOGA DADOS... E ELES NÃO SÃO VICIADOS: WERNER</p><p>HEISEMBERG</p><p>Antes de apostar tudo em uma visão determinista do Universo, é</p><p>necessário equilibrar a certeza com um algumas das ideias do eminente físico</p><p>quântico Werner Heisenberg. A visão clássica, apresentada por Laplace, era</p><p>de que o movimento das partículas poderia ser determinado, desde que se</p><p>soubesse sua posição e velocidade em um momento específico.12 Essa visão</p><p>precisou ser modificada quando o princípio da incerteza, de Heisenberg,</p><p>revelou não ser possível saber com precisão a posição e a velocidade de uma</p><p>partícula, pois, ao medir um parâmetro, o observador distorce o outro.</p><p>O princípio da incerteza contradiz o determinismo newtoniano. A</p><p>Mecânica Quântica não nega o determinismo, apenas dá a ele uma</p><p>condição de probabilidade. Pode não ser possível prever o futuro, porém,</p><p>com informações suficientes, as probabilidades de calcular e acertar um</p><p>palpite são extremamente altas.</p><p>Durante milênios os humanos observaram o sol nascer no leste e se pôr</p><p>no oeste. Portanto, é possível prever que em uma segunda-feira, daqui a um</p><p>ano, o sol vai nascer e se pôr nos mesmos pontos cardeais. A probabilidade</p><p>disso acontecer é tão grande que ninguém apostaria o contrário. No</p><p>entanto, embora seja improvável, um cometa pode atingir a Terra antes e</p><p>fazer com que ela gire no sentido contrário. O que pretendemos dizer é que</p><p>o futuro se baseia em probabilidades e não em certeza. Einstein, que</p><p>entendia bem o princípio da incerteza na Mecânica Quântica, escolheu</p><p>acreditar que “Deus não joga dados com o Universo”.</p><p>Segundo a teoria darwinista, a evolução ocorre por meio de uma série</p><p>de transformações infinitamente graduais, durante eras. Já os</p><p>paleontologistas Gould e Eldredge afirmaram que a evolução resulta de</p><p>longos períodos de estabilidade periodicamente interrompidos por mudanças</p><p>cataclísmicas. A cada nova catástrofe, dá-se um surgimento explosivo de</p><p>novas espécies depois das extinções. A origem e evolução dessas espécies</p><p>ocorre em ritmo bem mais rápido do que o mecanismo darwiniano pode</p><p>medir. Em outras palavras, a evolução acontece em ondas súbitas, não por</p><p>meio de transições graduais, conforme se acreditava.</p><p>Parece familiar? Lembra-se das experiências com elétrons, quando havia</p><p>um salto quântico à medida que eles passavam do campo de energia de um</p><p>átomo para o do outro? Essa foi a principal descoberta de Max Planck,</p><p>criador da Física Quântica há um século. A evolução organismal também se</p><p>revela um processo quântico. Em determinado nível de complexidade,</p><p>surgem formas totalmente novas, que não poderiam ser previstas pela</p><p>natureza de seu meio ambiente.</p><p>Se pensarmos bem, imaginar que um espermatozoide e um óvulo podem</p><p>se transformar em um ser humano exige bastante esforço mental. No</p><p>entanto, é algo tão universalmente aceito que não parece haver espanto</p><p>quando alguém menciona o fato. Talvez agora tenhamos que nos preparar</p><p>para imaginar uma cultura humana que agirá e interagirá de maneira</p><p>totalmente diferente da nossa, permitindo a todos sobreviver e se</p><p>desenvolver em conjunto em um novo nível de complexidade.</p><p>Estudos comprovam a existência de forças que impulsionam processos</p><p>emergentes no comportamento de grupos de insetos, de pássaros e de peixes.</p><p>O que faz esses animais agirem em conjunto, mudando instantaneamente o</p><p>padrão de seu comportamento?</p><p>Uma investigação muito interessante sobre o comportamento dos</p><p>peixes foi realizada pelo pesquisador inglês Iain Couzin e sua equipe. Usando</p><p>um modelo matemático, ele descobriu que os peixes de um cardume alteram</p><p>seu alinhamento de acordo com a proximidade uns dos outros.13 Quando o</p><p>alinhamento não é relevante, ou seja, quando os peixes não estão tão</p><p>próximos uns dos outros a ponto de afetar seu percurso, eles raramente</p><p>prestam atenção ao redor e nadam aleatoriamente. Mas quando a</p><p>quantidade de peixes atinge um número muito grande ou eles são forçados a</p><p>nadar em conjunto em razão de algum fator do ambiente, o padrão muda. Se</p><p>a distância se reduz entre eles, todos nadam seguindo um padrão circular.</p><p>Quando a distância diminui ainda mais, atingindo um nível crítico, o padrão</p><p>muda novamente, desta vez com todos nadando lado</p><p>a lado, em formação.</p><p>Qual seria o fator determinante dessas mudanças não lineares no padrão de</p><p>comportamento dos peixes?</p><p>Em busca de uma resposta, Couzin e sua equipe começaram a estudar</p><p>formigas e descobriram informações interessantes sobre a dinâmica de</p><p>grupo. Estudos anteriores indicavam a presença de decisões em consenso.</p><p>Por exemplo: quando 51% dos membros de um grupo olha em certa direção,</p><p>todo o grupo se dirige para aquele ponto.</p><p>Mas Couzin descobriu um padrão mais sutil: a existência de líderes ou</p><p>direcionadores, que também chamou de “especialistas”. São elementos do</p><p>grupo que apresentariam maior sensibilidade ou experiência para descobrir</p><p>onde há alimento ou evitar locais de perigo. Curiosamente, grupos maiores</p><p>costumam contar com uma quantidade proporcionalmente menor desses</p><p>especialistas influentes em relação ao comportamento dos demais. Trinta</p><p>formigas, por exemplo, precisam de cinco ou seis, uma proporção de 16 a</p><p>20%, enquanto um grupo de 200 pode ter apenas cinco, o que equivale a</p><p>2,5% de sua população.14</p><p>As formigas especialistas não aparentam ter características físicas</p><p>diferentes das demais. No entanto, parecem ter mais consciência do espaço</p><p>ao seu redor, e as outras percebem isso. Se Couzin fosse um espiritualista, ele</p><p>as teria chamado de formigas xamãs, sacerdotisas, curadoras ou visionárias,</p><p>simplesmente porque elas parecem agir de acordo com as necessidades do</p><p>grupo.</p><p>Da mesma maneira, a evolução das multidões humanas também está</p><p>ligada, aparentemente, tanto à densidade quanto ao número de</p><p>especialistas. Quando as massas de população atingem determinada</p><p>densidade e somos forçados a trabalhar e a viver muito próximos uns dos</p><p>outros, alguns influentes especialistas culturais parecem nos guiar, mudar</p><p>padrões e nossa direção, nos levando a evoluir para um nível mais desperto,</p><p>consciente e positivo. Como Lamarck teria dito, esses especialistas nos</p><p>ajudam a nos salvarmos de nós mesmos.</p><p>AFINAL, O QUE SABEMOS? E POR QUE ISSO É IMPORTANTE?</p><p>Bem, agora que expusemos e desbancamos os “quatro mitos do</p><p>apocalipse”, o que sabemos? Sabemos que, apesar de o materialismo</p><p>científico ter levado a concentrarmos nossa atenção no mundo material, é o</p><p>campo imaterial que governa as partículas. Quando expandimos nossa visão</p><p>para tentar compreender esse campo, percebemos que tanto a ciência</p><p>quanto a religião invocam as mesmas forças motrizes invisíveis quando se</p><p>trata dos fatores que moldam a vida. Sabemos que uma visão equilibrada</p><p>envolve tanto a consideração da matéria quanto do campo invisível. Caso</p><p>contrário, lidaremos apenas com meia realidade.</p><p>Também sabemos que o Universo é relacional. Quando escolhemos</p><p>ganhar às custas de alguém, não trabalhamos com eficiência máxima.</p><p>Embora a ideia da sobrevivência dos mais fortes tenha permitido a alguns de</p><p>nossa espécie se desenvolver bem de forma individualista, a sobrevivência de</p><p>um em função do sacrifício de todos afeta a sobrevivência do grupo, o que</p><p>afeta também o indivíduo.</p><p>Sabemos que, ao considerar fatores genéticos como determinantes de</p><p>nosso destino, deixamos de exercer nosso poder sobre a porção de realidade</p><p>que podermos modificar. Isso fez que nos deixássemos controlar novamente</p><p>por sacerdotes, mas agora por aqueles que se vestem de branco. A boa</p><p>notícia é que, ao aprender a utilizar nosso poder interior, teremos condições</p><p>de criar um mundo mais eficiente e com maiores possibilidades de</p><p>sobrevivência.</p><p>Sabemos que a evolução, conceito que fascinou nossos ancestrais</p><p>durante tantas gerações, não é um processo aleatório, porém segue padrões</p><p>previsíveis inerentes a sistemas dinâmicos de caos. Reconhecendo esses</p><p>padrões somos capazes de utilizar nossa inteligência e empregá-los para criar</p><p>junto com a Natureza.</p><p>Podemos até dizer que existe um imperativo evolucionário que nos</p><p>impulsiona avante, em direção ao conhecimento e à experiência, à</p><p>continuidade da vida.</p><p>Mas antes de começarmos a confiar demais em nossas habilidades</p><p>preditivas, é preciso lembrar que o caráter quântico do Universo (o grande</p><p>pregador de peças cósmico) nos adverte que as previsões são mais</p><p>probabilidades do que verdades absolutas, e os saltos quânticos podem</p><p>resultar no surgimento de novas formas ou características que não temos</p><p>como prever.</p><p>Assim como as bactérias do experimento de John Cairns, que</p><p>aprenderam rapidamente a sobreviver em um ambiente de estresse, nós</p><p>humanos precisamos nos engajar no processo de mutação pensando em</p><p>possíveis modificações de nossas crenças e comportamentos. Esse é o meio</p><p>para encontrar soluções viáveis que ajudem a garantir nossa sobrevivência</p><p>em face de todos os desafios ambientais que se descortinam à nossa frente.</p><p>Porém estamos com sorte, porque já existe a Internet, uma forma de</p><p>comunicação mundial e quase instantânea. Isso significa que as mutações</p><p>sociais que aconteçam em uma parte do mundo poderão ser rapidamente</p><p>disseminadas por todos os países. Esse dispositivo de consciência</p><p>compartilhada é algo inédito na história da humanidade. E como o</p><p>conhecimento é poder, a humanidade agora pode nutrir e curar o planeta e</p><p>a si mesma de maneira previsível e planejada.</p><p>Ao expressarmos nossa consciência compartilhada, é importante nos</p><p>conscientizarmos do ponto em que a humanidade se encontra. Afinal, o</p><p>primeiro passo de qualquer programa de recuperação é reconhecer a</p><p>realidade. Por isso, também, os mapas costumam ter um indicador do tipo</p><p>“você está aqui”. E o lugar onde nos encontramos hoje não é exatamente</p><p>bom. Nossa situação é, em boa parte, o resultado da insanidade institucional</p><p>criada pela sociedade como um todo, mantendo por tempo demais crenças</p><p>obsoletas e equivocadas, aquelas que neste livro nomeamos como quatro</p><p>mitos do apocalipse:</p><p>Só a matéria existe</p><p>Só os mais fortes sobrevivem</p><p>Somos o produto de nossos genes</p><p>A evolução é aleatória</p><p>Embora cada uma dessas crenças aparentemente tenha uma lógica, a</p><p>nova ciência revela que nenhuma delas é verdadeira. Esses paradigmas</p><p>equivocados é que mantém ativos, embora de maneira inconsciente para</p><p>nós, todas as ideias e comportamento que ameaçam nossa sobrevivência.</p><p>Uma vez que estivermos livres desses conceitos limitadores poderemos nos</p><p>abrir para um novo mundo de possibilidades e oportunidades, algo que não</p><p>conseguimos sequer imaginar.</p><p>C A P Í T U L O 9</p><p>A disjunção na junção</p><p>“A verdade vos chateará.”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>Apesar de termos desbancado os quatro mitos do apocalipse,</p><p>adivinhe... Eles continuam vivos e nos empurrando ladeira abaixo. Apesar</p><p>de a ciência já ter provado que foram equívocos, existem instituições e</p><p>estruturas que apoiam e propagam o pragmatismo do materialismo</p><p>científico. Com o passar tempo, essas instituições adquiriram vida própria,</p><p>e, assim como muitos organismos vivos, sentem necessidade de sobreviver</p><p>e de se recriar. Neste capítulo identificaremos esses agentes institucionais</p><p>da nossa disfunção cultural, na tentativa de evitar problemas futuros e</p><p>devastadores em todo o planeta.</p><p>A INVOLUÇÃO AMERICANA</p><p>A história do materialismo científico se reflete na história dos Estados</p><p>Unidos, nação que nasceu na época do iluminismo filosófico, caracterizada</p><p>pelo equilíbrio entre os âmbitos material e espiritual. Como já</p><p>mencionamos, os Grandes Fundadores dos EUA eram pessoas</p><p>profundamente espiritualistas, influenciadas tanto pela sabedoria ocidental</p><p>quanto por aquela dos nativos da América do Norte. A estrutura</p><p>institucional criada por eles para trazer justiça e manter um governo justo</p><p>era, via de regra, extremamente prática, ou, pelo menos, prática o suficiente</p><p>para durar mais de dois séculos.</p><p>Os ideais de fundação da América do Norte promoviam a vida no</p><p>sentido mais profundo. Em uma época em que quase todos os humanos do</p><p>mundo considerado civilizado viviam sob os caprichos de monarcas e</p><p>comandantes militares, os colonialistas da nova nação partilhavam o</p><p>conceito de que todos os seres humanos tinham direito à vida, à liberdade e</p><p>a buscar a felicidade. Nos dois últimos séculos,</p><p>de um sistema que se recusa a aceitar mudanças, levam a crer</p><p>que o mundo vai mesmo precisar de um milagre para se recuperar. E esse</p><p>milagre depende da remissão espontânea de um planeta em estado terminal.</p><p>Porém, após muitos estudos e análise de renomados cientistas,</p><p>anunciamos, para a alegria de todos, que há uma luz no fim do túnel.</p><p>Aqueles que estiverem dispostos a se unir e a lutar poderão transformar a</p><p>crise em oportunidade. A remissão espontânea de que precisamos parece</p><p>vinculada a uma revisão, também espontânea, da missão da humanidade. É</p><p>preciso mudar a ideia de prioridade de sobrevivência do indivíduo em</p><p>detrimento da sobrevivência da espécie. Essa é nossa verdadeira missão</p><p>evolucionária; nossa ordem biológica e imperativa. Para se modificar esses</p><p>valores, é preciso que todos, individual e coletivamente, reexaminem muitas</p><p>das ditas “verdades” aceitas sem questionamento. Tudo que não se ajusta à</p><p>realidade precisa ser reavaliado, para que um novo padrão de consciência se</p><p>torne parte do nosso estilo de vida. Uma vez que se compreenda o que a</p><p>ciência tem descoberto sobre quem realmente somos, as estruturas que nos</p><p>impedem de acessar esse conhecimento cairão, e uma nova verdade se</p><p>apresentará. Nosso intuito é que Evolução espontânea preencha a lacuna</p><p>entre o que já sabemos e o que precisamos saber para alcançar uma remissão</p><p>espontânea no mundo. Ironicamente, algumas das novas descobertas</p><p>científicas estão muito além daquilo que chamamos de conhecimento</p><p>convencional, e será difícil conviver com suas implicações. Se você também</p><p>acha que a realidade tem andado estranha e diferente, bem vindo ao clube.</p><p>Fique de olhos abertos e segure-se bem, porque ainda viveremos neste</p><p>planeta as experiências mais malucas que se pode imaginar. Quando nos</p><p>conscientizarmos de nosso papel: células do imenso organismo da</p><p>humanidade, vivenciando o momento que pode ser o mais importante da</p><p>história do planeta, veremos uma nova ordem emergir espontaneamente em</p><p>meio ao caos. Como sabemos disso? A ciência nos mostra. É mesmo? Se essa</p><p>nova realidade está tão próxima, por que as coisas parecem estar cada vez</p><p>mais caóticas e desconexas? A resposta é que essas crises são meros</p><p>sintomas. É a maneira que a Natureza tem de nos mostrar que nossa</p><p>civilização está ultrapassando os limites da resistência da biosfera e precisa</p><p>mudar seu estilo de vida se quiser continuar a existir. Sabemos que as coisas</p><p>não podem continuar como estão e ficamos frustrados por achar que não há</p><p>saída. Mas o mais interessante é que o caminho a seguir não é linear. É um</p><p>nível de consciência que precisa ser atingido por uma massa crítica da</p><p>população. Será uma incrível sensação de êxtase coletivo, mas ninguém vai</p><p>sair voando. Podemos ficar aqui mesmo, na Terra, e aqui mesmo ter a</p><p>sensação de paraíso. Você pode dizer: “Puxa, esse negócio de evolução</p><p>espontânea parece ótimo. Mas quem garante que vai mesmo acontecer?” É</p><p>exatamente aí que este livro começa: para falar sobre essa evolução e como</p><p>ela se processa.</p><p>ESTÁ NA HORA DE EVOLUIR A EVOLUÇÃO</p><p>O principal argumento para justificar o conceito de evolução é, se me</p><p>permite a expressão, um monte de m..., isto é, um conjunto de crenças.</p><p>Temos dois conjuntos de crenças tão distintos que parecem dois cães de</p><p>briga a latir um para o outro. E tão alto que nos ensurdecem e não nos</p><p>deixam raciocinar. De um lado, os cientistas materialistas, que insistem em</p><p>dizer que viemos parar aqui por mero acaso. Seu argumento é tão plausível</p><p>quanto aquele de que um número infinito de macacos brincando de apertar</p><p>as teclas em um número infinito de máquinas de escrever produziria algo do</p><p>mesmo nível das obras de Shakespeare.</p><p>De outro lado, os religiosos fundamentalistas, que insistem que Deus</p><p>criou o mundo exatamente como descreve a Bíblia. Alguns chegam a</p><p>acreditar que a Criação se iniciou precisamente às 8 horas de 23 de outubro</p><p>de 4004 a.C.</p><p>Pode-se imaginar que os dois grupos estejam equivocados, mas,</p><p>paradoxalmente, quando as duas teorias são colocadas lado a lado, acabam</p><p>apontando na direção certa. A ciência já tem como afirmar que a Criação</p><p>não se deu em sete dias e também que, sem dúvida alguma, ela não</p><p>aconteceu de maneira aleatória. Graças à nova ciência da Matemática</p><p>Fractal, sabemos que padrões inteligentes se repetem em todas as</p><p>manifestações da Natureza. Conforme veremos, usando esses padrões</p><p>universais para medir e avaliar a situação da civilização humana, é possível</p><p>perceber que a evolução da espécie segue em direção a um futuro positivo e</p><p>seguro. Claro, neste momento você ainda deve estar pensando: “Mas se o</p><p>futuro parece tão promissor, por que tudo está tão bagunçado?” Vamos</p><p>descrever adiante o equilíbrio pontuado e a maneira pela qual as crises</p><p>impulsionam a evolução. E também como longos períodos de estabilidade</p><p>podem ser pontuados por mudanças radicais e imprevisíveis. Essas</p><p>mudanças, que frequentemente envolvem extinção em massa, promovem</p><p>uma evolução rápida e geram uma abundância de espécies novas. Os</p><p>desafios e dificuldades enfrentados atualmente são, na verdade, sinais de</p><p>uma mudança espontânea iminente. Estamos à beira de um grande passo em</p><p>nosso processo evolutivo. Como esses avanços devem ocorrer? Nossa</p><p>jornada é semelhante àquela das células da lagarta que se transforma em</p><p>borboleta. Ao tomar consciência da nova realidade, a população celular em</p><p>destruição se une e trabalha para reestruturar a ordem social, preparando-se</p><p>para um novo nível de existência. Usamos o exemplo da metamorfose para</p><p>ilustrar a situação, mas existe uma diferença: enquanto a lagarta</p><p>inevitavelmente se transformará em borboleta, o sucesso de nossa evolução</p><p>não é garantido. Embora a Natureza se encaminhe para essa maravilhosa</p><p>possibilidade, nada vai acontecer sem nossa participação direta. Somos</p><p>cocriadores conscientes da evolução da vida. Temos livre-arbítrio e temos</p><p>escolhas. Nosso sucesso depende dessas escolhas, e essas escolhas dependem</p><p>de nossa consciência.</p><p>A boa notícia é que já estamos em um outro nível evolucionário.</p><p>Acreditamos que ele tenha se iniciado com um evento que mudou</p><p>radicalmente a percepção de nossa civilização. As primeiras fotos da Terra,</p><p>tiradas do Espaço em 1969, confirmaram o que os líderes espirituais</p><p>afirmavam há séculos: o mundo é um só. Uma simples imagem pode</p><p>expressar muitas palavras, mas o valor da fotografia da Terra, tirada em 10</p><p>de janeiro de 1969, capa da revista Life, é incalculável. Ficou gravada na</p><p>mente das pessoas não apenas a beleza de nosso precioso planeta azul-</p><p>esverdeado, mas também seu pequeno tamanho, comparado ao do</p><p>Universo, e sua fragilidade. A antropóloga Margaret Mead descreveu a foto</p><p>como “a imagem mais preocupante já registrada. Nosso amado planeta a</p><p>flutuar no vasto mar negro do Espaço, tão belo, e, ao mesmo tempo,</p><p>tragicamente frágil. E totalmente dependente de tantas pessoas em todos os</p><p>países”. A imagem inspirou o visionário norte-americano John McConnell a</p><p>criar a Bandeira da Terra, em 1969. E gerou também uma preocupação em</p><p>relação ao futuro planetário. Como consequência, foi criada a primeira lei</p><p>ambiental dos Estados Unidos, nos anos 1970. Mas o que aconteceu? Por</p><p>que parecemos regredir tanto mesmo depois disso? Apesar de as células</p><p>imaginais do mundo terem sido ativadas pela nova consciência, o corpo</p><p>global da humanidade ainda é uma lagarta, e, naturalmente, se sente</p><p>ameaçado e resiste. É esse paradigma de luta que mantém a energia do</p><p>mundo no nível em que está.</p><p>Para garantir nosso futuro, precisamos nos conscientizar de quem</p><p>realmente somos. Se formos capazes de entender que nossa programação</p><p>controla nossa vida e o que podemos fazer para modifica-la, poderemos</p><p>reescrever nosso destino. Evolução espontânea veio para ajudar nesse</p><p>processo. Esperamos que este livro traga informações, inspiração e estímulo</p><p>a todos os leitores que buscam um mundo mais saudável, pacífico e</p><p>autossustentável.</p><p>P A R T E I</p><p>E se tudo que sabemos até hoje</p><p>estiver errado?</p><p>as pessoas que sofreram sob</p><p>o jugo de governantes radicais buscaram na Declaração de Independência a</p><p>orientação, o apoio e o suporte de que necessitavam.</p><p>Ainda assim, no curso desses 200 anos pode-se dizer que os Estados</p><p>Unidos regrediram muito em relação ao ponto que serviu de referência em</p><p>termos de liberdade, tornando-se mais um império sedento de poder, visto</p><p>pelo mundo como um território armado e perigoso. Será que os outros</p><p>países têm inveja de nossa liberdade, como afirmam alguns governantes?</p><p>Ou será que essa liberdade diminuiu tanto que a chamada imprensa livre</p><p>não consegue mais refletir o espírito da América?</p><p>A América do Norte, em seu início, tinha tudo de melhor que o mundo</p><p>pode oferecer: direitos e liberdade inalienáveis (ao menos para os brancos).</p><p>No entanto, nossa busca pela felicidade se tornou uma corrida pelo ouro, e</p><p>todos os nossos sonhos se corromperam. Mas o que saiu errado? Como isso</p><p>aconteceu?</p><p>A TROCA DE DEUS</p><p>Conforme foi dito, cada novo paradigma traz consigo uma onda de</p><p>funcionalidade e de verdade. O monoteísmo trouxe ordem e foco espiritual</p><p>em uma época de idolatria e superstição. O materialismo científico foi uma</p><p>onda de ar fresco em um mundo dominado pela hierarquia religiosa de</p><p>crenças e padrões extremamente rígidos. Porém, durante a “troca de Deus”,</p><p>a sociedade teve ganhos, mas também perdas. À medida que a sociedade</p><p>industrial substituiu as comunidades agrárias, a conexão entre as pessoas,</p><p>que oferecia uma autoridade moral, foi se desfazendo.</p><p>Lembramos que a ciência, como fonte de estudo e de informações, não</p><p>possui moralidade ou imoralidade, apenas valores neutros.</p><p>Consequentemente, quando o materialismo científico se separou das leis da</p><p>Bíblia, um vácuo se estabeleceu.</p><p>E como a natureza humana abomina esses vácuos morais, o espaço</p><p>deixado tinha que ser preenchido. Infelizmente, com o advento da teoria de</p><p>Darwin sobre as leis da selva humana, isentas de códigos éticos, vieram a</p><p>autoridade moral do monoteísmo foi substituída por esses conceitos.</p><p>Desse modo, gradual e inexoravelmente, um novo deus, de grande</p><p>poder, assumiu o controle e introduziu a profana trindade materialismo-</p><p>dinheiro-máquinas. Passamos não apenas a venerar o poder material como a</p><p>considerá-lo salvador. Apesar das constantes mensagens recebidas, tentando</p><p>nos mostrar a verdade, o pensamento convencional insiste em reforçar a</p><p>crença de que dinheiro traz felicidade, armas trazem segurança,</p><p>medicamentos trazem saúde e informação nos torna sábios.</p><p>A boa notícia é que essas expressões distorcidas da realidade não são</p><p>resultado da natureza humana, mas da desumana natureza das crenças</p><p>programadas.</p><p>O primeiro passo para desprogramar disfunções dogmáticas é</p><p>reconhecer a relação entre paradigmas e instituições com interesse em</p><p>sustentar essas verdades. Usando a referência de Einstein (“o campo é o</p><p>agente governante da partícula”), imaginemos que um campo de energia</p><p>consiste de crenças invisíveis e as partículas são as estruturas institucionais</p><p>representantes do que é verdadeiro pra nós, convertendo em matéria os</p><p>pensamentos e crenças.</p><p>O segundo passo é perceber a magnitude da influência das estruturas</p><p>paradigmáticas. Elas moldam os padrões de comportamento aceitos como</p><p>base da cultura da sociedade. E influenciam o mundo por meio da indústria,</p><p>dos governos, das escolas e das organizações que fomentam e promovem</p><p>suas crenças, criando uma espécie de mente coletiva.</p><p>O terceiro passo é identificar e dar nome às manifestações dessas</p><p>instituições dentro da sociedade moderna. É importante perceber que cada</p><p>uma das percepções distorcidas examinadas e desbancadas na Parte II deste</p><p>deu origem à própria entidade institucional.</p><p>A crença de que somente a matéria existe trouxe:</p><p>Os vendilhões do templo.</p><p>A crença de que somente os mais fortes sobrevivem estabeleceu:</p><p>O menor denominador comum.</p><p>A crença de que somos o resultado de nossos genes gerou:</p><p>Um sistema de saúde deficiente.</p><p>E a crença de que a evolução é aleatória levou à criação de:</p><p>Armas de distração em massa, desenvolvidas para conter a</p><p>população e impedi-la de exercer seus poderes naturais.</p><p>Ao estudar essas estruturas percebemos que cada uma delas se iniciou</p><p>como proposta de equilíbrio funcional entre espírito e matéria, mas aos</p><p>poucos se afastou de seu objetivo, à medida que suas verdades se</p><p>distanciaram do ponto de equilíbrio. Portanto, cada uma tinha valor na</p><p>época em que foi criada, porém perdeu esse valor com o passar do tempo,</p><p>dando lugar ao sistema de raciocínio ou de crenças posterior.</p><p>Ao observar o desenvolvimento das instituições entendemos melhor a</p><p>transformação no modo de responder às questões primordiais da existência:</p><p>1. Como chegamos aqui?</p><p>2. Por que estamos aqui?</p><p>3. Agora que estamos aqui, como tirar o melhor proveito disso?</p><p>OS VENDILHÕES DO TEMPLO</p><p>Segundo o Novo Testamento e os registros do historiador Flávio Josefo,</p><p>durante a época de Jesus, os Fariseus, classe dominante na sociedade</p><p>judaica, desenvolveram um complexo sistema em que se pagava para orar.</p><p>Meio shekel era cobrado para que se pudesse participar da celebração da</p><p>Páscoa Judaica, e os cobradores ficavam do lado de fora do templo,</p><p>coletando o dinheiro e vendendo o gado, as ovelhas e os pombos que as</p><p>pessoas compravam e sacrificavam para ficar quites com Deus.</p><p>O único momento das Escrituras no qual Jesus demonstrou se alterar</p><p>foi aquele em que chegou ao templo e virou as mesas dos cobradores,</p><p>espalhando pelo chão as moedas do dízimo. Podemos imaginar o que faria</p><p>hoje, quando os cobradores não ficam mais nas portas dos templos, porém</p><p>cobram taxas de todas as atividades um dia gratuitas à população,</p><p>atividades que proporcionam liberdade e felicidade. Como Jesus reagiria na</p><p>sala de diretoria de uma empresa que decide ser detentora exclusiva da</p><p>produção e da venda de todas as sementes de alimentos do planeta? E o que</p><p>diria aos cidadãos dos EUA, entre os quais 83% se declaram cristãos, ao ver</p><p>que não expressam qualquer reação a esse atentado contra os direitos da</p><p>humanidade?</p><p>O DOMÍNIO DA MONSANTO</p><p>Segundo o folclore Yiddish – idioma judaico antigo – a definição de</p><p>chutzpah* é matar os próprios pais e depois pedir à corte clemência por ser</p><p>órfão. Mas parece existir uma versão atual do termo.</p><p>Monsanto, empresa conhecida por produzir um herbicida letal chamado</p><p>Agente Laranja e hoje um dos maiores agronegócios químicos do planeta,</p><p>produz uma semente de canola geneticamente modificada.1 Quando o pólen</p><p>dessas plantas transgênicas é acidentalmente levado pelo vento e fertiliza as</p><p>plantas orgânicas ou convencionais dos fazendeiros vizinhos, tornando-as</p><p>clones de sua produção, a Monsanto os processa por utilizar esses genes</p><p>modificados sem pagar por eles.2</p><p>A empresa, que possui mais de 674 patentes de biotecnologia (ou seja,</p><p>é legalmente proprietária dessas formas de vida), tem uma forma exclusiva</p><p>de agir no mercado. Os fazendeiros que compram suas sementes assinam</p><p>um contrato que os proíbe de armazená-las ou replantá-las. Em outras</p><p>palavras, os fazendeiros são obrigados a comprar as sementes da Monsanto</p><p>todo ano. Para garantir esse acordo, a empresa tem uma equipe de espiões e</p><p>investigadores cujo trabalho é garantir que as sementes não sejam</p><p>replantadas, mesmo que por acidente. Segundo dois influentes repórteres</p><p>norte-americanos, Donald L. Bartlett e James B. Steele, a Monsanto já abriu</p><p>milhares de investigações e processos judiciais contra fazendeiros.</p><p>Intimidados pelo poder corporativo, muitos deles pagam sem sequer tentar</p><p>se defender, mesmo que sejam inocentes.3</p><p>Sementes armazenadas são um artigo básico da agricultura e</p><p>representam hoje de 80 a 90% do total utilizado no planeta. Mas parece que</p><p>a Monsanto pretende mudar esse quadro. Segundo Jeffrey M. Smith, autor</p><p>do livro Sementes da decepção, a empresa prevê um futuro em que 100%</p><p>de todas as sementes serão “geneticamente modificadas e patenteadas”.4 E</p><p>boa parte de seus planos envolve ameaças e pressão contra os fazendeiros.</p><p>Outra estratégia é adquirir as empresas de sementes convencionais. Em</p><p>2005, comprou, em um</p><p>“A melhor maneira de enfrentar o que não se sabe é não saber.”</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>Observe o céu em uma noite bem escura, sem lua, e verá centenas de</p><p>pontos de luz. Cada um deles é uma gigantesca estrela no Universo, que</p><p>também é tão imenso que nem dá para imaginar seu tamanho. As estrelas</p><p>que vemos podem nem existir mais. Podem ter se incinerado e se</p><p>transformado em poeira há centenas de anos. Porém, como estão a anos-luz</p><p>de distância da Terra, a luz que emitiam durante sua existência ainda é</p><p>visível e serve, por exemplo, como orientação os marinheiros.</p><p>Agora olhe para o chão e para o mundo ao redor e reflita: “é possível</p><p>que o nosso destino seja o mesmo das estrelas? E se todo nosso sistema de</p><p>crenças sobre a vida estiver errado?”</p><p>Aparentemente, não há motivo para questionarmos a vida que temos.</p><p>Afinal, mais do que nunca, geramos, compartilhamos e absorvemos uma</p><p>quantidade enorme de informações científicas, por meio de livros, CDs,</p><p>DVDs, rádio, televisão e Internet. Mas a informação, isoladamente, não</p><p>basta. Conteúdo bom em contexto errado, além de inútil, nos tira do foco e</p><p>pode até ser perigoso. Imagine o capitão de um navio que vê um adiante um</p><p>ponto iluminado em sua rota e, julgando ser outro navio, solicita pelo rádio</p><p>que este mude de curso, para poder continuar sem desvios, pois se trata de</p><p>uma noite escura. Do outro lado, também pelo rádio, uma voz responde que</p><p>o capitão é quem deve mudar de curso. Mas ele insiste e usa sua voz de</p><p>comando, exigindo que o suposto barco saia da frente e o deixe passar. A voz</p><p>do outro lado responde:</p><p>– Capitão, estamos em um farol.</p><p>A rota que escolhemos depende de nossa perspectiva.</p><p>Este simples exemplo ilustra nossa explicação.</p><p>Na figura A, você pode ver tanto uma bruxa quanto uma jovem (pode</p><p>demorar alguns segundos até você distinguir as duas). A figura B é um</p><p>código binário da figura A. Enquanto as informações da figura B podem</p><p>definir cientificamente o conteúdo da figura A, o fato de você estar vendo</p><p>uma imagem ou a outra não está necessariamente vinculado ao código de</p><p>informações, mas sim à sua interpretação e à sua percepção enquanto</p><p>observador. A mensagem é simples: uma informação científica pode</p><p>descrever duas formas completamente diferentes de percepção. Quando nos</p><p>deixamos levar por uma delas, passamos a vê-la como única realidade e</p><p>ignoramos as outras.</p><p>Nós, indivíduos e sociedade, navegamos em um mar de percepções</p><p>filosóficas antiquadas e carentes de prova científica. Assim como a luz das</p><p>estrelas que já não existem mais, ainda não sabemos que nossas teorias já</p><p>caducaram. Como o farol na noite escura, novas fontes de luz surgem a todo</p><p>instante para nos guiar em uma nova direção. Cabe a nós observá-las</p><p>adequadamente. Em nosso tempo o processo evolutivo da humanidade se</p><p>encontra em um ponto crucial. Os velhos paradigmas e a nova consciência</p><p>lutam para coexistir. Estamos atrelados, por hábitos e tradições, a uma visão</p><p>ultrapassada do Universo. Ao mesmo tempo, há dentro de nós a semente de</p><p>uma visão otimista da vida.</p><p>Para entender a situação delicada de hoje, devemos voltar 500 anos no</p><p>tempo, quando o astrônomo Nicolau Copérnico olhou para o céu, de dentro</p><p>da torre de uma catedral, e fez uma importante descoberta. Ao contrário da</p><p>crença da época, de que a Terra seria o centro do Universo, Copérnico</p><p>descobriu que nosso planeta dá um giro completo sobre seu eixo a cada 24</p><p>horas, e também ao redor do Sol, a cada ano. Os líderes religiosos</p><p>consideraram sua ideia uma blasfêmia. Preferiram continuar apegados às</p><p>antigas crenças. Revoltaram-se a tal ponto que obrigaram Galileu, 90 anos</p><p>depois, mediante ameaça de morte, a renunciar à teoria de Copérnico, e o</p><p>encarceraram pelo resto da vida. Contudo, ironicamente, os mesmos líderes</p><p>religiosos adotaram as fórmulas matemáticas de Copérnico para corrigir as</p><p>discrepâncias em seus calendários. Galileu é um exemplo de como a</p><p>humanidade leva tempo para aceitar grandes mudanças. Um século se</p><p>passou desde que Einstein provou matematicamente que tudo no Universo é</p><p>composto de energia e interligado. No entanto, a grande maioria das pessoas</p><p>ainda vive segundo os ultrapassados princípios da Física newtoniana,</p><p>segundo a qual o mundo é um mecanismo físico movido por uma série de</p><p>ações e reações de causa e efeito. As nações que utilizaram a Teoria da</p><p>Relatividade de Einstein para construir armas atômicas (da mesma maneira</p><p>que a Igreja utilizou os cálculos de Copérnico para corrigir seu calendário)</p><p>ignoraram as graves consequências de um bombardeio desse tipo, ainda que</p><p>em uma pequena área do planeta. Nossa facilidade de captar conceitos e</p><p>informações de maneira incorreta, e de distorcê-los, nos distanciou da</p><p>Natureza de tal maneira que quase todas as nossas atividades atuais</p><p>representam uma ameaça à vida. Ficamos alarmados com as notícias sobre</p><p>homens-bomba no Oriente Médio, mas não paramos para pensar que a raça</p><p>humana inteira se tornou uma bomba-relógio. Estudos científicos provam,</p><p>cada vez mais, que a ganância humana e a poluição têm causado a maior</p><p>extinção em massa desde a época dos dinossauros, 65 milhões de anos atrás.</p><p>Se continuarmos nesse ritmo, metade das espécies que existem hoje estarão</p><p>extintas antes do final do século.1 Nossa rotina diária continuará a mesma</p><p>sem os leões que habitam o Serengueti (afinal, se quisermos ver leões basta</p><p>ir ao zoológico, certo?), mas a cadeia alimentar do globo não será mais a</p><p>mesma. Há um alarme implícito nessa extinção de animais e plantas,</p><p>aparentemente lenta: ela também ocorre de maneira iminente em nossa</p><p>raça. A humanidade moderna se orgulha de seu conhecimento sobre o</p><p>Universo e sobre a vida. Somos a população mais bem educada e informada</p><p>da história. Realmente, sabemos muito. Mas o que fazemos com toda essa</p><p>informação? Temos toda a informação do mundo, mas a crise que</p><p>enfrentamos mostra que não temos tanto conhecimento. O problema não é</p><p>a informação em si, mas a maneira como a interpretamos.</p><p>Conforme mostra a ilustração, o mesmo dado pode servir para</p><p>interpretar duas imagens completamente diferentes. Quando se trata de</p><p>entender a natureza da vida, nossa interpretação pode representar a vida ou</p><p>a morte da civilização. A ciência recente, que abordamos neste livro, oferece</p><p>uma uma nova maneira de observar os dados científicos e questiona a</p><p>percepção convencional. René Descartes dizia que devemos duvidar de</p><p>tudo. Bem, é o momento de começarmos a fazer isso. Nem tudo o que</p><p>sabemos é errado, mas agora é o momento de rever todo o nosso</p><p>conhecimento.</p><p>Na Parte I de Evolução espontânea apresentamos algumas conclusões</p><p>por meio de uma descrição biológica. Estabelecemos o relacionamento entre</p><p>a crença e a Biologia e descrevemos o modo pelo qual a interação desses</p><p>dois aspectos cria nossa realidade.</p><p>No Capítulo 1, brincaremos com os clichês. Descrevemos ali a maneira</p><p>como as células processam informação e também os processos biológicos que</p><p>convertem percepções em crenças e aparência de realidade. Há evidências</p><p>irrefutáveis de que a mente é quem de fato controla a matéria. Mostramos,</p><p>em nível celular, como e por que a vida funciona dessa forma.</p><p>No Capítulo 2, explicaremos como a programação subconsciente pode</p><p>sabotar nossos mais elaborados planos. Ao delinear a história evolutiva da</p><p>mente, demonstraremos que o ser humano é, ao mesmo tempo, totalmente</p><p>inocente e totalmente responsável pelos próprios atos!</p><p>No Capítulo 3, vamos deixar a Biologia um pouco de lado e falar um</p><p>pouco sobre filosofia, para mostrar de que maneira história que usamos para</p><p>explicar a realidade controla nossa percepção e, consequentemente, nosso</p><p>comportamento. Descrevemos como as civilizações se desenvolveram ao</p><p>longo dos séculos e como os novos paradigmas influenciaram o mundo visto</p><p>e criado por nossos ancestrais, e também o que vemos e criamos hoje. Ao</p><p>nos colocarmos em posição diferente em relação a essas “histórias”, vemos</p><p>que elas são meras histórias, e é possível modificá-las. O final escolhido</p><p>para</p><p>elas pode mudar totalmente nosso destino. Quando observamos o mundo</p><p>sob uma perspectiva diferente, fora do escopo das “crenças inquestionáveis”,</p><p>começamos a ver que outras narrativas podem surgir e transformar as</p><p>tragédias do Quarto Ato em um Quinto Ato bem mais leve e feliz.</p><p>No Capítulo 4, iremos abordar os princípios e práticas que</p><p>influenciaram a Declaração de Independência Norte-Americana e se</p><p>aplicam a este momento, em termos evolutivos.</p><p>Não se trata de discurso patriótico para enaltecer a América do Norte,</p><p>mas de um ato de reconhecimento das verdades visionárias de que “todos os</p><p>homens [e mulheres] são criados de maneira igual (...) e recebem de seu</p><p>Criador direitos inalienáveis (...) à Vida, à Liberdade e o direito de buscar a</p><p>Felicidade”. Essas verdades, que ainda não foram totalmente colocadas em</p><p>prática nos Estados Unidos, são uma joia preciosa e um presente para o</p><p>mundo inteiro; presente que teve origem entre as tribos de índios nativos do</p><p>continente.</p><p>A Parte I deste livro traz certo alívio, pois explica o que há de errado</p><p>com o mundo e ajuda a criar uma nova história para todos, com final feliz.</p><p>Quando entendermos que a filosofia da nossa cultura e nossa percepção</p><p>individual são, na verdade, direitos adquiridos que determinam não apenas</p><p>nossa estrutura biológica, mas também a do espaço onde vivemos, daremos</p><p>um grande salto evolutivo tanto em nível pessoal quanto planetário.</p><p>Deixaremos de ser meras vítimas e poderemos finalmente nos tornar</p><p>cocriadores e arquitetos desse admirável e maravilhoso mundo novo.</p><p>C A P Í T U L O 1</p><p>Crer para ver</p><p>“Não precisamos poupar os recursos do mundo.</p><p>Basta aprender a usá-los com sabedoria.”*</p><p>SWAMI BEYONDANANDA</p><p>De uma forma ou de outra, todos queremos consertar o mundo, tendo</p><p>ou não consciência disso. Em nível consciente, desejamos salvar o planeta</p><p>por razões éticas ou altruístas. Em nível inconsciente, nossa motivação vem</p><p>de uma programação de comportamento chamada imperativo biológico, que</p><p>é o instinto de sobrevivência. Sabemos que, se o planeta perecer,</p><p>morreremos. Por isso, armados de boa intenção, observamos o espaço ao</p><p>nosso redor e perguntamos: “Por onde eu começo?”</p><p>Terrorismo, genocídio, pobreza, aquecimento global, doenças, fome...</p><p>chega! A cada crise, o desespero aumenta e nos sentimos impotentes diante</p><p>da magnitude da ameaça. Pensamos: “Sou apenas um. O que posso fazer</p><p>para melhorar as coisas?”</p><p>Quando pensamos na dificuldade da missão e em como somos</p><p>pequenos diante da enormidade do planeta, nos sentimos incapazes e</p><p>frustrados. Consciente ou inconscientemente, a maioria de nós aceita sua</p><p>condição de fragilidade em um mundo desgovernado. Vemos a nós mesmos</p><p>como meros mortais tentando sobreviver. A maioria das pessoas acaba</p><p>suplicando a Deus que resolva seus problemas. A imagem de um Deus</p><p>ensurdecido pelas eternas lamentações que emanam da Terra é descrita com</p><p>bom humor no filme O Todo Poderoso, em que o ator Jim Carrey interpreta</p><p>a personagem Bruce, um homem que assume o lugar de Deus enquanto Ele</p><p>está em férias. Paralisado pela quantidade de preces que ouve</p><p>constantemente, Bruce resolve transformá-las em recados adesivos</p><p>amarelos e acaba soterrado sob imensa pilha de papel.</p><p>Muitos afirmam viver de acordo com a Bíblia, mas a sensação de</p><p>fragilidade é tão grande que mesmo aqueles que têm mais fé parecem cegos</p><p>às frequentes referências das Escrituras que tanto enaltecem nossos poderes.</p><p>A Bíblia contém instruções específicas a respeito de a não se entregar ao</p><p>desespero: “(...) se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este</p><p>monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar, e nada vos será</p><p>impossível.1 É realmente um grão de mostarda difícil de engolir. Só</p><p>precisamos de fé, mais nada? Sei...</p><p>Mas, voltando ao assunto, com todas essas instruções divinas em mãos,</p><p>ainda nos perguntaremos: “Impotência e fragilidade são o reflexo das</p><p>habilidades humanas?”. Os avanços da Biologia e da Física nos oferecem</p><p>uma alternativa formidável: nossa sensação de impotência é resultado de</p><p>limitações aprendidas. No entanto, se nos perguntarmos: “Quanto</p><p>realmente sabemos sobre nós mesmos?”, teremos que perguntar também:</p><p>“O que já aprendemos sobre nós mesmos?</p><p>SERÁ QUE SOMOS REALMENTE TÃO FRÁGEIS QUANTO NOS</p><p>ENSINARAM A SER?</p><p>Em termos de evolução, a verdade “oficial” se encontra nas mãos da</p><p>ciência materialista. Segundo o padrão médico popular, o corpo humano é</p><p>uma máquina bioquímica controlada por genes, e a mente humana é um</p><p>“epifenômeno” ilusório, ou seja, uma condição secundária derivada de uma</p><p>função mecânica do cérebro. É uma maneira pomposa de dizer que o corpo</p><p>físico é real e que a mente é uma ficção criada pelo cérebro. Até pouco</p><p>tempo, a Medicina convencional desvinculava a mente do funcionamento</p><p>do corpo, mas jamais conseguiu lidar bem com o incômodo efeito placebo,</p><p>que demonstra o poder da mente de curar o corpo quando o paciente</p><p>acredita firmemente que um medicamento ou procedimento específicos é</p><p>eficaz, ainda que o remédio seja uma simples pílula de açúcar, sem qualquer</p><p>efeito farmacêutico comprovado. Os alunos de Medicina aprendem que um</p><p>terço de todas as doenças pode ser curado como mágica através do efeito</p><p>placebo.2 Porém, quando se aprofundam no estudo e na prática da Medicina</p><p>tradicional, acabam colocando de lado o valor da atuação da mente na cura,</p><p>porque ele não se encaixa no fluxograma do paradigma newtoniano.</p><p>Infelizmente, ao deixar de estimular esse poder, acabam enfraquecendo a</p><p>força e a vontade dos pacientes. Outro aspecto que também nos desencoraja</p><p>a explorar os recursos da mente é a aceitação subliminar de uma premissa</p><p>da teoria de Darwin: a ideia de que a evolução é regida por uma eterna luta</p><p>pela sobrevivência.</p><p>Programada com essa percepção, a humanidade se vê diante de uma</p><p>eterna batalha de vida ou morte, em um mundo extremamente competitivo.</p><p>O grande poeta Tennyson descreveu esse sangrento pesadelo Darwiniano</p><p>como: um mundo “de dentes e garras vermelhas”.3 Submersas em um mar</p><p>de hormônios de estresse provenientes das glândulas suprarrenais, nossas</p><p>células internas são induzidas a um constante comportamento de luta ou</p><p>fuga para sobreviver em um ambiente hostil. Durante o dia, lutamos para</p><p>sobreviver; à noite, damos vazão ao estresse por meio de televisão, álcool,</p><p>drogas e outras formas de distração em massa. Mas uma pergunta se repete</p><p>sem parar no fundo de nossa cabeça: “Será que posso ter esperança? Será</p><p>que os problemas vão diminuir e terei um pouco de paz na semana que vem,</p><p>no ano que vem ou em algum momento de minha vida?” A resposta parecer</p><p>ser “não”. Segundo os darwinistas, a vida e a evolução são uma eterna “luta</p><p>pela sobrevivência”. Como se não bastasse, a defesa em relação aos</p><p>predadores é só o começo. Os inimigos internos são ainda piores. Germes,</p><p>vírus, parasitas e, claro, a boa e velha fast food ameaçam todos os dias</p><p>nossos frágeis organismos, sabotando nossa estrutura biológica. Somos</p><p>desde pequenos programados por nossos pais, professores e médicos para</p><p>acreditar que nossas células e nosso organismo são frágeis e vulneráveis. E</p><p>que nosso corpo é extremamente suscetível a doenças e disfunções</p><p>genéticas. Como consequência, antecipamos ansiosamente a probabilidade</p><p>de adoecer, e não é raro ver pessoas que passam boa parte do tempo</p><p>verificando se não há caroços em seu corpo, mudança de coloração em sua</p><p>pele, ou qualquer outra anormalidade que indique o fim de seus dias.</p><p>SERÁ QUE SERES HUMANOS COMUNS TÊM PODERES DE</p><p>SUPER-HERÓIS?</p><p>Se considerarmos os esforços heroicos para salvar nossas próprias</p><p>vidas, que chance temos de salvar o mundo? Ao pensar em uma crise</p><p>mundial, qualquer pessoa treme, sentindo-se insignificante e incapaz de</p><p>resolver um problema de tamanha proporção. É bem mais fácil e</p><p>confortável se deixar entreter pela televisão do que participar da realidade.</p><p>Mas vamos pensar em algumas realidades diferentes:</p><p>Queimar ou congelar os pés: Há centenas de anos pessoas de</p><p>diferentes culturas e religiões repetem a prática de andar sobre o fogo.</p><p>Segundo o Guinness World</p><p>Record, a pessoa que conseguiu, até hoje, andar</p><p>mais tempo sobre brasas foi uma canadense de 23 anos, Amanda Dennison,</p><p>em junho de 2005. Ela caminhou 60 metros sobre brasas com temperatura</p><p>de aproximadamente 900 graus.4 E não foi pulando ou saltitando sobre elas.</p><p>Seus pés estavam em contato direto com o carvão durante os 30 segundos</p><p>da caminhada. Muitos acreditam se tratar de um fenômeno paranormal. Os</p><p>médicos, por sua vez, acreditam se tratar de mera ilusão e afirmam que o</p><p>carvão pode não conduzir totalmente o calor, ou que os pés da pessoa não</p><p>chegam a manter tanto contato com as brasas. Mas nenhum deles tem</p><p>coragem de experimentar. Se o carvão não é tão quente, como se explicam</p><p>as sérias queimaduras nos pés de algumas pessoas que tentam fazer a</p><p>experiência por brincadeira? Nosso amigo, o psicólogo e autor, Dr. Lee</p><p>Pulos, realizou um estudo sobre o fenômeno. Um dia resolveu experimentar</p><p>por si mesmo. Arregaçou a barra das calças, esvaziou a mente e caminhou</p><p>sobre a trilha de carvão em brasa. Ao chegar ao outro lado ficou extasiado</p><p>quando viu que seus pés não tinham qualquer sinal de queimadura. E se</p><p>surpreendeu ao desenrolar as pernas das calças, pois ambas estavam</p><p>chamuscadas. Independentemente da razão física ou metafísica que permite</p><p>a alguém andar sobre brasas, uma coisa é certa: quem acredita que vai ser</p><p>queimado sofre queimaduras e quem acredita que vai sair ileso não sofre</p><p>qualquer dano. Tudo depende daquilo em que se acredita. Quem consegue</p><p>caminhar sobre as brasas sem se queimar está seguindo uma regra básica da</p><p>Física Quântica: o observador (neste caso, “aquele que anda sobre as</p><p>brasas”) estabelece a realidade. Outro exemplo, que envolve temperaturas</p><p>opostas, é o da tribo Bakhtiari, da Pérsia, cujos membros conseguem</p><p>caminhar descalços na neve e no gelo durante dias seguidos na trilha de</p><p>uma montanha de mais de quatro mil metros de altura. Nos anos 1920, os</p><p>exploradores Ernest Schoedsack e Merian Cooper criaram o primeiro</p><p>documentário de longa metragem, um filme ganhador de prêmios intitulado</p><p>A batalha de uma nação pela vida. Essa obra histórica descreve a migração</p><p>anual dos Bakhtiari, uma raça de nômades que não tinha contato com o</p><p>mundo moderno. Duas vezes por ano, seguindo uma tradição milenar, mais</p><p>de 50 mil pessoas e um rebanho de meio milhão de ovelhas, vacas e cabras</p><p>atravessam rios e montanhas congeladas para chegar a locais de pasto</p><p>verde. Para levar sua cidade itinerante pela montanha, esses robustos</p><p>nômades constroem uma verdadeira estrada no gelo que cobre o Zard-Kuh</p><p>(Montanha Amarela). Ainda bem que eles não sabiam que podiam pegar</p><p>uma gripe fatal andando descalços na neve!</p><p>Seja para queimar ou congelar os pés, a realidade é que nós, seres</p><p>humanos, não somos tão frágeis quanto imaginamos.</p><p>Levantamento de peso “pesado”: Todos conhecemos a prática do</p><p>levantamento de peso, em que homens e mulheres musculosos erguem</p><p>pesadíssimas barras de ferro. É um esporte que requer preparação e, muitas</p><p>vezes, o uso de esteroides. Mas existe uma forma de esporte semelhante,</p><p>chamada levantamento de peso total, em que recordistas mundiais</p><p>masculinos levantam barras de mais de 300 quilos, e femininos, de mais de</p><p>200. São eventos fenomenais. Porém há registros de pessoas sem qualquer</p><p>treino ou preparação que realizam façanhas difíceis de acreditar. Para salvar</p><p>seu filho, preso sob um Chevrolet 1964, Angela Cavallo levantou e segurou</p><p>o veículo por quase cinco minutos, enquanto os vizinhos chegavam com um</p><p>macaco hidráulico para resgatá-lo.5 E um trabalhador de construção</p><p>levantou um helicóptero de mais de 1.300 quilos que caiu em um fosso de</p><p>escoamento, deixando preso, sob a água, um de seus colegas. A cena foi</p><p>filmada por uma pessoa que estava perto do local. O rapaz manteve o</p><p>helicóptero erguido enquanto outros colegas retiravam a vítima dali.</p><p>Afirmar que tais eventos são efeito de uma descarga descomunal de</p><p>adrenalina seria bobagem. Ainda assim, como explicar que uma pessoa sem</p><p>qualquer preparo consiga levantar um peso desses e o mantenha no alto por</p><p>alguns segundos? Essas histórias são incríveis, porque nem Angela nem o</p><p>trabalhador de construções teriam como realizar essas façanhas em</p><p>circunstâncias normais. A ideia de erguer um carro ou um helicóptero</p><p>parece absurda. No entanto, com a vida de um filho ou de um amigo em</p><p>risco, essas pessoas, inconscientemente, puseram de lado suas crenças</p><p>limitadoras e concentraram sua atenção na crença mais importante naquele</p><p>instante: salvar uma vida!</p><p>Tomar veneno: Todos os dias tomamos banho e usamos sabonetes</p><p>(alguns usam somente sabonetes bactericidas) e esfregamos nossas casas</p><p>com poderosos produtos de limpeza. Fazemos isso nos protegermos de</p><p>germes letais.</p><p>Para nos lembrar de como somos suscetíveis aos organismos invasivos,</p><p>a televisão nos bombardeia com propagandas sobre inúmeros produtos de</p><p>higiene.*</p><p>Os centros governamentais de saúde, aliados à mídia, nos informam</p><p>sobre todas as doenças perigosas, como a última gripe, o HIV e as pragas</p><p>transmitidas por pernilongos, pássaros e suínos. Por que esses anúncios nos</p><p>preocupam tanto? Porque fomos condicionados a acreditar que as defesas</p><p>de nossos corpos são fracas e somos suscetíveis à contaminação por meio</p><p>de quaisquer substâncias estranhas. Como se não bastassem as ameaças da</p><p>Natureza, somos ensinados a nos proteger dos subprodutos da civilização</p><p>humana. Substâncias tóxicas manufaturadas e doses maciças de produtos</p><p>farmacêuticos são despejados constantemente no ambiente, poluindo cada</p><p>vez mais.</p><p>É claro que todo esse veneno, toxinas e germes podem nos matar.</p><p>Sabemos disso. Mas há aqueles que não acreditam nessa realidade e vivem</p><p>bem mesmo assim. Em um artigo que aborda genética e epidemiologia,</p><p>publicado na revista Science, o microbiologista V. J. DiRita afirma: “A</p><p>epidemiologia moderna se baseia no trabalho de John Snow, um médico</p><p>inglês que descobriu, por meio de um intenso estudo sobre cólera, que a</p><p>água poluída é a principal forma de disseminação desse tipo de doença. O</p><p>estudo da cólera também ajudou no desenvolvimento da bacteriologia</p><p>moderna. Mais de 40 anos depois da importante descoberta de Snow,</p><p>Robert Koch desenvolveu a teoria de que os germes causam doenças a</p><p>partir da identificação da bactéria Vibrio cholerae como agente da cólera. A</p><p>teoria de Koch foi tão questionada que um de seus opositores chegou a</p><p>tomar um copo de água cheio de Vibrio cholerae para provar que o germe é</p><p>inofensivo. Por razões inexplicáveis, ele não ficou doente, mas também não</p><p>conseguiu desbancar a teoria”.6</p><p>O caso do homem que, em 1884, tomou água contaminada com cólera</p><p>por se recusar a aceitar a opinião médica e não apresentou qualquer sintoma</p><p>da doença, ficou famoso. Mas por não aceitar contestações, a comunidade</p><p>médica se uniu para afirmar que ele estava errado! Adoramos esta história.</p><p>A parte mais interessante é o fato de a ciência ter descartado a experiência</p><p>desse homem sem investigar sua aparente imunidade (que provavelmente</p><p>provinha de sua fé inabalável de estar certo em suas afirmações). Foi muito</p><p>mais fácil para os cientistas tratá-lo como absoluta exceção do que mudar as</p><p>regras estabelecidas. No mundo da ciência, uma exceção representa</p><p>simplesmente algo ainda desconhecido ou não compreendido. Mas alguns</p><p>dos maiores avanços em termos de descobertas ocorreram justamente em</p><p>virtude de estudos de exceções.</p><p>Comparemos a história da cólera com a desta pesquisa: a dos devotos</p><p>fundamentalistas da Igreja Pentecostal Livre, na região rural de Kentucky,</p><p>Tennessee, e de parte da Virgínia e da Carolina do Norte, nos Estados</p><p>Unidos. Quando em estado de êxtase religioso, esses devotos demonstram a</p><p>proteção de Deus manipulando cascavéis e outras espécies peçonhentas. E,</p><p>mesmo sendo picados, não demonstram quaisquer sintomas de intoxicação.</p><p>Esta é apenas a primeira parte de seu culto. Os devotos levam o conceito de</p><p>proteção Divina um pouco além. Chegam a ingerir doses letais de estricnina</p><p>sem serem envenenados.7 Misteriozinho difícil para a ciência engolir!</p><p>Remissão espontânea: Todos os dias centenas de pacientes</p><p>escutam:</p><p>“Os exames confirmam. Lamento. Não há mais o que possamos fazer. O</p><p>melhor agora é você ir para casa e se preparar”. E assim é a história de</p><p>muitos pacientes terminais, vítimas de doenças como o câncer. No entanto,</p><p>alguns deles encontram uma opção diferente e bem mais leve: a remissão</p><p>espontânea. Um dia estão na cama, esperando a morte. De repente, ficam</p><p>curados. Sem encontrar explicação plausível para esta realidade estranha</p><p>mas recorrente, os médicos convencionais preferem afirmar que seu</p><p>diagnóstico estava errado (apesar de todos os exames mostrarem o</p><p>contrário). Segundo o Dr. Mehl-Madrona, autor do livro A medicina da</p><p>natureza, a remissão espontânea é normalmente acompanhada de uma</p><p>“mudança na história de quem a vivencia”.8 Muitos se fortalecem com a</p><p>ideia de que, contra todas as expectativas, podem ser capazes de mudar o</p><p>próprio destino. Outros simplesmente mudam o estilo de vida, normalmente</p><p>estressante, e se permitem relaxar e aproveitar o tempo que lhes resta.</p><p>Então, em meio a todas as alegrias e à distração de viver o momento, se</p><p>esquecem da doença, e ela acaba desaparecendo. É a forma mais comum do</p><p>efeito placebo, e nem é necessário tomar pílulas de açúcar!</p><p>Bem, apresentamos uma ideia maluca. Em vez de gastar tanto dinheiro</p><p>em pesquisas ilusórias sobre genes de prevenção ao câncer e pílulas</p><p>mágicas capazes de curar sem os danosos efeitos colaterais, que tal dedicar</p><p>tempo e energia pesquisando a remissão espontânea e outras técnicas</p><p>reversivas não invasivas associadas ao efeito placebo? Isso seria possível,</p><p>se as empresas farmacêuticas descobrissem uma maneira de embalar ou</p><p>estabelecer um preço para o efeito placebo.</p><p>SERÁ QUE É CASO DE CIRURGIA? OU BASTA UM SIMPLES</p><p>LIFTING EM NOSSA FÉ?</p><p>As pessoas que já andaram sobre brasas, beberam veneno, ergueram</p><p>carros com as próprias mãos ou passaram por uma remissão espontânea têm</p><p>uma característica em comum: a crença inabalável de que vão ter sucesso</p><p>naquilo a que se propuseram. E não usamos o termo “crença” por acaso.</p><p>Neste livro, “crença” não é algo a ser medido em uma escala de 0 a 100%.</p><p>Tomar estricnina, por exemplo, não é para alguém do tipo “acho que</p><p>acredito nisso”. Crença é como gravidez. Você está grávida ou não está.</p><p>Esta é justamente a parte mais difícil: ou você acredita em algo de verdade</p><p>ou simplesmente não acredita. Não existe meio termo.</p><p>Embora muitos cientistas acreditem que as brasas não sejam assim tão</p><p>quentes, nenhum deles parece disposto a experimentar andar sobre elas.</p><p>Você pode acreditar em Deus, mas será que tem fé suficiente para crer que</p><p>Ele o protegerá da morte mesmo que tome veneno? Em outras palavras:</p><p>como você quer sua estricnina? Pura ou com gelo? Sugerimos que, antes de</p><p>responder a esta pergunta, você elimine todas as dúvidas que possa ter em</p><p>relação à sua fé. Se ainda restar 0,000001% de dúvida, é melhor dispensar a</p><p>estricnina e pedir outro drinque. E se você acha que os exemplos das</p><p>pessoas que citamos acima parecem exceções, concordamos. Porém, ainda</p><p>que se trate de casos raros, a ciência convencional não consegue explicá-</p><p>los. Mas eles acontecem o tempo todo. E com pessoas comuns. Você</p><p>mesmo, como ser humano, pode fazer tudo isso e muito mais. Basta ter fé.</p><p>Conhece esse discurso? Lembre-se de que toda exceção de hoje pode se</p><p>transformar em ciência amanhã.</p><p>Outro exemplo irrefutável do poder da mente sobre o corpo é o</p><p>chamado transtorno de múltiplas personalidades ou Transtorno</p><p>Dissociativo de Identidade (TDI). A pessoa que sofre desse distúrbio perde</p><p>a identidade, ou personalidade, e assume o comportamento e a</p><p>personalidade de alguém completamente diferente. Como isso acontece?</p><p>Bem, é como viajar com o rádio ligado ouvindo determinada estação. À</p><p>medida que passamos por outras cidades, a frequência da primeira estação</p><p>vai se tornando fraca e é substituída por outras, dos lugares por onde</p><p>passamos. Então você começa ouvindo Rod Stewart, passa por Chitãozinho</p><p>e Xororó e, quando percebe, está ouvindo Madonna. É muito chato para</p><p>alguém que gosta de Mozart de repente ouvir Rolling Stones.</p><p>Neurologicamente falando, múltiplas personalidades são assim, como robôs</p><p>controlados por rádio, passando de uma estação à outra sem aviso prévio. O</p><p>comportamento e a personalidade de cada ego podem ir de um extremo ao</p><p>outro, como música clássica e rock. E embora a ciência até hoje só tenha se</p><p>concentrado nas características psiquiátricas de indivíduos portadores de</p><p>TDI, há algumas consequências psicológicas interessantes na mudança de</p><p>ego.9 Cada uma das personalidades que o indivíduo apresenta possui um</p><p>perfil de eletroencefalograma (EEG) totalmente diferente das outras. E o</p><p>EEG equivale a uma impressão digital neurológica, ou seja, única para cada</p><p>indivíduo.</p><p>Cada uma dessas personalidades possui programação mental própria.</p><p>Pode parecer absurdo, mas em alguns casos os olhos dos portadores desse</p><p>distúrbio chegam a mudar de cor durante a mudança de um ego para o</p><p>outro. E cicatrizes em seu corpo, que acompanham uma personalidade,</p><p>desaparecem inexplicavelmente quando a outra personalidade surge. E o</p><p>mesmo ocorre com doenças e alergias que uma personalidade possui e a</p><p>outra não. Como isso é possível? Os próprios indivíduos portadores de TDI</p><p>podem ajudar a responder a essa pergunta, pois são o campo de estudo de</p><p>um novo ramo da ciência, chamado psiconeuroimunologia, ou seja, o</p><p>estudo científico (logia), de como a mente (psico) controla o cérebro e o</p><p>sistema nervoso (neuro), que, por sua vez, controla o sistema imunológico</p><p>(imuno).10 O paradigma dessa nova ciência é o seguinte: enquanto o sistema</p><p>imunológico é o guardião de nosso ambiente interno, a mente controla o</p><p>sistema imunológico, o que significa que a mente é quem controla nossa</p><p>saúde. O TDI pode ser um distúrbio, mas também é a comprovação de que</p><p>a programação de nossa mente é que rege nossa condição de bem-estar, as</p><p>doenças que atacam nosso organismo e a habilidade de nos curarmos. Você</p><p>deve estar se perguntando: “O quê? Nossas crenças pessoais controlam</p><p>nosso corpo? O poder da mente sobre a matéria? Aquela história do poder</p><p>do pensamento positivo? De novo toda aquela história de Nova Era?”</p><p>Não, nada disso! O que estamos apresentando é a nova era da ciência, e</p><p>não aquela baboseira de sempre.</p><p>O MUNDO, DE ACORDO COM A NOVA CIÊNCIA</p><p>O que a ciência tem a dizer sobre o domínio da mente sobre a matéria?</p><p>A resposta depende: a qual ciência você se refere? A ciência da Medicina</p><p>convencional tenta nos convencer de que nenhum dos fenômenos que</p><p>acabamos de descrever existe. Isso ocorre porque os livros de Biologia e os</p><p>meios de comunicação em massa descrevem o corpo e suas células como</p><p>máquinas feitas de matéria bioquímica. Essa percepção condiciona o</p><p>público a aceitar a crença no determinismo genérico: a teoria de que os</p><p>genes controlam os traços físicos e comportamentais do indivíduo. Essa</p><p>triste interpretação nos leva à conclusão de que nosso destino está</p><p>intrinsecamente ligado a características hereditárias, determinadas por</p><p>códigos genéticos derivados de nossos pais, avós, bisavós e assim por</p><p>diante. Ou seja, as pessoas acabam acreditando que são meras vítimas da</p><p>hereditariedade.</p><p>Por sorte, o Projeto Genoma Humano (PGH) veio para puxar o tapete</p><p>da ciência convencional no que diz respeito às noções de controle genético.</p><p>É uma situação irônica, pois o projeto foi criado para provar justamente o</p><p>contrário. Segundo a crença convencional, a complexidade de um ser</p><p>humano deveria requerer muito mais genes do que existe em um organismo</p><p>simples. Para a surpresa de todos, o PGH descobriu que os seres humanos</p><p>têm aproximadamente o mesmo número de genes que os animais, uma</p><p>descoberta que revela a existência de um mito dentro do determinismo</p><p>genético.11 Portanto, o dogma de estimação da ciência já viveu bastante, já</p><p>cumpriu sua missão, e agora é hora de colocá-lo para dormir. A grande</p><p>questão que fica é: se não são os genes que controlam a vida (pausa para</p><p>respirar), o que será, então? A resposta: nós mesmos! A nova ciência revela</p><p>que o poder de controlar nossas vidas tem</p>
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